Sair para o trabalho ou para fazer qualquer coisa na cidade
já tem o empecilho diário: o malfadado trânsito de São Paulo, onde alguns
moradores pegam um congestionamento já na saída de sua garagem.
Atrasos inevitáveis, desperdício de tempo e combustível,
desgaste dos automóveis no pára-anda, e a paciência se perdendo até os níveis
de estresse explodirem em algum entrevero nas ruas e avenidas da maior cidade
do país.
Impressionante o volume sempre crescente de veículos que chegam
às ruas, liberados em parcelas a perder de vista, nos feirões promovidos pelas
concessionárias, com preços aviltados em relação aos mercados mundiais, e mesmo
assim o brasileiro assina generosos cheques para sair de carro novo, o epítome
do progresso na escala social, agora motorizado e dono de seu próprio destino
no ir e vir.
No entanto, o slogan de que “São Paulo não pára” deve mudar
logo, logo; pois o cenário caótico das ruas e avenidas indica que estamos quase parando.
Especialistas e políticos de plantão tem no trânsito de São
Paulo um prato cheio.
O rodízio nos dias da semana, restrições aos caminhões, o
fechamento de ruas, criação de corredores de ônibus e trólebus, cobrança de
pedágios para acesso a determinados setores da cidade, mais linhas de metrô,
túneis, viadutos e complexos viários não dão conta para dar mais fluidez ao
trânsito. Além do que, mudar o comportamento das pessoas é difícil, mas não
impossível.
Há muitas idéias, nem sempre exeqüíveis, técnica ou financeiramente.
Há necessidade de repensar o problema, fazer novas perguntas e usar a
criatividade para mudar o modo como a cidade vive. Pensando São Paulo, não só
em Mobilidade, mas no todo, poderíamos aplicar o modelo das grandes empresas e
conglomerados, a Prefeitura como uma Holding e as Subprefeituras com poder,
autonomia e recursos ($$$) para administrar pequenas cidades dentro de sua
jurisdição; fracionar esta megalópole para administrar melhor e abrir maior
participação da população nas necessidades de cada sub-região, que tem perfis
diferenciados: soluções boas para o centro não servem para os extremos da Zona
Sul, boa parte sendo área de proteção de mananciais; ou os bairros dinâmicos da
Zona Leste. Bairros que encostam na Serra da Cantareira precisam de uma ótica
diferente da Zona Oeste.
Também, muitos
sugerem aumentar a rede de transportes (públicos principalmente), incentivar os
alternativos, como bicicleta ou carona solidária. Todas as sugestões neste
sentido não resolvem, pois quanto mais facilidade de se deslocar, mais pessoas
irão se locomover pela cidade. Aumentar o sistema de transporte tem como efeito
colateral aumentar a quantidade de pessoas se deslocando, a um custo de
impostos que a cidade não suporta mais.
Em vez de aumentar o espaço para os veículos, poderíamos
reduzir os carros, mas não como o Smart, posicionado como carro de status e não
como transporte prático e acessível. Muitas pessoas tem dois ou mais carros na
família. Com um pacote de benefícios, a indústria poderia projetar e fabricar
carros individuais (já que a maioria anda sozinha dentro de um carro para cinco
pessoas) servindo para ir trabalhar e se deslocar individualmente. E teriam
outro veículo para sair com a família ou com mais pessoas.
Não vejo ninguém discutindo a redução da Mobilidade de
pessoas, de modo a evitar o deslocamento da população para chegar aos seus
empregos. Se houvesse geração de empregos na sub-região, as pessoas não
precisariam perder (literalmente) duas e até quatro horas dentro de um
transporte indo e vindo trabalhar. Qualidade de vida é morar perto do serviço.
Municípios do interior atraem empresas dispostas a se mudar
para lá concedendo incentivos e até doando terrenos para sua instalação. Caso
as Subprefeituras concedessem incentivos para as empresas se estabelecerem nas
sub-regiões, estariam mantendo a população dentro de um raio de mobilidade
razoável, levando cerca de meia hora para chegar ao local de seu trabalho.
Evitar que a população se desloque pela cidade permitiria
que apenas os que necessitam fazê-lo tenham um transporte mais fluido pela
cidade, e desafogaria os horários de pico.
Setores de mercado poderiam ter horários diferenciados de
funcionamento, para distribuir o afluxo de trabalhadores provocando o famoso
“rush” da manhã e final de tarde. A automação e segurança do sistema bancário
brasileiro é notória e referência no mundo todo. A mesma capacidade poderia ser
empregada para diversos setores da economia, numa transição definitiva para o
mundo digital e tecnológico, abrindo novas possibilidades para transformar os
negócios e facilitar a vida de todos.
Escolas poderiam aperfeiçoar o Ensino à Distância, para
começar já no Ensino Fundamental a formar alunos de uma nova realidade,
plugados na rede (vão ser assim, mesmo que não queiramos), criar uma nova
disciplina de aprendizado, sem a pressão para a conformidade (uniformes já
foram abolidos de muitas escolas, mas mais por necessidade econômica do que conceitual). Todos os que já tiveram
de deixar filhos na porta da escola sabem da perda de tempo e inconveniência
nos horários de entrada e saída dos alunos.
Sistemas de Car Sharing poderiam reduzir o número de pessoas
possuidoras de veículos. Exemplos em outros países mostram que uma parcela da
população já abriu mão de ter um carro, usando tais serviços para se deslocar,
usando o carro somente no momento necessário, sem arcar com as altas despesas
de posse e manutenção de um veículo.
Home-Office ou trabalho em casa, não é culturalmente um
traço do brasileiro, mas diversos segmentos de atividades poderiam
perfeitamente deixar seus funcionários trabalhando em casa, e indo apenas um
vez por semana ao escritório para as inevitáveis reuniões e interações com os
demais trabalhadores. Tudo para reduzir a mobilidade e não aumentá-la.
Enfim, a solução pode ser um combinado de muitas
alternativas, e uma coisa é certa: o problema é tão grande que não se resolverá
sem um grande comprometimento do poder público e da população, ambos muito
interessados em melhorar a vida tão sofrida nesta megacidade que é São Paulo.
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