quinta-feira, 26 de julho de 2012

Trânsito em São Paulo


Sair para o trabalho ou para fazer qualquer coisa na cidade já tem o empecilho diário: o malfadado trânsito de São Paulo, onde alguns moradores pegam um congestionamento já na saída de sua garagem.
Atrasos inevitáveis, desperdício de tempo e combustível, desgaste dos automóveis no pára-anda, e a paciência se perdendo até os níveis de estresse explodirem em algum entrevero nas ruas e avenidas da maior cidade do país.
Impressionante o volume sempre crescente de veículos que chegam às ruas, liberados em parcelas a perder de vista, nos feirões promovidos pelas concessionárias, com preços aviltados em relação aos mercados mundiais, e mesmo assim o brasileiro assina generosos cheques para sair de carro novo, o epítome do progresso na escala social, agora motorizado e dono de seu próprio destino no ir e vir.
No entanto, o slogan de que “São Paulo não pára” deve mudar logo, logo; pois o cenário caótico das ruas e avenidas indica que estamos quase parando.
Especialistas e políticos de plantão tem no trânsito de São Paulo um prato cheio.
O rodízio nos dias da semana, restrições aos caminhões, o fechamento de ruas, criação de corredores de ônibus e trólebus, cobrança de pedágios para acesso a determinados setores da cidade, mais linhas de metrô, túneis, viadutos e complexos viários não dão conta para dar mais fluidez ao trânsito. Além do que, mudar o comportamento das pessoas é difícil, mas não impossível.
Há muitas idéias, nem sempre exeqüíveis, técnica ou financeiramente. Há necessidade de repensar o problema, fazer novas perguntas e usar a criatividade para mudar o modo como a cidade vive. Pensando São Paulo, não só em Mobilidade, mas no todo, poderíamos aplicar o modelo das grandes empresas e conglomerados, a Prefeitura como uma Holding e as Subprefeituras com poder, autonomia e recursos ($$$) para administrar pequenas cidades dentro de sua jurisdição; fracionar esta megalópole para administrar melhor e abrir maior participação da população nas necessidades de cada sub-região, que tem perfis diferenciados: soluções boas para o centro não servem para os extremos da Zona Sul, boa parte sendo área de proteção de mananciais; ou os bairros dinâmicos da Zona Leste. Bairros que encostam na Serra da Cantareira precisam de uma ótica diferente da Zona Oeste.
 Também, muitos sugerem aumentar a rede de transportes (públicos principalmente), incentivar os alternativos, como bicicleta ou carona solidária. Todas as sugestões neste sentido não resolvem, pois quanto mais facilidade de se deslocar, mais pessoas irão se locomover pela cidade. Aumentar o sistema de transporte tem como efeito colateral aumentar a quantidade de pessoas se deslocando, a um custo de impostos que a cidade não suporta mais.
Em vez de aumentar o espaço para os veículos, poderíamos reduzir os carros, mas não como o Smart, posicionado como carro de status e não como transporte prático e acessível. Muitas pessoas tem dois ou mais carros na família. Com um pacote de benefícios, a indústria poderia projetar e fabricar carros individuais (já que a maioria anda sozinha dentro de um carro para cinco pessoas) servindo para ir trabalhar e se deslocar individualmente. E teriam outro veículo para sair com a família ou com mais pessoas.
Não vejo ninguém discutindo a redução da Mobilidade de pessoas, de modo a evitar o deslocamento da população para chegar aos seus empregos. Se houvesse geração de empregos na sub-região, as pessoas não precisariam perder (literalmente) duas e até quatro horas dentro de um transporte indo e vindo trabalhar. Qualidade de vida é morar perto do serviço.
Municípios do interior atraem empresas dispostas a se mudar para lá concedendo incentivos e até doando terrenos para sua instalação. Caso as Subprefeituras concedessem incentivos para as empresas se estabelecerem nas sub-regiões, estariam mantendo a população dentro de um raio de mobilidade razoável, levando cerca de meia hora para chegar ao local de seu trabalho.
Evitar que a população se desloque pela cidade permitiria que apenas os que necessitam fazê-lo tenham um transporte mais fluido pela cidade, e desafogaria os horários de pico.
Setores de mercado poderiam ter horários diferenciados de funcionamento, para distribuir o afluxo de trabalhadores provocando o famoso “rush” da manhã e final de tarde. A automação e segurança do sistema bancário brasileiro é notória e referência no mundo todo. A mesma capacidade poderia ser empregada para diversos setores da economia, numa transição definitiva para o mundo digital e tecnológico, abrindo novas possibilidades para transformar os negócios e facilitar a vida de todos.
Escolas poderiam aperfeiçoar o Ensino à Distância, para começar já no Ensino Fundamental a formar alunos de uma nova realidade, plugados na rede (vão ser assim, mesmo que não queiramos), criar uma nova disciplina de aprendizado, sem a pressão para a conformidade (uniformes já foram abolidos de muitas escolas, mas mais por necessidade econômica  do que conceitual). Todos os que já tiveram de deixar filhos na porta da escola sabem da perda de tempo e inconveniência nos horários de entrada e saída dos alunos.
Sistemas de Car Sharing poderiam reduzir o número de pessoas possuidoras de veículos. Exemplos em outros países mostram que uma parcela da população já abriu mão de ter um carro, usando tais serviços para se deslocar, usando o carro somente no momento necessário, sem arcar com as altas despesas de posse e manutenção de um veículo.
Home-Office ou trabalho em casa, não é culturalmente um traço do brasileiro, mas diversos segmentos de atividades poderiam perfeitamente deixar seus funcionários trabalhando em casa, e indo apenas um vez por semana ao escritório para as inevitáveis reuniões e interações com os demais trabalhadores. Tudo para reduzir a mobilidade e não aumentá-la.
Enfim, a solução pode ser um combinado de muitas alternativas, e uma coisa é certa: o problema é tão grande que não se resolverá sem um grande comprometimento do poder público e da população, ambos muito interessados em melhorar a vida tão sofrida nesta megacidade que é São Paulo.