Sakichi Toyoda patenteou
seu primeiro tear automático em 1891, e se dedicou a aperfeiçoar cada vez mais
os teares, criando um dispositivo para interromper a fiação nas máquinas de
tecelagem quando o fio acabasse, de modo a não continuar produzindo um tecido
defeituoso. Seus teares eram dez vezes mais baratos do que os alemães e quatro
vezes do que os franceses, conseguindo bons contratos de exportação de seus
equipamentos.
Prosperando com a
tecelagem, seu filho Kiichiro, que ficou impressionado com os automóveis na
viagem que fez aos Estados Unidos em 1922, passou o restante da década
pesquisando o assunto e convenceu o pai a entrar numa nova atividade: construir
automóveis. Em 1929, Sakichi vendeu seus direitos sobre as patentes de teares e
um ano antes de falecer, transferiu a empresa para seu filho.
O primeiro motor surgiu
em 1934 (Tipo A, com seis cilindros e 3,4 litros), e em 1935 o primeiro
protótipo do Toyota Modelo AA, que saiu da linha de montagem já em 1936. Em
1937, a companhia cortou os laços com a tecelagem e mudou o nome para Toyota.
Em japonês, Toyoda é escrito com dez traços, e Toyota com apenas oito,
considerado um número de prosperidade. Assim, nasceu a maior montadora de
carros do mundo.
No início dos anos 1960,
a Toyota já era um grande fabricante de automóveis, mas a percepção que o
mercado tinha era de que fazia apenas carros confiáveis, econômicos, porém, muito chatos. A Chevrolet
tinha o Corvette, a Ford celebrava vitórias com o GT40, a Nissan tinha o Fairlady
se posicionando para chamar a atenção dos jovens.
Toyota Sports 800 |
Na sequência do
lançamento do Honda S800, em 1965, a Toyota colocou no mercado o Sports 800, um
pequeno esportivo de 800 cc, que era uma evolução dos “Key-Cars” japoneses,
limitados a 600 cc para uso estritamente urbano.
Outro fator importante
para o surgimento do 2000 GT foi a presença de Albrecht Graf von Goertz, um
designer alemão, protegido de Raymond Loewy, que no início dos anos 1960 havia
ido trabalhar na Yamaha. Ela colaborava com a Nissan para desenvolver um cupê
esportivo, pois o mercado para pequenos roadsters era limitado. O protótipo A550X
foi construído, e as linhas da dianteira lembravam o estilo da segunda geração
do Corvette. A Nissan decidiu não prosseguir com o projeto da Yamaha, mesmo assim,
ela não desistiu de desenvolver o modelo e em setembro de 1964, construiu um
protótipo funcional. Assim, a Yamaha contatou a Toyota, a mais conservadora
montadora do Japão, oferecendo o projeto neste estágio bem avançado.
A Toyota obteve algum sucesso
no primeiro e segundo Grand Prix Japonês em 1963 e 1964, e o crescente
entusiasmo pelo esporte motor no Japão, o mercado pedia aos fabricantes
produzirem carros esportivos de bom desempenho.
A Toyota, percebendo o
potencial da idéia, e necessitando alavancar sua imagem corporativa, aceitou
prontamente a proposta, e começou a desenvolver o carro logo após o Grand Prix
do Japão de 1964. Soichi Saito era o supervisor do projeto, mas o design do
Toyota 2000 GT é creditado a Satoru Nozaki. O briefing era simples: “Faça o que
for necessário para não apenas produzir o 2000 GT, mas torná-lo um dos – talvez
o – maior carro do mundo.”
A apresentação do Toyota 2000 GT no Tokyo Motor Show, de 1965 |
No Tokyo Motor Show de
1965, o protótipo 280 A1 com as linhas definitivas foi apresentado ao público,
revolucionando a imagem dos fabricantes japoneses, que agora podiam rivalizar
com as grandes marcas européias e americanas com seu esportivo.
Com seu design típico dos
esportivos da época, como o Jaguar E-Type, tornou-se um clássico por si só. A
carroçaria de alumínio com seu longo capô e traseira curta, faróis
escamoteáveis (pop-up), e as grandes
lâmpadas de posição (como no Sports 800), com sua cobertura de plexiglass
tornaram-se a marca registrada deste esportivo. Com suas linhas curvas e
atraentes, deixou a semelhança com o Corvette Sting Ray, aproximando mais do
estilo dos esportivos europeus, porém com um marcante estilo japonês.
Extremamente baixo (116
cm), com seu perfil esguio e elegante, para-choques minúsculos, sua cabine foi
projetada em função da melhor pilotagem para o motorista. Possuía uma boa
ergonomia e painel de instrumentos completo, sendo o volante, console central e
parte do painel com apliques de madeira em pau-rosa, no espirito da Divisão de
Piano da Yamaha.
O completo painel de madeira da versão com volante à esquerda. |
A Revista Road &
Track testou um modelo de pré-produção em 1967, e qualificou o carro como “um
dos mais excitantes e prazeirosos carros que já pilotamos” e comparou-o
favoravelmente ao Porsche 911. Vendido por cerca de US$ 6,800 nos Estados
Unidos, era mais caro do que o Porsche 911 ($6,050), Jaguar E-Type ($5,585) e
Corvette ($4,721) do mesmo período. Estima-se que a Toyota nunca obteve lucro
com o 2000 GT, apesar do preço cobrado acima dos concorrentes. O Toyota 2000 Gt
tornou-se o primeiro carro colecionável japonês, e é considerado como um “Super
carro” similar aos europeus. Alguns exemplares do 2000 GT foram leiloados por
mais de US$ 1,200,00; comprovando a valorização do veículo junto aos
aficcionados por clássicos.
DADOS TÉCNICOS
O seis cilindros com duplo comando |
O motor do Toyota 2000 GT
era um 2,0 litros, com seis cilindros em linha (Código 3M) baseado no motor que
equipava o top-de-linha Toyota Crown
sedan. Ele foi preparado pela Yamaha, que colocou um comando duplo no cabeçote
(DOHC), produzindo 150 hp a 6600 rpm e um torque de 129 lb/ft a 5500 rpm. A
carburação tinha três Solex duplos 40PHH e os coletores de exaustão eram dois
3x1 que se juntavam em um só.
Nove unidades foram
equipadas com um motor com 2,3 litros, mas com comando simples (SOHC),
codificado como 2M. Havia disponibilidade de três relações diferentes para o
diferencial. O que tinha relação de 4.375:1 fazia o carro atingir a velocidade
de 135 mph (217 km/h) e alcançar um consumo de 7,59 litros/100 km. A aceleração
de 0-100 km/h era feita em 8,6 segundos.
O 2,3 litros e comando simples na cabeça |
O motor tinha posição longitudinal, tracionando
as rodas traseiras com um câmbio manual de cinco marchas; um diferencial de
deslizamento limitado era padrão de linha, o primeiro num carro japonês, e
vinha com freios a disco (11 polegadas na dianteira e 10,5 na traseira)
servo-assistidos nas quatro rodas, também o primeiro com esta configuração.
Detalhe da alavanca do freio de estacionamento saía do painel, ao lado da
alavanca de câmbio, acionando os discos traseiros. O chassi monobloco com
carroçaria de alumínio garantia o baixo peso de 1.120 kg, com as suspensões
independentes nas quatro rodas com braços assimétricos, proporcionavam um bom
desempenho dinâmico; a direção de pinhão e cremalheira completava o pacote para
um bom desempenho.
Em 1969, a frente foi
levemente modificada, reduzindo o tamanho das lâmpadas direcionais e o formato
dos piscas. Os piscas traseiros foram aumentados por sua vez, e o interior foi
modernizado. Alguns poucos exemplares no final da produção saíram equipados com
ar condicionado e transmissão automática de três velocidades como opcionais.
Estes modelos tinham uma abertura adicional na parte inferior da grade
dianteira para alimentar a unidade de ar condicionado.
O Toyota 2000 GT media
4,175 m, com entre-eixos de 2,330 m, largura de 1,60 m; sua altura era de 1,16
m e pesava 1,129 kg.
EM COMPETIÇÕES
O 2000 GT que correu nos 1000 km de Fuji - AutoArt 1:18 |
Os Toyota 2000 GT de Carrol Shelby em 1968 |
Registros indicam que 14 unidades foram preparadas para
participar em competições.
2000GT CONVERSÍVEL, “BOND
MODEL”
O 2000 GT fez sua mais
famosa aparição nas telas no filme de James Bond “You Only Live Twice” (em
português, 'Só se vive duas vezes'), com a maior parte do filme se passando no
Japão.
Albert R. Broccoli,
diretor do filme, se apaixonou pelo carro na fase de pré-produção do filme e
convenceu a Toyota a ceder os carros para as filmagens. Apesar do carro nunca
ter uma versão conversível, foram fabricados dois exemplares especialmente para
as filmagens. A altura de 1,90 m de Sean Connery impedia que ele coubesse
confortavelmente no baixo cupê, e originalmente era previsto que o carro seria
um modelo targa, eliminando apenas o teto na parte central; porém, quando o
ator sentou no carro, a cabeça dele ficou além da altura do carro, e a produção
do filme não poderia deixar passar este aspecto que ficaria muito ridículo nas
cenas de Bond.
O 2000 GT com a configuração Targa |
Em duas semanas, a Toyota
criou a versão conversível, removendo toda a parte superior da cabine, mas não
era um conversível funcional, e o teto recolhido na traseira era somente
simulação, e como no filme o carro pertencia ao Serviço Secreto japonês, era equipado
com camera atrás da placa de licença, gravador de vídeo no porta-luvas, um
monitor colorido no painel, um sistema de áudio com alto-falantes, um
transmissor e um telefone celular.
No filme, o carro foi dirigido
principalmente pela namorada de Bond, Aki (Akiko Wakabayashi) no filme, mas ela
não tinha licença para dirigir, então dois pilotos de testes (Hiroshi Fushida e
Tomohiko Tsutsumi) da Toyota se revezaram na direção usando uma peruca. As
imagens em que ela parece pilotar o carro foram feitas no Pinewood Studios em
Chroma-Key.
Depois das filmagens
concluídas, o carro equipado com gadgets ficou na Inglaterra e desapareceu
misteriosamente; presume-se que este exemplar acabou com um colecionador da
Inglaterra, mas ele não fez nenhuma aparição desde então, e atualmente se
questiona se este carro especial ainda esteja em uma coleção particular ou
talvez não exista mais.
O carro de apoio era usado
para fins promocionais e foi exibido no Salão de Genebra em março de 1967. Ele
foi pintado de azul e recebeu alguns adesivos “007” espalhafatosos. Foi
repintado de cinza, e foi usado como Pace-Car em algumas corridas no Fuji
Speedway, e fez uma aparição no Havaí, em 1977. Ele foi re-comprado pela Toyota
e totalmente restaurado no Japão; e hoje está no Museu do Automóvel da Toyota
em Aichi.
EM ESCALA
AutoArt em 1:18 |
O Toyota 2000 GT tem
diversos modelos reproduzidos em escala, sendo o mais detalhado o da AutoArt,
na escala 1:18, na tradicional cor branca e rodas de liga, também em outras
cores e com rodas raiadas, além das decorações em que Carrol Shelby competiu na
SCCA na temporada de 1968 e a versão que correu nas 24 Horas de Fuji em 1967. O
modelo da AutoArt foi lançado em 2003, mas em 2018, com a cooperação do Museu
Toyota na província de Aichi, o carro real foi escaneado em 3D e produziu-se um
novo molde. O modelo aqui retratado é um desses novos exemplares, e a qualidade
da miniatura é impressionante, especialmente os vãos das peças móveis são muito
reduzidos. O modelo tem uma lingueta de plástico macio para introduzir nas
frestas e abrir as partes móveis.
O abridor das partes móveis |
EBBRO e MEBETOYS em 1:43 |
Make Up Roadster e Schuco em 1:43 |
O 2000 GT da CORGI em 1:43 com as figurtas de Bond e Aki tinha quatro mísseis ejetáveis no porta-malas |
O modelo da IXO-ALTAYA e o da MINICHAMPS EM 1:43 |
Hot Wheels Cupê e Roadster em 1:64; o vermelho e o preto são da Mainline e o roadster é o temático do filme. |
Os Slot Cars da Racer em 1:32 |
O Toyota 2000 GT da Johnny Lightning, edição de 2021 |
Hot Wheels da Série Japan Historics, Real Riders. O modelo que bateu diversos recordes mundiais, hoje no Museu da Toyota. |
Este Hot Wheels amarelo saiu na Mainline de 2014 |
A Johnny
Lightning (1:64) lançou em 2015 a primeira versão do 2000 GT, que voltou a
aparecer no 40º aniversário dos filmes de James Bond. A Tomica produz um
exemplar na escala não muito usual de 1:59, assim como a empresa Boss Coffee
(Suntory bebidas) distribuiu como brinde no 50º aniversário dos filmes de Bond
o 2000 GT (escala 1:60) entre outros sete veículos do agente de Sua Majestade.
A KYOSHO lançou em 2006 uma série de 12 veículos de Bond na escala 1:72, onde constava
o 2000 GT cabriolet.
A Real-X tem o 2000 GT e
o S800 na escala 1:87, com um bom detalhamento, para esta escala.
Majorette 1:64 |
Majorette 1:64 |
A miniatura da Majorette (acima e abaixo) tem um casting bom, até o capô dianteiro se abre; mas as molduras dos faróis de posição são um tanto exageradas, e as rodas com as porcas "knock-off" não correspondem às originais, que eram de liga.
TOMICA Premium 1:59 |
TOMICA 1:43 |
TOMICA 1:43, Interior com painel detalhado |
TOMICA linha normal |
Este é da Del Prado, em 1:43, adquirido loose, estava precisando de uma limpeza e restaurar os espelhos retrovisores. |
Kyosho em 1:43, bem detalhado também |
O 2000 GT da TOMICA (vermelho à esquerda) em 1:59 é bem detalhado, até as portas abrem, um capricho adicional nesta escala. O 2000 GT na escala 1:43 (acima) é muito bem detalhado, com rodas, faróis e lanternas, além do interior bem caprichado. Também da Série TOMICA Limited são os dois carros da Shelby, com um detalhamento melhor do que os da linha normal (abaixo).
TOMICA Limited 1:64, Shelby Car |
TOMICA Limited 1:64, Shelby Car |
O Toyota S800 e o 2000 GT da REAL-X na escala 1:87. |
Fabricantes de kits plásticos também tem o 2000 GT no catálogo, e o modelo da IMAI na escala 1:16 tem a particularidade de ser equipado com um motor elétrico (que traciona as rodas traseiras) e acende as grandes luzes de posição dianteiras. A GUNZE faz um kit na escala 1:20. A Airfix lançou um 2000 GT em 1968 em 1:24 e tem as figuras de Aki e Bond no carro, inclusive a cabeça de Bond ultrapassa a moldura do para-brisa. A DOYUSHA também fez um kit em 1:24, mas as figuras de Bond e Aki (de biquini branco) estão em pé, fora do carro.
O 2000 GT em kit plastico da IMAI em 1:16, motorizado. |
O kit da GUNZE em 1:24, retratando o modelo de 1969 já com alterações na frente. |
O kit da NICHIMOCO com decoração de pista e motorizado, como o da IMAI. |
O Kit da Airfix, com as figuras de Bond e Aki, em 1:24; até na ilustração da caixa, nota-se a cabeça de Sean Connery ultrapassando a moldura do para-brisas. |
O kit da DOYUSHA com as figuras de Bond e Aki, na escala 1:24. |
REFERÊNCIAS:
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