segunda-feira, 18 de abril de 2022

MERCEDES-BENZ 300 SL - "Asa-de-gaivota"

 MERCEDES-BENZ 300 SL

A origem do ícone que se tornou o 300 SL vem dos carros com que a Mercedes-Benz competia no Campeonato Mundial de Carros Esportes, começando com o modelo W194, W196, 300 SLR sendo o 300 SL denominado como “road car”. 

Produzido como cupê de 1954 a 1957, com suas características portas que se abriam para cima ganhou o apelido de “Gullwing” ou “Asa-de-gaivota”; e na versão roadster de 1957 a 1963, tinham tecnologias exclusivas para a sua época, e se tornaram clássicos, integrando as coleções dos admiradores de automóveis que marcaram sua época. A história do Mercedes Benz 300 SL começa com o carro com que a Mercedes voltou a competir nos anos 1950, com o código interno de W194.

Mercedes-Benz 300 SL W194

Mercedes Benz 300 SL W194
No segundo semestre de 1951, com a Alemanha se refazendo da II Guerra, os diretores da Daimler-Benz decidiram finalmente que chegara o momento de voltar às competições. E, como se tratava da Daimler-Benz, tinha de ser com um carro extremamente competitivo. Só que a data-limite para o carro ficar pronto estava aflitivamente próxima: 4 de maio de 1952, data das próximas Mille Miglia, disputadas na Itália. Construído para a temporada de 1952, o primeiro carro esporte da Mercedes após a II Guerra Mundial, era movido por um motor de seis cilindros de 3,0 litros com comando simples no cabeçote, fora desenhado por Rudolf Uhlenhaut, Engenheiro-chefe de Desenvolvimento da Mercedes. Seu chassi tubular de alumínio era extremamente leve, pesando apenas 70 kg, mas muito resistente às forças que agiam sobre um carro de corridas. Devido à impossibilidade de aplicar a abertura normal das portas com os tubos que passavam na soleira, Uhlenhaut projetou as portas com abertura para cima, ficando conhecidas desde então como “asas de gaivota”. O reforço da treliça na soleira das portas era necessária pois ali é ponto onde os projetistas mais se preocupam para evitar as torções que o chassi sofre com os desníveis do piso por onde o carro está passando. Quanto mais rígido o chassi, mais estável o carro e melhor dirigibilidade nas curvas ele tem.


Equipado com três carburadores Solex duplos, o motor era inclinado a 50 graus para baixar a altura do capô e o centro de gravidade do carro. Ele produzia 175 hp e atingia 260 km/h de velocidade máxima; graças à boa aerodinâmica de seu design. Apesar de rápido e de boa dirigibilidade devido ao baixo peso, seus semieixos traseiros exigiam muita habilidade dos pilotos, quando em altas velocidades nas curvas em que o piso não era tão perfeito, a alteração do camber das rodas e a quantidade de combustível no seu enorme tanque na traseira prejudicavam seu desempenho.

O W194 na Mille Miglia
O projeto de Uhlenhaut já nasceu vencedor, e a tempo de ser inscrito na Mille Miglia. Com todas as expectativas de um novo carro estreando numa corrida tão importante, pode-se dizer que o 300 SL foi um sucesso, apesar de não ter conseguido a vitória, chegou em segundo, terceiro e quarto lugares, atrás apenas da Ferrari pilotada por Bracco. Nas outras importantes corridas de 1952 em que foi inscrito, só não venceu a corrida de estréia.
O W194 carro conseguiu diversos sucessos nas corridas em que participou. Venceu as 24 horas de Le Mans em 1952, a Eifelrennen em Nürburgring e a Carrera Panamericana, no México, além do segundo e quarto lugares na Mille Miglia, e a vitória no Rally Stela Alpina em 1955.
O 300 SL de Kling e Klenk

O 300 SL Spyder de John Fitch

Digno de nota que na Carrera Panamericana de 1952, a Mercedes levou três carros, dois cupês, pilotados por Karl Kling e Hans Klenk, que venceram a corrida; seguido por Hermann Lang no segundo cupê; e John Fitch em terceiro lugar no spyder. Infelizmente, Fitch acabou desqualificado por causa do mecânico que acessou o carro no segundo e último dia.

Depois de terminarem em primeiro, segundo e terceiro em Berna, Suíça, chegou a vez de Le Mans. A Daimler-Benz levou para as pistas três 300 SL, pilotados por Lang Riess, Helfrich Niedermayer e Kling Klenk. Um deles estava equipado com o freio aerodinâmico, muito inovador para a época.

O 300 SL com o freio aerodinãmico

O carro de Kling Klenk abandonou por falha do dínamo (o único a abandonar por causa de um problema mecânico), mas o carro de Lang Riess venceu, a uma velocidade média recorde de 155 km/h, seguido pelo de Helfrich Niedermayer.

Na verdade, a vitória em Le Mans fora conquistada um mês antes, nas Mil Milhas. A elevada velocidade dos 300 SL nas longas retas da Itália abalou a equipe da Jaguar, que enviou mensagens urgentes à fábrica, em Coventry, exigindo maior velocidade para o Jaguar Tipo C, vencedor de Le Mans em 1951. O frenético redesenho da carroçaria do Jaguar para reduzir o arrasto aerodinâmico provocou problemas graves de refrigeração: os Jaguar não conseguiram terminar a corrida. Assim, os 300 SL os venceram antes mesmo de começar a correr!

Um fator que colaborava para as altas velocidades atingidas pelo 300 SL, não se devia somente ao motor, mas também ─ ou principalmente ─ à carroceria. Com suas laterais lisas e curvilíneas, e as características “pestanas” sobre os arcos das rodas, que reduziam o arrasto, ela era muito eficiente do ponto de vista aerodinâmico.

Apenas 10 exemplares foram construídos, sendo sucedidos pelo W196 (de rodas descobertas) nos circuitos fechados, e pelo 300 SLR para as competições de estradas abertas. Não há informações sobre a preservação de qualquer um destes modelos, apenas restou um exemplar, o de chassis #00002, que era utilizado para treinamento, e que foi totalmente restaurado pela Mercedes, e mesmo não estando à venda, já recebeu ofertas de US$ 15 milhões.

Mercedes-Benz W196

W196
Este modelo era um Formula Um, de rodas descobertas, construído para a temporada de 1954 e 1955. Nas mãos de Juan Manuel Fangio e Stirling Moss, venceu 9 das 12 corridas que participou, e venceu os dois campeonatos de Fórmula 1 em que competiu.

Aperfeiçoamentos que tinha eram um comando desmodrômico para as válvulas, injeção direta de combustível (tecnologia aeronáutica usada nos Messerschmitt durante a II Guerra). O regulamento da temporada limitava o motor a 2,5 litros ou 750 cc com compressor. Sua configuração era um oito cilindros em linha.

Fangio, que havia vencido duas corridas com a Maserati (Buenos Aires e Spa), venceu o GP da Suíça e da Itália com o W196, assegurando seu segundo campeonato no Mundial de Pilotos. No curto campeonato de 1955, o W196 venceu todas as corridas, exceto o GP de Mônaco, com o destaque para o GP da Inglaterra, onde Stirling Moss chegou com 0,2 segundos de vantagem sobre Fangio (sua primeira vitória), uma corrida em que a Mercedes terminou com o primeiro, segundo, terceiro e quarto lugares.

W196 com Fangio no GP da Itália em Monza

O modelo W196 foi apresentado no GP da França, em Reims, para o campeonato de Fórmula 1, porém tinha carroçaria que cobria as rodas. Fangio e Klaus Kling fizeram a dobradinha nesta corrida, com Hans Hermann fazendo a volta mais rápida. O carro com esta carroçaria correu apenas mais três vezes: no GP da Inglaterra, em Silverstone; no GP da Itália em Monza (onde ganhou o apelido de “Type Monza”) na temporada de 1954 e no mesmo GP da Itália em Monza em 1955, todas vitórias nas mãos de Fangio. Até hoje, estas são as únicas corridas da Fórmula 1 vencidas por um modelo com as rodas cobertas.

Devido ao trágico acidente nas 24 Horas de Le Mans de 1955, onde o Mercedes-Benz 300 SLR pilotado por Pierre Levegh bateu na traseira de um Austin Healey, decolou para fora da pista atingindo a área dos espectadores, matando 83 deles e ferindo mais de 180 outros; o carro se desintegrou com os choques e Levegh morreu na hora; a Mercedes abandonou as corridas no final de 1955, e só voltou às competições 30 anos depois.

Mercedes-Benz 300 SLR

300 SLR com o freio aerodinâmico

Derivado do W196, de Formula Um, o 300 SLR (internamente designado W196S), era um carro esporte de dois lugares, vencedor do Campeonato Mundial de Carros Esporte de 1955.

Compartilhava o mesmo motor de 3 litros de oito cilindros em linha do W196, mas reduzido para 2,5 litros de cilindrada, com injeção de combustível, desenvolvendo 310 hp. Adaptações no chassi configurava-o para um roadster de dois lugares e a carroceria seguiu as linhas do W194 com uma aerodinâmica mais acertada, porém era um roadster aberto.


Um elemento característico do SLR era o seu freio aerodinâmico, um aerofólio que se erguia na traseira para ajudar na frenagem, pois apesar dos enormes tambores de freio, não eram páreo para os freios a disco do Jaguar D-Type. A ideia veio do diretor esportivo Alfred Neubauer, que estava preocupado com a eficiência dos freios nas corridas de longa duração.

Stirling Moss venceu a Mille Miglia de 1955, fez dobradinha no Tourist Trophy da Irlanda, venceu a Eifelrennen em Nürburgring e a Targa Florio, na Sicília, obtendo o campeonato para a Mercedes neste ano.

Dois dos nove chassis W196 produzidos foram convertidos como 300SLR/300SL, em alguns sites, são denominados híbridos, pois tinham a frente dos W196, mas do para brisa para trás, tinham a cabine e traseira do W194. Efetivamente legalizados para rodar nas estradas, tinham configuração coupé, as famosas portas asas de gaivota, e um estilo que era meio caminho entre os dois modelos.

Mercedes Benz 300 SLR Uhlenhaut

Após o acidente em Le Mans,
 a Mercedes cancelou o programa de corridas, e ao final de 1955 os carros foram encostados num galpão. Rudolf Uhlenhaut, o arquiteto de ambos os 300 SLR e o SL híbrido, se apropriou de um deles como seu carro pessoal. Capaz de atingir 290 km/h, o Uhlenhaut Coupé era de longe o mais rápido carro esporte de rua do mundo nos seus dias.

Rumores circulam sobre uma reunião em que Uhlenhaut estava atrasado, e ele cobriu o trecho entre Munique e Stuttgart com o 300 SL Coupé em apenas uma hora, a 137 mph (220 km/h), um trajeto que normalmente levava duas horas e meia para percorrer.


Mercedes-Benz 300 SL - W198

O 300 SL na configuração do mercado americano

Max Hoffman, importador oficial da Mercedes em Nova York, sugeriu para a gerência da companhia que uma versão de rua do W194 seria um verdadeiro sucesso comercial, especialmente na América.

Apenas dois carros desta época tinham a estrutura espacial do chassi: o Mercedes-Benz W194 e o Lotus 6, do jovem projetista Colin Chapman. Feita de tubos soldados em triangulação, distribuía as forças de torção e era muito resistente à flexão, conferindo ao veículo uma leveza extraordinária e rigidez incomparável; que se traduzia em maior estabilidade nas curvas.

300 SL Rolling Chassi

Soldados em seções quadradas, às dezenas, os tubos de aço formavam uma grade que aceitava e distribuía todas as cargas impostas, pesando apenas 82 kg (só de combustível, os carros carregavam muito mais do que isso em peso)

Linha de montagem do 300 SL

Era uma estrutura muito elegante, especialmente nas laterais – onde outros designers sempre se defrontaram com a dependência de uma massa metálica, simplesmente para manter juntas as partes dianteira e traseira.

Convencidos os diretores da Mercedes, três fatores foram decisivos para o sucesso do 300 SL: a rapidez com que foi construído, por Rudolf Uhlenhaut e sua equipe; a habilidade com que foi feito, gerando uma máquina confiável em seu desempenho;  e a beleza de seu design, a criatividade que o tornou um clássico desde o início.


Um carro esporte é fruto de uma combinação delicada, difícil de ser conseguida. Há esporte demais em alguns, carro demais na maioria deles. Ao longo de sua história, a Mercedes produziu muitos carros esportivos de um tipo ou outro. Ou a máquina era uma adaptação óbvia de um carro de turismo, ou algum bólido de corridas transformado em carro de rua.

300 SL 1956 - Interior

Com este histórico da empresa, o Mercedes-Benz 300 SL pode ser considerado como o mais atípico sucesso esportivo e comercial de seu tempo. Quase dois anos depois de sua aparição triunfal nas pistas de corrida, em fevereiro de 1954, o 300 SL foi apresentado no New York Auto Show em 1954, ao invés de Frankfurt ou Genebra, como era usual a Mercedes fazer os seus lançamentos, obteve um sucesso imediato, com diversos admiradores querendo fazer reservas antecipadas do modelo.
O protótipo de pré-produção causou um frisson, e o assédio do público com pedidos para que fosse colocado em produção e venda, obrigou a Mercedes a atender aos pedidos e em questão de meses, o 300 SL estava nas concessionárias americanas, incorporando diversos aperfeiçoamentos aerodinâmicos.

O volante dobrável ajudava o acesso

Com suas características portas que se abriam para cima, devido aos reforços da treliça na base das portas, entrar e sair do carro era um tanto complicado; por isso a coluna de direção tinha um mecanismo para levantá-la, facilitando o acesso e saída do piloto.

O motor de seis cilindros inclinado a 50º

Ele continha peças demais de produção em série para ser um bom carro de corridas, e no entanto, conseguiu melhor desempenho nas pistas que seus rivais de pedigree. Podia ser dirigido em quarta marcha, suavemente, a apenas 30 km/h (alguns exemplares sobreviventes ainda podem ser dirigidos assim).

O corpo principal da carroçaria era feito em aço, mas as portas, e o capô dianteiro e traseiro eram feitos de alumínio, mas ele podia ser encomendado com todos os painéis feitos em alumínio, poupando cerca de 80 kg no peso total, mas com um aumento fenomenal nos custos; rodas com travas centrais e relações de marcha diferentes, até o comando de válvulas de competição. Com a adição dos itens de performance, a potência subia para 240 hp a 6.100 rpm. Devido aos custos adicionais, apenas 29 foram feitos nesta configuração; e os exemplares sobreviventes acabam sendo mais valorizados entre os 300 SL. 


Para aliviar a pressão de ar da refrigeração sob o capô (responsável em grande parte pela resistência aerodinâmica do carro) foi criado uma saída através das grades logo atrás da caixa das rodas dianteiras. Esse elemento ainda enfatizava o comprimento do carro e criava uma sensação de que o carro era veloz. Em comparação com o W194, o redesenho da grade dianteira foi criticado, pois alguns consideravam que o design limpo da dianteira do W194 havia ficado um tanto poluído com o novo desenho da grade e a combinação de um para-choques rebuscado (presume-se que este design era para atender às normas do mercado americano).

Claro que o carro vendido ao público trazia os aperfeiçoamentos necessários para agradar os motoristas, ao passo que os exemplares de corrida não tinham um acabamento tão caprichado, nem acessórios que visavam o conforto e conveniência de quem os dirigia, e não pilotava. As guarnições, frisos, emblemas, o volante que se dobrava para facilitar o acesso, o design dos bancos eram detalhes que chamavam a atenção, mas os elogios mais sinceros, porém, exaltavam a engenharia e a performance do carro.

No decorrer do processo de adaptação para as ruas, ocorreu um fato surpreendente, refutando os padrões convencionais de outros carros que eram “amansados” para ser comercializados ao público. O carro de linha tinha se tornado mais potente do que o de corrida, em mais de 16%.

Dezoito anos depois de ter sido pioneira em todo o mundo com a introdução da injeção direta de gasolina em motores aeronáuticos, a Daimler-Benz repetia o feito com um carro de série.

Havia quem temesse as complexidades do sistema de injeção (feita por uma bomba de combustível Bosch de alta pressão). Devido à configuração da bomba mecânica e não elétrica, no carro de competição, o sistema mantinha a pressão do combustível, por um tempo ainda, depois do motor ter a ignição desligada, até ele parar de girar. Esta gasolina não queimada lavava as paredes do cilindro e não apenas deixava estas áreas desprotegidas de lubrificação ao religar o motor, mas também contaminava o óleo do motor se o carro ficasse parado por um período mais longo. Este era a razão para que ele tivesse um grande radiador de óleo e um enorme reservatório de 10 litros que virtualmente garantia que o óleo não aqueceria além do limite. Na prática, muitos proprietários bloqueavam a entrada de ar do radiador de óleo, mas tinham de trocar religiosamente o óleo no intervalo bem reduzido de 1.000 milhas (1.600 km) para a troca de óleo do motor.

Apesar disso, o dia a dia do sistema provou-se inteiramente confiável, bem como fácil de manter e regular ─ havia apenas dois ajustes: para a marcha lenta e para o enriquecimento da mistura, e ambos podiam ser feitos com a borda de uma moedinha.

A grande vantagem da injeção direta estava no fato de que livrava os coletores de admissão de perigos e riscos, permitindo que o motor respirasse mais livremente. Molas duplas, concêntricas por válvula e um amortecedor de torção melhor e maior permitiram que o motor atingisse níveis de rotação muito mais altos, acumulando assim uma potência ainda maior, de 215 hp.

Com tal impulso, uma caixa de velocidades precisa e um diferencial autoblocante, esse bólido de 1.179 kg podia avançar por suas quatro marchas sincronizadas para atingir 96 km/h em apenas 7,75 segundos, 161 km/h em 17,75 segundos e assim por diante, até uma velocidade máxima de aproximadamente 225 km/h. E muito mais poderia ser feito para torná-lo ainda mais veloz.

Era preciso apenas que o cliente quisesse e pudesse esvaziar os bolsos. Em troca, poderia receber um grande número de opcionais: alguns destinavam-se a tornar o carro mais confortável, mas a maioria servia para aumentar o seu desempenho.


Linha de montagem do 300 SL

O 300 SL usava o motor de seis cilindros em linha e 3,0 litros, comando simples no cabeçote, do 300 sedã de quatro portas, instalado numa inclinação de 50 graus para rebaixar o capô e consequentemente, o centro de gravidade do carro. Ao invés dos três carburadores Solex duplos, uma injeção direta Bosch foi instalada, obtendo um aumento de 25% na potência do motor. Com isso, a potência chegou a 215 hp, praticamente o dobro do sedã 300, que tinha 115 hp originais. O resultado era uma velocidade máxima de 260 km/h, dependendo das relações de marcha, faziam do 300 SL o mais rápido carro de produção do seu tempo.

Podia percorrer os circuitos à frente da maioria de seus contemporâneos, sem exigir muito mais esforço muscular de seu piloto. Mas também reduziu heróis a seres virtualmente aterrorizados quando estes se deixavam envolver rápida e profundamente por seu fascínio. Como as sereias que fascinavam os marinheiros, o “Gullwing” encantava os amantes da velocidade, mas cobrava seu preço quando o piloto não estava à altura de suas exigências.


A velocidade do carro, neste estágio, era muito respeitável. Com o câmbio projetado para render, a 6.000 rpm em cada mudança sucessiva, 76 km/h na primeira, 127 km/h na segunda, 187 km/h na terceira e 249 km/h na quarta e última marcha, um bom 300 SL podia atingir 267 km/h a cerca de 6.800 rpm. Claro que não havia nem muitos locais públicos, nem andar nesta velocidade por muito tempo; era preciso lembrar que os freios a tambor, apesar de serem muito bons, não tinham capacidade para frear o carro com segurança numa emergência.

A dirigibilidade do “Gullwing” também não era para qualquer um. Era necessário levá-lo com delicadeza, e lidar com suas reações numa situação inesperada era tarefa para experts. Caso precisasse mudar a trajetória repentinamente, dirigindo em alta velocidade, exigia-se que não tirasse o pé do acelerador; algo instintivamente oposto ao comportamento normal em outros carros. Sua suspensão traseira, com semieixos oscilantes fazia as rodas instáveis, resultando num imediato rodopio sobre seu próprio eixo, uma experiência não muito desejável, mesmo para os candidatos a pilotos de fim de semana. Infelizmente, molas e amortecedores de competição não constavam da gama de opcionais, portanto, era recomendável que seus donos tivessem cautela nestas situações de risco.


Cerca de 80% de toda a produção das quase 1.400 unidades foi vendida para o mercado americano, fazendo do 300 SL o primeiro Mercedes com enorme sucesso fora do mercado alemão, cumprindo a profecia feita por Hoffman. O carro foi responsável por transformar a imagem da Mercedes de um solido fabricante de luxuosos automóveis para uma empresa capaz de produzir um verdadeiro carro esportivo.

Se o 300 SL não tivesse ido tão longe ─ se tivesse se limitado a dez exemplares de corrida, apenas para levar a Daimler-Benz de volta às competições, ao invés de se estender por uma produção de 1.400 sugadores de fundos ─ ainda assim seria merecidamente memorável. Foi o primeiro carro com a chamada “estrutura espacial”, o primeiro com as “asas de gaivota”, o primeiro carro de série a sair de fábrica com o sistema de injeção direta de gasolina, e o primeiro a ensaiar um “dispositivo aerodinâmico móvel”.


Na verdade, o 300 SL de rua era construído mais em função do conforto (exigido pelos norte-americanos) que da agilidade, o que requeria uma suspensão traseira totalmente independente. Uhlenhaut sabia do problema. A evidência estava no novo sistema com pivô único baixo que apareceu pela primeira vez no chassi do 220 A, no início de 1954, antes que o 300 SL começasse a ser produzido em série. Esta suspensão poderia ter sido aplicada ao carro, se os diretores da fábrica estivessem preparados para esperar algum tempo pelos dólares. Não estavam. Por isso, o jeito de fazer uma curva era frear antes dela, e então, continuar pisando progressivamente o acelerador, de modo que a reação de inércia natural de derrapagem da traseira mantivesse o centro de rolagem traseiro baixo e a cambagem das rodas negativa. Se o piloto conhecesse e reconhecesse a curva, e se existisse uma reta suficientemente longa para frear o necessário antes da curva, tudo bem. Caso contrário...

Mas o sistema de pivô baixo viria. A Mercedes já tinha como tradição que o carro de passeio de hoje produziria o carro de corridas de amanhã. A suspensão traseira do 220 A certamente seguiria essa tendência.

Mercedes Benz 300 SL Roadster

O elegante 300 SL Roadster

Os norte-americanos sempre foram os principais responsáveis pela aparência, pelo destino e, até certo ponto, pelas especificações dos Mercedes de passeio. Foi para atendê-los que se produziu uma versão conversível do 300 SL ─ e foi graças a esta versão que finalmente abandonou-se o malfadado sistema de semieixos.

O teto retrátil evidentemente eliminava as portas tipo asa-de-gaivota, em consequência, o carro não podia manter a mesma estrutura espacial, que foi podada para permitir a passagem das longas pernas dos americanos. A rigidez estrutural perdida teve de ser restaurada por novos tubos de suporte. Na verdade, toda a estrutura do chassi teve de ser revisada, e então não houve a menor objeção à adoção da suspensão traseira de pivô baixo.


Mas o que as pessoas mais notaram foi a maior abundância de ornamentos da carroçaria e a sutil adoção de novas características de estilo (que permitiam já antever os 230 SL de 1963). É possível que os compradores nem tenham notado que na versão conversível o comando de válvulas de alto desempenho era equipamento padrão!



Com a suspensão revisada, o carro poderia mostrar melhor sua potência. O centro de rolagem traseiro estava agora no ponto do pivô central, alguns centímetros abaixo do nível do cubo da roda. O desempenho e a segurança melhoraram muito, mas nessa fase (1957-1963) o 300 SL não era mais um carro para corridas. E quem se importava? Era charmoso. Era fácil de pilotar. Era um carro para ser polido e dirigido vagarosamente sob o sol, com o teto descido e o ego lá em cima. Não mais um carro de corridas atrás de honrarias internacionais. Tinha se tornado um genuíno carro para exibição de status.

DA MINHA COLEÇÃO

O 300 SL da Burago em 1:18 com uma decoração "fake" da Mille Miglia

O 300 SL da Burago em 1:18 é bem reproduzido, abre as portas 'asa-de-gaivota', o capô dianteiro com o seis cilindros em linha de 3 litros com um detalhamento simples, como habitualmente os Burago trazem. O capô traseiro também se abre, revelando o estepe. Os cromados são bem feitos, faróis, lanternas de pisca e traseiras, emblemas corretos. O interior reproduz os bancos da época, volante e painel com instrumentos caprichados e o espelho retrovisor no alto do painel.

A ressalva fica por conta da decoração da Mille Miglia, os decalques da numeração não conferem com os modelos que competiram nesta corrida pelas estradas italianas.

Em 1:43 temos o 300 SL aberto da Model Max, reprodução do carro pilotado por John Fitch, ex-aviador que havia abatido vários aviões alemães na II Guerra, correu na Carrera Panamericana de 1952. 

O 300 SL de John Fitch, Carrera Panamericana 1952
Da Mattel, temos o 300 SL no conjunto da Série Team Transport (Real Riders), com o caminhão de transporte para as corridas da Europa; e o 300 SL do Set Car Culture 2021 que veio junto com o Porsche 917 e o Jaguar E-Type Lightweight.

O 300 SL do Team Transport 2021

 
Hot Wheels Car Culture Set 2021
Da mainline de 2023 saiu o 300SL da IWC, num blister individual, com leves alterações nos decalques, outro 300SL vermelho, com numeração nº 2, e outro na Série Jay Leno Garage, com rodas especiais e pneus de borracha, reproduzindo um 300SL da coleção do famoso apresentador de TV americano, inclusive com a falha na pintura do número da porta do piloto como no carro de verdade.
300 SL da Mainline 2022

Segunda decoração de 2022

300 SL da Série Jay Leno Garage


Da NOREV em 1:64, temos o Renntransporter e o 300 SL em vermelho, um acabamento melhor para a escala.

NOREV 1:64


https://en.wikipedia.org/wiki/Mercedes-Benz_300_SLR

https://en.wikipedia.org/wiki/Mercedes-Benz_300_SL

https://www.mercedes-benz.com/en/classic/history/mercedes-benz-300-sl-gullwing-w-198/

https://en.wikipedia.org/wiki/Mercedes-Benz_300_SL

https://en.wikipedia.org/wiki/Mercedes-Benz_W194

https://en.wikipedia.org/wiki/Mercedes-Benz_W196

https://www.autoentusiastas.com.br/2015/07/o-incrivel-mercedes-benz-300-slr/

https://www.mercedes-benz.com/en/classic/history/mercedes-benz-300-sl-w-194/

https://www.mecum.com/lots/FL0121-444535/1956-mercedes-benz-300sl-gullwing/ 

https://www.autoviva.pt/300_slr_uhlenhaut_coupe/versao/19034

https://heacockclassic.com/articles/mercedes-benz-300-sport-light-the-gullwing-coupe/

https://en.wikipedia.org/wiki/Carrera_Panamericana#1952 

 

 

 

quarta-feira, 6 de abril de 2022

LAMBORGHINI COUNTACH

O Countach LP500 apresentado no Geneva Motor Show de 1971

O Lamborghini Countach tem suas origens com o Lancia Stratos Zero, um radical concept car do Estúdio Bertone, apresentado no Turim Motor Show de 1970. O protótipo efetivo do Countach veio um ano depois, no Geneva Motor Show de 1971, designado Lamborghini LP500 Concept Car, impactando o público com seu design radicalmente esguio e baixo, e as superfícies trapezoidais por todos os lados.

Ferruccio Lamborghini precisava de um sucessor para o Miura, um grande carro, mas que sofria os efeitos da idade e da concorrência, como a Ferrari Daytona. A equipe liderada por Paolo Stanzani começou a trabalhar no projeto LP112, e entre seus colaboradores estavam o piloto Bob Wallace (test driver), o engenheiro assistente Massimo Parenti e o designer Marcello Gandini, do Estúdio Bertone.

As diretrizes que Ferruccio Lamborghini passou para a equipe eram de fazer um carro mecanicamente avançado, com a melhor performance possível, assim como aerodinamicamente eficiente e esteticamente ousado. A preferência de Ferruccio por automóveis esportivos confortáveis era notória, mas ele percebeu o carisma do Miura junto ao mercado, e deu permissão ao time de Stanzani para ir um pouco além no projeto LP112.

Mantendo algumas características do Miura, como a posição do motor central-traseira e tração traseira, buscaram reduzir o sobresterço e aumentar a estabilidade em altas velocidades, assim como melhorar o acesso aos componentes mecânicos para manutenção e solucionar o endêmico problema de refrigeração do motor na posição transversal do Miura.

Os estudos levaram um ano de desenvolvimento até o primeiro protótipo do Countach, designado LP500, e foi mostrado ao público no Geneva Motor Show de 1971. Após isso, a equipe trabalhou por mais três anos aperfeiçoando o protótipo até chegar ao modelo de produção, denominado LP400 Countach, apresentado em 1974.

Quebrando a tradição de batizar os carros com nomes de touros famosos, Countach veio da palavra “contacc”, uma exclamação de espanto ou surpresa no idioma Piemontês. Segundo comentário de Marcelo Gandini sobre a origem do nome, ele diz: “Em 1970 ou 71, quando trabalhávamos noites adentro e todos estavam cansados, havia um profissional responsável pelos trincos e fechaduras, um homem de dois metros de altura e duas mãos enormes, realizando trabalhos em peças diminutas. Ele era piemontês, e só falava esse idioma, bem diferente do italiano, e soava como francês. Uma das mais frequentes exclamações dele era “countach!” usada por ele para expressar espanto e admiração. Uma noite, para animar a equipe, eu disse brincando, que poderíamos chamar o carro de Countach, mas sem muita convicção. Perguntei para Bob Wallace, que estava próximo, como isso soava em inglês, e ele pronunciou, a seu modo, soando algo estranho. Escrevemos o nome no papel, e um de nossos jovens colegas de trabalho disse: “Isso, vamos chamar o carro de ‘Countach!’ e essa é a história por trás do nome.” ”

Já as siglas LP significavam “Longitudinale posteriore” (longitudinal traseiro, referente ao motor), seguidas de três algarismos designando a capacidade do motor: 400 era para o motor 3,9 litros e 500 para os motores 4,8 e 5,0 litros; e como no Miura, o “S” era adicionado para as versões de alta performance.

Essa regra foi quebrada em 1985, com o LP5000 Quattrovalvole, equipado com um motor 5,2 litros, que também era chamado de 5000QV. Assim também, em 1988, a versão comemorativa dos 25 anos do Countach recebeu apenas o complemento “Anniversary”.

ESTILO

O Alfa Romeo Carabo (no alto) e o Lancia Stratos Zero (acima)


Marcelo Gandini, trabalhando no Estudio Bertone, havia projetado o primeiro Miura, e para o Projeto LP112, estava experimentando um novo estilo, mais angular e geométrico para a própria Lamborghini, Alfa Romeo e Lancia. Em particular, o Carabo de 1968 e o Lancia Stratos Zero de 1970 foram os precursores do Countach. Ambos tinham o perfil em cunha, frente baixa, traseira truncada, motores centrais-traseiros e linhas angulosas. O Carabo tinha as portas abrindo no que ficou chamado de “abertura tesoura” e no Stratos Zero a entrada era pelo para brisa que se abria para acesso ao interior do carro.


O protótipo do Countach LP500 foi apresentado no Geneva Motor Show de 1971, com suas linhas angulosas e estilo radical; comparado ao Miura, era mais baixo e largo, mas menor no comprimento. Este modelo media 4,01 m de comprimento, 1,85 de largura e apenas 1,03 de altura. Havia uma diminuta grade na frente, e os faróis ficavam ocultos quando não utilizados. O protótipo não tinha para choques, spoilers, espelhos retrovisores ou qualquer acessório que interrompesse a fluidez do design de Gandini.

As superfícies trapezoidais estavam por todo o carro: parabrisas, janelas laterais, abertura das portas, capô e cobertura do motor e lanternas traseiras. O ar para o motor e os radiadores entravam por tomadas logo atrás das janelas, que logo nos testes iniciais se mostraram insuficientes para refrigerar adequadamente o motor.


O interior do LP500 também era bem avançado tecnicamente, seguindo a filosofia do design exterior. Gandini havia projetado um painel totalmente digital para o Countach, mas ele não ficou pronto a tempo para o modelo apresentado no Geneva Motor Show de 1971, e o LP500 ficou com um velocímetro e conta-giros analógicos para esta ocasião. Apesar disso, Gandini conseguiu incorporar alguns itens de seu projeto original, como luzes de alerta inspirados em painéis de aviões e aeronaves espaciais, posicionados na coluna de direção, visualizados dentro do arco do volante, que por sinal que tinha apenas um raio, mas que no modelo de produção voltou a ser convencional.

Um destes sistemas funcionava como um “cruise control”, alertando quando uma determinada velocidade pré-estabelecida era ultrapassada; e outra inovação era o “on-board diagnostic system” (hoje bastante comum), que fazia uma checagem prévia dos subsistemas elétricos e eletrônicos do carro, mostrando os itens conferidos num sub painel com o perfil do carro à esquerda do piloto.

Também, devido à baixa altura e à visibilidade quase nula na traseira, um periscópio foi instalado no teto do passageiro, ao invés de um espelho retrovisor convencional. O equipamento veio da Donnelly Mirrors, que havia projetado inicialmente para um projeto ESV (Experimental Safety Vehicle).

Os bancos eram bem inclinados e bem baixos, com o túnel central de transmissão elevado e as portas largas contribuíam para a sensação de estarem num cockpit de carro de corrida.


A abertura das portas em estilo tesoura, que acabaram sendo uma das marcas registradas da Lamborghini eram fixas na parte da frente por dobradiças horizontais, auxiliadas por sistemas a gás para suavizar as operações de abertura e fechamento das pesadas portas. A largura do carro, bem como a espessura das portas, junto com a baixa altura, dificultavam a entrada e saída do carro, agravado se estacionasse em lugares mais estreitos, portanto o estilo tesoura favorecia tanto o design como era uma medida prática e funcional para o carro. No entanto, quando abertas totalmente, elas passavam dos dois metros, necessitando de atenção em determinados locais mais baixos.

Devido à dificuldade de visão traseira, os proprietários do Countach abriam as portas para olhar ao dar ré e estacionar, e nem todos prestavam atenção nos eventuais obstáculos nos tetos, como luminárias, encanamentos e batente de portas de garagem. Outro problema do estilo tesoura era a dificuldade de abertura em caso de capotamento do carro; então os engenheiros projetaram um parabrisas que poderia se chutado por dentro para sair do carro, e também porcas explosivas na fixação das portas para remover as portas após um acidente; apesar de que nenhuma destas soluções chegou aos carros de linha do Countach.

Como todo carro conceito, o modelo de produção recebeu várias alterações para melhorar a performance aerodinâmica e a estabilidade em velocidade, refrigeração do motor e acessórios e especificações para atender às requisições obrigatórias de segurança. Entre as mais relevantes alterações entre o protótipo LP500 e o modelo de produção LP400 eram as aberturas de ventilação e tomadas de ar estilo NACA nos paralamas traseiros (eliminadas) e as caixas logo após as janelas, que foram substituídas por persianas no mesmo local.

O bico do carro recebeu um novo desenho, mais alto, reduzindo o efeito downforce que desestabilizava o carro nas frenagens. O design trapezoidal das janelas laterais foi refeito para abertura da sua metade inferior, e seu perfil foi  estendido com a continuação de duas pequenas vigias, que melhoraram um pouco a visibilidade para trás.

O painel futurístico do protótipo foi reposto por um mais convencional, com instrumentos da Stewart-Warner analógicos, e o volante de raio único por um de três raios similar aos utilizados em outros modelos da Lamborghini.

O periscópio foi mantido no LP400, mas nos modelos subsequentes, foi substituído por um espelho retrovisor normal. As medidas do modelo de produção ficaram com 4,14 m de comprimento, 1,89 m de largura e 1,07 de altura.


O estilo do Countach foi continuamente alterado nas versões posteriores  ̶  incluindo os alargadores das caixas de rodas, spoilers, cobertura dos carburadores e para choques  ̶  devido a incrementar a performance, a segurança e aparência do modelo. Apesar disso, as formas básicas do primeiro protótipo do Countach revelado em 1971 se mantiveram praticamente inalteradas, no decorrer de seus 19 anos em que esteve em produção.

MOTOR E TRANSMISSÃO


Carros esportivos como o Countach são desenhados em torno de seus motores e transmissões, e com o seu massivo V12 colocado entre eixos na traseira, a distribuição de pesos necessitava de uma compensação para equilibrar as massas. Paolo Stanzani, engenheiro-chefe queria uma distribuição de peso ideal mesmo com o layout de motor longitudinal e tração traseira. A solução proposta foi colocar a embreagem e o câmbio na frente do motor, e não atrás, junto ao diferencial. A caixa manual de 5 velocidades Synchromesh (tipo Porsche) foi montada no meio do carro, entre os dois bancos; com o eixo cardã passando pelo cárter do motor até o diferencial no eixo traseiro.

Esta configuração tinha inúmeras vantagens em relação à colocação transversal do motor do Miura, visto que a distribuição de pesos mais próxima dos 50-50 favorecia a estabilidade nas curvas, permitia um entre eixos menor, braços menores e mecanismo mais simplificado para trocar as marchas mais rapidamente, além de facilitar a refrigeração e acesso melhor para manutenção dos componentes mecânicos.

O motor V12 utilizado no Countach era um projeto de Giotto Bizzarrini, de 1963, e era uma evolução das unidades aplicadas nos Lamborghini 350GT, 400GT, Islero, Espada e no Miura.

Tinha 3,9 litros (exatos 3.929 cc), bancada a 60º, DOHC (Double OverHead Camshaft – Duplo comando no cabeçote), duas válvulas por cilindro. Essa unidade aplicada ao Miura P400 Jota produzia entre 412 e 434 hp, mas seu custo de produção era alto e tinha pouca potência em baixas rotações, dificultando o uso urbano do carro. Então os engenheiros decidiram aumentar a cilindrada para 5 litros, para extrair mais potência sem precisar manter o motor em altas rotações.

Desde o início, o protótipo LP500 era para ser equipado com este motor, e logo que os testes de desenvolvimento começaram, um bloco original do motor 3,9 foi preparado e instalado no protótipo LP500. O bloco foi fundido com uma liga leve especial de magnésio chamada Elektron, mas o motor explodiu durante um road test com Bob Wallace, evidenciando que necessitaria de mais estudos para aumentar a resistência e durabilidade desta nova unidade. O antigo 3,9 litros passou então a equipar o carro nos testes de pré-produção.

O Countach LP400 foi lançado com esta unidade, enquanto ainda se desenvolvia o novo 5 litros. Com 370 hp a 8000 rpm, ele tinha menos potência do que a do Miura SV, justificada pela aplicação de carburadores Weber 45 DCOE horizontais, ao invés dos verticais usados no Miura.

Logo em 1982 a cilindrada foi aumentada para 4.754 cc (4,8 litros) designado LP500S, e em 1985 para 5.167 cc (5,2 litros) com quatro válvulas por cilindro no que foi designado LP5000 Quattrovalvole. Todas as versões do Countach foram equipadas com seis carburadores Weber, até o LP5000 QV, em que algumas unidades tinham injeção eletrônica Bosch K-Jetronic para atender ás normas de emissões dos Estados Unidos. As versões para a Europa continuaram com os Weber até que o Countach foi substituído pelo Diablo.

CHASSIS E CARROÇARIA


Paolo Stanzani e sua equipe desenvolveram o chassi do LP500 com tubos de seção quadrada, reforçada na parte frontal com seções em chapa de aço estampada, e foi construída pela Marchesi, de Modena, que já havia produzido chassis para os Lamborghini mais antigos.

Ele era mais rígido e pesava mais do que o do Miura: 107 kg contra apenas 75 kg. Os engenheiros queriam um chassi mais resistente para os testes de pré-produção, e mais simples de produzir e de proteger contra a corrosão, pois o do Miura tinha diversas seções perfuradas para aliviar o peso do conjunto, sendo também mais trabalhoso de produzir e proteger.

No decorrer do desenvolvimento do LP500, Stanzani resolveu revisar o design do chassi, mantendo as dimensões e layout inalterados, mas com tubos de aço de seção redonda soldados. Comparado ao chassi do protótipo, era muito mais complexo devido aos reforços cruzados e às chapas de aço em locais estratégicos, e além de ganhar em rigidez, acabou ficando com apenas 90 kg.

Este chassi tinha soluções utilizadas na Formula Um da época, e era muito avançado para um carro de rua. Além dos ganhos em performance, era uma obra de arte da engenharia, visualmente complexo e tecnologicamente sofisticado, e se alinhava com a proposta da Lamborghini de se fazer um carro inovador não só pelo design, mas também pela engenharia aplicada nele. Apesar do custo maior e de exigir soldas manuais devido à sua complexidade, primeiro na Marchesi, e depois na fixação da carroçaria e demais componentes pela Lamborghini, os processos de fabricação foram incorporados sem problemas devido ao baixo volume e à qualificação dos trabalhadores na linha de montagem.

A carroçaria dos protótipos e dos Countach de produção eram feitas de alumínio. Inicialmente Stanzani planejava usar painéis com uma liga leve chamada Avional, aplicada na indústria aeronáutica; mas além de ter um preço elevado, era difícil de obter, então ficaram com as chapas de alumínio normal.

Fabricado por Bertone, os painéis de alumínio vinham afixados em uma armação de aço, que era soldado à estrutura principal do chassi, e a forma final era feita manualmente, além dos ajustes dos vãos da carroçaria e acabamento de superfície para preparação da pintura. O fundo do carro, no compartimento dos passageiros, era feito de um painel combinando fibra-de-vidro e alumínio. Os exemplares no final da produção incorporaram não só mais componentes em fibra-de-vidro, como também de compósitos de carbono.

O primeiro Countach LP400 - Geneva Motor Show 1971


Foram feitos três protótipos do LP500, o primeiro que foi exibido na mostra de Geneva em 1971 (na cor amarela), e que mais tarde foi utilizado para testes de pré-produção e desenvolvimento. Este exemplar tinha o motor 5,0 litros que explodiu e depois foi substituído por um 3,9 do Miura; e foi destruído no crash-test na Inglaterra para ser aprovado para o mercado.

O segundo Countach LP400 - Geneva motor Show 1973

O segundo protótipo do Countach foi mostrado ao público no Geneve Motor Show de 1973 (na cor vermelha), e no Paris Motor Show de 1973 (pintado de verde). Seu design era praticamente idêntico ao primeiro, mas já havia as tomadas de ar tipo NACA e as caixas de ar testadas no primeiro protótipo. Este exemplar já tinha o novo chassi com os tubos de seção redonda, e apesar de ter o motor 3,9 litros, ainda era designado LP500, provavelmente porque os engenheiros ainda intencionavam aplicar o motor de 5,0 litros nos carros de produção. Este protótipo já recebeu a carroçaria em alumínio com 1,2 mm de espessura (o primeiro protótipo era feito em chapas de aço) e foi utilizado para fazer os moldes de madeira para  todos os painéis de alumínio do carro de produção. 

A oficina Ditta Raniero, de Orbassano, construiu os moldes de madeira, e em 22 de outubro de 1973 foram levados para Sant'Agata para a confecção dos novos Countach. Atualmente, este exemplar se encontra no Museu da Lamborghini.

O terceiro Countach LP400 - Geneva Motor Show 1974

O terceiro protótipo do Countach foi mostrado no Geneva Motor Show de 1974, e foi o primeiro construído totalmente na fábrica da Lamborghini, exceto o chassi, que era feito pela Marchesi. Com todas as modificações feitas no seu desenvolvimento, ficou conhecido como ‘primeiro da pré-produção’ ou ‘primeiro da produção LP400, e tinha a cor amarela brilhante. Ele era 13 cm mais longo do que os anteriores, devido ao aumento do espaço interno. Depois de se quebrarem 20 janelas trapezoidais curvas das portas nos protótipos anteriores, no processo de colagem, elas foram substituídas por uma peça tripla, mais fácil de produzir.

O painel de instrumentos alterado recebeu oito mostradores da Stewart Warner americana e foi revestido de suede, para reduzir os reflexos devido à grande área do para brisa; a grade dianteira foi pintada de preto, recebendo faróis auxiliares e logo abaixo dela as aberturas dos dutos para refrigeração dos freios, e as NACA Scoop adicionadas nos paralamas traseiros também foram pintadas de preto.

As caixas das rodas traseiras ganharam um novo desenho, para impedir os pneus de raspar na parte interna dos paralamas no final do curso da suspensão. Foram utilizadas chapas de alumínio de 1,5 mm, ao invés de 1,2 mm dos protótipos anteriores, visando ganhar resistência e durabilidade. Nos pontos de ancoragem da suspensão e da caixa de câmbio foram utilizados tubos com paredes mais espessas, visando maior resistência nestes locais.

O Countach LP400 entrou em produção em 1974, equipado com o motor V12 de 3.929 cc com 370 hp, e seu estilo marcante acabou ficando mais agressivo com as mudanças para produção, como as enormes entradas de ar para refrigeração do motor. Os pneus ficaram um pouco mais estreitos do que nos protótipos, mas o coeficiente aerodinâmico era o mais baixo de todas as versões que vieram depois. Ao final de 1977 158 unidades haviam sido produzidas desta versão inicial. Em junho de 2014, um exemplar do LP400 de 1975 foi leiloado pela Bonham’s no Goodwood Festival of Speed por 953,500 libras esterlinas (pelo câmbio em Fev/2020, R$ 5.428.656,90).

Em 1978, a Lamborghini apresentou o Countach LP400S, apesar de ter o mesmo motor, a potência foi levemente reduzida para 350 hp. As mudanças mais radicais ficaram para o exterior do modelo, com os pneus substituídos pelos Pirelli P7 nas medidas 345/35R15, os mais largos já vistos num carro de produção em série.


Os arcos dos paralamas receberam alargadores em fibra-de-vidro, que acompanharam o Countach até o final de sua produção. Além disso, havia o opcional de um spoiler (ou seria mais adequado chamá-lo de asa) na extremidade traseira  ̶  inspirada no Countach de Walter Wolf  ̶  que aumentava a estabilidade em altas velocidades, mas reduzia a máxima em cerca de 16 km/h, mas muitos clientes faziam questão do acessório, apesar deste detalhe. As modificações dividiram as opiniões, alguns preferiam o design mais limpo e fluido do Countach, mas o design mais agressivo prevaleceu e se manteve nos modelos subsequentes.

Countach - o grande spoiler traseiro

A versão LP400S teve 237 exemplares produzidos, sendo que as 82 últimas unidades tinham o espaço interior aumentado em 3 cm.

Em 1982 o Countach foi atualizado para a versão LP500 S, equipado com o motor de 4.754 cc (4,8 litros), mas manteve inalterado seu design exterior, recebendo apenas uma leve atualização no interior. Essa variação também é chamada de 5000 S, que causa confusão com a última 5000 QV (de Quattrovalvole). Foram produzidas 321 unidades deste modelo.

O LP5000 Quattrovalvole (ou 5000 QV) tinha como maior diferencial as quatro válvulas por cilindro, mas recebeu outras modificações, como o motor maior, com 5.167 cc (5,2 litros), e os carburadores foram posicionados acima do motor, para melhor refrigeração; mas criou um volume que eliminou por completo a pouca visibilidade traseira que havia pela pequena vigia atrás da cabine. Alguns painéis da carroçaria foram feitos de Kevlar, e nas últimas unidades da versão, os carburadores foram substituídos pelo sistema de injeção Bosch K-Jetronic (visando o mercado norte-americano); com potência de 414 hp, enquanto que as versões carburadas (para Europa) mantinham os seis Weber com 449 hp a 7000 rpm, e 500 N-m (ou 369 lb-ft) de torque a 5200 rpm. Dos 610 carros desta versão, 66 tinham a injeção eletrônica.


Estes 66 carros tinham também para choques na dianteira e traseira, para atender à legislação americana de segurança e de emissões, mas o visual ficou tão prejudicado que muitos clientes removiam os para choques, ou já recebiam o carro sem as peças.

Countach 25th Anniversary Edition

Ao completar 25 anos de fundação, a Lamborghini disponibilizou o Countach 25th Anniversary Edition para comemorar esta data. Apesar de mecanicamente muito similar ao 5000 QV, recebeu retoques feitos por Horacio Pagani. As caixas de captação de ar ficaram maiores e mais longas, reposicionando os radiadores e as aletas direcionais para melhorar o fluxo de ar tanto na captação como na saída do ar quente. O capô do motor recebeu alterações no desenho e a traseira ganhou um para choque estendido na parte inferior.

A 25th Anniversary foi a versão mais refinada e mais rápida do Countach; acelerava de 0 a 97 km/h em 4,7 segundos e atingia a máxima de 295 km/h.

VERSÕES ESPECIAIS

Walter Wolf Countach


Walter Wolf, empresário canadense e proprietário da Wolf Racing Team de Formula Um nos anos 1970, comprou um Countach LP400 na cor branca. No entanto, ele não ficou satisfeito com o motor que o equipava, e perguntou a Giampaolo Dallara, na época engenheiro-chefe da Lamborghini, para criar uma versão mais potente do Countach. Dallara instalou o V12 de 5,0 litros, que gerava 447 hp a 7900 rpm, que o levava a teóricos 315 ou 324 km/h de máxima. O modelo vermelho brilhante de chassi 112.0148 recebeu também pneus Pirelli P7, alargadores de paralamas e foi designado LP500S. O modelo tinha um spoiler dianteiro e o traseiro era regulável. O centro do volante tinha o nome de Walter Wolf gravado, a caixa de direção era rápida, com menos voltas de batente a batente; os freios a disco tinham oito pistões; e uma embreagem especial de disco duplo da Borg&Beck. A suspensão dianteira foi customizada, e a traseira reforçada. Este exemplar foi entregue em setembro de 1974.

Mais dois exemplares foram produzidos com estas configurações, um adquirido por Wolf no início de 1976, pintado de azul Bugatti (chassi nº 1120202), com estofamento de couro natural, rodas douradas, e decorado com pin striping. O carro não chegou a ser transferido para Wolf ou enviado ao Canadá, mas permaneceu na fábrica da Lamborghini. Os arcos dos para lamas eram pintados de preto, e o enorme aerofólio traseiro era operado eletricamente do cockpit; atualmente o carro está na Alemanha. 

O outro Countach Wolf Special vinha na cor Navy Blue (chassi nº 1121210), e era um LP400 S, equipado também com o motor de 5 litros, e também tinha todos os equipamentos e acessórios como os anteriores. O modelo foi exibido no Geneva Motor Show de 1978, como o primeiro Countach LP400S, mas sem o aerofólio dos anteriores de Wolf. O acessório foi instalado no modelo antes de ser enviado a Wolf e permaneceu com ele por muitos anos, mas com o tempo, foi vendido a um empresário japonês, Shinji Fukuda.

Countach Turbo S

Countach LP500 Turbo S

Denominado Countach LP400 Turbo S, foram feitos dois exemplares como protótipos, sob encomenda de Max Bobnar, o distribuidor oficial da Lamborghini na Suíça. Em 1982, ele solicitou a Franz Albert, Técnico Mestre, a instalar dois turbos e fazer outras adaptações para aumentar a performance, entre os anos de 1980 e 1982.

O LP400 Turbo S com chassi 1121160 "Low Body" na cor Red Metallic pesava 1.515 kg e seu motor V12 produzia 748 hp, com 646 lb-ft de torque; proporcionando uma aceleração de 0-62 mph em 3,7 segundos, e chegava na máxima de 335 km/h. Havia um mecanismo de ajuste para o turbo, entre 0,7 a 1,5 bar de pressão, em que o motor gerava o máximo de potência. Era equipado com rodas de 15 polegadas e pneus 255/45 na dianteira e 345/35 na traseira. 

Countach LP400 Turbo S Red Metallic

Depois de rodar pela Europa por um tempo, ele foi vendido para Bill Pennington, dono do famoso cassino 
Circus Circus, em Las Vegas. Após a morte de Pennington, ele foi adquirido por um colecionador de Reno, Nevada, e ficou armazenado por muitos anos. Hoje, ele está na RSE Collection LLC.

Max Bobnar decidiu construir outro Countach Turbo, e desta vez partiu de um LP500 S de 1984, chassi ELA 12712, originalmente na cor amarelo-dourado. Novamente, Franz Albert fez a instalação dos dois turbos EF60, que praticamente dobraram a potência original de 375 hp do V12 de 4754cc para 750hp a 6500 rpm, com 876 Nm de torque a 4000 rpm, a uma pressão máxima de 1,5 bar. A pressão do turbo podia ser ajustada pelo piloto, para uma condução mais confortável se desejasse. O painel recebeu mostradores para leitura da pressão do turbo, e temperatura do ar do turbo, e o velocímetro foi substituído por um que podia registrar até 425 km/h. O motor tinha taxa de compressão de 7,2:1, válvulas WAC de alívio da pressão e carburadores WEBER 40 DCOE. A relação da 5ª marcha foi alterada de 0,775:1 para 0,707:1 possibilitando atingir a máxima de 332,6 km/h (206,67 mph) a 8100 rpm, e dados de aceleração de 0-100 km/h em 3,68 segundos e 0-200 km/h em 11,54 segundos; tornando este Countach o carro mais veloz do mundo por muitos anos na época. considerando-se que o enorme aerofólio traseiro provocava uma redução entre 10 e 15 km/h na velocidade final, teoricamente, este countach poderia alcançar 350 km/h!

Bobnar instalou rodas Ronal, tala 10,5 x 15 (pneus 255/45VR15) na dianteira e 14 x 15 (pneus 345/35V15) na traseira, no lugar das Campagnolo "Telephone dial". Estes pneus eram os mais largos disponíveis no mercado da época. Com todas as modificações, Max Bobnar não pôde regularizar o Countach para rodar legalmente nas ruas; então ele levava o carro num trailer para participar dos eventos, e por fim, acabou vendendo o modelo para um comprador sueco, depois passou para um colecionador na Dinamarca, que o colocou à venda em 2007, com o odômetro marcando cerca de 9500 km rodados. O novo proprietário é da Alemanha, e investiu tempo e dinheiro para registrar o carro para poder rodar nas ruas. Ele foi exibido no Essen Motor Show de 2010; e apesar de aparentemente ser um LP500 S normal, logo as pessoas percebem que o carro não é um Countach de linha...

Countach LP500 Turbo S - vista do motor

Countach QVX

Countach QVX - Group C

Esta versão foi feita para participar do Grupo C de carros esporte da FIA, e foi construído em 1985, a pedido do importador inglês da Lamborghini, David Jolliffe, pela Spice Engineering, derivado do LP5000 QV, mas com motor ampliado para 5,7 litros. Em medições, este motor gerava entre 650 e 700 hp, e tinha um câmbio Hewland VG-C de pista. O motor foi preparado sob a supervisão de Luigi Marmiroli, com dados baseados nos motores marítimos da Lamborghini. O carro foi inscrito nas 24 Horas de Le Mans de 1985, mas não teve sucesso, apesar de acompanhar o vencedor Jaguar. Em 1986, participou novamente, patrocinado pela Unipart, mas não chegou ao final da temporada por falta de verba.

F1 Safety Car

Os Countach como Safety Cars no GP de Monaco

Entre 1980 e 1983, a Formula Um utilizou o Countach como Safety Car durante os Grandes Prêmios de Formula Um em Mônaco.

Countach Evoluzione

Countach Evoluzione

Na realidade, o Countach Evoluzione nada mais era do que um carro-mula, como são chamados os protótipos em que são testados várias novas soluções ou equipamentos visando aplicar nas versões futuras do modelo, ou para testar componentes de um carro ainda por lançar. Em 1987, a equipe de engenheiros construiu um Countach baseado no LP5000 QV, mas com chassis e material da carroçaria substancialmente diferente do que estava em linha. Ele possuía um acabamento interno e isolamento acústico melhor, além de um sistema de ar condicionado, inexistente no Countach de produção.

Como ele era continuamente modificado, tanto mecânica como visualmente, como o caso dos painéis da carroçaria, ele não foi pintado. Muitas das soluções testadas no Evoluzione foram aplicadas na versão 25th Anniversary Edition, e o Diablo incorporou muitas delas, inclusive os painéis de fibra-de-carbono/Kevlar.

Equipado com o motor 5,2 litros, alguns ajustes fizeram a potência subir para 493 hp, acelerando de 0-97 km/h em cerca de 4 segundos, e reportava-se que a máxima atingia 320 km/h.

Um novo e radical chassis desenvolvido para o Countach deixou de ser tubular e foi construído com materiais compósitos, como Kevlar e fibra-de-carbono reforçado com plásticos estruturais e painéis de alumínio em colmeia. O capô frontal e o traseiro do motor, o spoiler dianteiro e os arcos dos paralamas foram feitos de compósitos de fibra-de-carbono/Kevlar; ao passo que os paralamas e portas eram de alumínio normal.

Calotas aerodinâmicas também foram testadas em material compósito, mas acabavam prejudicando a refrigeração dos freios e foram abandonadas. Mesmo assim, o ganho de peso chegou a cerca de 397 kg, comparado com o LP5000QV de produção. Outras inovações foram testadas nesta unidade, como a tração nas quatro rodas, um controle eletrônico de regulagem de altura da suspensão, também uma suspensão ativa, ABS e limpadores de para brisa retráteis, com menor coeficiente aerodinâmico.

Apesar da imprensa aventar a possibilidade do Evoluzione entrar em produção numa quantidade limitada, isso nunca aconteceu. O único protótipo do Countach Evoluzione acabou destruído num crash-test pela fabrica e não existe mais.

A versão 25th Anniversary, de 1988 incorporou diversos aperfeiçoamentos testados no Evoluzione, como os painéis compósitos e as entradas de ar nas soleiras das portas.

PRODUÇÃO

MODELO

QUANTIDADE

LP500 Protótipo

1

LP400

157

LP400 S

237

LP500 S

321

LP5000 QV

610

25th Anniversary

657

 Na metade dos anos 1970, um pequeno número de Countach foi montado na cidade de Capetown, Africa do Sul, pelo importador local da Lamborghini, Intermotormakers (IMM). Ela importava modelos da Lamborghini em knock-down kits, terminava a montagem local e os vendia ao mercado. O processo foi interrompido quando o governo estabeleceu um mínimo de 66% de peças feitas localmente. Não se tem o número exato de unidades assim fabricadas, mas a quantidade foi bem pequena.

DA MINHA COLEÇÃO


Diversos fabricantes produzem o Countach em várias escalas, mas um dos primeiros modelos de minha coleção foi um Countach Quattrovalvole 5000, da Burago italiana, em 1:18. Bem detalhada, em preto brilhante, as características portas com abertura em tesoura, e os enormes e largos pneus chamam a atenção. O interior do cockpit, bem baixo, com o painel, volante e pedais, bancos com os cintos de segurança é bem reproduzido; o pequeno capô traseiro se abre, mostrando o topo do motor V12, e o capô dianteiro revela o sistema do servo-freio e a bateria. O enorme aerofólio na traseira completa o visual de supercarro para altas velocidades.

Countach TOMICA 1:61

Outro exemplar é da TOMICA, um LP500S azul na escala 1:61, bem detalhada para a escala, não tem nenhuma abertura ou peças móveis, mas é um modelo bem atrativo, valorizada pelas rodas Campagnolo bem fiéis ao original.

Lamborghini Coutach LP400 - Majorette 1:64

O modelo da Majorette, em 1:64 traz as portas que se abrem em "tesoura", como ficou conhecido o sistema dos 'Lambo'. O casting é muito bem feito, e mesmo que as rodas não correspondam bem às originais, o destaque da mini são as portas que se abrem. Os modelos da Majorette começaram a aparecer mais no mercado brasileiro depois de 2021/22.