quarta-feira, 24 de maio de 2017

A humanização dos pets e o relacionamento humano

Animais e seres humanos convivem há milênios, sendo domesticados para várias aplicações, como cavalos e touros como auxiliares de carga ou transporte, cães pastores e guias de cegos; ou servindo de alimento como gado, porcos, ovelhas e aves. Não é de admirar que vários acabaram sendo objeto até mesmo de adoração, como a Íbis, cães e gatos no Egito antigo; e mesmo hoje, vemos a vaca considerada sagrada na Índia.
Em tempos recentes, à medida que os relacionamentos entre as pessoas foi-se deteriorando, seja pelo estilo de vida e trabalho adotado por muitos, além do egocentrismo que toma conta das sociedades cada vez mais urbanizadas e individualistas – a adoção de um animal de estimação e o inter-relacionamento dos humanos com eles aumentou demasiadamente.
Cães e gatos acabam sendo a maioria em lares de famílias nas grandes cidades, e não é difícil ter entre seus parentes ou amigos alguém com dois ou mais deles morando em apartamentos. Relatos de psicólogos tem contribuído para este cenário, pois a companhia de animais tem realmente auxiliado a muitos atravessarem períodos de crises como separações e divórcios, ou a perda de um ente querido na morte. Os mascotes facilitam o contato social, e os cuidados que exigem amenizam a solidão e confortam afetivamente a ausência de pais separados, cônjuges falecidos, e cada vez mais, adultos que vivem sós.
“Quanto mais conheço as pessoas, mais amo o meu cachorro”, ou frases parecidas circulam pelas redes sociais; que exibem frequentemente imagens de gente abraçando, fazendo carinho ou beijando seu animal de estimação.
Assim, percebemos a tendência da humanização dos ‘pets’, sendo tratados como membros da família, com direito a dormir junto na cama e sair junto para passear de carro. Claro que eles precisam ser bem tratados e cuidados, pois é responsabilidade do dono cuidar bem deles.
O problema é ter um conceito equilibrado sobre os animais de estimação, pois quem não se agrada de chegar em casa e ser recebido com festa pelo seu cãozinho? O carinho dele parece incondicional, e a troca de afeto é algo mais simples do que interagir com as pessoas, que são muito mais complexas.
Além disso, o segmento “pet” movimenta bilhões em dinheiro, em rações, medicamentos, serviços e produtos para quem tem amor ao seu bichinho e quer o melhor para ele. Festas de aniversário, cerimônias de funeral, hospitais e clínicas veterinárias, adestradores e hotéis para deixá-los quando não há possibilidade de levá-los junto em ausências mais longas são cada vez mais comuns, e as pessoas acham “normal” tratar um animal como um ser humano.
Por isso, a medicina veterinária tem desenvolvido especialidades, semelhantes à medicina humana. Psicólogos de cães tratam de depressão, Oncologistas prescrevem terapias contra o câncer, dentistas cuidam da dentição, cabeleireiros usam xampus e cremes, cortam a pelagem e fazem escovas para os bichinhos desfilarem no shopping nos fins-de-semana...
Nikole é uma gata cuja dona é sua empresária. Aos dez anos, Nikole assina uma linha de produtos felinos, abre desfiles de moda, tem um site e seguidores no Twitter. Tanta fama faz com que muita gente conheça a dona pela gata, e não o contrário: “Vou a todo lugar com ela. Somos uma só. Às vezes, é como se eu tivesse perdido a identidade”, diz sua dona.
Segundo o psiquiatra Alvaro Ancona de Faria, professor da Unifesp, “o problema é idealizar a relação e projetar no animal um comportamento que não é de sua natureza. Como é fácil de controlar, a pessoa acha que é uma relação perfeita e acaba ficando desestimulada de criar outros vínculos sociais”.
Cesar Ades, professor do Instituto de Psicologia da USP, e um dos pioneiros no estudo de comportamento animal no Brasil é categórico: “Apesar de o contato com os bichos fazer bem, nunca vai substituir a relação com outras pessoas”.
O relacionamento do ser humano com os animais vem de longa data, como relata a Bíblia: uma das tarefas de Adão no jardim do Éden era dar nome aos animais (Gênesis 2:19); e lá ele não tinha que temer nenhum deles pois eram inofensivos ao homem. Assim também poderá ser restaurada esta relação pacífica do ser humano com os animais num futuro próximo:
“O lobo estará junto com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito; o bezerro, o leão e o novilho gordo estarão juntos; e um menino os conduzirá. A vaca e a ursa pastarão juntas,  juntas se deitarão suas crias. O leão comerá palha como o touro. A criança de peito brincará sobre a toca da naja, e a criança desmamada porá a mão sobre o ninho da cobra venenosa. Não se causará dano nem ruína em todo o meu santo monte, porque a terra certamente ficará cheia do conhecimento de Jeová, assim como as águas cobrem o mar “ (Isaías 11:6-9).

Referências: 
Qual o seu conceito sobre animais de estimação? - Revista Despertai, 22 de fevereiro de 2004, páginas 3-11.





segunda-feira, 8 de maio de 2017

Carros e Filmes: Pontiac GTO em Triplo X

O Pontiac GTO era um dos primeiros “muscle-car” americanos, carros compactos com enormes motores V8 que faziam as delícias nos rachas de semáforo na década de 1960. Baseado no Pontiac Tempest, John De Lorean, Bill Collins e Russ Gee decidiram colocar o motor V8 de 389 cid (6,4 litros) do Bonneville e Catalina no cofre do pequeno Tempest, que estava para receber uma reestilização.
A ideia era embarcar no mercado recém descoberto por Lee Iacocca, onde o Mustang estava fazendo sucesso entre os jovens e a Ford já preparava um upgrade para o seu Falcon.
A expressão GTO foi inspirada na nomenclatura da Ferrari 250 GTO (Gran Turismo Omologato), que significa um carro oficialmente certificado para competir na classe GT. GTO era na verdade um pacote do Tempest em 1964, que por US$ 295 podiam colocar um motor V8 de 389 cid com 325 hp, com carburador quádruplo simples, com duplo escapamento, tampas de válvulas e caixa do filtro de ar cromados, ventilador com sete lâminas, câmbio no chão com três marchas manuais e alavanca da Hurst, molas mais rígidas e barra estabilizadora de maior diâmetro, largas rodas de 7,5 polegadas de tala e aro 14, calçadas com pneus com um friso vermelho em torno, abertura (falsa) no capô do motor e emblemas GTO por todos os lados.
Os opcionais ainda podiam ser um câmbio de quatro marchas manual, um automático Super Turbine com duas marchas, uma carburação mais potente “Tri-Power” (Rochester 2G) que levava a potência a 348 hp, tubulação metálica do sistema de freios, diferencial com deslizamento limitado, radiador maior, amortecedores mais firmes e direção mais rápida.
Na reestilização de 1965, o GTO acabou ganhando status de modelo diferenciado do Tempest, com seus quatro faróis na vertical e uma nova carroçaria com design mais limpo. O V8 de 389 cid foi revisado e gerava 335 hp a 5000 rpm com carburador quádruplo e 360 hp com o Tri-Power. Ele incorporou a transmissão de três marchas manual, com opcional de quatro ou automático de duas marchas. O pacote “Tri-Power” vinha com direção hidráulica, freios com pastilhas metálicas, rodas Rally, diferencial com deslizamento limitado com relação 4:11.
Outras modificações foram os freios com mais eficiência, amortecedores recalibrados, uma barra estabilizadora dianteira de maior diâmetro, ignição transistorizada, cabeçotes retrabalhados e coletor de admissão maior, painel redesenhado com conta-giros e pressão do óleo mais legíveis.
Num teste da revista Car Life, o GTO de 1965 fez de 0-60 mph em 5,8 segundos, o quarto-de-milha em 14,5 segundos a 160 km/h, chegando numa máxima de 182,4 km/h.
A versão de 1967 tinha poucas modificações, entre elas o pacote “Tri-Power” vinha com um novo carburador Quadrajet quádruplo; o motor V8 389 foi ampliado para 400 cid (6,5 litros), com três configurações: Economy, Standard e High Output.
A Economy vinha com um carburador duplo apenas e produzia 265 hp a 4400 rpm e 397 lb-ft de torque a 3400 rpm. O Standard produzia 335 hp a 5000 rpm e tinha o maior torque dos três: 441 lb-ft a 3400 rpm. O High Output tinha a maior potência: 360 hp a 5100 rpm e 438 lb-ft de torque a 3600 rpm. Os carros vendidos na California já tinham os equipamentos de controle de emissões exigidos no estado.
Equipamentos de segurança para atender às normas do governo eram a coluna de direção retrátil em caso de colisões, painel de instrumentos acolchoado, com botões não protuberantes e Pisca-alerta para emergências. Cinto de segurança e sistema de freios com cilindros duplos e circuito hidráulico de reserva em caso de falha no principal; e freios a disco eram opcionais.
O câmbio automático de duas marchas foi substituído pelo de três Turbo-Hidramatic TH-400. Esta caixa vinha equipada com o trambulador da Hurst denominado Dual Gate. O condutor podia escolher entre deixar o câmbio no automático normal, ou encaixar a alavanca no trilho da direita, tornando o câmbio para mudanças no manual.
O PONTIAC GTO 1967 DE TRIPLO X
O modelo 1967 foi escolhido por Eddie Paul da E.P. Industries, contratado para produzir o carro para as filmagens de Triplo X. Com um histórico de mais de 30 anos fornecendo seus serviços para a indústria de filmes em Hollywood, Eddie já havia feito o Mercury de Stallone/Cobra, 58 carros tunados para o primeiro The Fast and The Furious, e o segundo "2 Fast 2 Furious", Grease, "Streets of Fire", e havia sido piloto-duble em Gone in 60 Seconds.
Foram adquiridos sete exemplares do Pontiac GTO, em diversos estados de conservação e configurações de motor e acabamento, desde um impecável do Arizona, e o único Le Mans legítimo não tinha motor nem transmissão, e era um poço de ferrugem. Só nele foram gastos 1.500 dolares para cortar a capota e deixa-lo como conversível. Na média, foram investidos de 15 a 20 mil dolares em cada veículo para deixá-los prontos para as filmagens.
Cerca de 10 pessoas de sua oficina, mais 20 contratados para as diversas áreas (Mecânica, funilaria, elétrica, pintura, tapeçaria e painel) trabalharam nos veículos para deixarem todos prontos em tempo hábil. . 
“Todos tinham motores GM, mas decidimos preparar dois com unidades ZZ4 Chevy 350 cid, por conta dos custos, ” diz Eddie. “Inicialmente, pensamos que estes seriam usados como veículos dublê nas filmagens, mas ao retornarem à oficina, notamos que não tinham nenhuma marca de danos ou arranhões, e concluímos que eles foram usados apenas para as tomadas em close e não em movimento ou ação. ” finaliza Eddie.
“Levamos um mês para terminar todos os carros, o que é tempo mais do que suficiente. Drenamos os tanques de combustível e outros fluidos, limpamos e lavamos os carros, verificamos as suspensões, freios, porcas, parafusos e condutos de combustível e freios. Aliás, todos foram equipados com ABS e tinham freios a disco nas quatro rodas. Colocamos portas com comando elétrico de abertura remota, amortecedores triplos e reforços com barras de aço nas torres de suspensão.
Os carros com câmbio manual foram convertidos para automáticos, para facilitar a condução pelos pilotos-dublês. O que mais deu trabalho foi o sistema elétrico, em todos os carros havia um problema diferente, e piorava naqueles que tinham os gadgets especiais de um agente secreto. ” conclui Eddie.
Outro problema surgiu quando Rob Cohen, diretor do filme, decidiu pintar os carros num tom de púrpura da Dupont. Eddie recebeu uma amostra da cor e ao consultar a Dupont, foi informado que a cor estava fora de linha naquele ano, e que somente no ano seguinte poderia voltar ao catálogo.
Eddie contatou rapidamente a House of Kolor, que tinha um tom bastante similar, chamado Dazzleberry. Entregues no dia seguinte, cada carro recebeu um galão de tinta e outro de verniz, e todos os belos Pontiac ficaram prontos para serem enviados a Praga para as filmagens.
Claro, os carros foram bastante judiados durante as tomadas; relata-se que consumiram pelo menos 200 jogos de pneus para todas as cenas. Alguns carros que ficaram mais danificados foram deixados em Praga (não se sabe o destino deles). Quanto ao resto, um deles foi vendido no eBay, outros devem ter ficado com a Revolution Studios (que produziu o filme) e foram construídos alguns clones para ações promocionais.
George Barris colaborou para dar um charme em três exemplares do GTO: acrescentou foguetes, lança-chamas e escapes laterais e viraram carros de exibição. Um par de carros construídos por uma terceira empresa rodou pelo país em exposições e eventos automobilísticos.
Um GTO Le Mans apareceu no eBay ofertado pela empresa Rainmakers, de Los Angeles, que vende objetos de filmes e memorabilia cinematográfica no site da Internet. Kurt Brenlinger, da Rainmakers, afirma que este é um dos veículos dublê equipado com o Chevy ZZ4 350 cid, e o vendeu por US$ 38,300. Quanto a outros, permanecem dissimulados do público, talvez na espera para uma sequência de Triplo X.

TRIPLO X - 2002
Xander Cage (Vin Diesel), um entusiasta de esportes radicais, dublê e atleta-rebelde, é cooptado para ser espião da Agência de Segurança Nacional (para não passar a vida numa prisão). Ele recebe uma missão de se infiltrar no Anarchy 99, um grupo de potenciais terroristas russos na Europa Central, que pretende disparar uma arma bioquímica chamada “Silent Night”, desaparecida desde a queda da União Soviética.
Suprido com os mais avançados equipamentos de espionagem, Xander Cage vai para a República Tcheca e descobre que o grupo vai disparar o “Ahab” em Praga, carregando a “Silent Night” e contaminando milhões de pessoas.
Yelena (Asia Argento), namorada de Yorgi (Marton Csokas), o líder terrorista, é uma agente da FSB (Federal Security Service) infiltrada no grupo, mas que perdeu os contatos com a agência russa, com a queda da União Soviética, e sobrevive como pode, sem o apoio dos russos.
Quando Xander ataca a Anarchy 99, ela vê uma chance de sabotar os planos de Yorgi e se alia a Xander para conseguirem seu intento. Ainda assim, Yorgi consegue disparar o Ahab pelo rio, em direção a Praga, onde explodirá, contaminando toda a cidade.
Xander e Yelena conseguem matar Yorgi e perseguem o Ahab com o Pontiac, valendo-se de todo o armamento do carro. Xander consegue interceptar o Ahab e pouco antes da bomba bioquímica explodir, faz o foguete afundar no rio, e mesmo explodindo, a água neutraliza o poder da bomba, tornando-a inofensiva.
A franquia teve uma sequência xXx: State of Union, estrelado pelo rapper Ice Cube e dirigido por Lee Tamahori. Nem Vin diesel, Rob Cohen ou Rich Wilkes (criador de xXx) estiveram envolvidos na produção desta sequência. O estilo do filme mudou, abandonando o cunho dos esportes radicais e da trilha sonora (hip hop e rap no lugar do rock); recebeu duras críticas do público e foi um fracasso de bilheteria.
Diesel retornou à franquia em xXx: Return of Xander Cage (2017), dirigido por D.J. Caruso e escrito por F. Scott Frazier. Samuel L. Jackson retorna como Gibbons, recrutando ninguém menos do que Neymar Jr; quando um satélite é desviado de órbita e cai no local onde estão, aparentemente, matando os dois. Um equipamento chamado de “Caixa de Pandora”, capaz de controlar qualquer satélite é roubado da CIA por Xiang (Donnie Yen) em Nova York, e Cage é chamado para recuperá-lo.
Perseguindo-o nas Filipinas, Cage descobre que Xiang faz parte do Programa xXx, recrutado por Gibbons, que receava que o equipamento seria usado para o mal, e não para o bem. Os russos também estão atrás da Caixa de Pandora, e atacam Cage e Xiang numa ilha remota, que conseguem destruir o equipamento.
No entanto, logo depois, um satélite cai na Rússia, e eles concluem que apenas destruíram um protótipo, e que o Diretor da CIA Anderson estava envolvido numa conspiração e a Caixa de Pandora estava em suas mãos.
Cage e Xiang unem suas equipes e perseguem Anderson até Detroit, seguindo o sinal da Caixa de Pandora. Anderson revela que ele provocou a queda do satélite no Brasil para matar Gibbons, e acaba morto por Adele Wolff (Ruby Rose).
Xiang é preso pela CIA, que pretende treiná-lo para futuras ações contra a Russia, e Cage é avisado que o Programa xXx será encerrado. A Agencia envia assassinos para eliminar Cage e sua equipe, que aguardam sua extração em um armazém da NSA, mas recebem ajuda de outro operativo do xXx, Darius Stone (Ice Cube), e conseguem escapar do ataque.
O filme termina no funeral de Gibbons, onde Cage é abordado pelo próprio, que simulou sua morte e elogia Cage pelo bom trabalho, e comunica que está reorganizando o Programa xXx da sua própria maneira, começando com Neymar Jr, como o mais novo recruta. Cage decide então continuar em serviço, para novas missões visando preservar a liberdade.
EM ESCALA
O carro de Xander Cage é reproduzido pela ERTL na escala 1:18, bem fiel ao modelo desenvolvido para o filme, na cor púrpura e com o painel cheio dos instrumentos para controlar as traquitanas dignas de um espião moderno. As linhas do Pontiac são bem desenhadas e a customização feita por Eddie Paul está bem representada, especialmente no painel cheio de instrumentos da AutoMeter no carro real.




terça-feira, 2 de maio de 2017

MERCEDES C111 – 1969

Potência, elegância e velocidade num estudo futurista, unindo a engenharia e design numa cunha compacta em laranja brilhante, chamada internamente de “Weissherbst”. Assim foi apresentado o Mercedes C111 no Frankfurt International Motor Show (IAA), em setembro de 1969.
O carro era uma inovação em termos de engenharia e design, e polarizou as atenções dos visitantes, que se aglomeravam ao seu redor. As portas no estilo Gullwing (asa-de-gaivota) remetiam ao clássico 300 SL de 1955, e não poucas pessoas se perguntavam se a Mercedes planejava um digno sucessor do 300 SL para os admiradores dos requintados carros com a estrela de três pontas no capô.
Na primavera de 1970, um C111 com seu design cativante, e detalhes mais refinados fez sua aparição no Salão do Automóvel de Genebra, levando vários interessados a enviar cheques em branco para Stuttgart, para garantir um deles na sua garagem.
No entanto, a Mercedes não tinha planos para produção em série do C111, mas também não iria desenvolver um projeto somente para exibição em Showrooms. O carro podia ser visto como uma evolução dos antigos SL (Sport Light) da década de 1950, mas não era um protótipo para um novo SL dos anos 1970: o C111 era um veículo experimental; uma máquina de laboratório destinada, entre outras coisas, para testar novos materiais e tecnologias automotivas, visando a sua aplicabilidade nos modelos de linha. A carroceria era em material plástico, reforçada com fibra de vidro, acoplada a um chassi em aço; e o motor era um Wankel, de pistões rotativos, criado pelo engenheiro Felix Wankel.

O carisma das portas Gullwing
O design do C111 que mais chamou atenção do público forma as portas com a abertura por cima, conhecidas como “Gullwing”, ou “asa-de-gaivota”. Este sistema apareceu no design do Mercedes-Benz 300 SL (W 194) que começou a participar de corridas em 1952; e se tornou uma marca registrada deste modelo quando o carro derivado para as ruas (W 198/I) foi colocado à venda. Entre 1954 e 1957, 1400 unidades foram fabricadas. Décadas depois, a Mercedes aplicou a mesma solução nos C112 apresentado no IAA em 1991 e nos modernos SLS de 2010.
Em novembro de 1969, Ron Wakefield, escrevendo na revista “Road & Track”, comparou diretamente o C111 com os carros esportivos italianos. “Durante a minha primeira volta, fiquei imediatamente impressionado com a suavidade da unidade de potência no interior do carro. Ele era muito mais suave do que um 12 cilindros do Lamborghini Miura, embora não tão grave com um Ford V8 do De Tomaso Mangusta. Quando o motor subia de rotação, parecia um motor de motocicleta, mas tracionando tão suavemente que parecia muito cedo para atingir as 7000 rpm”.
Em abril de 1970, o piloto e jornalista Paul Frère escreveu na revista “Motor” sobre sua experiência em dirigir o C111: “Este carro provê uma inigualável combinação de conforto e maneabilidade, a última e definitiva palavra num carro de corrida desta classe”.
No final de 1969, a “Auto Motor & Sport” escreveu: “O funcionamento silencioso do motor Wankel e a ausência quase total de ruído aerodinâmico nos faz errar na avaliação da velocidade real. Quando você pensa que está fazendo 150 ou 160 km/h, um olhar no velocímetro lhe diz que você está de fato a uns 240 km/h. Aliás, 7000 rpm em quarta marcha correspondem a 226 km/h”.

O motor Wankel
Motor Wankel: Compacto e muito potente.
O homem que inventou o motor com pistões rotativos foi Felix Wankel, um brilhante alemão, autodidata nascido em 1902. Perdeu seu pai na I Grande Guerra, não podendo ir para a universidade, mas era um engenheiro naturalmente talentoso, que aprendeu seu ofício ao trabalhar em lojas de ferramentas, enquanto andava com o pessoal da Juventude Hitlerista. Ele concebeu este motor em 1924 — e antes de morrer, em 1988 – Wankel iria vê-lo aplicado em carros, motosserras e até aviões.
As inclinações políticas de Wankel o levaram a crescer dentro do Partido Nacional-Socialista, mas a ascensão de Hitler ao poder em 1933 interrompeu seu envolvimento com o partido, e ele passou a projetar componentes de motor para os militares durante a Segunda Guerra Mundial. No início dos anos 1950, Wankel começou a desenvolver as primeiras versões do seu motor rotativo para pequenas empresas de engenharia numa Alemanha que tentava se reconstruir.
O motor Wankel usava um rotor triangular girando num eixo epicicloidal, numa câmara de combustão em formato de um “8”. Como ele se movimentava sempre no mesmo sentido, a vibração era mínima — quando comparado com o movimento alternado dos pistões indo e vindo a cada rotação do virabrequim. O Wankel tinha menos peças, era mais suave e mais compacto, com um potencial de potência específica bem maior em relação aos motores de pistões do seu tempo.
Wankel obteve a patente do seu projeto em 1929 denominado pelo código DKM 54 (sigla de Drehkolbenmotor); começou o seu desenvolvimento no início dos anos 1950 na NSU e completou seu protótipo em 1957. O segundo motor, conhecido pelo código KKM 57P (sigla de Kreiskolbenmotor), foi desenvolvido por Hanns Dieter Paschke sem o conhecimento de Wankel, aperfeiçoando o conceito em alguns detalhes. Ao tomar conhecimento do concorrente, Wankel teria dito: “Você transformou meu cavalo de corrida em uma égua de arado”. A partir daí, a NSU (para quem os dois trabalhavam) licenciou diversas companhias para fabricá-lo e é este motor que equipa todos os veículos fabricados desde então com este tipo de propulsor.
NSU Ro80 e o Mazda Cosmo
Nos anos 1960, muitos fabricantes estavam interessados no sistema de propulsão criado por Felix Wankel. A NSU (mais tarde incorporada ao Grupo Audi) colocara no mercado em 1964 o Spider no Salão de Frankfurt. Com um motor de apenas um rotor e 498 cc, rendia 64 cv a 5000 rpm e tinha um torque de 7,5 mkgf a 3000 rpm. O pequeno conversível tinha o motor na traseira, câmbio de quatro marchas e 685 kg de peso, proporcionando um desempenho honesto. Em 1967, a NSU lançou o seu modelo Ro80 (produzido até 1977), um pequeno sedã equipado com um motor Wankel com dois rotores e 995 cc, que gerava 115 hp. Acelerava de 0 a 100 km/h em 12,5 segundos e atingia a máxima de 180 km/h. Em 1967, a Mazda lançou o Cosmo 110S no Tokyo Motor Show, equipado com um motor de dois rotores e 982 cc de deslocamento, que produzia 110 hp.
Mazda RX-7  1981 e 1991
A Mazda foi talvez a única companhia a desenvolver efetivamente o motor Wankel aplicando-o no Eunos Cosmo de 1991 com três rotores e turbo; e no RX-7 a partir de 2002 e depois no RX-8, que gerava 238 hp num motor de apenas 1.300 cc. 
Digno de nota é que ela é a única fabricante fora da Europa e Estados Unidos a vencer nas 24 Horas de Le Mans, em 1991, com o Mazda 787B. Esse carro era equipado com um Wankel de quatro rotores (2.622 cc equivalente a 4.708 cc na conversão de medidas) e produzia 700 hp a 9000 rpm, levando a vitória depois de 362 voltas.
Devido aos problemas de controle de emissões Euro 5, a Mazda abandonou o uso do motor Wankel em 2012.

O Laboratório C111
A Mercedes-Benz também havia feito alguns testes, através da Série KC, desde 1962, no entanto, necessitava ainda de muitos quilômetros rodados antes de equipar um carro de produção normal.
Começando o trabalho por volta de 1967, o C111 foi concebido para ser puramente um laboratório de testes de novas tecnologias, um veículo experimental. Com o design de Bruno Sacco, um futurístico estilo de um verdadeiro Dream Car, a carroçaria de plástico reforçado com fibra-de-vidro, pintada de um laranja brilhante, embalava o motor Wankel de três rotores e prometia uma performance à altura da expectativa que as linhas agressivas prometiam.
C111 com três rotores
O desempenho do C111, equipado com um motor Wankel (código M950F) de três rotores, foi convincente desde o início. Com uma capacidade de 600 cc em cada câmara de combustão, desenvolvia 280 cv, levando o carro a 260 km/h de velocidade máxima. Fazia de 0-100 km/h em cinco segundos.
O C111-II de 1970, já tinha um motor Wankel com quatro rotores (DB M950 KE409), que desenvolvia 350 cv, e levava o carro a 300 km/h. A aceleração de 0-100 km/h atingiu 4,8 segundos. O motor do C111-I foi montado com dupla ignição, mas como gerou alguns problemas, no C111-II de quatro rotores, voltou a ter apenas uma vela de ignição. Ambos tinham injeção direta de combustível. Esta versão tinha as suspensões revisadas, de modo a acomodar os largos pneus e alguns detalhes da carroçaria melhorados em aerodinâmica.
O departamento de desenvolvimento da Mercedes-Benz conseguiu resolver alguns problemas de engenharia inerentes ao projeto do Motor Wankel; mas a notória dificuldade de perfeita selagem das câmaras de combustão, o formato alongado das mesmas e a variação da queima de combustível no interior do rotor, para que ele continue seu movimento giratório, prejudicaram o consumo, pois a termodinâmica em relação ao motor de êmbolos alternativos o tornava menos eficiente. Além disso, o teor de poluentes nos gases de escape eram também muito mais altos do que os motores convencionais.
As vantagens do motor Wankel eram um funcionamento extremamente suave e o tamanho muito mais compacto em relação a um motor de cilindrada equivalente. Isto não foi suficiente para que a Mercedes-Benz prosseguisse com o projeto do motor Wankel para o C111, e ele foi descontinuado em 1971.
Fazendo um retrospecto, o Dr. Kurt Obländer, líder do setor de motores do projeto C111, descreveu o motor Wankel da seguinte forma:
─ “O nosso motor de quatro rotores com injeção direta de gasolina representou o ideal do que poderia ser alcançado com este conceito de motorização. O design multi-rotor é chamado assim devido às entradas periféricas para os dutos de admissão da mistura ar-gasolina e dos gases de escape. Fomos capazes de resolver os difíceis problemas na refrigeração da unidade motriz com a tecnologia. Mas o principal problema do conceito; a baixa eficiência termodinâmica permaneceu. Devido às câmaras de combustão alongadas, não exatamente compactas, a economia de combustível era pobre, resultando em alto consumo e emissões de poluentes inaceitavelmente elevados. Estas desvantagens eram inerentes, em princípio, à concepção do projeto. ”

Ensaios com o motor Diesel
No outono de 1973, um boicote dos países produtores de petróleo provocou a chamada “crise do petróleo”, e o óleo bruto, até então uma mercadoria barata, tornou-se um recurso precioso. Todos os departamentos de engenharia das montadoras passaram a trabalhar febrilmente em novos motores e tecnologias para que os equipamentos consumissem menos combustível e fossem mais eficientes na queima da agora preciosa gasolina.
A alternativa mais evidente era o motor Diesel de baixo consumo, mas era um motor mais pesado, barulhento, funcionava em giros mais baixos e incomodava com sua vibração.
Mas a própria Mercedes já possuía em sua linha automóveis de passeio equipados com motores Diesel, perfeitamente aceitáveis pelo mercado que comprava os Mercedes como carros de refinamento diferenciado da concorrência, com toda a aura que a marca da estrela de três pontas já havia construído.
Em junho de 1976, a Mercedes-Benz ousou instalar no C111 um motor Diesel OM 617 LA do sedan 240D, com 3 litros, cinco cilindros em linha e 80 hp (código W115), mas equipado com um turbocompressor Garrett e intercooler, que desenvolvia 190 hp. O agora designado C111-IID alcançou velocidades espetaculares no circuito de Nardo, próximo a Lecce, na Itália. Durante 60 horas, quatro pilotos estabeleceram um total de 16 recordes mundiais, treze dos quais aplicados a carros movidos por motores Diesel e três recordes para carros em geral, independentemente do seu tipo de motor. Durante os testes, atingiu-se a média de 252 km/h, e a Mercedes mostrou que os motores Diesel também têm qualidades de corrida.

Segunda carreira como um carro de recordes
Com o sucesso obtido nestas medições com o C111-IID em Nardo, os engenheiros da Mercedes ficaram estimulados a atingir novos patamares de desempenho. Desta vez, não criaram um estudo de design para um carro esporte para as ruas, mas passaram a focar seus esforços em criar um carro de corrida puro-sangue com o propósito de estabelecer recordes de velocidade. Surgiu assim o C111-III.
O novo carro foi construído em 1977, mais estreito do que o primeiro C111, maior distância entre-eixos e aerodinâmica melhor estudada (coeficiente de .191), com um redesenho do seu perfil e aerofólios na traseira.
O C111-III, agora pintado com a tradicional cor prateada dos carros de corrida alemães, roncou seu motor novamente na pista de Nardo. Ajustado para produzir 230 hp a 4.500 rpm, este motor levou o novo Silver Arrow a uma velocidade máxima de 322 km/h. A média de consumo atingiu 14,7 mpg a 316 km/h (195,4 mph), num período de 12 horas na pista. Com este carro, a Mercedes-Benz estabeleceu nove recordes mundiais absolutos no final dos anos 1970.
O C111 ainda estava para dar mais um passo em sua carreira evolutiva para se tornar uma máquina de corrida de verdade. O modelo C111-IV em 5 de maio de 1979, quebrou o recorde da pista de Nardo, atingindo 403,978 km/h (250,958 mph). Desta vez, não era mais um motor Diesel a empurrar o carro, mas um motor a gasolina V8 de 4,5 litros ampliado para 4,8 litros; dois turbo-compressores KKK com cerca de 500 hp debaixo do capô. Os estudos aerodinâmicos também transformaram seu aspecto, deixando-o como um foguete alongado e estreito, com dois aerofólios e spoilers para mantê-lo no chão nestas velocidades.
O programa foi então encerrado, e a Mercedes-Benz retomou um novo projeto de pesquisas similar com o C112, a partir de 1991.

EM ESCALA

Diversos fabricantes de miniaturas produziram modelos do C111, em várias escalas. Guiloy, Minichamps, Solido, Matchbox, HotWheels, Schuco, Corgi e outras em forma de Kits de fabricantes consagrados no mercado. O nível de detalhamento varia conforme os padrões destes fabricantes, de modo geral, as escalas maiores trazem um acabamento mais elaborado, mas alguns exemplares em 1:43 trazem abertura de portas e capô, e conseqüentemente, com maiores detalhes do interior e motor; sendo por isso mais valorizadas entre os colecionadores.
A foto do modelo é da Guiloy, na escala 1:18, e reproduz os detalhes do design futurista de 1969, e a cor laranja brilhante é bem fiel ao original.


REFERÊNCIAS: