O desejo de se deslocar de um lugar a outro sempre esteve no
espírito da humanidade. Seja a pé, de cavalos e charretes, no lombo de camelos
do deserto ou puxados por cães nos trenós da imensidão ártica, o ser humano
busca uma maior velocidade e conforto para ir daqui para ali.
Depois que a tecnologia aposentou a tração animal, o carro
se tornou o maior objeto de desejo ao redor do mundo. Atribui-se a Karl Benz e
Gottlieb Daimler, em 1889, a façanha de criar o primeiro automóvel, que
poderíamos chamar de Carruagem 2.0; visto que avançava um grande passo no uso
do motor a gasolina, câmbio e direção para aposentar de uma vez por todas os
cavalos. Estes sobreviveram apenas na expressão “HP”, ou Horse Power, utilizado
para medir a potência dos motores, comparativamente à força que os animais
podiam exibir quando atrelados às antigas carruagens.
O maior benefício do automóvel era dar muito mais liberdade
de locomoção às pessoas, e depois que Henry Ford criou a linha de montagem onde
fabricava o Modelo T, o mundo nunca mais foi o mesmo.
O Século 20 viu os automóveis proliferarem como coelhos no
cio. Abandonando o design das carruagens na década de 1930, o estilo dos
veículos evoluiu para os conceitos aerodinâmicos dos aviões e naves espaciais
que surgiam na literatura de ficção científica. Impulsionados pela tecnologia
da II Guerra Mundial, e pelo desejo de deixar para trás tanto sofrimento, o
design dos anos 1950 celebrava a alegria das cores e beleza dos cromados,
marcando os automóveis com curvas femininas e reforçando o espírito de
liberdade de ir e vir, ainda mais com os baixos preços que a gasolina tinha na
época.
Ter um carro ou moto virou símbolo de liberdade e rebeldia,
status aspirado pela maioria dos jovens que entravam no mercado de trabalho.
Combinado com mercados em desenvolvimento e economias prósperas, “baby-boomers”
eram a epítome do sucesso pessoal e profissional, cujo carro típico desta
geração era o BMW Série 3, na cor preta (as Mercedes eram consideradas carros
de velhos e a Audi ainda não tinha imagem consolidada).
Ainda no terço final do Século 20, a competitividade e
globalização fomentaram a formação de grandes corporações, provocando uma
concentração de marcas, por aquisição ou fusão de companhias e o surgimento de
novos ‘players’ depois dos japoneses, os coreanos, indianos e agora os chineses
buscando um lugar ao sol.
A espantosa
tecnologia embarcada nos carros atuais, em que sistemas autônomos entram
em ação sem que o motorista perceba, proporciona mais segurança e conforto seja
na cidade ou nas estradas. Carros com sensores de calor, que identificam
pedestres numa noite escura; programas que freiam ou aceleram para controlar o
veículo numa curva; estacionam sozinhos sem ajuda do motorista e trazem todos
os mimos possíveis para que sua viagem seja a mais confortável e prazerosa
possível são itens que parecem ser o desenvolvimento natural para os motoristas
do Século 21.
Os automóveis estão por toda a parte, em todos os países do
mundo, a liberdade de ir e vir vem acrescida de muita tecnologia e design.
Apesar de ainda sobreviverem alguns projetos jurássicos (vide a nossa Kombi que
acabou de sair de linha!), os automóveis se tornaram uma extensão de nossas
casas, e para muitos, uma expressão de seu estilo de vida (Linha Adventure da
FIAT explora exatamente este ponto) e aspirações,muitas vezes ganhando
prioridade sobre bens mais importantes, como a casa própria.
Os fabricantes sabem disso, e hoje a segmentação dos
mercados é atendida com inúmeros modelos (A Tabela do IPVA de 2013 traz a lista
somente dos automóveis nacionais e importados, novos e usados até 10 anos: 3.815
modelos diferentes, que
podem ser personalizados com opcionais e acessórios) numa combinação quase
infinita de opções para cada gosto ou preferência.
O automóvel tem sido responsável por uma grande mudança do
mundo como o conhecemos hoje, pela tecnologia gerada no seu desenvolvimento e
alterando a paisagem das cidades e campos, com ruas, estradas, viadutos e
túneis para sua circulação. E continua como objeto de desejo de muitos, jovens
e idosos, mulheres e adultos, para trabalhar ou passear, namorar, viajar, ou
mesmo que seja só pra ir até a padaria buscar pão e leite.
Até a semana que vem, quando veremos o outro lado da moeda: o automóvel como o vilão da história.