domingo, 30 de janeiro de 2022

Porsche 356 nas 24 Horas de Le Mans 1951 – primeira participação, primeira vitória.

Porsche 356 SL chassi #063
O primeiro 356 com que a Porsche participou de competições foi denominado 356/2, com carroceria de alumínio e um dos 53 cupês feitos em Gmünd. Ao se transferir para Stuttgart, a Porsche reservou cinco unidades, já com os olhos voltados para as competições, pois Ferry Porsche acreditava que o caminho para aumentar as vendas era vencer nas corridas. Nesta mudança, cerca de 11 chassis inacabados foram completados por trabalhadores da Tatra Motors, e depois enviados para Zuffenhausen.

Uma reunião entre Ferry Porsche, o importador da Porsche na França Auguste Veuillet e Charles Faroux, o organizador das 24 Horas de Le Mans aconteceu no Geneva Motor Show de 1950; e ali foi acertado que a Porsche entraria com dois carros na corrida de 1951. Era a terceira vez que a corrida era realizada desde o fim da II Guerra, e a primeira em que um fabricante alemão iria participar dela após o conflito.

Assim, um informal “Motorsports Department” começou a trabalhar em três carros para participar das 24 Horas de Le Mans, em 1951. Claro que a opção pelos Gmünd Coupés era óbvia, pois o alumínio era muito mais leve do que as carroçarias de aço; além do que a estrutura da cabine era mais estreita, ficando em vantagem aerodinâmica frente aos 356 feitos em Stuttgart.

Equipados com o boxer de quatro cilindros que desenvolvia 46 cv, o carro chegava aos 160 km/h de velocidade máxima. A filosofia “leve, mas ágil” virou uma marca registrada da Porsche, e a designação SL justificava o “Super Leicht” (Super Leve) depois do número 356.

Os carros tiveram seu peso aliviado, eliminando forrações (apenas o carpete do piso foi mantido), sistema de aquecimento, o vidro das janelas traseiras foi trocado por uma chapa com persianas, e as caixas das rodas foram cobertas com uma carenagem aerodinâmica; e os freios hidráulicos substituíram o sistema de freio a tambor acionado por cabos. Apenas as portas eram feitas de aço, assim como o chassi. 

O 356 SL na pista
Os tanques foram trocados por um maior, e o seu bocal de abastecimento se projetava através do capô, para facilitar o reabastecimento do carro nos pit-stops. Foi feita uma abertura na parte inferior da frente, canalizando ar por tubulação direto ao cockpit; o piloto podia abrir e fechar o fluxo de ar na cabine através de um comando por cabo. A parte inferior o carro recebeu uma placa de alumínio para melhorar a fluidez do ar debaixo do carro, e considerando que não havia gaiola de segurança, muito menos um santantonio, nem cintos de segurança, só podemos admirar a bravura dos pilotos desta época.


A tampa do motor teve suas dobradiças internas e conjuntos de molas removidos pois interferiam quando colocaram carburadores maiores. Foram afixadas dobradiças externas e uma trava na parte inferior do capô, que adicionalmente ganhou dois grandes buracos para exaustão do ar quente do compartimento do motor. Do mesmo modo, as molas que mantinham o capô dianteiro aberto foram eliminadas, e ele era preso por duas tiras de couro na extremidade dianteira.

Outras modificações eram uma bobina adicional para o motor, uma bomba elétrica de combustível no painel ao lado do piloto, volante do motor aliviado, amortecedores telescópicos de dupla ação Hemscheidt na suspensão dianteira. Foi instalada também uma pequena tomada de ar que direcionava o fluxo de ar fresco para os  tambores de freio dianteiro.


Os três carros tinham os registros de seus chassis 356/2-054, 356/2-055 e 356/2-063, mas alguns contratempos ocorreram. O chassi #054 foi seriamente danificado num acidente em abril de 1951, e foi levado para a fábrica para ser reparado para a corrida, mas não ficou pronto. Então, o chassi #063 também foi acidentado, a ponto de não ser possível seu reparo em tempo para a corrida. Apesar do relato não ser confirmado oficialmente, conta-se que pegaram um novo chassi #056 e o remarcaram como #063, pois não havia mais tempo para preparar a inscrição para um novo carro.


Dois carros foram inscritos e alinharam no dia 23 de junho, nas 24 Horas de Le Mans de 1951 ̶  o chassi #063 recebeu o número 46 e o #055 ficou com o número 47  ̶  sendo que o 47 acabou abandonando a corrida com Rudolf Sauerwein sofrendo graves ferimentos nas pernas com um choque e capotagem devido à chuva nos treinos. O Jaguar de Moss e o Aston Martin de Morris-Goodall vinham logo atrás, e por pouco não foram envolvidos no acidente. O número 46, pilotado por Auguste Veuillet e Edmond Mouche, chegou em 19º lugar na geral e primeiro em sua classe de 1.100 cc, dando à Porsche sua primeira vitória em sua primeira participação em Le Mans. Sua melhor volta foi a 158ª, em 05m44,7 com média de 141 km/h. Cobrindo uma distância total, depois de 24 horas, de 2.840,65 km numa velocidade média de 118,36 km/h, marcou a primeira vitória de um carro Porsche numa das mais famosas competições do mundo. Até hoje, a Porsche é o fabricante com mais vitórias nas 24 Horas de Le Mans.




Vale citar que a Porsche venceu as 24 horas de Le Mans nas seis edições seguintes, provando que o conceito de Ferry Porsche “Leve, mas ágil” funcionava perfeitamente. E Veuillet e Moche repetiram a dose no ano de 1952, com outro 356 SL, vencendo na classe 750-1100 cc, chegando em 11º lugar na geral; percorreram 2.955,41 km em 24 horas, na velocidade média de 123,14 km/h.

O #046 ainda participou da Liège-Roma-Liège, e as lanternas de pisca foram deslocados para as extremidades do para lamas, para dar mais espaço para os faróis auxiliares e uma buzina mais forte. Ele terminou essa corrida em décimo lugar; e após isso, ele conseguiu três recordes internacionais na pista de Montlhéry (França). Um deles registrou o recorde mundial de 72 horas ininterruptas, correndo à velocidade média de 94,66 km/h, calçado com os novos pneus esportivos S da Metzeler.

O 356 #063 correndo com von Neumann,
pintado de vermelho

Ao final do ano, a Porsche enviou os três 356 SL para o seu distribuidor americano, Max Hoffman; o #054 e #055, que haviam sido reparados, e o #063 vencedor da corrida. Hoffman os vendeu para Fritz Kosler, Ed Trego e Jack Rutherford respectivamente. Nesta época, nos EUA os registros dos carros não eram tão fidedignos, e o VIN (Vehicle Identification Number) do carro 46 não é totalmente rastreável. O #063 acabou voltando às mãos de Hoffman, que então o vendeu para John von Neumann.

Von Neuman era dono da Competition Motors, uma grande concessionária Porsche da Costa Oeste, em Hollywood; e promoveu significativamente a marca Porsche por meio das corridas em que participava.

Sua primeira corrida depois de adquirir o 356 SL foi em Palm Springs em março de 1952, e no mês seguinte ele correu em Pebble Beach, mas abandonou com problemas de freio. Na sua próxima corrida no Golden Gate Park em San Francisco, o #063 havia sido pintado em vermelho, mas ele abandonou novamente devido a problemas de freio. A primeira vitória de Von Neumann veio em Torrey Pines em julho de 1952, o que deu à Porsche sua primeira vitória em solo americano.

Ainda neste ano, Neumann contratou Emil Diedt, um talentoso metalúrgico do sul da California, e removeu o teto do 356 coupé para melhorar a aerodinâmica do carro e reduzir ainda mais o seu peso. Eram dias em que valia tudo para modificar um carro e conseguir deixá-lo mais competitivo. Diedt justificou sua habilidade e transformou o #063 num roadster, ganhando 50 kg em peso e reduzindo significativamente a área frontal. Ele julgou que o superaquecimento dos freios era devido às coberturas das caixas de roda, então ele as removeu também.

Mais tarde, von Neumann vendeu o carro para Bill Whittington (vencedor das 24 Horas de Le Mans em 1979 com um Porsche 935-K3) que o pintou de azul-acinzentado. O carro passou pelas mãos de Rick

O 356 #063 com a capota cortada

Gale, Ernie Spitzer, Dick Cotrell – e finalmente Chuck Forge, um engenheiro elétrico da Califórnia, que comprou o carro #063 em 1957 e o repintou de vermelho, como nos anos em que von Neumann correu com ele, reinstalando as coberturas nas caixas das rodas. Forge continuou a competir com ele, nos anos seguintes e depois de aposentá-lo das competições oficiais, trocou o motor por um de VW, executou uma restauração nele em 1981, e corria com ele nas corridas históricas (o roll-bar foi necessário para isto), participava de diversos eventos de carros clássicos e o Continental Sports Car Club Tour. Forge também o utilizava no dia a dia; ele manteve o 356 #063 por cinquenta e dois anos, até a sua morte em 2009.

O 356 #063 agora com Cameron Healy

Cameron Healy era um colecionador que havia visto o 356 no Monterey Motorsports Reunion, e quando Forge faleceu, seu sonho se tornou realidade. A família o vendeu ainda em sua cor vermelha, e Cameron decidiu fazer uma restauração nele, visto que era evidente que o carro havia sofrido diversas mudanças em sua longa vida. Levou o carro para Rod Emory, da Emory Motorsports, conhecido restaurador de Porsche em Hollywood.


Ao examiná-lo, Emory começou a notar certas inconsistências, levando Cameron a investigar os arquivos em Zuffenhausen. Diversas alterações nos painéis da carroçaria, evidências de que os piscas foram realocados, e uma calota amassada igual ao do carro que venceu em Le Mans foram detalhes que apoiaram a documentação do modelo. Mais de dois anos de pesquisas foram empenhados  nesta “arqueologia automotiva”  e afinal ficou confirmado que ele era realmente o carro que conquistou a primeira vitória da Porsche em competições internacionais. Não poderia haver outra decisão que não fosse restaurar o modelo às exatas especificações e o estado que tinha quando ele competiu no circuito de La Sarthe, em 1951.


Rod procurou localizar os outros dois exemplares que foram importados por Max Hoffman; um deles estava no México, o outro na Collier Collection, na Florida. Rod mediu os carros com um laser, e de volta à sua oficina, foi possível criar um molde de madeira do teto e construir um novo, utilizando a mesma técnica dos anos 40, em chapa de alumínio batidas à mão. O briefing que recebeu de Cameron Healy era deixar o carro em um estado mais autêntico possível. Isso significava que detalhes, tais como um pequeno amassado no para lama traseiro, deixado por um mecânico muito entusiasmado ao trocar uma roda durante as 24 Horas de Le Mans fosse preservado para a história do modelo. Foi feito um baú de madeira, fixado no lugar dos bancos traseiros, com ferramentas que o piloto poderia utilizar num eventual reparo na pista durante a corrida (Não podemos esquecer que o circuito tinha mais de 13 km de extensão em uma volta). Um limpador de para brisa reserva foi afixado no teto, acima do piloto, para o caso de substituir em caso de quebra.

O 356 #063 em Peeble Beach, 2016

Foi um grande desafio para Rod Emory, mas que o deixou orgulhoso de poder realizar a recuperação de um carro tão importante não só na história da Porsche, mas da história do automóvel e das corridas. Este trabalho projetou ainda mais Rod Emory, com diversas participações em programas como Jay Leno’s Garage; e a Emory Motorsports, restaurando Porsches antigos e construindo réplicas debaixo da marca Outlaw (não confundir com a grife de roupas Urban Outlaw, de Magnus Walker, outro fanático por Porsche)

O 356 #063 no aniversário de 70 anos de sua vitória
nas 24 Horas de Le Mans em 1951.

O carro foi restaurado à sua condição original de cupê e recebeu a decoração com que competiu nas 24 Horas de Le Mans. A Porsche reconheceu a autenticidade do carro em 2015 e convidou Healy a exibir o modelo, mesmo com o processo de restauração em andamento, no Rennsport Reunion de Laguna Seca. Seguiu-se e exposição em Peeble Beach Concours d’Elegance de 2016; e Healy acalenta o desejo de levá-lo ao seu lar espiritual, em Le Mans, onde tudo começou.


O crédito das fotos do 356 SL #063 restaurado são de Drew Phillips Photography. A fotos históricas dos anos 1950 e 60, e das 24 horas de Le Mans de 1951 são de diversos sites, blogs e páginas da Web.

REFERÊNCIAS

https://www.porscheroadandrace.com/porsche-356-sl-at-le-mans/

https://en.wikipedia.org/wiki/1951_24_Hours_of_Le_Mans

http://forums.pelicanparts.com/porsche-356-technical-forum/477084-356-sl-gmuend-roadster-chuck-forge.html

https://www.motorauthority.com/news/1106591_meet-the-grand-daddy-of-all-porsche-race-cars-the-1951-356-sl-gmnd-coupe

https://www.magnetomagazine.com/porsche-356-2-063-celebrates-the-70th-anniversary-of-first-le-mans-win/

https://www.classicdriver.com/en/article/cars/a-hollywood-comeback-le-mans-winning-porsche-356-gmund-sl-coupe

 

Assista também estes vídeos, registrando todo o processo de restauração deste histórico carro, e uma apresentação dele por Rod Emory no Jay Leno’s Garage:

https://flatsixes.com/porsche-culture/videos-porsche-culture/behind-the-scenes-restoration-356sl-063/

https://www.youtube.com/watch?v=AzMWgXgM3EM

https://drivetribe.com/p/mid-week-long-read-follow-the-light-LyThU2O-RfekcQtuOgfv9A?iid=c4_W2nkoRfOA1L3yaYWsZg

 

 

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

PORSCHE 356A, B e C

 

Porsche 356A Super - Sunroof Coupé 1958
O Porsche 356 Coupé foi o carro que entrou em linha de produção após os trabalhos com o 356/1 (Veja a matéria completa sobre este modelo no link: https://leotogashi.blogspot.com/2022/01/porsche-356-number-1.html), podendo ser considerado o primeiro Porsche a ser comercializado no mercado com a marca da família.

Herdeiro do desenvolvimento realizado com o 356/1, trazia um design evoluído do austríaco Erwin Komenda, quando Karl Rabe era o Chief Designer da Porsche. Nas configurações Coupé e Roadster aberto, com o motor posicionado atrás do eixo traseiro, trazia o layout que se tornou uma marca registrada da Porsche até hoje. Diferentemente do 356 Number 1, o chassi tubular foi substituído por uma carroçaria monobloco, que passou a ser feita de aço, e não alumínio, como o 356 Number 1; mais fácil e econômica de produzir, pois no período pós-guerra o alumínio era caro e difícil de obter.

Os primeiros 53 exemplares (356/2) ainda foram produzidos na fábrica de Gmünd, na Áustria (1948-1949), para onde Ferry Porsche havia transferido toda a equipe e ferramental de suas oficinas por causa dos bombardeios que Stuttgart estava sofrendo em 1944, mas a partir de 1950, a Porsche muda-se para Zuffenhausen (ao norte de Stuttgart), e o seu design atemporal influenciou todos os carros da Porsche até hoje.

Em abril de 1965, a produção do 356 foi encerrada, sendo substituído pelo fantástico 911, que havia sido lançado no outono de 1963.

Dos cerca de 76.000 originalmente produzidos, aproximadamente metade sobreviveu, nas mãos de pilotos, admiradores, apaixonados por carros que fizeram a história sobre quatro rodas.

HISTÓRIA

Porsche 356 Number 1

Como seu primo, o Volkswagen Beetle (que Ferdinand Porsche (pai) havia criado), o trabalho que “Ferry” Porsche (filho) desenvolveu em cima do 356/1 se mostrou um sucesso. Diferentemente do Beetle, o 356 trazia um chassi monocoque, totalmente novo criado por Erwin Komenda; ao passo que diversos componentes mecânicos eram baseados nos do Volkswagen, incluindo o motor e as suspensões.

Numa entrevista à revista Panorama, em setembro de 1972, Ferry Porsche descreveu o princípio por trás da criação do 356: “...Eu tenho pilotado diversos carros bem velozes. Já tive Alfa Romeo, também BMW e outros... No final da Guerra, eu tinha um Volkswagen Cabriolet equipado com compressor, e esta era a ideia básica. Se você tem potência bastante num pequeno carro, ele será mais divertido de pilotar do que se tivesse um grande carro com bastante potência. Sobre esta ideia nós começamos a construir o primeiro protótipo da Porsche. Para fazer o carro mais leve, para ter um motor com mais potência... este era o primeiro dois lugares que construímos em Carínthia (Carínthia era o estado em que a cidade de Gmünd estava).

A carroçaria era de chapas de alumínio,
batidas à mão em formas de madeira.

As primeiras carroçarias do 356 produzidas em Gmünd eram feitas de alumínio batidas à mão em formas de madeira, mas quando a produção se transferiu para Zuffenhausen, Alemanha, em 1950, as carroçarias passaram a ser feitas de chapas de aço.

A Porsche necessitava de peças e a Volkswagen era a fornecedora natural, visto que o projeto do Volkswagen era do Porsche "Pai". Ferry Porsche concluiu com o Diretor Geral da Volkswagen, Heinrich Nordhoff, um contrato em 17 de setembro de 1948 para fornecimento de peças e uso da rede de distribuição da VW. Além de ser um engenheiro de destaque, mostrou ser um homem de negócios e empreendedor visionário, pois Ferry Porsche conseguiu que a VW pagasse royalties por cada VW construído, já que o Beetle era um projeto de autoria da Porsche. Com este respaldo, Ferry fundou a Porsche-Salzburg Ges.m.b.H, para gerenciar as importações, vendas e atendimento aos clientes da VW na Áustria, tornando-se o embrião do que viria ser a Porsche como construtora de carros esportivos.

A empresa levou dois anos, a partir do primeiro protótipo, para fabricar 44 unidades para venda no mercado, e os colocou basicamente na Áustria e Alemanha. Claro que estes carros foram parar nas mãos dos poucos entusiastas do esporte automobilístico, o que favoreceu a propagação das boas qualidades dinâmicas do modelo entre a comunidade dos aficcionados por carros e corridas. Não há dados exatos, mas Louise Porsche, que se casou com Anton Piëch, permaneceu em Gmünd quando a Porsche retornou a Zuffenhausen, e se tornou uma distribuidora da Porsche na Áustria; cerca de 11 exemplares do 356 ficaram inacabados, e até 1950, foram terminados por trabalhadores da Tatra Motors, e depois enviados para Zuffenhauen. Louise e Anton tiveram três filhos, sendo que um deles, Ferdinand Piëch, se tornou o Chairman e CEO da VW de 1993 a 2015, tendo um papel decisivo para tornar a VW no conglomerado que é hoje, integrando a Bugatti, Lamborghini, Bentley, Skoda, SEAT e AUDI, assim como a fusão com a Porsche, em 2011.

Com o fim da II Guerra, as fábricas em condições de produzir ficaram sob o controle dos aliados, e as instalações da Porsche em Zuffenhausen eram controladas pelos americanos. A empresa Dr. Ing. h.c. F. Porsche GmbH, o escritório de projetos, fundado em 1930 por Ferdinand Porsche "pai", assumiu a produção do 356, em 1950, alugando uma fábrica bem defronte à empresa Reutter Karosserie  ̶  que já havia colaborado com a Porsche ao construir protótipos do VW Beetle  ̶  para construir as carroçarias de aço do 356. Em 1963, a Porsche acabou adquirindo a empresa, e a parte remanescente da Reutter, que fazia a manufatura de bancos mudou de nome, tornando-se a Recaro, famosa até hoje pelo design e qualidade dos bancos que produz. Em 1952, a Porsche construiu uma linha de montagem do outro lado da rua da Reutter Karosserie, a estrada principal em frente ao edifício mais antigo da Porsche, é agora conhecida como Porschestrasse.

Porsche 356 "Gmünd Coupé" em Le Mans 1951
Já no início dos anos 1950, o 356 havia ganho algum renome nos dois lados do Atlântico, pela sua aerodinâmica, maneabilidade e qualidade de construção; no que a vitória em sua classe nas 24 Horas de Le Mans de 1951 ajudou bastante. Leia mais sobre o carro que venceu no link: “O PORSCHE 356 EM LE MANS – primeira participação, primeira vitória”

Sempre foi comum aos proprietários dos Porsche (e de outros automóveis esportivos desta época) usarem o carro nas ruas, mas também correr com eles em algumas competições. No final de 1954, surge o modelo “Carrera”, que recebeu este nome numa referência ao bom desempenho dos Porsche na famosa Carrera Panamericana. Com o motor de quatro comandos de válvulas no cabeçote, o acréscimo de desempenho esportivo alavancou as vendas durante os anos seguintes; batendo o recorde de 10.000 unidades em 1964.

Carrera Panamericana 1953

O Porsche 356 foi construído em quatro séries distintas: o original (depois do Number 1 e do Gmünd Coupé, muitos artigos referem-se aos modelos fabricados em Zuffenhausen como 356/2, mas quando as versões começaram a receber as letras, convencionou-se chamá-los de “pre-A”), seguida pela 356 A, 356 B, e, em seguida, finalmente a 356 C. Para distinguir entre a principais versões do modelo pré-A, eles são geralmente classificados em grandes grupos. Os 356 cupês e “cabriolets” (soft-top) construídos até 1955 são facilmente identificados pela divisão do para-brisa (1948-1952) ou com o centro vincado (1953-1955); estes são considerados “Pré-A”.

No final de 1955, surgiu o 356A, com o para-brisa curvo, sem o vinco central, e foi neste modelo que a Porsche oferecia como opção o motor com os quatro comandos de válvulas no cabeçote configurando a versão Carrera.

No final de 1956, o 356B T5 apareceu, seguido pela série 356B T6 redesenhado em 1962. A versão final foi a 356C, que pouco mudou em aspecto do T6 356B, mas que trazia freios a disco nas quatro rodas.

Porsche 911, projeto de Butzi Porsche

Já sentindo necessidade de desenvolver um novo modelo, em 1959, Ferry designou seu filho Butzi Porsche para projetar o 901, o carro de estrada que levaria o nome Porsche para frente. Mais potente, maior e mais confortável para substituir com méritos o 356, primeiro carro da empresa. Porém, a Peugeot protestou sobre o uso da sigla em território francês, em que ela possuía a exclusividade de uso de nomear os carros com três números com o zero no meio. Então, em vez de vender o novo carro com outro nome na França, a Porsche mudou o nome para 911. E o resto, é uma outra história...

Porsche 912 Targa, com o motor do 356

Interessante que o 356 ganhou uma sobrevida, tendo o seu motor transplantado no chassi do (agora) 911: a premissa de Ferry de fazer o 911 maior, mais potente e mais confortável levou o carro a um novo patamar de desempenho, elevando também correspondentemente o seu preço. Assim, já em 1963, enquanto o 911 estava prestes a ser lançado, os executivos da Porsche decidiram introduzir um modelo de “entrada”, um 911 com o motor de quatro cilindros, ao invés do de seis cilindros boxer; o 902, que naturalmente se tornou o Porsche 912. Com 1,6 litro, baseado na última versão do motor que equipava o 356 SC de corrida de 1964-65  (Type 616/16); com menor taxa de compressão e novos carburadores Solex, o motor Type 616/36 produzia 90 hp (5 hp a menos que o anterior), mas entregava o mesmo torque máximo a 3.500 rpm em vez de 4.200 rpm do 616/16. Comparado ao 911, sua distribuição de peso era melhor, o que ajudava na maneabilidade. Para manter o preço próximo ao do 356 que saía de linha, a Porsche eliminou alguns equipamentos do 911.

Como o 911 custava quase 50 por cento a mais do que o 356, entusiastas compraram perto de 33.000 unidades do 912 (Coupés e Targa) equipados com o motor quatro cilindros 616/36, e sua produção somente foi encerrada em julho de 1969. A medida do sucesso do “coração” do 356 combinado com o “corpo e alma” do 911 pode ser confirmada com a escolha da Porsche para representar o seu 100.000º carro produzido: saiu das linhas de montagem em abril de 1967, um Porsche 912 Targa, que foi entregue ao Departamento de Polícia de Baden-Wurttemberg, estado alemão onde fica a cidade de Stuttgart, sede da Porsche atual.

O 100.000º Porsche, um 912 Targa
entregue ao Departamento de Polícia
de Baden-Wurttemberg.


PORSCHE 356 “pre-A”

Porsche 356 Pré-A Cabriolet
Desde os primeiros exemplares do 356 Gmünd Coupé, com motor de 1.100 cc, a forma geral do primeiro Porsche permaneceu mais ou menos a mesma. No final de 1952, o para brisas dividido se foi, substituído por um vidro inteiriço, com um vinco no centro e o mesmo formato de design.

Os designers da Porsche tomaram a decisão de utilizar as especificações do motor que eles originalmente haviam projetado para o Volkswagen Beetle. Era um motor quatro cilindros refrigerado a ar, deslocando 1086 cc, com comando simples no cabeçote, na configuração boxer, ou opostos em 180º. Para uso no 356, eles projetaram novos cabeçotes, comandos de válvulas, virabrequim, coletores de admissão e escape, com carburadores duplos, para conseguir 60% a mais de potência do que no VW: 40 hp. Lembramos que no 356 Number 1 o motor ficava posicionado entre eixos, e nos 356 de produção o motor foi deslocado para trás do eixo traseiro.

Em agosto de 1951, o motor foi ampliado para 1286 cc, com 44 hp e logo para 1488 cc, gerando 55 hp. A engenharia da Porsche trabalhava muito e em 1952 o motor recebeu um virabrequim roletado, sendo designado 1500S com 70 hp, atingindo 90 mph (145 km/h), fazendo de 0-60 mph em 13,8 segundos. As primeiras caixas de câmbio não eram sincronizadas, mas a partir de outubro de 1952 todos os 356 receberam o câmbio sincronizado. Desde cedo, os Estados Unidos eram o destino de muitos Porsche, devido ao grande interesse dos americanos, gerada pela simpatia que os pequenos esportivos europeus ganharam dos soldados americanos que lutaram na II Guerra.

356 Pré-A America Roadster
O 356 Pré-A na versão America Roadster era um dos preferidos dos americanos para colocar o carro nas pistas, e fazia sucesso contra os grandes e potentes, mas pesados sedans, com seu peso reduzido (esse modelo era feito em alumínio em vez de aço) e agilidade nas curvas, logo fez a fama da Porsche nas pistas americanas.

No final de 1954, Max Hoffman, o único importador da Porsche nos Estados Unidos, convenceu a empresa a elaborar uma versão despojada do America Roadster com um mínimo de equipamentos e um para-brisas bem mais baixo, pretendendo melhorar a aerodinâmica do modelo. Surgiu assim o Porsche 356 Speedster. Leia mais sobre este modelo no tópico mais abaixo: “ESTILOS DE CARROÇARIA”.

O 356 com o emblema "Continental"
Hoffman conhecia bem o mercado, e sabia que os americanos gostavam de carros que tinham nomes, e não apenas números. Ao perceber que a Porsche seguiria com a denominação 356, não queria que o modelo recebesse apenas um número ou letra a mais, então convenceu a Porsche a denominar o modelo como “Continental”, que seria aplicado a todos os Porsche vendidos na América. Por sua vez, a Ford, que fabricava o Lincoln Continental, não ficou muito satisfeita, e protestou. A expressão foi usada apenas em 1955 e os carros que são identificados com esta nomenclatura são especialmente valorizados entre os colecionadores. Para 1956, a versão criada por Hoffman foi vendida como “Européia”, mas sem nenhum emblema com esta expressão. Estes exemplares são altamente cobiçados pelos entusiastas da marca, e os conceitos que Ferry Porsche definiu para o 356 consagraram o design, a confiabilidade e principalmente o desempenho esportivo como marca registrada da Porsche através do mundo.

PORSCHE 356 A

Porsche 356A Speedster 1954

Em setembro de 1955, no Salão do Automóvel de Frankfurt, com pequenas e numerosas, mas significativas mudanças, o 356A foi apresentado. O design estava mais elaborado, no que o para brisa de uma só peça curva ajudava; os detalhes e o acabamento indicavam um produto de qualidade, deixando a austeridade para trás. Na designação interna da fábrica, “Type 1”, acabou se tornando “T1”, apelido para identificar a versão entre os aficcionados. Os motores eram 1300 cc ou 1600 cc, com virabrequim normal ou roletado (Super) e produziam 44 ou 60 hp no 1300, e 60 ou 75 hp no 1600 respectivamente. Havia três estilos de carroçaria: Coupé, Cabriolet e Speedster, este com a moldura do para brisa de altura reduzida e capota baixa (sob encomenda de Max Hofmann – veja mais sobre ele no tópico “ESTILOS DE CARROÇARIA”). Este, por sua vez, foi substituído no final da produção do 356ª pelo Conversível D, um pouco mais prático.

Porsche 356A Super 1600 Coupé

No começo de 1957, uma segunda revisão no 356A era feita, e foi nomeada Type 2, ou “T2”. A produção do Speedster atingiu 1.171 unidades e declinou depois disso. O motor “Carrera” de quatro comandos, inicialmente disponível somente nos Spyder de corrida, veio a ser ofertado como opção no 356 A.





PORSCHE 356B

Porsche 356B - com dupla grade no capô traseiro

Em fins de 1959, alterações significativas de estilo e desenvolvimento mecânico deram origem ao 356B (Type 5 ou T5). Seguindo a filosofia de evoluir, o 356B trazia para choques maiores e montado mais acima, os faróis ficaram um pouco mais verticais, a tampa do motor e do porta-malas foram ampliadas para melhorar o acesso. Os modelos disponíveis eram o Coupé, um Cabriolet, e um Roadster básico. Mais tarde, em setembro de 1961 surgiu o Hardtop Coupé, feito pela Karmann (vide detalhes no tópico “ESTILOS DE CARROÇARIA”. Todos eram equipados com o boxer de 1582cc: o básico com 60 hp, o 1600S com 75 hp e o 1600 Super 90 com carburação dupla e 90 hp.

Em 1962 vieram as grades duplas no capô traseiro, o bocal externo para abastecer o tanque de combustível no para-lama dianteiro direito, e uma janela traseira maior para o coupé (Type 6 ou T6). Estas mudanças não foram suficientes para que o modelo ganhasse uma designação com uma letra diferente; mas quando os freios a disco foram instalados, sem outras alterações visuais, o modelo passou a ser chamado de 356C, ou ganhava a sigla SC quando vinha equipado com o motor 616/36. 

O 356 Hardtop, ou Notchback, feito pela Karmann
Outro modelo 356B, conhecido como “Notchback” ou “Karmann Hardtop” foi produzido em 1961 e 1962, sendo que o 1961 era essencialmente um Cabriolet (T5) com a capota de aço soldada no lugar. Já o 356B de 1962 (T6) era um projeto muito diferente, em que a capota hardtop era integrada ao design do carro desde a construção básica da carroçaria. Ambos os modelos destes carros exclusivos acabaram sendo nomeados com o nome de “Karmann Notchback”, pois a Reutter montava o 356 e o enviava à Karmann para finalizar a capota, soldando-a ao corpo do carro. Reporta-se cerca de 1750 unidades construídas, mas muitos acabaram cortando suas capotas para transformá-los num Speedster, mais desejados na época. Hoje temos registros de 157 exemplares que sobreviveram ao tempo e às serras que deceparam os tetos destes raros Porsches.

PORSCHE 356 C

Porsche 356C Coupé 1965

A última revisão do 356 foi o 356C apresentado para o ano modelo 1964. Vinha com freios a disco ATE nas quatro rodas, e o mais potente motor Porsche já produzido:  o SC com 95 cv. Com o planejamento para lançar o 911, a Porsche  não mudou muito o visual, tornando quase impossível distinguir um 356B de um 356C; apenas pelo detalhe em que o 356C tinha calotas quase planas ao passo que o 356B tinham o centro delas adesivado.

As opções de carroçaria eram o Coupé, Cabriolet e o Coupé Hardtop feito pela Karmann. Os motores disponíveis eram o 1582cc padrão com 75 hp e o SC com 95 hp, equipado com cilindros de liga leve, atingia a máxima de 113 mph (182 km/h), fazendo de 0-60 mph em 14,0 segundos.

Porsche 356 SC Super 1600 1965


Esta versão de produção atingiu o pico de 14.151 unidades em 1964 (no total foram 16.678 exemplares), ano em que seu sucessor, o Porsche 911 foi lançado no mercado norte-americano (alguns meses antes na Europa). A Porsche continuou a vender o 356C na América durante 1965 devido à demanda que permaneceu bastante forte nos primeiros meses dos mais pesados e civilizados 911. Os últimos dez exemplares do 356 (Cabriolet) foram montados para a força policial holandesa em março de 1966 como modelos 1965.

ESTILOS DE CARROÇARIA

356 Coupé

A construção em monocoque da carroçaria do 356 dificultava a recuperação em carros que circulavam em climas propensos à ferrugem, como praias de ar salino ou climas muito úmidos. O projeto básico do 356 permaneceu o mesmo durante a sua vida útil; com melhorias funcionais evolucionárias em vez de mudanças superficiais de estilo anuais. No entanto, uma variedade de modelos em ambas as formas coupé e conversível foram produzidos a partir de 1948 até 1965.


Depois do coupé, a versão sem capota seria inevitável, mas há muita confusão sobre a designação destas versões, como Cabriolet, Conversível, Speedster, Roadster, Soft-Top ou Spyder. Enfim, tentamos padronizar a expressão sempre que tratar do carro seguindo o ano-modelo e o mercado em que era comercializado (Europa ou Estados Unidos).

O Porsche 356 America Roadster era a designação do modelo sem capota exportado para os Estados Unidos (possivelmente desde 1952). Ele tinha uma carroçaria de alumínio, fabricado à mão na Erich Heuer Karosseriefabrik em Ullersricht perto de Weiden no Alto Palatinado, Alemanha.

Graças ao alumínio, pesava 160 kg a menos que o 356 Coupé e sua velocidade máxima de 180 km/h com seu motor boxer de quatro cilindros de 70 cv era impressionante na época. O carro esportivo exclusivo, desenvolvido para o mercado norte-americano e apenas 16 exemplares construídos, já apresentava elementos-chave do design Speedster como janelas deslizantes para as portas, capota dobrável e assentos leves.

356A Speedster 1954

Um dos modelos mais cobiçados pelos colecionadores é o 356 “Speedster”, introduzido no final de 1954, por influência de Max Hoffman, que sugeria uma versão mais espartana aberta de custo mais baixo para vender no mercado norte-americano. Com carroçaria feita de aço, seu para-brisa de altura reduzida, e que poderia ser removido para participar de corridas nos fins de semana, assentos individuais envolventes, e uma capota mínima, o Speedster foi um sucesso imediato, especialmente no sul da California. Foi substituído ao final de 1958 pelo modelo “Convertible D”, que apresentava um para-brisa mais alto e prático (a capota ficava um pouco mais alta quando levantada). Abertura vertical dos vidros das janelas, e assentos mais confortáveis. O modelo atingiu seu auge em 1957 com o 356A 1500 GS Carrera GT Speedster: seu motor de 1,5 litro produzia 110 cv. Foi o primeiro modelo de produção da Porsche que atingiu uma velocidade máxima de 200 km/h.

356 Convertible D 1957

No ano seguinte, o conversível 356B “Roadster” substituiu o modelo D, mas o caso de amor do mercado de carros esportivos com os modelos espartanos estava em declínio; as vendas do 356 soft-top diminuíram significativamente nos anos 1960.

356 Karmann Notchback 1962

Modelos Cabriolet (Conversíveis com um para-brisa completo e capota externa) foram oferecidos desde o início, e no começo de 1950, por vezes chegava a 50% da produção total. Os modelos “Karmann Notchback” já citados, tinham traços da carroçaria Cabriolet mas o teto era fixo e permanente.

MOTORES

Quando o motor de quatro comandos “Carrera” se tornou disponível no final de 1955, este motor entrou na lista de opcionais com o 356 A e se manteve disponível durante toda a vida do 356 no mercado. Este motor havia sido projetado para o Spyder 550, em 1954; com os mesmos quatro cilindros, tinha quatro comandos de válvulas no cabeçote, dupla carburação, duas velas por cilindro, bloco de alumínio e virabrequim roletado. Iniciando com 1498cc e 100hp, em 1958 foi ampliado para 1588cc com 105 hp, chegando aos 115 hp em 1959.

Porsche 356 Carrera 2 1963

Na primavera de 1962, a Porsche lançou o mais poderoso 356 de todos: o Carrera 2, equipado com o boxer de 1966cc com 130 hp na versão padrão e 155 hp na versão GS e GT de competição, chegando a 125 mph (202 km/h), e fazendo de 0-60 mph em 9,0 segundos. Apenas 436 exemplares do 356 Carrera 2 foram produzidos, tornando-o um dos mais raros 356 para os colecionadores. No Museu da Porsche a Ficha Técnica do 356 Carrera 2 indica 175 hp, com máxima de 220 km/h.

Porsche 356B Carrera 2 1960, no Museu da Porsche


HERANÇA ou LEGADO (?)

O Porsche 356 sempre foi muito popular entre os jornalistas especializados. Em 2004 a revista Sports Cars International classificou o 356 C como o décimo em sua lista de Top Sports Cars da década de 1960

O Porsche 356, nas versões A, B e C, continua sendo um carro de colecionador altamente considerado, atingindo regularmente entre US $ 20.000 e bem mais US $ 100.000 em leilões. A produção limitada do Carrera Speedster (com seu motor de corrida DOHC especial), modelos SC, Super 90 e Speedster estão entre os mais desejáveis. Várias variantes restauradas do Carrera (das quais apenas cerca de 140 foram feitas originalmente) têm sido vendidos por valores superiores a US$ 800.000, sendo a grande maioria vendida por mais de US$ 300.000 em leilões. Em dezembro de 2015, o 356 mais caro já vendido era o carro de uso diário da roqueira Janis Joplin que foi vendido em Nova York pela RM Sotheby's por $ 1.760.000.

O Porsche 356 de Janis Joplin

Para um carro que era vendido ao preço original de US$ 4,000 no final dos anos 1950 que era próximo do preço de um Cadillac novo não é nada mal. Diversos carros atingem preços entre US$ 20,000 e 100,000 nos leilões em que são ofertados.

Milhares de proprietários em todo o mundo buscam manter a tradição do 356, preservando seus carros e dirigindo-os regularmente. O 356 Registry dos Estados Unidos afirma em seu site americano que é “... o maior clube do mundo de Porsche Clássico”.

O PORSCHE 356 EM COMPETIÇÕES

Porsche 356 Speedster nos Estados Unidos

O Porsche 356, como saía de fábrica ou altamente modificado, obteve muito sucesso em Rallies, nas 24 Horas de Le Mans, nos 1000 Km de Buenos Aires, na Mille Miglia, na Targa Florio, na Carrera Panamericana, assim como em muitas outras importantes competições automobilísticas.

Eles eram despojados de todos os elementos supérfluos, e modificados de modo a ter um melhor desempenho e dirigibilidade para estas corridas. Alguns exemplos notáveis incluem o modelo 356 SL, e a 356 A Carrera GT.

O primeiro 356 com que a Porsche participou de competições foi denominado 356/2, com carroceria de alumínio e um dos 55 cupês feitos em Gmünd. Ao se transferir para Stuttgart, a Porsche reservou cinco unidades, já com os olhos voltados para as competições, pois Ferry Porsche acreditava que o caminho para aumentar as vendas era vencer nas corridas. Nesta mudança, alguns chassis inacabados foram completados por trabalhadores da Tatra Motors, e depois enviados para Zuffenhausen. (Veja a matéria completa sobre este modelo no link: ....................)

No início de 1960, a Porsche colaborou com a Abarth e construiu o coupé Porsche  356 B Carrera GTL Abarth, que teve algum sucesso nas competições em que participou.

Porsche 356 Carrera 2 GT - Um dos 33 exemplares
construídos com o motor 2000cc
Porsche 356 Carrera Abarth

LINHA DO TEMPO DO PORSCHE 356

1948 – Em 08 de junho de 1948, foi homologado em Gmünd, Áustria, o primeiro carro construído pela Porsche, o 356 Number 1.

1949 – Primeiro Cabriolet 356 construído. Até 1950 os 356 são feitos em Gmünd, ficando conhecidos pelo apelido de “Gmünd Coupés”.

1950 – A Porsche muda-se para Zuffenhausen (ao norte de Stuttgart), próxima à Reutter e começa a produção do 356, estes com carroceria de aço, e não mais de alumínio como os “Gmünd Coupés”. A produção continuou até 1965, com cerca de 80.000 exemplares produzidos. A Gläser também participou em produzir carroçarias do 356 para a Porsche.

1951 - O motor cresce para 1.300 cc, o câmbio tem todas as marchas sincronizadas. O chassi #063 vence as 24 Horas de Le Mans na classe de 1.100 cc. Morre Ferdinand Porsche aos 75 anos.

1952 – O motor sobe para 1488 cc, com 70 hp DIN, as versões são denominadas “1500 Super”.

1953 – Max Hoffman negocia a importação do 356 para os Estados Unidos, e nomeia concessionários no país para vender os Porsche. O para brisa perde a divisão vertical e passa a ser de uma só peça, curva.

1954 – Hoffman convence a Porsche a fabricar um modelo mais barato e sem capota, para o Mercado da costa oeste, surgindo assim o modelo Speedster, que vendeu mais de 4.100 unidades nos cinco anos seguintes. Diferia do Cabriolet, também chamado de 356 America Roadster, pelo acabamento simplificado e a moldura do para brisa mais baixo e destacável, para os que desejavam competir com ele.

1955 – Entra em produção o motor 1.600 cc. O motor 1.500 GS Type 547 Carrera pode ser instalado por aqueles que desejam competir com o 356. Chega ao Mercado o 356A, com diversas mudanças sutis na aparência do carro, praticamente metade da produção é de versões Cabriolet/Speedster. O modelo A é denominado internamente como “Type 1”, e atualmente os aficionados chamam o 356 A também por modelos “T-1”.

1956 – O 10.000º exemplar da Porsche sai das linhas de montagem.

1957 – Uma nova transmissão 644 substitui a anterior 519 com desempenho melhor, e outros aperfeiçoamentos resultam no 356 Type 2 ou “T-2”.

1958 – O motor para corrida Carrera recebe aumento de Potência. O Conversível D fica entre o Speedster e o Cabriolet, sendo mais leve e luxuoso que ambos. Os vidros das janelas agora subiam e desciam, e o para brisas era mais alto, mas ainda removível, para quem queria correr nas pistas.

1959 – Último Speedster produzido. O motor 1300 sai de linha. O 356B é introduzido e o Conversível muda o nome para “Roadster”, com o renovado “T-5”.

1960 – O 356B ganha o sobrenome de Super 90, com o novo virabrequim com contrapesos balanceados, válvulas com miolo de sódio e o carburador Solex P40-II.

1961 – A Karmann Carroçarias é contratada para fazer o modelo Hardtop, que é o Cabriolet com um teto rígido fixo. O perfil do carro ganha o apelido de “Notchback”; 1750 exemplares são feitos nesta configuração até 1963.

1963 – Surge o 356C, conhecido como “T-6”, assim como o motor SC com 95 hp. É equipado com freio a disco nas quatro rodas, Sistema elétrico de 12 volts. O motor Carrera 2 desenvolve 130 hp DIN.

1964 – A produção do 356 chega a ultrapassar 10.000 unidades no ano, mais do que toda a produção somada dos 10 anos anteriores. É apresentado o modelo 911, em preparação para o encerramento do 356.

1966 – O ultimo dos 10 Porsche 356 Cabriolet sai da linha de produção, ainda como modelo 1965. O motor Carrera de quatro cilindros continua sua carreira nas pistas equipando o Porsche 904. Foram mais de 78.000 exemplares produzidos e estima-se que metade deles ainda permanece rodando ou em coleções de aficionados da Porsche no mundo inteiro.

VOLUMES DE PRODUÇAO

356 Pré-A: de 1948 a 1955, 7.627 unidades

356A: de 1955 a 1959, 21.045 unidades

356B: de 1959 a 1963, 30.963 unidades

356C: de 1963 a 1965/66, 16.678 unidades

Total de todas as versões: 76.313 unidades.

DA MINHA COLEÇÃO

Porsche 356A Speedster, 1959, da Burago em 1:18

O Porsche 356A Speedster 1959 é da Burago, na escala 1:18, na tradicional cor prateada, reproduz muito bem o original. Pintura bem feita, cromadas caprichados, emblemas corretos, tanto os em relevo como os adesivos. Abre as portas, capô dianteiro e traseiro; as rodas dianteiras esterçam conforme se vira o volante. Faróis bem acabados, lanternas dianteiras e traseiras, para choques bem proporcionados, limpadores de para brisa, moldura cromadas, maçanetas, tudo correspondendo ao original da época. O motor tem o padrão da Burago, com os principais elementos, dá margem para uma customização mais detalhada dos elementos no cofre do motor. O mesmo pode ser dito do pequeno porta malas dianteiro, com o estepe e o reservatório de fluido dos freios.

O interior traz os bancos, volante, painel de instrumentos bem resolvido com os mostradores e botões, pedais e alavanca do câmbio, e as forrações das portas com as maçanetas. Espelhos retrovisores, rodas e calotas correspondentes finalizam o bom aspecto geral da miniatura. A grade do motor poderia ser photo-etched, assim como os emblemas, para incrementar a qualidade do modelo, mas mesmo sendo de plástico, são bem feitos.

Porsche 356B Coupé 1961

O 356B 1961 Coupé também é da Burago, com a mesma qualidade de acabamento, estão lá os para choques maiores, a dupla grade do motor, o vidro traseiro um pouco maior do que os 356A, e as calotas mais planas, e claro, o teto e interior onde consta o banco traseiro configurando a classificação 2+2 deste coupé.

Porsche 356A Cabriolet 1963, da BRUMM, 1:43

Em 1:43 temos o 356A Cabriolet, da BRUMM, bem caprichado, com as molduras de faróis e lanternas cromadas, para choques, limpadores do para brisa, friso no capô dianteiro e a grade do motor cromadas. As rodas com design correspondente e com calotas cromadas, e o volante branco com aro da buzina cromado dão o toque no interior do modelo.

Porsche 356B Coupé da Hot Wheels

Na escala 1:64, temos os 356B Hot Wheels com o mesmo casting nas três decorações da Outlaw, do restaurador de Porsches Rod Emory, da California, EUA. Com as limitações naturais da escala, os detalhes acabam se perdendo, ficando o atrativo pelo design geral e as decorações de cada edição. O Coupé amarelo é um Real Riders, com as rodas diferenciadas de metal e pneus de borracha.

Porsche 356A Coupé e o 356B Speedster da Maisto

Os 356 da Maisto são um 356A Coupé Vermelho, e um 356B Speedster prateado, e uma diferença muito significativa entre os dois castings. Enquanto o Speedster tem um bom detalhamento, pecando só pelas rodas-padrão, o Vermelho parece mais um brinquedo do que uma miniatura…

Porsche 356A Speedster da TOMICA

O Speedster vermelho da TOMICA é um 356A da Mainline, e tem um detalhamento mediano do casting, deixando a desejar as rodas, que são as padrões da TOMICA. Conta a seu favor os faróis prateados e os adesivos laterais, e os para choques bem proporcionais, e o parabrisas com os limpadores.

REFERÊNCIAS:

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"The Porsche Book, Lothar Boschen and Jürgen Bath, page 199

Lewandowski, Jurgen (2010). "Porsche 901: The Roots of a Legend. Germany: Delius Klasing Verlag GMbH.

"Porsche 356 ‘Continental’: A short story about a well-known name". Classic Driver. 2013-07-17. Retrieved 2014-09-23.

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