quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Carros – de objetos de desejo a vilões da história – Parte II



Dando seqüência ao post da semana passada, vamos ver o outro lado da moeda, o lado negro dos automóveis, ou o que eles se tornaram para infernizar a vida do homem moderno.
Para uma parcela da população, os automóveis deixaram de ser o objeto de desejo, especialmente para muitos jovens do sexo masculino que atingem os 18/20 anos, ter um automóvel deixou de ser uma prioridade.
Cidades atravancadas pelo trânsito sempre congestionado, a poluição decorrente da queima de combustível fóssil, o aumento de roubos e acidentes provocados pela imprudência e bebida, a subida dos custos, não só do preço dos automóveis, mas também da sua manutenção, com impostos, combustível, seguros, estacionamento e demais serviços em alta, tem afastado os jovens de querer possuir um carro como primeiro bem de consumo.
Junte-se à maior conscientização ambientalista, em que produzir um carro, que polui durante sua vida útil e ainda vai prejudicar o ambiente depois que for descartado, mais toda a energia desperdiçada (na prática, gasta-se energia para deslocar uma tonelada e pouco para transportar uma pessoa e meia no trânsito de São Paulo), e temos um cenário nada favorável ao automóvel do Século 21.
Para estes jovens, a mobilidade deixou de ser sua prioridade, e hoje eles querem a conectividade; com seus smartphones, tablets, ipods, videogames e toda parafernália eletrônica com que interagem com o mundo à sua volta. As redes sociais aproximam as pessoas, e deslocar-se para encontrar os amigos já não parece ser tão importante assim.
Nova York, metrópole da nação  mais motorizada do mundo, tem uma infra-estrutura de transporte público excelente; e num estudo feito em 2012, apontou que 56% das residências da cidade não tem carro. Washington, segunda cidade e capital do país, com 38% de casas sem carro, seguida por Boston, com 37%, Filadélfia, com 33% e São Francisco, 31%. A surpresa do estudo foi Detroit, a “capital do automóvel”, onde 26 por cento das casas não têm carros.
Alguns especialistas já observam o fenômeno e preveem o declínio da indústria automotiva, com a mudança de foco dos jovens para os artefatos eletrônicos e digitais, viajar (não necessariamente de carro), adquirir formação acadêmica (educação está cada vez mais cara, notadamente no Brasil). Jovens casando-se cada vez mais tarde, usam o carro do pai ou da mãe; ou andam de transporte público mesmo. Ainda que namorem, a possibilidade da moça ter um carro é grande, então está resolvido seu problema de deslocamento...
A “Canção do aço que passa” já não atrai as multidões como antes... e se para muitos hoje, o carro ainda é uma necessidade, a busca de uma alternativa melhor mudará radicalmente o cenário em que vivemos. Sair de casa, seja para trabalhar, fazer compras ou para lazer faz as pessoas pensarem duas vezes antes de usar o carro.
A demanda por um transporte público eficiente, o vertiginoso crescimento das vendas de motocicletas no Brasil, o aumento do uso de bicicletas são a ‘ponta do iceberg’, juntando-se à piora da infraestrutura urbana e a mudança do perfil social e profissional das pessoas, e veremos logo, logo algo diferente acontecer.
Seria um fim inglório para uma invenção que tanto contribuiu para o progresso da humanidade, mas que agora está se tornando o grande vilão da história.