segunda-feira, 2 de abril de 2018

Produtividade e o nosso tempo no trânsito

Numa cidade grande como São Paulo, reclamar do trânsito é normal, acabamos considerando inevitável enfrentar congestionamentos para chegar ao trabalho, ou qualquer compromisso em que chegar na hora é importante.
A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) realizou a pesquisa 'Volumes e Velocidades' em 1977, em que apontava uma velocidade média de 20,6 km/h na parte da manhã e de 23,9 km/h no período da tarde. Os dados atualizados de 2016 indicavam uma melhora nos horários de pico da manhã para 25,5 km/h e uma piora no da tarde, para 20,9 km/h. A região metropolitana de São Paulo conta com 8,4 milhões de veículos; o dado mais antigo que o DETRAN possui é de 2008, quando apontava 6,3 milhões de veículos.
Chamou minha atenção uma postagem de uma ex-colega de trabalho, reclamando que leva quase uma hora para cobrir o trajeto de 4 quilômetros de casa ao trabalho.
Velocidade média de 4 km/h, mais lento do que ir a pé...
Fiquei solidário com ela porque eu também ficaria inconformado em levar tanto tempo para cobrir um trecho que seria mais rápido se andasse a pé...
Aí, comecei a pensar no desperdício de tempo que ela tem, mas do ponto de vista empresarial, um colaborador que gasta uma hora só pra chegar no emprego, gasta outra hora para chegar em casa; são duas horas por dia "improdutivas" - entre aspas, porque hoje temos diversas ferramentas com as quais podemos aproveitar mais o tempo enquanto fazemos outras coisas.
Para um expediente de 8 horas, duas horas no trânsito são 25% do tempo em que a pessoa não está produzindo nada!
Quanto disso poderia ser aproveitado pelas empresas, até porque a maioria dos colaboradores não fica somente as 8 horas regulamentares. A cobrança por resultados, sobrecarga de tarefas, a ambição por uma promoção, e até desejar fazer o seu melhor podem ser os fatores para ficar até mais tarde no emprego.
Várias empresas já tem pessoas fazendo "home-office" em um ou mais dias por semana.
Numa cultura tradicionalista como a brasileira em relação ao trabalho, "ver" o funcionário trabalhando parece dar mais segurança ao chefe... Certo, algumas funções não são passíveis de serem realizadas fora da empresa, mas tantos cargos e funções dentro de uma grande companhia poderiam ser executadas em qualquer lugar do mundo, com a mesma ou até maior eficácia do que se estivesse entre as quatro paredes da empresa.
Numa época em que tantos buscam uma maior qualidade de vida, "ganhar" duas horas por dia podem fazer toda a diferença para viver melhor, e por que não dizer, "trabalhar melhor"?
É óbvio que uma pessoa mais feliz e satisfeita com sua vida pessoal, vai ter um desempenho profissional melhor. As empresas deveriam dar atenção a estas "horas perdidas" nos deslocamentos de seus colaboradores, e passar do discurso para a verdadeira prática, de descentralizar as equipes de trabalho, reduzir custos operacionais com grandes sedes e escritórios abarrotados de pessoas e máquinas; e contribuir para uma vida melhor em cidades como São Paulo.
Uma pesquisa organizacional feita pela Pryce-Jones em 2010 indicou que nas organizações, as pessoas mais felizes em comparação com as menos felizes, são 108% mais engajadas, 82% mais satisfeitas, 50% mais motivadas, 47% mais produtivas e 25% mais eficientes e eficazes.
O trânsito agradece, e com certeza, as pessoas também.

Referências:
https://www.slideshare.net/joaovictorsoaressampaio/vicente-gomes-fib-nas-organizaes-nov2012-fortaleza-15767411
https://noticias.r7.com/sao-paulo/em-quatro-decadas-velocidade-media-subiu-apenas-5-kmh-em-sp-10082017


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