Nos anos 1950, nenhuma corporação chegava perto da General Motors em tamanho, atuação da empresa ou dos lucros obtidos. A General Motors era duas vezes maior do que a segunda maior empresa do mundo, a Standard Oil of New Jersey (hoje conhecida como Exxon Mobil); e era formada por um vasto conglomerado de empresas que iam desde eletrodomésticos, companhias de seguros, locomotivas e, claro, automóveis com as marcas Buick, Cadillac, Chevrolet, Oldsmobile, Pontiac e caminhões GMC.
Era tão grande que
produziu mais da metade dos carros vendidos nos Estados Unidos, e o
Departamento Antitruste da Justiça americana ameaçava a General Motors de se
dividir.
Apesar de sua posição
de liderança no mercado automotivo, a General Motors não tinha um carro
verdadeiramente esportivo, como os europeus com a Jaguar, Triumph e os MG
ingleses, a Ferrari e Maserati italianas, ou os Porsche alemães.
Após o fim da II Guerra, muitos soldados americanos conheceram tais carros e ao retornarem aos Estados Unidos, criou-se uma demanda de importação para os esportivos europeus. Harley Earl (veja sua história), designer-chefe da GM, o homem que inventou o “Concept Car” com o Buick Y-Job em 1938, percebeu esta tendência e começou a ruminar a idéia de construir um carro esportivo para atender este mercado.
Harley J. Earl e o Buick Y-Job |
Conta-se que a idéia de criar um esportivo americano surgiu quando assistia a uma corrida de automóveis. O belo Jaguar XK 120 que participava da competição chamou a atenção de Earl.
Ainda nebuloso na sua
mente, algumas coisas já tinha mais claramente: a divisão que o faria era a
Chevrolet, teria dois lugares, compacto, leve e sem capota, ou “roadster” como
os ingleses denominavam este tipo de carro.
Os esportivos europeus
tinham carroçaria de alumínio, algo impossível para os americanos produzirem,
então buscaram a tecnologia da fibra-de-vidro, que proporcionava a fabricação
de carroçarias com design curvilíneos dos carros esporte, mas com custos
relativamente baixos, pois o ferramental necessário para os moldes em plástico
tinha um custo muito mais reduzido do que para trabalhar com as chapas de aço.
Além disso, ela era adequada para a produção de um carro que a direção da GM
sabia que não teria grandes volumes, e nenhuma das grandes marcas de automóveis
tinha um modelo com este perfil no mercado.
Buscando referências
no mercado, entraram em contato com a Naugatuck Chemical, que fabricava um
pequeno roadster com linhas semelhantes ao Jaguar XK, com a carroçaria em
plástico reforçada com fibra-de-vidro. Em março de 1952, Earl Ebers, executivo
de vendas da Naugatuck mostrou a Harley Earl o Alembic I, que ficou
impressionado com o design do carro e as possibilidades uso do material.
A Motorama de 1953
estava chegando, e em 2 de junho de 1952, Harley Earl apresentou ao presidente
da GM Charles Wilson e ao Gerente Geral da Chevrolet Thomas Keating a proposta
de um carro esporte de dois lugares para a próxima Motorama.
O codinome EX era
utilizado para identificar os projetos Experimentais, e o do Corvette ganhou a
sigla EX-122. Internamente, foi designado como “Opel Sports Car” pois a
espionagem industrial era uma ameaça real, apesar de ninguém admitir que
existia nos departamentos de desenvolvimento de veículos.
Earl passou as
informações para Robert F. McLean, que procurou manter os custos baixos, usando
componentes de prateleira. Seriam construídos dois exemplares: um para os
testes dinâmicos de motor, chassi e suspensões, e outro para ser exposto na
Motorama como ‘Show car”.
O chassi tinha duas
longarinas e reforços em “X” (característico de toda a linha da GM na época) e
suspensão do Chevy Sedan 1952, adaptada para as características esportivas do
Corvette. Esse trabalho foi feito pelo especialista em suspensões, o inglês
Maurice Olley, criador do sistema de suspensão por braços triangulares
superpostos, e que era o Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento. Utilizando este
sistema com molas helicoidais na dianteira e com feixes de molas semi-elípticas
longitudinais no eixo rígido traseiro, Olley fez um bom trabalho de calibração
desta suspensão. Os freios eram a tambor nas quatro rodas.
Sua distribuição de
pesos (53/47 frente/traseira) era boa, ajudando o desempenho nas curvas, e entre
eixos de 102 polegadas (2,59 m). O motor era o mesmo in-line six que equipava vários modelos da GM, com carburação
tripla Carter lateral, mas com taxa de compressão aumentada, que produzia 150 HP
de potência. Para a transmissão, havia apenas a caixa de três velocidades
manual ou a de duas automática.
Apesar de ser concebido
com todos os parâmetros para entrar rapidamente em produção, o protótipo estava
destinado a ser mais um concept car a
participar da exposição Motorama de 1953, no Waldorf Astoria Hotel, em Nova
York. Isto é, até que Ed Cole, engenheiro-chefe da Chevrolet, ver o carro. Cole
estava empenhado no desenvolvimento do V8 “Small
Block”, que ia mudar o cenário da motorização no mundo, e ao ver o
protótipo, literalmente pulava entusiasmado com o desenho do modelo. Antes
mesmo de o exemplar ir para Nova York, Cole girou as engrenagens corporativas
da GM e a engenharia para colocá-lo em produção começaram a funcionar. Em dois
de junho de 1952, Harlow Curtice, Presidente da GM e Thomas Keating, Diretor
Geral da Chevrolet, deram o “OK” para a produção do protótipo EX-122.
Mas era necessário dar
um nome ao carro. Cole chamou então Myron Scott, funcionário da Campbell-Ewald,
agência de publicidade da Chevrolet na época; e um gerente de publicidade da
Chevrolet para uma reunião com vários executivos, onde Scott sugeriu “Korvette”,
nome de uma pequena e veloz embarcação de escolta da Marinha Inglesa, cujas
características eram a rapidez e agilidade. Cole adorou o nome, grafando-o com
“C” pois havia uma tendência na GM de nomear os carros começando com a letra
“C”. Outro nome forte era “Corvair”, preferido por muitos executivos da GM, tanto
que ele acabou sendo aplicado num outro projeto inovador, um carro com motor
traseiro, mas esta é uma história para outra ocasião.
A reação do público na
Motorama foi quase a mesma de Cole. Milhares de compradores potenciais queriam
saber quando poderiam comprar um. Era um carro diferente dos padrões
americanos: pequeno, baixo, com um visual limpo e esportivo. Embora baseado em
esportivos europeus, possuía alguns detalhes com traços americanos: lanternas
na ponta de um pequeno rabo-de-peixe, alguns cromados, branco com interior em
couro vermelho.
Apenas seis meses
depois, o Corvette 1953, praticamente idêntico ao protótipo exibido na
Motorama, entrou em produção em 30 de junho de 1953, em Flint, Michigan, a primeira
unidade do que viria a se tornar o primeiro esportivo americano. A planta de
Flint estava desativada, e a GM apressadamente montou a produção do Corvette,
onde apenas seis unidades podiam ser produzidas ao mesmo tempo em uma única
linha de montagem, e três Corvettes eram finalizados por dia. Todas as unidades
produzidas em 1953 eram brancas com interior vermelho. O mecânico Tony Kleiber
teve a honra de conduzir a primeira unidade de um projeto que recebera a luz
verde um ano antes.
A filha de Sanders
utilizou o carro por uns dois anos, e em 1959, Sanders vendeu o carro para Jack
Ingle, permanecendo com ele até o ano de 2001.
Neste ano, a Kerbeck Corvette, o maior concessionário de Corvette dos
Estados Unidos o adquiriu, e o reformou para que suas características originais
voltassem a ser como exposto na Motorama de 1953.
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