O Isetta é considerado
o primeiro veículo de produção em massa a atingir o índice de 3 litros/100km;
também o primeiro carro monocilindro do mundo.
A Isothermos Rivolta,
ou simplesmente Isothermos, foi fundada em 1939 em Gênova, na Itália, e tinha
como atividade principal a fabricação de unidades de refrigeração. Em 1942, a
empresa mudou-se para Bresso, e após a guerra, abandonou as geladeiras e
começou a fabricar scooters, motocicletas e pequenos triciclos de carga,
atendendo à grande demanda por veículos econômicos numa Itália detonada pela
guerra.
Em 1952 a empresa foi
rebatizada como ISO Autoveicoli Spa, e seu proprietário, Renzo Rivolta, decidiu
construir um pequeno veículo para atender à demanda de mobilidade dos italianos
no pós-guerra. Em 1952, com design de Ermenegildo Preti e Pierluigi Raggi,
engenheiros da ISO, o carrinho foi equipado com um motor de 198 cc de 9,5 cv e
ganhou o nome de Isetta, ou “pequeno Iso”.
Devido ao seu design
inusitado, ganhou vários apelidos nos países em que foi fabricado. Na Alemanha
era “Das rollende ei” (o ovo rolante), ou “Sargwagen” (literalmente ‘caixão com
rodas’). Na França era “Yogurt Pot” (pote de yogurte); no Brasil foi chamado de
“Bola de Futebol do FNM) e no Chile ficou conhecido como “Huevito” (ovinho).
A Isetta causou
sensação quando foi apresentada em Turim, em novembro de 1953. Era diferente de
tudo o que já se vira antes. Compacto, media 2,29 m de comprimento e 1,37 m de
largura. Diversos aspectos eram notáveis na Isetta: seu design compacto em
forma de ovo, a porta frontal de acesso aos passageiros, a coluna de direção
que se articulava para facilitar a entrada, a bitola dianteira maior do que a
traseira, o pequeno motor motociclístico de 198 cc. Em caso de caso de
acidente, os passageiros podiam sair pelo teto, que tinha uma capota de tecido
retrátil. O banco único acomodava bem dois adultos e uma criança, com relativo
conforto. Atrás do banco havia um compartimento de bagagens e o estepe.
Seu motor era um
monocilindro a dois tempos, com 198 cc, 9,5 hp; e a caixa de câmbio com quatro
velocidades à frente e uma à ré. A transmissão às rodas traseiras era feita por
corrente, no eixo com apenas 48 cm de bitola, tornando desnecessária a
instalação de um diferencial. O eixo dianteiro tinha uma suspensão independente
Bubonnet modificada, e sua bitola era de 120 cm. As rodas eram de 10 polegadas
de diâmetro, e no calçamento irregular da época, fazia os passageiros sofrerem
um pouco.
Levava 30 segundos
para atingir 50 km/h, e a máxima chegava a 75 km/h. O tanque tinha 13 litros de
capacidade. Em 1954, a ISO inscreveu sete unidades do Isetta na famosa Mille
Miglia, e cinco dos sete terminaram a prova, com os pilotos atingindo a
espantosa média de 73 km/h de velocidade para o percurso de mais de 1.600 km.
Conseguiram também os três primeiros lugares na classificação de maior economia
de combustível com as médias de 42, 50 e 70 mpg (Milhas por galão).
Apesar do sucesso, o
interesse dos italianos pela Isetta foi diminuindo, devido ao sucesso do Fiat
500. Ao mesmo tempo, Renzo Rivolta passou a dedicar-se mais aos seus carros
esportivos Iso Rivolta, e com o licenciamento para produção em outros países,
Renzo cessou a produção da Isetta na Itália em 1955, depois de 1.000 unidades
produzidas.
A Versão licenciada
para a VELAM, na França, recebeu alterações na carroceria, deixando o desenho
mais redondo. Em vez do chassi original, havia uma subestrutura parafusada ao
corpo na parte traseira, em que eram acoplados o motor e a transmissão, bem
como o eixo traseiro de bitola estreita. A suspensão dianteira teve sua
ancoragem ao chassi modificada e a porta dianteira era aberta por um botão, ao
invés da maçaneta, e o velocímetro foi montado no centro do volante. Ela era
produzida na antiga fábrica da Talbot em Suresnes, e além da versão padrão,
teve uma versão conversível, uma mais luxuosa, uma esportiva e até uma versão
de competição. Com a concorrência do Renault Dauphine, a produção cessou em
1958.
A versão para o Reino
Unido era licenciada pela BMW, e teve a direção reposicionada para o lado
direito, e consequentemente, a porta se abria da direita para a esquerda, ao
contrário do original. Como o motor estava do mesmo lado, foi adicionado um
contrapeso do lado esquerdo para compensar o equilíbrio das massas. Os pneus
eram da Dunlop, e componentes elétricos da Lucas substituíram os da Hella e
Bosch alemãs. Os freios foram substituídos pelos da Girling britânica. Era
fabricada em Brigghton, e como não havia acesso por estradas, tanto as peças
eram entregues e os carros montados saíram de lá por trem. Como a legislação
permitia que veículos de três rodas sem marcha-a-ré fossem classificados como
motocicletas, surgiu a versão de três rodas neste mercado, apesar dos modelos
com quatro rodas continuarem a ser produzidos para exportação para o Canadá,
Nova Zelândia e Austrália. Como em outros países, a concorrência no caso foi
com o Mini, o que levou ao fim da produção em 1962, perdurando a fabricação de
motores até 1964.
BMW
Isetta 250
Com autorização para
produzir a Isetta na Alemanha, a BMW redesenhou o projeto para equipá-lo com o
motor de suas motocicletas. O monocilindro de 250 cc, de quatro tempos,
adaptado da BMW R25/2, desenvolvia 12 hp a 5.800 rpm, neste exemplar apresentado
em abril de 1955. Devido a isso, a Isetta podia ser dirigida por aqueles que
possuíam licença para pilotar motos.
A BMW Isetta 250 era
um produto da época do "Milagre Econômico Alemão”. Apesar de manter o
design original, muitas alterações foram feitas, como a instalação dos faróis
nas laterais da carroceria, e logotipos BMW abaixo do para-brisa, e nenhuma das
partes entre uma BMW Isetta e um ISO Isetta eram intercambiáveis. O motor
recebeu mudanças no cabeçote e virabrequim, para receber o sistema de partida
elétrica. Era alimentado por um carburador Bing e devido à posição do motor,
adicionaram um ventilador para auxiliar a refrigeração do motor. Com tais
alterações, a velocidade máxima subiu para 85 km/h.
Em oito meses de
produção, forma fabricados cerca de 10.000 unidades.
Em 1956, o governo
alemão estabeleceu normas para veículos a motor, que não poderiam ter motores
com capacidade de menos de 250cc. Isso encorajou a BMW a revisar a Isetta, e em
outubro de 1956 foi apresentado o Isetta Moto Coupé De Luxe, com mudanças de
design e vidros corrediços nas janelas. O motor foi aumentado para exatos 298
cc, com taxa de compressão de 6,8:1. Isso resultou em 13 hp a 5.200 rpm e um
torque de 18.4 Nm a 4.600 rpm. A velocidade máxima permaneceu nos 85 km/h.
A Isetta BMW 600 |
Mais de cem mil
unidades foram comercializadas em pouco tempo na Alemanha, e comenta-se que a sobrevivência
da BMW se deve em grande parte ao sucesso da Isetta. Entre 1956 e 1962 a BMW
construiu mais de 160.000 Isetta, exportando cerca de 5% delas para os Estados
Unidos. Porém, com a gasolina custando oito centavos o litro, não havia como
competir com os Cadillacs e Lincolns na terra do Tio Sam.
ROMI-ISETTA NO BRASIL
Em 1930, Américo
Emílio Romi abriu uma oficina de conserto de automóveis, a “Garage Santa
Barbara”, no município de Santa Barbara D’Oeste, interior de São Paulo. Em 1934,
iniciou a fabricação de máquinas agrícolas, alterando sua razão social para “Máquinas
Agrícolas Romi Ltda.”, e em 1941 marcou o início da fabricação dos tornos
mecânicos que vieram a fazer a fama da empresa, sendo o primeiro modelo IMOR
TP-5. Em 1944 começa a exportação destes tornos, sendo a Argentina o primeiro
país a receber os tornos da ROMI. Também iniciou a fabricação do “TORO”, o
primeiro trator fabricado no Brasil, e em 1955 adquiriu a licença para fabricar
a Isetta no Brasil.
"Meu avô investiu
em uma linha de produção moderna para os padrões da época", conta Cláudio
Romi Zanaga, neto do industrial Américo Emílio Romi, fundador das Indústrias
Romi. "Motor e transmissão eram importados: o resto era feito aqui pela
Romi ou pelos fornecedores." A carroceria de aço era estampada em São
Paulo pela Tecnogeral, fabricante dos móveis de aço Securit, e pintada sempre
em dois tons; o velocímetro vinha da Horasa, os freios da Varga e o banco era
fornecido pela Probel, fabricante de colchões.
Ela foi escolhida por
Américo Emílio Romi porque foi considerada ideal para uso em cidades, pelo seu
tamanho e economia de combustível. Apresentado em 5 de setembro de 1956, com um
grande desfile na cidade de São Paulo, foi o primeiro carro produzido no
Brasil. O carro recebeu aprovação do governo brasileiro como parte do programa
governamental de incentivo à indústria automobilística, mas acabou sendo
produzido sem ajuda financeira do programa.
Em 1959 chegava a
versão DeLuxe, com aperfeiçoamentos no motor BMW, suspensão dianteira com molas
helicoidais (a chamada “Ação Total”), melhor acabamento interno e novo painel
de instrumentos.
O GEIA (Grupo
Executivo da Industria Automotiva), visando incrementar a fabricação de
automóveis no Brasil, publicou em 26 de fevereiro de 1957 o decreto 41.018, que
concedia incentivos fiscais, cambiais e financeiros a empresas que produzissem
veículos enquadrados em suas especificações; entre elas, a capacidade para
transportar quatro ou mais passageiros, e a presença de pelo menos duas portas.
Por não atender tais
requisitos, a ROMI não obteve a concessão dos incentivos da época e a Romiseta teve o seu
preço duplicado, tornando-se muito cara em relação aos demais veículos que
foram lançados ao mercado. O primeiro automóvel a atender tais requisitos foi a
perua DKW Vemaguet, seguida por outros modelos que fizeram a história do
automóvel no Brasil. O VW Fusca, o Renault Dauphine/Gordini, além do DKW Sedan
ofereciam mais espaço, conforto e melhor desempenho, e como nos outros países,
a Romiseta não conseguiu superar os adversários e deixou a cena automobilística.
"Meu avô procurou
alternativas dentro da própria BMW, que havia assumido o controle da Iso, para
salvar o negócio. Queria produzir o Isetta 600 de duas portas e duas linhas de
bancos. Mas a BMW não se interessou", conta Cláudio Romi. A Romi também negociou
com a Citroën a licença para produzir o 2CV e, ao que consta, o acordo estava
prestes a ser firmado: alguns modelos foram importados e testados em Santa
Bárbara do Oeste. Mas um AVC tirou a vida de Américo Romi em 15 de março de
1959 e a família perdeu interesse em fabricar automóveis. "O irônico é que
às vésperas da morte do meu avô, recebemos telegrama do presidente JK nos
oferecendo benesses", conta Cláudio – que conserva o telegrama original e
promete divulgar o documento no livro que está escrevendo sobre a Romiseta.
Com a morte do
patriarca da família, dois anos depois, em 1961 a Romiseta era descontinuada. Cerca
de 3.000 unidades da Romi-Isetta foram produzidas entre 1956 e 1961.
Inicialmente, eram equipadas com o motor ISO original, mas em 1959 os motores
passaram a ser os BMW de 300 cc. Destas, cerca de 275 ainda sobrevivem,
restauradas nas mãos de colecionadores que preservaram um carro à frente do seu
tempo.
ESTATÍSTICAS
A ISO fez
aproximadamente 1.000 Isettas (30 para Portugal). A Romi-Isetta fez
aproximadamente 3.000. A VELAM produziu aproximadamente 5.000 carros. A Isetta
da Grã-Bretanha produziu aproximadamente 30.000 carros. Apenas 1.750 de 3 rodas
foram construídos. A BMW construiu 136.367 Isettas. Dos carros feitos por BMW,
aproximadamente 8.500 foram exportados para os ESTADOS UNIDOS de que se estima
1.000 sobreviventes.
EM
ESCALA
O modelo da foto é da Revell,
na escala 1:18, traz a peculiar abertura da porta dianteira, com a coluna de
direção articulada como no carro original. O teto solar retrátil ajudava a
reduzir a sensação de claustrofobia no diminuto interior. O carrinho vinha com
um bagageiro traseiro, pois não havia espaço no interior para bagagens.
Nota: As diversas
fontes consultadas para este artigo trazem dados técnicos e datas que diferem
entre si. Caso identifique alguma contradição, contribua nos comentários para
enriquecer as informações com mais exatidão.
REFERÊNCIAS:
http://caranddriverbrasil.uol.com.br/carros/especial/especial-60-anos-de-industria-o-romiseta/12269#