sábado, 29 de julho de 2023

Karmann-Ghia

Karmann-Ghia Type 14, 1962

Três companhias estão envolvidas na história do Karmann-Ghia. Em meados dos anos 1950 a Volkswagen produzia o VW Sedan (Fusca) - o “Carro do Povo”, como Hitler o chamava - e a recuperação do período pós-guerra aumentava as vendas do Besouro. Os executivos da Volkswagen precisavam aumentar a linha e estavam buscando um “halo car”, aquele carro que chamava atenção do público e criava nas pessoas o desejo de adquiri-lo. Decidiram que o estilo seria desenvolvido pelos italianos, e esse carro especial seria construído fora das instalações em que o Fusca era produzido. 
Wilhelm Karmann havia assumido o comando da Karmann Karosseriewerk, empresa familiar de encarroçadores, e tinha a terceirização da produção de modelos conversíveis da Volkswagen; já Luigi Segre foi designado para expandir a reputação internacional da Carrozeria Ghia & Gariglio, fundada em 1915 por Giacinto Ghia, e assumida por Mario Boano depois de sua morte em 1944.


Wilhelm Karmann e Luigi Segre se encontraram muitas vezes nas exposições internacionais de automóveis, e numa delas, em 1952, a Volkswagen propôs que os dois desenvolvessem um modelo na plataforma do Fusca. Gian Paolo, filho de Mario Boano, comprou um Fusca em Paris e o levou dirigindo até Turim. Segre customizou a plataforma do Fusca e montou um protótipo em apenas cinco meses. Levou o carro secretamente para Paris, onde o apresentou a Wilhelm Karmann na Societé France Motors (distribuidor da VW na França e único distribuidor na Europa para comercializar modelos da Ghia/Chrysler).

Quando Wilhelm viu o cupê, disse: “Eu gostaria de construí-lo!”. Segre então passou todas as especificações do projeto para Karmann, que por sua vez, iria apresentá-lo à Volkswagen.





Mario Boano, Sergio Coggiola e Giovanni Savonuzzi foram creditados como designers do novo carro, em diversas vezes. Porém, o desenho elaborado pela Ghia trazia vários elementos que lembravam o protótipo Chrysler D’Elegance de Virgil Exner, na época diretor de Design da Chrysler, que a Ghia havia sido incumbida de construir, em que Mario Boano havia trabalhado anteriormente. 
O perfil do Chrysler D'Elegance lembra o design do Karmann-Ghia,
especialmente a linha do teto e os para-lamas traseiros

As proporções do Chrysler eram tipicamente americanas,
exigindo um ajuste no tamanho do carro


De acordo com o filho de Exner, Virgil Exner Jr., Savonuzzi foi encarregado de reduzir a escala do D”Elegance, visto que ele era um típico carro americano, bem maior do que os habituais europeus. Savonuzzi suavizou as linhas da frente, eliminando a grade e arredondando o bico como um barco. O Type 14 (como sua designação interna) foi mostrado  em outubro de 1953 no Paris Auto Show, como um conceito de estilo da Ghia.

No final, o trabalho dos designers era terceirizado, em especial nos carros conceitos, que não entraram em produção, davam a eles uma certa liberdade de “copiar” soluções de estilo de um projeto para outro; e uma atribuição definitiva sobre a autoria do estilo do Karmann-Ghia nunca foi feita, tanto pela VW como pela Ghia.


Segre e Exner eram próximos pelos trabalhos que realizavam e acabaram ficando amigos. Peter Grist, biógrafo de Virgil Exner conta que quando Exner viu o Karmann-Ghia pela primeira vez em 1955 “ele ficou satisfeito com o resultado, e feliz por um de seus projetos ter se tornado um modelo de grande escala de produção”. Chris Voss, um estilista do escritório de Exner, realtou em 1993, que ele considerava o Karmann-Ghia como uma lisonja. Segre, por sua vez, enviou a Exner o primeiro exemplar de produção do Karmann-Ghia que foi importado nos Estados Unidos, como uma expressão de gratidão.

O protótipo apresentado à diretoria da VW foi bem recebido, e a primeira apresentação aos concessionários ocorreu em 14 de julho de 1955, no Hotel Cassino Georgsmarine, e a apresentação ao público foi no Salão de Frankfurt, do mesmo ano.

Em agosto de 1955, o primeiro Type 14 foi construído em Osnabrück, Alemanha. A recepção do público excedeu às expectativas da empresa, e mais de 10 mil unidades foram vendidas no primeiro ano.

Diferentemente do processo usado no Fusca, com painéis soldados e parafusados, a carroçaria do Karmann-Ghia era moldada à mão, os painéis soldados, num processo mais demorado para obter maior qualidade, resultando assim, num preço mais alto, quase o dobro do preço do Fusca. Só a frente do carro era formada por cinco partes, que tinham de ser soldadas e com acabamento para ser uma única peça.


Inicialmente equipado com o motor boxer, quatro cilindros e 1.200 cc do Fusca, com 36 hp; mas com uma aerodinâmica melhor do que a do Fusca, atingia 80 mph (128,7 km/h). O chassi foi alargado em 4 polegadas para acomodar a carroçaria mais larga, acrescentada uma barra estabilizadora na suspensão dianteira, além de novos amortecedores e novas barras de torção. O motor ganhou 4 hp em 1961. O belo visual não recebeu muitas mudanças no decorrer dos anos, apenas detalhes como as lanternas traseiras, que aumentaram de tamanho e tiveram alterações devido às normas de segurança dos Estados Unidos. Tinha 1,33 m de altura e 4,14 m de comprimento, com um peso de 820 kg, o pequeno motor boxer era suficiente para rodar, mas não se podia dizer que tinha o desempenho de um carro esportivo.


No mesmo ano de 1961, a VW havia lançado o Type 3 (que aqui no Brasil ficaram conhecidos como o TL e a Variant), então projetaram um novo Karmann-Ghia, baseado neste chassi, desenhado pelo italiano Sergio Sartorelli, posicionado num mercado superior ao Karmann-Ghia original, e vinha com o motor boxer de 1500 cc. O modelo oferecia um espaço maior na cabine, com três espaços de bagagem: o dianteiro, atrás dos bancos, e agora um espaço junto ao motor traseiro; o estilo era mais retilíneo, e era o VW mais rápido daquela época. O Type 34 recebeu em 1962 o teto solar operado eletricamente, o segundo carro do mundo a receber este equipamento. As lanternas traseiras eram redondas, vinha com faróis de neblina de fábrica, recebeu um relógio elétrico no painel, e um interior com painel e laterais acolchoados mais luxuosos, além de apoios de braço nas portas. Ele ficou conhecido como “o grande Karmann” na Alemanha, “Razor Edge Ghia” no Reino Unido, ou “European Ghia” e “Type 3 Ghia” nos Estados Unidos; apesar deste modelo não ser oficialmente exportado para lá, muitos acabaram nas terras do Tio Sam via Canadá, e o país tem registros aproximados de que cerca de 2.000 exemplares chegaram aos Estados Unidos, dos quais se confirmam 400 exemplares remanescentes hoje. Os Karmann-Ghia Type 34 também foram produzidos nas instalações  de Wilhelm Karmann, e ambos os modelos foram interrompidos quando o Porsche 914 substituiu os Karmann-Ghia como os modelos esportivos da VW.


Em 1965, vieram os freios a disco nas rodas dianteiras, e em 1966 a potência subiu para 53 hp. Em 1968, uma transmissão semiautomática foi disponibilizada como opcional. Em 1972 o motor aumentou para 1584 cc, com 60 hp, nos mesmos quatro cilindros boxer, e o Karmann-Ghia atingia agora 90 mph (144,8 km/h).

A partir de 1957, foi disponibilizado o modelo conversível, ou cabriolet, e ambos permaneceram em linha até 1975. Durante 20 anos, foram produzidos 445.000 exemplares, dos quais 80. 837 eram conversíveis.

O Karmann-Ghia no Brasil


O modelo começou a ser fabricado no Brasil em 1962, exatamente pela Karmann-Ghia, empresa formada para produzir o carro no Brasil. A produção atingiu 41.689 unidades, dos quais 23.393 eram cupês, apenas 177 conversíveis, e 18.119 do modelo TC.

Inicialmente era idêntico ao Karmann-Ghia alemão, feito na plataforma do Fusca, com as suas adaptações, e mesma motorização, boxer de 1200 cc. O conversível veio em 1967, e permaneceu como o único automóvel nesta configuração, até o lançamento do Escort XR3, em 1985.

A propaganda posicionava o Karmann-Ghia
como um carro de estilo, e não um esportivo.

Recebeu o motor 1500 cc em 1967, e o 1600 com dupla carburação, em 1970. Por aqui a Puma, e vários outros pequenos fabricantes começaram a montar modelos esportivos baseados no chassi e motor do Fusca, com relativo sucesso, pois as importações de carros foram proibidas em 1975; motivando a VW a fazer um upgrade para o Karmann-Ghia.



Ao invés de trazer o Type 34, como seria lógico, a VW do Brasil resolveu projetar um novo Karmann-Ghia, e contratou Giorgetto Giugiaro para criar um novo Karmann-Ghia, o TC (Touring Coupé). Internamente conhecido como Type 145, ele trazia um estilo que lembrava o perfil do Porsche 911, mas com linhas mais retas.
Começou a ser produzido em 1972 e durou até 1975. Era um cupê 2+2 com um interior moderno e confortável; assim como o Type 34, usava a plataforma do 1600 Type 3/Variant, em vez do Fusca. Vinha também com o motor boxer 1600cc, que produzia 65 hp a 4600 rpm e atingia 138 km/h de velocidade máxima, comparado aos 34 hp e 116 km/h que o anterior alcançava. O Karmann-Ghia TC foi produzido somente no Brasil, e não foi exportado para nenhum outro país. Um exemplar protótipo hoje está na coleção do Museu da Karmann, em Osnabrück, Alemanha.



O Karmann-Ghia nas pistas do Brasil

Os anos 1960 foram brilhantes no automobilismo brasileiro, com a consolidação da indústria automotiva, vários fabricantes tinham equipes oficiais competindo nas provas, principalmente no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. A Vemag, Simca e Willys competiam entre si,e colaboraram para que os pilotos brasileiros se destacassem, a ponto de irem para a Europa no final dos anos 1960.

A VW não tinha equipe oficial, mas alguns Fuscas e Karmann-Ghias participavam, sem muita preparação. Até que Paulo Goulart, engenheiro formado pelo Mackenzie e dono da Rampson, indústria de componentes de alumínio, trouxe um motor do Porsche 95-SC da Alemanha, e o instalou num Karmann-Ghia, sem muitas adaptações. A suspensão ganhou novos ajustes, e logo começou a fazer sucesso nas pistas, e se refletiu no mercado, pois muitos queriam mais desempenho no belo, mas tranquilo Karmann-Ghia.

As vitórias apareceram, com a primeira vitória no Rio de Janeiro. Goulart emprestou seu carro para Chico Landi, e ele venceu os 1000 km da Guanabara, em julho de 1964. Mas não levou, porque o regulamento do Automóvel Club do Brasil o classificava como um carro especial, considerado um protótipo. Mas Goulart ficou tão entusiasmado com isso que vendeu sua parte na Rampson e assumiu o comando da Dacon, fundada em 1960.

A equipe crescia com a vinda de José Carlos Pace e Anísio Campos, que ajudou a construir uma carroceria do Karmann-Ghia em fibra de vidro, ficando com apenas 650 kg, e com a instalação do motor do Porsche 904, com cerca de 200 hp e quatro comandos de válvulas, virou um foguete que chegava facilmente aos 200 km/h.

O motor se encaixou sem problemas no cofre do Karmann-Ghia, mas ficou sem o capô, pois os grandes carburadores e o sistema de escapamento ocuparam todo o espaço. As rodas foram trocadas pelas Kron Prinz de 165x15 na frente e as enormes 210/80x15 atrás.

O carro venceu com Pace, na prova Prefeito Faria Lima, em Interlagos, foi segundo na inauguração do Autódromo Internacional do Rio de Janeiro, e repetiu a vitória nos 1000 km da Guanabara, desta vez com Wilson Fittipaldi/Ludovico Perez, e Pace/Totó Porto em segundo.

Em maio de 1967, nos 1000 km de Brasília, em 23 e 23 de abril, os KG-Porsche tiraram os três primeiros lugares no pódio, trazendo glória para Paulo Goulart e os pilotos: Moco e Wilsinho em primeiro, de ponta a ponta; Emerson e Chico Lameirão em segundo, e Lian Duarte/Rodolfo Olival Costa em terceiro.

Foi a última vitória da Equipe Dacon, mesmo com o sucesso nas pistas, a VW não investiu nas corridas pois não queria que seus carros fossem conhecidos pelo desempenho, mas pela confiabilidade e durabilidade, o marketing da época. A Dacon seguiu como revenda da VW, representante da Porsche em São Paulo, e personalizava outros modelos da VW, até o seu encerramento definitivo, em 1996.

Da minha coleção



O Karmann-Ghia da Hot Wheels, da Série First Editions de 2006


O mais antigo da coleção é um Hot Wheels, na escala aproximada de 1:62, bem-preparado, com um aerofólio enorme na traseira e a tampa do motor removível, junto com o scoop acima do teto, e os para lamas alargados. Ele é de 2006, saiu na Mainline em prata e com os decalques em preto, rodas normais.

O outro vermelho metálico é da Maisto, na escala aproximada de 1:53, um casting caprichado, com rodas especiais e pneus de borracha, e abre o capô do motor, cujo detalhamento deixa a desejar, não parece um motor boxer da VW.

Karmann-Ghia 1966, Maisto, escala 1:53

O vermelho com teto branco é da Johnny Lightning, com bom nível de detalhamento, vem com rodas esportivas, mas estão lá os cinco furos, como era no original.

Karmann-Ghia, 1965 - Johnny Lightning, 1:62
O azul é da Jada, também numa escala perto de 1:50, bem acabado, casting bem proporcionado e customizado, sem para-choques, e rodas especiais com pneus de borracha. As aberturas da grade ficaram um pouco desproporcionais, mas no geral, é uma bela miniatura.
Karmann-Ghia, Jada Toys 1:50

Karmann-Ghia da Yat Ming em 1:18


O Karmann-Ghia 1966 na escala 1:18 é da Yat Ming, abre as portas, capô dianteiro e do motor, que tem um detalhamento básico. A pintura é bem feita, os cromados são corretos, faróis e lanternas detalhadas, e o design das rodas reproduzem as da época, bem estreitas para um modelo esportivo.

Referências:

https://hotwheels.fandom.com/wiki/Volkswagen_Karmann_Ghia

https://orangetrackdiecast.com/2016/12/07/car-culture-track-day-volkswagen-karmann-ghia/

https://www.premierfinancialservices.com/2017/12/01/model-masterpiece-1952-chrysler-delegance/

https://www.conceptcarz.com/images/Chrysler/52_chrysler-Elegance_dv-18-eh-d03-800.jpg

https://www.motorverso.com/karmann-ghias/

https://www.maxicar.com.br/2016/12/karmann-ghia-auto-sensualidade/



sábado, 22 de julho de 2023

Carros e Filmes - Black Beauty, de The Green Hornet


Green Hornet (Besouro Verde) era uma série de rádio, na WXYZ, em Detroit, Estados Unidos. Criada em 1936 por George W. Trend e Fran Striker, e era dirigida por James Jewell, com Al Rodges dando voz ao Besouro Verde.

Teve várias temporadas e até um seriado, comuns nos anos 1940. Em 1966 ganhou as telas da TV, com Van Williams como Britt Reid e Bruce Lee, como Kato, em seu primeiro papel exibindo suas habilidades em artes marciais. No seriado radiofônico, Britt Reid era filho de Dan Reid Jr., irmão do personagem The Lone Ranger, também criado por Trend e Striker (no Brasil, conhecido como Zorro, mas não o de capa e espada de Walt Disney), daí podemos ver a similaridade do formato da máscara de Green Hornet ser muito parecida com a de Lone Ranger. A presença de um parceiro, assim como o índio Tonto, foi copiada e Kato fazia o papel do sidekick na série.


A primeira repaginada na série chegou após um ano do lançamento, em 1941, quando foi ao ar o “The Green Hornet Strikes Again!” que contava com a direção de Ford Beebe e John Rawlings. O ator Warren Hull era quem desempenhava o papel principal.

A série de TV teve apenas uma temporada, e foi exibida pela ABC nos Estados Unidos, nos anos de 1966-67. Britt Reid é o jovem e rico editor do jornal Daily Sentinel, mas à noite, vestindo um longo sobretudo verde, chapéu e máscara, combate o crime sob a identidade de Green Hornet (Besouro Verde). Ele tem a ajuda de Kato, seu parceiro, motorista e lutador de artes marciais. Kato pilota o Black Beauty, um carro preparado com armamento tecnológico para o combate ao crime, e como acontece nestes casos, o carro acabou roubando as atenções do público, e virou a estrela do seriado.


Com o seriado de Batman e Robin fazendo sucesso, Green Hornet e Kato tiveram uma participação especial em um dos episódios da Dupla Dinâmica. Ao contrário do Batman, a versão do seriado Green Hornet não teve uma vida longa. Mesmo com a ascensão de Bruce Lee no cinema, teve apenas 26 episódios em uma única temporada. Após o interesse em Bruce Lee continuar depois que morreu, o público transformou o Green Hornet em cult. Na China, Bruce Lee era um ícone das artes marciais, e a série foi exibida com o título de The Kato Show. A música Flight of the Bumblebee (“Vôo da Abelha”) orquestrada por Billy May, ficou fortemente associada ao tema do seriado e, por vezes, aparece em alguma produção como memória àquela série televisiva.

Van Williams e Bruce Lee

Green Hornet também teve presença nos Comics, em várias editoras nos anos 1940-50, como a Helnit Comics, Harvey Comics, Dell Comics e Gold Key Comics. Nos tempos mais recentes, a NOW Comics publicou a partir de 1989 histórias tentando resgatar as origens e harmonizar o universo dos personagens para os novos tempos. Em março de 2009, a Dynamite Entertainment adquiriu os direitos do personagem e lançou novas histórias do Besouro Verde, com roteiros de Kevin Smith e arte de Jonathan Lau; em que Britt Reid Jr assume o posto de Green Hornet, depois que seu pai se aposentou. Quando Black Hornet, um gangster da Yakuza assassina Reid Sr., Kato, agora um ancião, retorna com sua filha Mulan Kato, eles levam Britt Jr à China para ser treinado nas artes marciais e se tornar o novo Besouro Verde.

O remake de 2011, com Seth Rogen e Jay Chou

Green Hornet (2011)

A Universal Pictures e a Miramax, desde os anos 1990, tinham intenção de produzir um filme com o personagem, mas a Sony Pictures, através da sua subsidiária Columbia Pictures passou à frente e em janeiro de 2011 lançou a comédia de ação Green Hornet, estrelando Jay Chou como Kato, Seth Rogen como Britt Reid, e Cameron Diaz como Lenore, a secretária de Reid no jornal.

O filme conta a história de um jovem milionário e livre de responsabilidades que estaria próximo dos 30 anos. Uma noite no meio de suas aventuras noturnas assiste a notícia de que seu pai teria sido encontrado morto de maneira misteriosa e assim, fica sob sua total responsabilidade administrar a fortuna da família, incluindo um renomeado e conceituoso jornal.

Como irresponsabilidade e aventura eram seus codinomes Britt Reid decide ir atrás de seu mordomo Kato e o convence a aprontar verdadeiras loucuras juntos. Kato era descendente de asiáticos e tinha como principais dons as artes marciais e o instinto de “professor Pardal”, justamente por construir verdadeiras máquinas. Nessa aventura é que surge o Besouro Verde. Para quem gosta de dar boas risadas sem perdão a emoção de um bom filme de ação, este é um prato cheio.

A produção contratou Dennis McCarthy (que preparou diversos carros para a franquia Fast & Furious) que construiu 29 unidades do Imperial Crown para esta filmagem, e apenas três sobreviveram. Com apenas 13.752 unidades produzidas pela Chrysler, o trabalho de encontrar, adquirir e preparar os carros foi uma dura tarefa, pois muitos se encontravam em mau estado, praticamente 15 tiveram de ser reconstruídos.

Black Beauty, da Série de TV


O carro do Besouro Verde era um Chrysler Imperial Crown, customizado por Dean Jeffries, ao custo de US 50,000; muito deste valor se devia à pintura especial de 30 camadas da tinta Metalflake preta, e envernizada com o verde perolizado, polido à mão para dar um alto brilho.

O carro ficava no subsolo da garagem de Reid, cujo piso tinha fixadores para prender o carro “normal” de Reid e rotacionando, trazia o Black Beauty para cima, e ele saia através de uma porta camuflada como um outdoor de publicidade (veja trecho em vídeo nos links da matéria).




Entre os armamentos do Black Beauty, havia lançadores de explosivos atrás dos painéis retráteis dos faróis; emissor de gás no centro da grade dianteira, um pequeno scanner que se projetava da tampa do porta-malas e podia voar por controle remoto; além de foguetes e bicos de gás na traseira, contra eventuais perseguidores. O carro tinha o recurso de Modo Silencioso, quando precisava rodar furtivamente; no seriado de rádio, o ronco do motor se tornava como o zumbido de um besouro, e no da TV, o som apenas era apagado da trilha sonora.

Os faróis eram de luz verde polarizada, para manter a visibilidade no modo furtivo, especialmente nas patrulhas noturnas da dupla. O interior do carro tinha um painel com incontáveis botões, denotando os recursos tecnológicos do veículo, e Reid sempre ia no banco traseiro, como convinha quando se tem um motorista particular.


O Black Beauty tinha um motor V8 de 440 cid, com 350 hp a 4400 rpm e 480 pound-feet de torque a 2800 rpm, com um câmbio TorqueFlite de três velocidades automático. A coluna C foi estendida em 14 polegadas, para dar a impressão de que o espaço interno era maior e ficar parecido com uma limusine, as maçanetas das portas foram eliminadas, e as portas se abriam eletricamente; as lanternas traseiras ganharam um novo desenho e foram embutidas na tampa do porta-malas; o tanque de combustível ficou em pé, logo atrás do banco traseiro, pois a parte inferior do porta-malas ganhou quatro metralhadoras com dezesseis canos voltados para trás.

As rodas Keystone ganharam canecos na ponta dos eixos, e pasmem! Atrás das rodas traseiras há duas vassouras, que acionadas, escondem os rastros do carro onde passa! O painel revela nichos com um telefone e o centro do volante traz o logotipo do Besouro Verde.

Foram construídos apenas dois exemplares do Black Beauty, usados nas gravações do seriado de 1966-67; não necessitando de Stunt-cars pois não havia perseguições ou acrobacias que colocassem em risco de acidente o carro. Em 1992, Dan Goodman, um entusiasta do Green Hornet, adquiriu o Black Beauty Nº 1 do ex-diretor de transportes da Twentieth Century Fox, pela soma de US$ 10,000; e contratou Jeffries para restaurá-lo. Embora o veículo estivesse em perfeitas condições mecânicas, com as rodas personalizadas originais e a maioria das modificações na carroçaria, e tivesse apenas 17.000 milhas no odômetro, ele estava bem desgastado. Depois de muito discutirem sobre custos excessivos e direitos autorais, Jeffries acabou restaurando o carro não exatamente como na série original. Mesmo assim, o Black Beauty voltou à sua forma brilhante e hoje faz parte o acervo do Petersen Automotive Museum. O Black Beauty Nº 2 reside em uma coleção particular na Carolina do Sul.

Da minha coleção





O Black Beauty na escala 1:64 é da Johnny Lightning, da Série Pop Culture, sub-série Silver Screen Machines, Release 1 de 2022. Tem chassi de metal, rodas especiais e pneus de borracha. O casting é muito bom para a escala, grade, faróis e lanternas, assim como os canos das metralhadoras frontais e traseiras estão lá.

Referências:

https://greenhornet.fandom.com/wiki/Black_Beauty

https://en.wikipedia.org/wiki/Green_Hornet

https://www.hotcars.com/15-incredible-facts-about-the-black-beauty-from-green-hornet/#dennis-mccarthy-the-man-behind-fast-and-furious-cars-pimped-the-2011-black-beauty-up-to-superhero-status

https://www.popularmechanics.com/cars/a6491/behind-the-scenes-in-the-green-hornets-garage/

https://www.autoblog.com/2011/01/18/meet-the-green-hornets-original-black-beauty/?guccounter=1&guce_referrer=aHR0cHM6Ly93d3cuYmluZy5jb20v&guce_referrer_sig=AQAAAEVOCx-hO2WCKW7JU3O2QCPNaMnMk5Ucpw7FqAKEBE20jdikJFXIG8Kp08aKUY6uUNlKQXFEvfVdt3wsIXZbAGv8QGyMMT0rr-dRtw4ooCbieM1QmToGRA18B87kDX5Mcw8yH4rqzFCpVr0Y_mTPIgCelNF8FzGwe1nO4SeWnYiv

http://automotivemileposts.com/prod1966imperial.html

https://www.nytimes.com/2010/05/16/automobiles/16MOVIE.html



segunda-feira, 17 de julho de 2023

Ford Gran Torino 1976, de Starsky & Hutch

 

Gran Torino 1976, da Greenlight em 1:64
Da minha coleção

O Gran Torino de Starsky & Hutch na escala 1:64 é da Greenlight. O acabamento e detalhes são muito bons, faróis, grade. Moldura do para brisa e janelas, lanternas traseiras de plástico e as rodas com pneus de borracha, bem fiéis ao original. Detalhe para a luz de emergência colada no teto, e o capô do motor que abre, mostrando o V8 dentro. No interior, bancos bem reproduzidos, volante com aro. Chassi de metal, com detalhes do escapamento e tanque de gasolina, e os tradicionais rebites de fixação.




1976 Ford Gran Torino

Torino 1969

O Gran Torino começou sua carreira como Torino, em homenagem à Detroit Italiana, a cidade de Turim. Em 1968, era uma variação superior do Ford Fairlane, no segmento intermediário do mercado americano, num posicionamento similar ao Galaxie LTD; e três anos depois, o nome Fairlane desapareceu, permanecendo a marca Torino no segmento intermediário, compartilhando sua plataforma com o Mercury Montego.

A Ford usou o Torino nas versões mais potentes, com motores de 428 cid ou os 429 “Cobra Jet” para entrar no segmento dos “muscle-cars” que estava em ascensão no início doa anos 1970, e o modelo teve muito sucesso participando da NASCAR em várias equipes.

A primeira geração, lançada em 1968, baseada na já antiga plataforma dos Fairlane, durou até 1969, quando a segunda geração recebeu uma renovação, com linhas similares aos Ford de segmento superior, no estilo que ficou conhecido como “coke bottle”, com um longo capô dianteiro, e a linha superior dos para lamas traseiros se elevava, deixando uma “cintura” na linha das janelas laterais, semelhante ao perfil das garrafas de Coca-Cola.

Torino 1970

Torino 1972

Com o mercado aquecido, antes da crise do petróleo, a terceira geração do Torino surgiu em 1972, como Torino, Gran Torino e Gran Torino Sport, principais versões na época. A maior das alterações foi a mudança para a carroçaria monobloco, ao invés da combinação Chassi-Carroçaria até então; e a suspensão traseira four-link em vez do eixo rígido e molas semielípticas tradicionais. O Torino cresceu em comprimento e largura, e as versões de quatro portas e Station-Wagon tinham um entre eixos maior do que os sedan e cupê duas portas, enfatizando seu perfil esportivo. Em 1973, devido às regulamentações federais de segurança, recebeu uma reestilização com os para choques maiores e resistentes a choques até 4 km/h. O Torino continuava crescendo em tamanho e peso, com as versões de duas portas com 5,37m, as de quatro portas com 5,47m e as wagons chegando a 5,64m de comprimento e o peso entre 1.592 e 1.928 kg. Os motores V8 começavam com um Windsor 302 cid, passando pelos de 351 cid Cleveland e os dois maiores de 400 cid (6,6 litros) e 460 cid (7,5 litros), com câmbios de quatro velocidades manual ou três automático.

Gran Torino 1975 

Os conversores catalíticos vieram na linha 1975, com as novas regras de emissões de poluentes, reduzindo também a potência dos motores para atender às novas normas governamentais, dando início a um movimento de redução de potência em direção à economia de combustível e carros “mais verdes”. Assim, o ano de 1976 viu os últimos Torino com poucas alterações, saindo de cena num mercado com novas exigências, com a Ford lançando mão de novos modelos para renovar a imagem que atendessem a um novo consumidor preocupado com a economia de combustível e mais favorável ao meio ambiente.

O Gran Torino de Starsky & Hutch



Quando a Spelling-Goldberg Productions preparava para a ABC o seriado Starsky & Hutch (no Brasil: “Justiça em dobro”, estrelada por David Soul e Paul Michael Glaser), e precisavam de um carro para a dupla de detetives, fizeram um pedido à GM para usar um Camaro na cor verde, mas a Chevrolet não conseguiu atender à solicitação do Estúdio. Eles consultaram a Ford, pois ela tinha o Studio-TV Car Loan Program, que alugava ou emprestava carros para as produtoras de cinema e TV como uma forma de alavancar a imagem dos carros no mercado, pois era uma forma de propaganda “gratuita” que criava simpatia da marca junto aos telespectadores dos filmes e séries de TV.

Selecionado o Gran Torino 1976, decoraram o caro com uma larga faixa lateral branca para dar um diferencial no visual, e criar uma personalidade para o carro de Starsky & Hutch. Também trocaram as rodas pelas de cinco raios mais largas do que o normal, e a suspensão foi rebaixada para dar um ar mais agressivo. No entanto, nem Paul Glaser, nem David Soul gostaram do carro no início, e Glaser odiava a direção pesada do Torino, apelidando o carro de “Tomate Listrado”.

No mínimo, 10 unidades do Gran Torino foram preparadas para as gravações, e poucos sobreviveram aos saltos e perseguições dos episódios de Starsky & Hutch. A produção utilizava várias câmeras dentro e fora do veículo, além de tomadas feitas com carros correndo ao lado deles nas cenas de velocidade.


Com o sucesso de público do seriado, e como em muitos casos, o carro acabou se tornando o personagem mais atrativo da série, e a Ford decidiu produzir uma versão réplica do carro de Starsky & Hutch na primavera de 1976, e já em março deste ano, os modelos começaram a chegar nas revendas. A pintura, claro, era vermelha com a larga faixa branca na lateral, os para choques de luxo e espelhos esportivos eram obrigatórios, mas as rodas esportivas foram as Magnum 500, diferentes das que apareciam no carro do seriado. Assim também, as réplicas não vinham com a suspensão rebaixada, nem com os amortecedores a ar, mas diversos compradores fizeram estas adaptações nos exemplares que adquiriram.


Os 1.100 exemplares programados eram equipados com o V8 de 5,7 litros, gerando 200 hp de potência e 353 lb-ft de torque; e relata-se que um destes acabou sendo enviado para os estúdios para fazer parte dos vários carros utilizados nas filmagens do seriado. Hoje (2023) alguns exemplares vendidos em leilões, como da RM Sotheby’s atingem mais de US$ 60 mil para mudar de mãos. O sucesso foi tanto que mais 100 unidades tiveram de ser produzidas para atender os fãs canadenses do seriado.

O toque de ironia nesta história era o fato de a Chevrolet e a Dodge patrocinarem algumas temporadas do seriado nos anos setenta, embora o carro dos astros fosse da Ford. De todo modo, parece que os anunciantes estavam mais interessados nos pontos, ou índices de audiência do programa, não importando qual carro estava em destaque; mas nos corredores da produção, corria a piada interna de que era a Ford que estava realmente tirando o melhor proveito da situação.

Na época, a CBS lançou “The Dukes of Hazzard” (Os Gatões, no Brasil) em que o Dodge Charger 1969 se tornou o astro, e quis zombar do Gran Torino (que era muito mais lento e pesado do que o Charger), apresentando-o no episódio de estreia do seriado. Mas parece que os espectadores de TV não entendem muito de carros, e o Gran Torino acabou tendo uma propaganda gratuita, e o tiro da CBS saiu pela culatra! A febre pelo Gran Torino tomava conta do país, com diversos produtos licenciados com a “grife” Starsky & Hutch, engordando ainda mais a receita da ABC na época.

Ben Stiller, David Soul, Paul Michael Glaser e Owen Wilson, em 2004

Em 2004, Starsky & Hutch voltaram à mídia cinematográfica como um filme (talvez um piloto visando ressuscitar a Série), estrelada por Ben Stiller e Owen Wilson como Starsky & Hutch, com Snoop Dog interpretando o personagem Huggy Bear. Também Paul Glaser e David Soul tiveram uma participação especial, e o roteiro permaneceu fiel às raízes originais do seriado, constando um Gran Torino de 1975, fielmente reproduzido com a tradicional faixa branca na lateral, e diversos carros da década de 1970 foram coadjuvantes para compor o cenário dos anos setenta.

John Sepe, David Soul e Lou Telano

Como curiosidade, com o sucesso que o seriado alcançou, houve alguns rumores de que o tema do show era baseado em fatos. Isso se provou verdade quando Lou Telano e John Sepe, policiais verdadeiros de Nova York se pronunciaram, declarando que os roteiros muitas vezes mostravam o que eles passaram de verdade nas ruas, combatendo as drogas, trabalhando duro com seus colegas de delegacia e lidando também com seus problemas pessoais e familiares. Os produtores se desculparam por não declararem a fonte de inspiração do programa e pagaram US$ 10 mil para cada um como um cachê simbólico.

Referências:

https://www.hotcars.com/heres-where-the-ford-gran-torino-from-starsky-hutch-is-today/

https://www.hotcars.com/starsky-hutch-facts-about-the-duos-gran-torino/

https://en.wikipedia.org/wiki/Ford_Torino