Assim como as linhas do Corvette impressionaram Ed Cole, engenheiro-chefe da Chevrolet, o público da Motorama de 1953 também se apaixonou pelo Corvette, porque o design era inegavelmente bonito, e sua carroceria de fibra-de-vidro era uma inovação no mercado. Sua distribuição de peso era muito boa, favorecendo a maneabilidade, junto com uma direção mais rápida, ajudava a ter a sensação de um carro nervoso. A suspensão dianteira era independente, com braços triangulares superpostos e molas helicoidais, e a traseira era por eixo rígido (por isto, esta geração ficou apelidada de ‘solid-axle Corvettes’); e os freios eram a tambor nas quatro rodas. E o motor Blue Flame, seis cilindros em linha, de 235 cid (3.859 cc), com diâmetro dos pistões de 90,4 mm e curso de 97,5 mm; equipado com três carburadores Carter horizontais simples e duas válvulas por cilindro, rendia 150 HP de potência bruta, chegando a 170 km/h; chegou a 160 HP com alterações no comando no ano seguinte. O câmbio automático Powerglide de duas marchas, tinha a primeira bem curta, apenas para tirar o carro da inércia; enquanto a segunda era direta, para manter a velocidade de cruzeiro. O controle das variações para mais força, quando necessário, ou velocidade, era ajudado pelo conversor de torque, que funcionava sob o princípio de alavancagem hidráulica mediante uma roda de palhetas localizada entre o impulsor e a turbina, que atua até uma determinada rotação. O sistema elétrico era de 6 volts.
No entanto, mesmo para
a engenharia da época, esta combinação de motor e câmbio eram patéticos para um
carro esporte.
A Revista Motor Trend
testou um dos primeiros Corvette e marcou 11,5 segundos na aceleração de 0 a 60
mph. Mas a publicação não ficou impressionada com o carro. O jornalista
escreveu: “Provavelmente, uma das maiores surpresas que tive com o carro foi
quando fiz algumas curvas fechadas numa boa velocidade. Eu tinha ouvido falar
que a Chevrolet tinha projetado uma suspensão para que o Corvette ficasse
estável e aderisse bem nas curvas. Ele é melhor do que alguns carros importados
que já dirigi.”.
Corvette 1953 na cor Polo White e interior Sportsman Red |
Todas as 300 unidades do Corvette produzidos em 1953 eram na cor Polo White, com interior na cor Sportsman Red, pois a linha em Flint, Michigan, fora improvisada para colocar o carro em produção o mais rápido possível. Alguns problemas, como infiltração de água e portas que se abriam com o carro em movimento, foram sendo corrigidos à medida que a produção caminhava; pois o Corvette era praticamente o show-car colocado em produção. Seu grande apelo comercial era o design que cativou o público, mas o fraco desempenho do motor Blue Flame de seis cilindros, para um modelo esportivo, decepcionava os compradores e fez a má fama do Corvette no seu primeiro ano de vida. Dos 300 exemplares que foram fabricados, 255 sobreviveram e estão registrados oficialmente.
Em dezembro de 1953, o
modelo 1954 já era produzido no prédio da antiga marcenaria em St. Louis,
Missouri, e não mudou praticamente nada, apenas que agora poderia ser
encomendado nas cores Pennant Blue, Sportsman Red, Sportsman Black e claro,
ainda a Polo White. Um total de 3.640 unidades saíram de St. Louis, mas muitas
delas ficaram nos concessionários por meses, e algumas por anos, à espera dos
compradores. Apesar do design atraente, a menos que ele tivesse o desempenho
correspondente, os compradores não estavam interessados nele. O desempenho com
o motor seis cilindros Blue Flame
definitivamente não correspondia ao que o visual prometia, e o público rejeitou
o Corvette. Nuvens negras sobre o seu futuro começavam a se formar no horizonte
da Chevrolet.
O Corvette e os demais conceitos. |
O índice de vendas não foi muito promissor. No final de 1954, as concessionárias tinham 1.500 unidades encalhadas, e o ambicioso projeto parecia caminhar para um desfecho negativo. Naquela época, o carro custava US$ 3.523, quase o dobro do que Earl imaginava sobre o preço de venda. O Corvette acabou convertido em um automóvel para estudantes.
Mas as coisas
começaram a mudar para o Corvette. Zora Arkus-Duntov, no seu segundo ano de GM,
assumiu a unidade Corvette em 1955 como engenheiro-chefe, preocupado com os
baixos números de vendas (foram apenas 700 unidades produzidas em 1955) e com o
desempenho do carro, reivindicou mudanças no modelo. Concorrentes como a
Ferrari 410 S e o 375 America possuíam motores V12 com mais de 300 cv. Para o
ano-modelo 1956 foram feitas mudanças que não só o atualizaram, mas também
revigoraram o estilo e aumentaram a potência e desempenho. Por isso, os
conhecedores da marca consideram este como o primeiro Corvette “verdadeiro”, no
que se refere às características básicas do esportivo.
Zora Arkus-Duntov, Engenheiro-Chefe da Chevrolet |
Em 1954, o então
Engenheiro-chefe da Chevrolet Mauri Rose (três vezes vencedor da Indy 500),
junto com o lendário Smokey Yunick instalou um V8 de 283 cid (4.637 cc) num
Corvette mula de teste, recebendo o codinome EX87. Após os testes iniciais de
desenvolvimento, o carro foi transferido para Duntov, na Engenharia da
Chevrolet, recebendo então o código 5951.
Duntov aumentou a
cilindrada de 283 para 307 cid, instalou o comando de válvulas Duntov High-Lift
de sua própria concepção; também modificou o carro trocando o para-brisas por
um curvo, bem menor, de plexiglass, e cobrindo o lugar do passageiro com um painel
de fibra de vidro. Atrás do piloto, ele colocou um apoio de cabeça com uma
barbatana, copiando o estilo do Jaguar D-Type. Levado ao Campo de Provas de GM,
o carro atingiu 163 mph (262 km/h), uma marca excelente em 1955.
O Corvette EX87, início das competições. |
O Corvette agora
atingia a máxima de 200 km/h mas seu câmbio ainda tinha três marchas,
opcionalmente podia vir com dois carburadores, capaz de desenvolver 225 hp. Neste
ano, o sistema elétrico foi alterado para 12 volts, enquanto os equipados com o
motor seis cilindros mantinham o sistema de seis volts.
O novo motor acarretou
alterações na suspensão dianteira, e na parte dianteira do habitáculo, que
geraram críticas ao novo modelo. A primeira era que os assentos ficaram um
tanto elevados, prejudicando condutores mais altos, especialmente quando a
capota estava levantada. A segunda era que os pedais ficaram muito verticais, o
que provocava cansaço em viagens mais longas. Mesmo assim, o Corvette retomou
seu espírito esportivo, com sua alma renovada pelo novo motor.
Com muitos exemplares
de 1954 entupindo as lojas, em 1955, a Chevrolet restringiu a produção a apenas
700 unidades, dos quais apenas meia dúzia ainda com o seis em linha.
Corvette 1956 |
O Corvette 1956 foi o que determinou o padrão de dois lugares do legítimo carro esportivo americano. Mantendo o mesmo chassi dos anos anteriores, retoques na carroceria deixaram o modelo 56 realmente lindo. A grade cromada na abertura frontal, os recortes laterais dos para-lamas avançando pelas portas, a traseira com design mais limpo e arredondado; os faróis dianteiros passaram a ser mais proeminentes, o cockpit, com os assentos encaixados numa moldura na cor da carroceria que descia entre os bancos, a capota rígida removível (que ficou conhecida como “hard top”), com um vidro traseiro no lugar do plástico transparente, era oferecida como opção pela primeira vez, fez com que muitos considerem os modelos 56 e 57 como os mais belos Corvette de todos os tempos. A publicidade argumentava: “Parece diferente, e realmente é.”. Ao todo, 3.467 exemplares deixaram a fábrica, reacendendo as esperanças da GM com o modelo.
Sobre o design da lateral do Corvette, comenta-se que foi inspirado em uma versão da Ferrari 375 America, feita a pedido do cineasta italiano Roberto Rosselini para presentear a sua mulher, a bela atriz sueca Ingrid Bergman. Neste modelo único da Ferrari, o desenho original de Pininfarina sofreu alterações realizadas em Modena pelo carrozziere Sergio Scaglietti. Dentre elas, destacava-se uma cavidade na lateral, acompanhando o corte das rodas dos para-lamas dianteiros.
Não podemos esquecer
que Harley Earl tinha como estratégia investir em desempenho para elevar os
conceitos da GM junto ao público jovem, e a vinda de Zora Arkus-Duntov estava
dentro do escopo para atingir seus objetivos. O ano de 1956 foi um marco na
história do Corvette, pois foi com este modelo que a Chevrolet começou a
participar de competições. O único motor V8 que tinham era o 265 cid, com
carburador de quatro corpos e três versões de potência: 210, 225 e 240 hp,
conforme a taxa de compressão e comando de válvulas. O câmbio de três marchas
manual Borg-Warner constava junto com a Power Glide no catálogo, mas em pouco
tempo, esta passou a equipar apenas 20% dos modelos vendidos.
O Corvette em Daytona Beach |
Na sequência, depois
de Daytona Speedweeks, nas 12 Horas de Sebring a Chevrolet levou o SR-2 de
corrida; com um desenho exuberante e aerodinâmico. Conta-se que quando Harley
Earl soube que seu filho Jerry iria correr as 12 Horas de Sebring com uma
Ferrari 250MM, ele imediatamente começou a trabalhar num Corvette para Jerry. A
Chevrolet já tinha pilotos para a corrida, mas Earl e seus designers criaram um
Corvette espetacular para seu filho correr.
O Corvette SR-2 de 1956, feito para Jerry Earl correr em Sebring, e com as alterações de 1957. |
Construído sobre o chassi #1522 saído da linha de montagem, a abertura da grade foi avançada, instalaram uma cobertura cônica sobre os faróis e faróis de neblina no lugar dos piscas; afixaram dois pequenos para-brisas, aberturas no final do recorte das portas, e uma pequena barbatana vertical no centro do capô traseiro. No inverno de 1956 para 57, foi acrescentado um domo traseiro semelhante ao do Jaguar D-Type, com uma barbatana maior ainda.
Fizeram ainda um segundo Corvette SR-2 para Bill Mitchell, este pintado em vermelho, sobre o chassi #1532 que saiu das linhas de montagem em 1956. Este carro correu as 12 Horas de Sebring com o Nº 2, pilotado por Paul O’Shea e Peter Lovely; chegando em 16º lugar a 31 voltas do vencedor. Além do SR-2, havia três carros C1 com carroceria normal, apenas com a preparação de corrida, chegando o nº 3 em 15º e o nº 4 em 12º lugares, sendo que o outro nº 6 abandonou por quebra de válvulas.
Havia ainda o Corvette
SS, com o nº 1, pilotado por John Fitch e Piero Taruffi, mas que não terminou a
corrida por quebra da suspensão traseira.
Como curiosidade, Harlow Curtice era o presidente da GM durante o período em que o SR-2 foi desenvolvido. A equipe do Departamento de Estilo construiu um Corvette especial com traços do SR-2 para presentear Curtice. Tinha rodas raiadas, em vez das Hallibrand de competição, e foi construído sobre o chassi #1636, em 1956.
O Corvette especial de Harlow Curtice |
Corvette 1958, o primeiro carro americano com faróis duplos |
Para o modelo 1959,
motores e potência não se alteraram. Os interiores foram ligeiramente revistos
com novos grafismos para os instrumentos do painel e adição de um porta-luvas
para o lado do passageiro. Quando equipado com o câmbio Borg-Warner de quatro
marchas, recebia alavanca de mudanças em formato de “T”. Este ano-modelo foi o
único em que podia ser encomendado com uma capota conversível azul turquesa; e os
modelos com tanque de 24 galões não podiam receber a capota conversível devido
à falta de espaço para o mecanismo da capota. Entre os opcionais disponíveis,
havia freios de maior capacidade e suspensões mais firmes, rodas de aro 15,
vidros elétricos e acionamento elétrico para operação da capota. O ano fechou
com 9.670 unidades produzidas.
Alguns detalhes nos
modelos 1960 eram as lanternas embutidas nos para-lamas traseiros, e nova grade
dianteira. Incluíam também radiador de alumínio, e motores com 270 ou 290 hp, e
adição de uma barra estabilizadora no eixo traseiro. Destaque para a cor
Cascade Green metálica, disponível somente neste ano-modelo, e uma das mais
raras entre as 140 diferentes cores que o Corvette já teve. O Corvette vai se
firmando no mercado, e 10.261 exemplares foram vendidos.
Corvette 1961 |
O ano-modelo 1962 foi
o último equipado com eixo-rígido na traseira. Havia dois novos motores mais
potentes. A cilindrada aumentou para 327 cid (5.360 cc), com válvulas de tucho
hidráulico equipando o motor de base com 250 hp e opcional de 300 hp. Tuchos
mecânicos eram padrão no motor opcional carburado de 340 hp e no de 360 hp
injetado. Isto o tornou o automóvel mais potente fabricado em série do mundo,
superando os 240 km/h. Foi também o último modelo com faróis expostos até o
modelo 2005 eliminar os faróis escamoteáveis; e também o último da ter capô
acessando o porta-malas, até o modelo 1998. O ano fechou com 14.531 unidades
vendidas.
Corvette 1962, já com o design do painel traseiro da Geração C2 |
EM ESCALA
Os Corvette da Geração
C1 são bastante numerosos, com várias empresas produzindo modelos Die-Cast ou
em Kits plásticos em diversas escalas. Dentre as mais conhecidas, temos a
Mattel/Hot Wheels, Johnny Lightning, Matchbox, Greenlight, Burago, Road
Signature, AutoArt, ERTL. Maisto, Jada, AutoWorld, Road Signature, Motormax, Route
66. E em kits, a Revell , AMT, Tamiya, Monogram, Aurora, MPC tem kits da
Geração C1 para montar.
O modelo 1953 é o
primeiro Corvette, e toda a produção do ano saiu na cor branca (Polo White) com interior
vermelho (Sportsman Red), e seu design era praticamente igual ao protótipo exibido na Motorama
do ano anterior. A miniatura da Mira na escala 1:18 reproduz com fidelidade os
detalhes, inclusive a tela aramada dos faróis dianteiros, e a capota de lona.
Corvette 1953 - Mira, escala 1:18 |
O modelo 1962 com
faróis duplos é da ERTL, na escala 1:18, que apareceu numa cena rápida numa
loja de carros usados, no filme American Grafitti, de Spielberg. É um hardtop
na cor Roman Red, com interior em preto. O teto pesava 25 kg, e podia ser
retirado para se tornar um roadster.
Corvette 1962, o primeiro com quatro faróis. |
Corvette 1957, Burago na escala 1:18 |
A Mattel tem os Corvette C1 de vários anos, em castings mais simples ou mais detalhados. O azul claro de 1958 é um da Série Real Riders, com um acabamento melhor, abre o capô do motor e rodas de resina com pneus de borracha, um Roll Bar simplificado atrás do piloto e rodas traseiras maiores do que as dianteiras: um resquício dos carros preparados para as corridas e Dragsters, muito apreciadas pelos americanos. Pode-se notar que o casting do modelo 1962 (cinza de faróis duplos) é o mesmo do de 1958, mas traz uma pintura simplificada, com recorte lateral na mesma cor do restante da carroçaria, e as rodas comuns dos Mainlines. Os modelos de 1953 (azul e preto) são Mainlines com decorações variadas que a Mattel solta a cada ano, não tem detalhes como grades cromadas ou faróis e lanternas demarcadas, assim como rodas padrões de plástico. O de 1957 é o mais fiel em termos de proporções e modelo das rodas, bem fiéis às originais da época, assim como a abertura do capô, item valorizado nesta escala.
REFERÊNCIAS
http://www.imcdb.org/vehicle_7734-Chevrolet-Corvette-1961.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Chevrolet_Corvette
http://www.edmunds.com/chevrolet/corvette/history.html
http://www.corvettes.nl/gm_prototypes/motorama1954/index.html
http://www.vettefacts.com/c1/1962.aspx
https://myautoworld.com/gm/history/corvette/corvette1/corvette1.html
Os exemplares apresentados neste post fazem parte de minha coleção particular, e não estão à venda.
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