sexta-feira, 24 de março de 2017

Carros e Filmes - O Simca Chambord e o Vigilante Rodoviário

Carro francês, projetado nos Estados Unidos e que fez sucesso no Brasil. Simca Chambord, o primeiro carro de luxo produzido em solo nacional. Ele começou a ser fabricado pela Ford SAF (Ford Societé Anonyme Française) como Ford Vedette, em 1948. Porém, a matriz americana estava insatisfeita com os resultados da Filial Francesa e temerosa com a subida do socialista Vincent Auriol a primeiro ministro, em 1948, acabou vendendo as operações para a Simca (Societé Industrielle de Mécanique et de Carrosserie Automobile); passando apenas a importar e distribuir os carros feitos na Inglaterra e Alemanha.
O motor de origem Ford, remonta a década de 1930, sendo o mesmo utilizado no modelo europeu. Um propulsor V8 Flathead 2.3 litros de 84 cv e torque máximo de 15,2 kgfm, associado ao câmbio de três marchas com alavanca no console. A tração era traseira, com semi-eixo rígido e molas semielípticas, sendo a dianteira o novo tipo patenteado pelo engenheiro da GM Earle S. McPherson, obrigando a Ford, e depois a Simca, a pagar royalties pela aplicação no Vedette. Apesar de belo, confortável e estável, o desempenho era insuficiente: ele acelerava de 0 a 100 km/h em 26 segundos e atingia máxima de 135 km/h. Porém, durante a sua trajetória, a marca iria gradativamente sanar os problemas de desempenho.
O modelo como o conhecemos no Brasil era uma reestilização feita em 1957, chamada Beaulieu, mais simples, e o Chambord, de luxo. A perua, denominada Marly, lançada um ano antes, também recebeu a estilização e ganhou o nome de Jangada no Brasil.
A Simca no Brasil, se instalou em São Bernardo do Campo em 1958, adquirindo a Varam Motores, que montava os Hudson e Nash; e começou a produzir o modelo sob licença, entre 1959 e 1967. Na França, ele foi produzido entre 1958 e 1961, porém não alcançou em sua terra natal o mesmo sucesso que teve por aqui.
Lançado em janeiro de 1959, em março saíram da fábrica os primeiros Simca Chambord, com uma nacionalização de cerca de 25%, sendo o restante importado da França. Em pouco tempo o modelo se tornaria popular e desejado por muitos. O carro tinha muito apelo e trazia muitas novidades ainda incomuns na época: acendedor de cigarros, faróis de neblina, esguichador de água no para-brisa, trava antifurto, iluminação no motor, porta-luvas e porta-malas, além de diversos porta-objetos. Espaçoso, ele podia acomodar seis pessoas, e o câmbio tinha a alavanca na coluna de direção, liberando espaço para três pessoas no banco dianteiro inteiriço
Em 1961, o Simca Chambord já estava completamente nacionalizado e a marca ia se adaptando ao mercado e aplicando melhorias no modelo. A segunda série de 1961, como ficou conhecida, ganhou um motor mais potente (90 cv) e com diversas melhorias que reduziram atrito e aquecimento (reclamação constante), suspensão recalibrada, nova relação de marchas, além do acabamento interno com melhor qualidade.
O carro tinha uma boa estabilidade direcional e em curvas, os freios a tambor “Twimplex” com dois cilindros na dianteira eram eficientes para a época. A fonte de queixas era o seu motor Aquilon, com válvulas no bloco, fraco e ultrapassado tecnologicamente. Virabrequim de três mancais, cilindros com diâmetro menor que o curso, pesado e com baixo rendimento, era criticado pela imprensa automotiva e motivo de reclamações de clientes que esperavam um desempenho melhor pela classe do carro.
Para atender a demanda e neutralizar a imagem de fraco desempenho, a marca lançou em 1962 uma versão luxuosa chamada Simca Présidence. Tinha calotas raiadas, estepe atrás do porta-malas, cores exclusivas e bancos de couro, além do motor original atualizado para 100 cv de potência com o emprego de dois carburadores duplos e maior taxa de compressão. Recebeu em 1965 o motor V8 com 2.414 cc na versão denominada Tufão de 110 cv com taxa de compressão de 8:1, enquanto no Super Tufão a cilindrada era de 2.515 cc e 112 cv; e no final de 1966 o motor V8 Emi-Sul de 140 cv, que finalmente traria bom desempenho ao modelo. Este motor trazia as válvulas no cabeçote, que era de alumínio, e câmaras de combustão hemisféricas, e conseguia esta potência mesmo com a cilindrada de 2.414 cc. Além disso, vinha equipado com ignição transistorizada (sem platinados) da Bendix Corporation e sistema de ventilação positiva dos vapores de óleo do cárter, por meio de um sistema nas tampas de válvulas que os conduzia ao filtro de ar. Fazia de 0 a 100 km/h em 16 segundos e ultrapassava 160 km/h de velocidade máxima. 
O motor Emi-Sul de 140 cv.
Poucos meses depois era lançado o Simca Rallye, que seria a primeira versão esportiva de um sedã nacional. Equipado com o mesmo motor da versão Présidence, o visual externo possuía entradas de ar no capô e cores mais chamativas. Exclusivo nesta versão era uma alavanca no painel para o avanço inicial de ignição. Isso permitia compensar diferenças de octanagem do combustível e também de altitude.
O Chambord também marcou uma época por ser o veículo usado pelo ator Carlos Miranda, protagonista da popular série de TV “O Vigilante Rodoviário”.
O encerramento da produção do modelo era anunciado no fim de 1966, quando a marca já apresentava seu substituto, o Esplanada, já sob a direção da Chrysler americana. Ao todo foram produzidas quase 50 mil unidades do modelo. Com a incorporação definitiva pela Chrysler em 1967, os modelos da Simca desapareceram do mercado.
O Simca Chambord foi um modelo importante, pois chegou em um momento em que a indústria nacional estava dando os primeiros passos. Foi o primeiro modelo de luxo disponível por aqui e, apesar da curta trajetória, deixou muitos fãs. O carro também foi homenageado com uma música da banda Camisa de Vênus “Simca Chambord”, de 1986.
O VIGILANTE RODOVIÁRIO
“Vigilante Rodoviário”, primeiro seriado produzido especialmente para a televisão na América Latina, foi ao ar pela primeira vez em 20 de dezembro de 1961, na TV Tupi canal 4, patrocinado pela Nestlé.
O inspetor Carlos, interpretado por Carlos Miranda, e seu cão Lobo, lutavam contra o crime a bordo de uma Harley Davidson 1952 ou de um Simca Chambord 1959. Seu posto ficava na Rodovia Anhanguera, km 38, local escolhido pela produção pelo fato de se manter ensolarado a maior parte do ano, para as filmagens externas.
Isso aconteceu no fim da década de 50 e início da de 60, a televisão ainda vivia seu tempo do “ao vivo”, sem a ajuda do vídeo-tape. Na época, eram exibidos enlatados americanos, desenhos e filmes que eram gravados em película cinematográfica. Foi daí que surgia a idéia da TV Tupi de fazer esta superprodução, para os padrões da época, claro!
Ary Fernandes, fã de revistas em quadrinhos e seriados americanos, inspirou-se no trabalho da Polícia rodoviária do Estado de São Paulo, criada em 1948 pelo governador Adhemar de Barros, para dar emprego aos pracinhas que lutaram pelo Brasil na Segunda Guerra Mundial.
No final de 60, depois de apresentado o piloto da série a 20 agências para patrociná-la, só uma apoiou a idéia da TV Tupi: a Nestlé do Brasil.
O título inicial era "Patrulheiro rodoviário", mas quando o contrato de patrocínio foi assinado com a Nestlé, a Toddy comprou um seriado americano de faroeste e o denominou "Patrulheiros do Oeste", e o título teve de ser mudado para "Vigilante Rodoviário".
Segundo depoimento do radialista Elmo Francfort Ankerkrone: “Eles gravaram, então, 38 episódios, ou seja, mais de quatro filmes, que faziam parte destes 38, só que com cenas novas para exibições futuras. Com isto, o “Vigilante Rodoviário” foi o primeiro seriado criado para a televisão brasileira e a América Latina, não perdendo para as produções ‘westerns’ americanas. Uma série 100% brasileira, no tema e nos demais segmentos que possam existir para o gênero. A série tinha também sempre o uso adequado da força do Vigilante, sem abusos policiais.
A série começou a ser produzida e foram convocados mais de 200 candidatos para o papel principal, nenhum foi aprovado. Porém, para não perderem o desafio que a equipe tinha se metido, Ary Fernandes resolveu testar um de seus assistentes de produção, Carlos Miranda.
O resultado foi melhor do que o esperado, e assim, com seu porte atlético, seu jeito simpático e muito animado, Carlos Miranda fez com que a idéia da série não fosse engavetada. Ele não esperava o sucesso que teve com seu personagem, foi um tiro no escuro que acertou no meio do alvo!
A posse do Presidente Jânio Quadros dias depois de assinado o contrato fez com que a verba da Nestlé não fosse suficiente, já que o mesmo estipulou uma lei taxando os produtos importados em 400%. O problema aconteceu porque a série era quase toda feita com importados. Isto fez com a que série custasse dez vezes mais que as estrangeiras em termos de produção.
Para que ele não ficasse sozinho na série e tivesse companheiros em suas buscas, criaram o personagem Lobo, um cão pastor alemão, o mais fiel amigo do Inspetor Carlos Miranda”. A princípio a dupla usava uma moto Harley Davidson. Depois de sofrer uma queimadura em sua cauda, Lobo se recusou a subir novamente na moto. Então, os heróis passaram a viver suas aventuras num Simca Chambord, todo pintado de amarelo e preto. Lobo tinha seu lugar cativo, ao lado do inspetor Carlos, no banco dianteiro do automóvel! Foram usados 5 automóveis para as gravações, cedidas em comodato pela Simca, e ao final da série, todas as unidades foram devolvidas para a montadora. O atual carro exibido nos eventos junto com o Vigilante Carlos é uma réplica com a decoração utilizada na época pela corporação.
Continua Elmo: “E com este time e o patrocínio da Nestlé, a série começou a ser exibida em dezembro de 1961, na TV Tupi de São Paulo, às 20h, todas as quartas feiras, após o telejornal “Repórter Esso”. No Rio de Janeiro às quintas-feiras, sempre no horário nobre. Interessante ressaltar que pela inexistência do sistema em rede para a televisão, fazia com que a fita viajasse, literalmente, de uma filial para a outra, sempre dentro das Emissoras Associadas. A série foi exibida até 29 de agosto de 1963, quando a Nestlé cancelou o patrocínio.
Como o orçamento era apertado, a produção convidava atores em início de carreira, e assim, ajudou a revelar à TV brasileira nomes com Stenio Garcia, Ary Fontoura, Fúlvio Stefanini, Rosa Maria Murtinho, Milton Gonçalves, Ary Toledo, Juca Chaves e outros. Mesmo com o fim do patrocínio e da produção da série, as reprises batiam grandes programas da época, sempre dando pontuação máxima ao seriado infanto-juvenil”.  Durante as décadas de 60 e 70, o seriado foi exibido também pelas extintas TV Tupi (1967) e TV Excelsior; e pelas TVs Cultura, Globo (1972) e Record, até 1976.
  
Tenente-coronel Carlos Miranda,
o eterno vigilante rodoviário
"De noite ou de dia, firme no volante, vai pela rodovia, é o bravo vigilante!"
Quando essa estrofe tocava, seja nos anos 60 ou 70, a maior parte das famílias brasileiras ia para frente da televisão acompanhar as aventuras do vigilante rodoviário Carlos e seu inseparável cão Lobo.
Por meio de um decreto, datado de 10 de janeiro de 1948, assinado pelo então governador do Estado, Ademar Pereira de Barros, foi criado o Grupo Especial de Polícia Rodoviária. A equipe era um segmento especial da Polícia Militar (chamada, na época, de Força Pública), e tinha como objetivo atuar nas estradas e rodovias do Estado, prevenindo crimes.
“Além da fiscalização do trânsito, nosso trabalho é combater a criminalidade na malha rodoviária de São Paulo. São aproximadamente 22 mil quilômetros de estradas, onde atuamos através da fiscalização e combate ao excesso de velocidade, ultrapassagens indevidas, alcoolemia [embriaguez], além de campanhas educacionais e condução responsável de motocicletas”, diz o coronel Hélio Verza Filho, comandante do Policiamento Rodoviário.
Da tela para as ruas – a ficção se torna realidade
O seriado tornou-se um sucesso, não apenas pela forma de filmagem, utilizando a película de cinema – técnica até então inédita no Brasil –, mas principalmente pela simpatia que o grupo, os então chamados de vigilantes rodoviários, exercia sobre a população.
Carlos Eduardo Miranda, que fazia o papel do protagonista, teve de fazer o curso na Escola de Policiais Rodoviários em Jundiaí, gostou tanto de atuar como vigilante e, após terminar a série, foi convidado pelo Comandante Geral da Força Pública de Exército João Franco Pontes, para entrar na Academia de Polícia Militar do Barro Branco (APMBB) e tornou-se um patrulheiro de verdade.
O ator se transformou em seu personagem. Miranda seguiu carreira dentro do policiamento rodoviário por 25 anos, chegando ao posto de tenente-coronel, e não se arrepende da escolha. “Eu, que comecei cantando em um circo, hoje sou um símbolo entre as polícias rodoviárias do país. Não trocaria o que vivi, e ainda vivo, na PM, por nada. É uma satisfação muito grande ser, de verdade, um vigilante rodoviário”, conta. Em 1998 passou para a Reserva como Tenente Coronel PM RES. Carlos Miranda hoje participa de encontros de colecionadores de carros antigos, presente sempre quando seu Simca Chambord preto e amarelo participa dos eventos, além de dar palestras e se apresentar em comemorações cívicas como símbolo das forças policiais.
Lobo, cujo nome verdadeiro era King, era conhecido do quartel da força pública próximo do Parque Estoril, em São Bernardo do Campo, SP. Era um pastor alemão mestiço e tinha cinco anos quando foi "recrutado" para as filmagens. Em 1971, quando fugia para a casa de Ary Fernandes, Lobo foi encontrado morto perto do antigo lixão da Vila Guilherme, vítima de atropelamento.
Em novembro do mesmo ano da estreia da série, o Grupo Especial de Polícia Rodoviária passou a ser parte da Força Pública (a PM da época), mudando de nome para Corpo de Policiamento Rodoviário e, em dezembro de 1973, Batalhão de Policiamento Rodoviário.
EM ESCALA
O modelo da NOREV reproduz o Simca Beaulieau de 1957, na escala 1:18, e tem bom nível de detalhamento, do design da época e abre as portas, capô dianteiro e porta-malas. Traz a pintura em duas cores, com o teto e as laterais “rabo-de-peixe” em cinza, contrastando com a cor predominante do restante do carro.





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