segunda-feira, 29 de novembro de 2021

1959 [Corvette] Stingray Racer

 

1959 Sting Ray Racer em Elkhart Lake, Junho 1959. Foto: GM Archives
A história do Stingray Racer começa com o fim do Corvette SS, carro de corrida criado em 1957 pela GM para competir nas 24 Horas de Le Mans, mas sua curta carreira terminou quando a AMA (Automobile Manufacturers Association) proibiu as montadoras de participar, ou apoiar oficialmente as competições automobilísticas. Neste ano, Bill Mitchell visitou o Turim Auto Show, e seus olhos foram atraídos pelo baixo, agressivo e aerodinâmico design de um FIAT 750, preparado pela Abarth e encarroçado por Pininfarina segundo os conceitos do “streamliner”, com destaque para as protuberâncias sobre as rodas, num corpo muito rebaixado.

O FIAT Abarth 750 encarroçado por Pininfarina, no Turim Auto Show de 1957

Outro carro que chamou a atenção de Mitchell foi o Alfa Romeo Disco Volante, com sua linha de cintura marcante separando a parte superior da Carroçaria da inferior. Isto e os ressaltos sobre os paralamas foram elementos que Mitchell utilizou para criar o conceito para o Corvette Racer.

O Alfa Romeo Disco Volante


Apesar da proibição da AMA das montadoras participarem de competições, Bill Mitchell, Vice-Presidente de Estilo da GM queria de todo modo construir um novo carro de corridas, então comprou o chassi-mula do Corvette SS por US$ 1 (posteriormente, numa entrevista, tanto ele como Larry Shinoda comentaram que o valor foi de US$ 500). Era um chassi tubular de aço cromo-molibdênio, com 2.337 cm de entre-eixos, bitolas de 1.308 cm na dianteira e traseira; braços desiguais na suspensão dianteira e um eixo De Dion e conjuntos de mola-amortecedor nas quatro rodas. Os freios eram a tambor (havia intenção de trocá-los por freios a disco), nas rodas dianteiras e junto ao diferencial Hallibrand na traseira. O motor que equipava este chassi era um V8 small-block de 283 cid (4638cc) com 315 hp a 6.200 rpm, torque de 295.00 ft·lbf (400 N·m) @ 4700 rpm, cabeçotes de alumínio, comandos Duntov no cabeçote e uma injeção de combustível Rochester Ramjet; e a taxa de compressão era de 11:1. O câmbio era uma caixa de quatro velocidades Borg-Warner T-10 manual com carcaça de alumínio. As rodas eram também da Hallibrand em magnésio.

O novo design de Peter Brock se baseou no Q-Corvette XP-96 conversivel, com uma carroçaria de fiberglass com reforços de alumínio, conseguindo um peso a seco de 977 kg, 450 kg mais leve do que os Corvette de linha da época. Larry Shinoda acabou finalizando os detalhes da carroçaria e ajustando-a ao chassi. O carro ficou pronto em meados de 1959, e Mitchell queria colocá-lo nas pistas; mas foi advertido pela direção da GM que teria de fazê-lo por seus próprios recursos, além de não poder identificar o carro com nenhum emblema ou nome que o associasse com a GM, o Corvette ou a Chevrolet.

O Stingray Racer no Marlboro Motor Raceway


Pintado na cor vermelha, o Stingray Racer correu no Marlboro Motor Raceway, próximo a Upper Marlboro, em Maryland, em 18 de abril de 1959, pilotado pelo dentista-corredor nas horas vagas Dr. Dick Thompson, terminando em quarto lugar na geral e primeiro em sua classe. A potência do motor foi reduzida para 280 hp para aumentar a confiabilidade e resistência.

Durante a temporada de 1959, as seções da frente e traseira foram refeitas com espessura de apenas 1,5 mm, com reforços de madeira balsa. Isso reduziu o peso em 34 kg, mas os painéis flexionavam com a pressão aerodinâmica. Mais tarde, o carro recebeu uma nova Carroçaria, ainda mais leve, ficando com o peso de 907,2 kg a seco ou 1.070,5 abastecido com óleo e combustível.

Na pista, percebia-se que a frente do carro tendia a ficar muito leve nas velocidades acima de 140 mph (225 km/h). Para reduzir o efeito, as molas traseiras foram calçadas para levantar a traseira, deixando o carro mais inclinado à frente. Com Thompson ao volante, o Stingray Racer venceu o SSCA National Championship de 1960.

As linhas do Stingray inspiraram o Conceito do Mako Shark

Mesmo correndo com uma equipe independente, Mitchell foi pressionado a tirar o carro das competições, seguindo a recomendação da AMA. A breve carreira do Stingray Racer chegou ao fim, mas com algumas alterações, como um para-brisas maior e um assento para o passageiro, se tornou um carro que podia ser dirigido em vias públicas. Pintado de prateado, Mitchell passou a usar o carro para os seus deslocamentos e também nos fins-de-semana, e era exibido pela GM em algumas mostras como um carro experimental. Seu design influenciou o estilo do protótipo XP-720 de 1960, e serviu de base para o Mako Shark (I) de 1961, e junto com os esboços do Q-Corvette foram a base para a Geração C2 do Corvette lançado em 1963.

Outras alterações efetuadas no carro foram os freios a disco Dunlop, o motor foi substituído por um V8 Small-block de 327 cid (5,4 litros), e por fim, ganhou um V8 Big-Block de 427 cid (7,0 litros). Num artigo escrito em 2012, reportou-se que o carro estava equipado com um V8 Small-Block de 350 cid (5,7 litros) com uma injeção de combustível mecânica da época.

Bill Mitchell discutindo sobre o Stingray Racer com Batista Pininfarina


Aposentado como carro de exibição, passou a fazer parte do acervo da GM Design Center. Depois que ganhou uma restauração pela Equipe de Design da GM, sob a direção de Ed Wellburn, logo após ele ser nomeado Vice-Presidente de Design Global. O Stingray Racer marcou presença em dois filmes: Clambake, de 1967, numa produção com Elvis Presley; e em 2014, em Transformers: Age of Extinction. Participou do Amelia Island Concours d’Elegance em 2013 e voltou a marcar presença no mesmo evento de 2019.

EM ESCALA

O Stingray Racer feito pela AutoArt, na escala 1:18 é bem fiel ao original, reproduzindo o modelo depois das alterações que Mitchell efetuou para andar com ele nas ruas. Traz a pintura prateada, estão lá o banco do passageiro (cinto de segurança só para o piloto), com os novos para-brisas, e o interior bem detalhado, com o painel de instrumentos, console com a alavanca de câmbio, volante e pedais. Os ressaltos sobre as rodas são bem pronunciados, assim como o central sobre o capô dianteiro, para acomodar o sistema de alimentação do V8.







O capô dianteiro e o traseiro, bem como as portas se abrem, e as rodas dianteiras esterçam ao girar o volante. O motor V8 é bem reproduzido, tem cabos de vela saindo do distribuidor para os cabeçotes, e mangueiras de água ligando-se com o radiador à frente do carro. O chassi tubular acomoda o motor, as suspensões e o suporte do capô (flip-nose) que se abre para frente. O capô traseiro se abre, revelando o tanque de combustível, o estepe e o final do chassi tubular.





O exemplar da Hot Wheels também reproduz o mesmo modelo do Stingray Racer, logicamente com detalhes sacrificados pela escala 1:64, mas as proporções são bem adequadas.

https://en.m.wikipedia.org/wiki/Corvette_Stingray_(concept_car)

https://corvettestory.com/1959-stingray.php

 

 

domingo, 28 de novembro de 2021

O Q-Corvette: Origem do Sting Ray 1963-67

Matéria publicada na Collectible Automobiles, 20 de Junho de 2001.
Por Robert Whitman Veryzer, Ph.D.

Algumas ideias automotivas se movem suavemente e uniformemente da prancheta de desenho para a produção. Outros, no entanto, tomam um caminho mais tortuoso. Esta é a história de como um aparente beco sem saída acabou inspirando um dos grandes carros da América.

A inconfundível essência do Chevrolet Corvette Sting Ray Coupé é capturada neste esboço de Robert Veryzer.
Mas Veryzer não acabou trabalhando no Sting Ray; ele era o chefe do time encarregado
de criar um possível e totalmente novo 'Vette para 1960.
Este prospectivo novo carro veio a ser conhecido na General Motors como Q-Corvette.

O caminho da ideia inspirada ao design bem-sucedido pode ser longo, especialmente na indústria automotiva. Muitas vezes, a história completa é conhecida apenas por alguns "insiders" da empresa. Isso é lamentável porque as histórias por trás de alguns desses projetos de automóveis honrados são mais do que simplesmente história – eles fazem parte da herança de um carro.

A origem do design clássico do Corvette Sting Ray 63 é apenas uma dessas instâncias. Ao traçar a origem do design, às vezes se encontra referências vagas a um exercício de estilo GM, mas poucos detalhes foram relatados sobre a criação do design original. Surpreendentemente, o conhecimento sobre a evolução do design do Sting Ray já foi mais conhecido do que é hoje – veja, por exemplo, o livro de Karl Ludvigsen  de 1973, “Corvette America's Star-Spangled Sports Car, The Complete History”. No entanto, a história de como surgiu e se desenvolveu o projeto do Corvette Sting Ray acabou esquecida ou ignorada ao longo dos anos. Isso é muito lamentável, é um conto fascinante de dedicação, compromisso e sigilo. A história da origem do Sting Ray também fornece respostas para enigmas de como e por que o Corvette de 1961 exibe elementos do projeto Sting Ray de 1963, e como a captura de um tubarão (não uma arraia, como sugere a expressão “Sting Ray”) numa pescaria que Bill Mitchell estava fazendo em alto mar, na costa da Florida,  influenciou a direção do estilo do Chevrolet Corvette.

O visual do Sting Ray tem suas origens em um design que veio a ser conhecido dentro da General Motors como o Q-Corvette ou simplesmente o "Q".  O design Q representa o ponto mais antigo na história de Corvette da forma básica e linhas que eventualmente iriam para a produção (após atrasos e adiamentos) como o Sting Ray. O design do Q e do Corvette Sting Ray subsequente são um interessante case history de inovação e evolução de design.

Desde sua introdução em 1953 e ao longo dos primeiros anos de sua história, o Chevrolet Corvette pouco mudou em sua aparência exterior. A atuação do Corvette beneficiou-se de projetos especiais de corrida, como o SR e o SS Corvette. Em grande parte desses esforços de corrida, o carro desenvolveu-se a partir de um ‘boulevard cruiser’ (um carro para dar um rolê no sábado à noite) para se tornar um carro esportivo de verdade. Ainda assim, o exterior estava essencialmente inalterado, exceto por pequenos liftings no design. Mesmo com melhorias de engenharia para o motor, sistema de frenagem e suspensão, o quadro era o mesmo. Os Corvettes de 1958 e 1959 eram essencialmente o mesmo carro com facelifts e melhorias mecânicas. Durante esse tempo, no entanto, a GM sentiu que o Corvette merecia um design totalmente novo, que elevasse sua reputação como carro esportivo. Além disso, o número de vendas para o Corvette era tal que a Chevrolet acreditava que deveria considerar uma carroceria de aço porque o volume de vendas previsto para o modelo tornaria um corpo de aço viável.

Esta marcha em direção a um novo Corvette foi fortalecida com o empurrão de Harley Earl para que a Chevrolet produzisse um carro esportivo confiável. Anos antes, em 1951, Earl tinha levado o LeSabre experimental de dois passageiros para mostrar no ‘Road Race’ de Watkins Glenn, Nova York. O carro, completo com as barbatanas traseiras, incorporou muitas inovações, incluindo um teto conversível que subia automaticamente com algumas poucas gotas de chuva. O carro recebeu uma resposta menos que favorável dos entusiastas de carros esportivos presentes ao evento, no entanto, isso serviu como um estímulo para desenvolver o primeiro Corvette, bem como o desejo de mantê-lo na vanguarda do design como um carro esportivo americano.

Em dezembro de 1958, William L. Mitchell sucedeu Earl como vice-presidente de styling da GM. Uma das primeiras batalhas de Mitchell depois que ele assumiu o cargo foi com o mundo "styling". Para ele, esse conceito representava a moda – algo que aqui hoje está, mas amanhã não mais. "Design", por outro lado, era o seu foco. Além dessa mudança, Mitchell adotou a prática de Harley Earl de dar aos designers pouca ou nenhuma direção com suas atribuições.

A história do Q/Sting Ray começa no início de 1956 com um evento aleatório – talvez fortuito – aquele encontro de Bill Mitchell com um tubarão durante a pescaria. Isso desencadeou uma série de eventos que acabou levando ao modelo Corvette Sting Ray.

Como um tubarão se transforma em um Sting Ray? Conta-se que Bill Mitchell estava em uma pescaria em alto mar em águas ao largo da Flórida. Naquele dia, no entanto, não era o seu peixe habitual que estava mordendo; era um tubarão! Ninguém poderia prever que o tubarão Mako que foi capturado naquele dia (e depois empalhado e exibido na sala de sua casa) teria um impacto tão grande. Certamente inspirou Mitchell. Ele tinha o desejo de criar um verdadeiro carro esportivo americano, e agora ele tinha uma ideia para o seu tema de design.


Bill Mitchell, quem eventualmente viria a ser o Vice-Presidente de Design da GM, montou a equipe do Q-Corvette em 1957.
1-3. No início de outubro de 1957, este modelo em argila em pequena escala mostrava um cupê fastback.  4. Uma renderização em tamanho real de 18 de novembro incluía os ressaltos sobre os para-lamas maiores, e um nariz mais semelhante ao de um tubarão. 5. O Chef Designer do Q-Corvette Robert Veryzer (à esquerda) e o designer Pete Brock inspecionam um modelo de argila em escala real.

Em meados de 1957, Mitchell montou um estúdio especial para projetar o exterior e o interior de um Corvette totalmente novo. Desde o início, Mitchell achou que o projeto deveria ser separado do ambiente do estúdio de produção. O espaço estava disponível na área localizada no piso principal do prédio do estúdio em uma sala adjacente à Área de Pesquisa de Design Avançado, chefiada por Bob McLean. O pequeno estúdio era restrito e sempre ficava trancado para limitar o acesso.

Este projeto de design, codificado XP-84, passou a ser chamado de Q-Corvette porque a General Motors estava então desenvolvendo e avançado sistema transaxle, com o codinome Q, que era esperado para ser utilizado no carro. A equipe de design XP-84 era composta pelo designer-chefe Robert Veryzer (que foi transferido do Chevrolet Studio, onde foi designer-chefe assistente, para chefiar este estúdio especial); os designers Pete Brock e Chuck Pohlmann, o modelador-chefe, John Bird, e o engenheiro de estúdio Byron Voight. Neste tempo, Zora Arkus-Duntov era o consultor da Chevrolet Engenharia. A descrição de Brock do processo de seleção para os principais designers como relacionado em seu artigo da revista Motor Life de 1959 sugeriu que "Bob Veryzer foi um dos escolhidos porque ele representava o grande segmento de proprietários de carros esportivos que dirigem seus veículos para o prazer cotidiano. Eu, por outro lado, estava familiarizado com os desejos dos pilotos de competição".

Embora Mitchell tenha dado aos designers uma ficha limpa, ele fez uma série de sugestões para guiá-los. Ele estava apaixonado pela forma do tubarão Mako que ele pegou enquanto pescava na costa da Flórida. Mitchell enviou os designers para sua casa em Bloomfield Hills, Michigan, para estudar seu tubarão troféu, que foi montado em uma parede em seu lar. De acordo com Veryzer, a diretiva de Mitchell naquele dia era: "Esse é o sentimento que eu quero... o sentimento poderoso, mas gracioso de um tubarão em um automóvel.

Em reuniões com a equipe de design, Mitchell deu outras indicações do que ele estava procurando no novo tema Corvette. Por exemplo, ele orientou os designers a avaliar carros como o modelo de recordes Abarth-Fiat 750 e BMW 507. A visão de Mitchell refletia uma das frases de Harley Earl: "lutar por um design elegante e esguio" na forma. Assim como seu pacto, Mitchell deu apenas impressões aos designers Veryzer, Brock e  Pohlmann,  deixando-os  evoluir o tema.

Junto com sugestões sobre a direção temática, havia parâmetros de design com os quais trabalhar. Devido ao baixo volume de produção do Corvette, que não justificava o design e a fabricação de componentes separados, o Corvette contava com uma série de sistemas-padrão de automóveis de passageiros – transmissões, suspensão e assim por diante. Isso era necessário para manter os custos baixos. Além dessas restrições, Duntov tinha alguns objetivos para a próxima geração do Corvette. Ele propunha um conjunto de câmbio/diferencial traseiro transaxle fixado no chassi, freios a tambor in-board para reduzir a massa não suspensa, até o motor de arranque acoplado a este conjunto para equilibrar o peso entre os eixos dianteiro e traseiro, e uma abordagem de plataforma que compartilhasse uma série de peças econômicas de outros carros de passeio da GM. Duntov também buscou melhorar as acomodações do piloto e passageiro, além do espaço de bagagem, bem como melhorias no manuseio e o desempenho.

1. Em 2 de dezembro de 1957, o modelo em argila do "Q" foi comparado com a nova versão de produção do Corvette 1958, equipado com o teto hardtop opcional. 2, 3. De qualquer ângulo, o Q-Corvette era um avanço marcante no design dos Chevy de dois lugares nas ruas da época.

Pouco depois da publicação do estúdio especial Corvette, o designer-chefe Robert Veryzer gravou um pequeno letreiro com duas palavras, um credo para um pequeno grupo de design: "Seja Corajoso". O trabalho prosseguiu discretamente ao longo dos meses seguintes. A pequena equipe interpretou as linhas do poderoso e elegante tubarão em um poderoso, mas gracioso automóvel. Os designers produziram inúmeros esboços e renderizações. Mitchell os revisou e criticou, e sugeriu que alguns fossem finalizados em modelos de argila na escala 1/4.

Ao mesmo tempo, Byron Voight, trabalhando com Duntov, havia estabelecido o entre-eixos, localização do motor, pacote de assentos, largura de pneus e outras dimensões que forneceu para o design. Desenhos em tamanho real de componentes locais foram produzidos pela Engenharia. Esses fundamentos foram estabelecidos no início do processo de projeto e os desenhos foram esboçados em torno dessas restrições.

Uma série de ideias e inovações foram exploradas durante o processo de design, incluindo:

·         Um teto rígido removível.

·         Faróis escamoteáveis. A inclinação do capô fez os faróis convencionais muito baixos para serem legais quando montados na grade; os designers acharam a aparência da frente muito feia.

·         Portas gullwing (com abertura tipo asa-de-gaivota, como no Mercedes 300 SL).

·         Uma coluna de direção móvel.

·         Uma barra anti-capotagem fixa com painel de teto removível.

·         Um pilar central do para-brisas e vidro em volta, mas sem pilares A, com portas "semi-gullwing".

Essas ideias foram exploradas em esboços e modelos de 1/4 – em escala e muitas das características foram testadas em grande escala em um banco espacial emoldurado em madeira.

"Uma vez que tivemos o tema, havia uma série de versões", relatou Brock. "Tínhamos uma com um painel de teto totalmente removível, como o Porsche Targa. Em outro, o carro não tinha pilares A, apenas um único pilar no centro. Vidro lateral do para-brisas fazia a curva e seguia como janela lateral.

"Uma das coisas que tentamos fazer foi um “hardtop retrátil", lembrou Veryzer. "O capô traseiro abria para cima e o teto se recolhia atrás dos assentos... Nós tínhamos o mecanismo todo trabalhado”. Essas explorações foram examinadas, revisadas e refinadas. O ápice desses esforços foi uma renderização em tamanho real da proposta Q-Corvette.

Um modelo de argila em tamanho real foi feito com base nas linhas de uma arte aerografada e um modelo de ¼ de escala. O modelador-chefe John Bird, que havia trabalhado no elegante cupê Studebaker de 1953 e sua equipe fizeram um trabalho magistral interpretando o design como uma forma tridimensional. Eles primeiro transferiram os desenhos para um quarto de escala num modelo em argila em outubro de 1957, em seguida, em um modelo em escala real de argila no mês seguinte. Dois tratamentos diferentes  de entre-eixos foram explorados no modelo, um de cada lado. Um pouco mais de ênfase foi dada ao capô traseiro do cupê que originalmente deveria abrir, no momento em que o design foi desenvolvido e adaptado para a produção, as preocupações de custo levaram mudanças que fizeram do '63 Sting Ray o primeiro Corvette sem um capô traseiro convencional.

Antes do final de 1957, o Q-Corvette foi totalmente renderizado e modelado para avaliação pela Chevrolet e direção da Equipe de Design. A linha mestra proposta no projeto era fresca e revolucionária. Era um  cupê ‘semi-fastback’  com uma barra anti-capotagem permanente apoiando uma seção de teto removível entre os para-brisa; a abordagem sem pilares A foi adotada; cada uma das metades se levantava para cima e para a frente com a porta, usando um pivô diagonal único perto do centro do capô. O tema representou uma nova direção de design marcante que acabaria sendo realizada e executada – com alguma modificação – como o Sting Ray de 1963. Mas o caminho do conceito para a produção era precário.


O design Q foi programado para introdução como modelo 1960 do Corvette. Infelizmente, os custos e a mudança nas condições econômicas que sugeriam tempos duros para a indústria pararam o projeto. Foi também durante esse tempo que a Chevrolet mudou seu foco para o Corvair, devido em parte ao seu potencial como carro econômico, o que representou uma direção radicalmente nova para a General Motors e o mercado norte-americano. No entanto, Mitchell estava ansioso para usar o design Q e ordenou que ele fosse transferido para uma versão de corrida do Corvette. Ele já tinha criado um estúdio secreto no porão do edifício GM Styling, a fim de desenvolver um projeto para um carro de corrida. Antes disso, Mitchell foi capaz de obter um Chevrolet Chassi experimental, o da "mula" Corvette SS destinado a ser usado em Le Mans (este não era mais necessário para o seu propósito original, devido ao cancelamento de todos os programas de corrida da Chevrolet). Com a permissão de uma gestão GM cautelosa, Mitchell planejava correr com o carro em particular, usando fundos pessoais.  Para que fosse preparado, o carro teve que ser re-encarroçado para que não pudesse ser imediatamente reconhecido. Mesmo que ele estivesse sob ordens estritas para manter a GM fora das corridas, e não receber apoio formal de engenharia, Mitchell alistou um número de voluntários dispostos para trabalhar no estúdio secreto e não autorizado. Até esse ponto, no entanto, a equipe não tinha resolvido um tema que satisfez Mitchell.

1. Faróis posicionados muito baixos na grade de abertura da "boca do tubarão" não atenderiam às necessidades legais. 2. Veryzer posa com o modelo de argila do Q-Corvette. 3. O design do teto traseiro não era tão pontudo como seria o do Sting Ray de produção. Observe que a forma da borda das lanternas traseiras ainda estava em discussão. Os designers imaginavam que o modelo tivesse um capô para acesso ao porta-malas. 4. Chuck Pohlmann, designer da equipe analisa as linhas do Q-corvette.  5,6. Alternativas para o posicionamento dos faróis foram estudadas no começo de dezembro de 1957.

Com o tema Q arquivado como um projeto de produção, Mitchell agora queria que ele fosse adaptado para uso nas corridas. Os designers Bob Veryzer e Chuck Pohlmann  foram orientados a supervisionar a transferência do tema Q-Corvette para o modelo de argila de um Corvette de corrida. Depois que o modelo de argila em tamanho real baseado no design foi concluído, Mitchell dirigiu outra equipe liderada pelo designer Larry Shinoda e pelo engenheiro Ed Wayne para desenvolver um corpo de fibra de vidro baseado no Q-Corvette para o chassi de mula SS. Nessa época, o programa Q foi oficialmente cancelado e os membros da equipe de design original receberam novas atribuições. Shinoda, que gostava de passar parte do seu tempo livre trabalhando em equipes de corrida de carros da Indy, junto com Wayne pegaram o design final em argila e levaram-no para Mitchell apreciar.

O novo carro de corrida carregava as linhas do design Q na grade baixa, larga e seção transversal de borda afiada com protuberâncias nos paralamas acima das rodas. Para acomodar a injeção de combustível, foi adicionada uma protuberância de capô central longa, afunilada, e um encosto convencional contendo uma barra anti-capotagem foi adicionado na parte traseira. O Stingray (agora com as palavras juntas, completo com um emblema de uma arraia aquática), como a SS re-encarroçada foi nomeado, tornou-se propriedade pessoal de Bill Mitchell. O nome foi tirado de uma proposta anterior para Corvettes de 57 equipadas com o motor injetado a combustível. Embora o apelido tenha pego, o emblema estilizado da arraia apareceu apenas neste e um protótipo do Corvette mais tarde.

1,2. Também para revisão do design ao mesmo tempo que o Q-Corvette era a variação que Mitchell planejava aplicar num carro de corridas especial. Mais tarde, conhecido por Stingray, ele seria construído sobre um chassis que sobrou do programa defunto para construir um Corvette para as 24 Horas de Le Mans. 3. Pohlmann, com quem Veryzer tornou o tema "Q" no Stingray, revisa o modelo em argila.

Em sua estreia no Marlboro Raceway em Maryland, em 18 de abril de 1959, o Dr. Dick Thompson, um dentista praticante que era um ávido piloto, conseguiu um quarto lugar com apenas 15 minutos de treino. Como Mitchell observou: "O Stingray não é mais um carro show. Agora estamos prontos para correr." A entusiasmada imprensa de automobilismo especulou que o Stingray era um prelúdio para a próxima geração de Corvettes. Os jornalistas estavam certos, mas teriam que esperar mais alguns anos pelo novo Corvette.

Durante o verão de 1958, Mitchell também havia realizado a criação de um Corvette experimental designado o XP-700. A parte média do XP-700 era muito parecida com a Corvette de 1958 em que se baseava. No entanto, o carro tinha um nariz estendido que projetava além dos faróis e uma extremidade traseira com cauda de pato que carregava algum caráter das porções traseiras dos desenhos Q e Stingray. Ele também tinha um top de bolha dupla transparente exclusivo feito de um plástico completo com um retrovisor periscópio.

Posteriormente, foi criada uma versão revisada do XP-700 empregando o tema Q geral. Codificado o XP-755 e nomeado “Shark”, foi realizado por Larry Shinoda e concluído em junho de 1961. Para fazer jus ao seu nome, este protótipo de carro foi especialmente pintado para se assemelhar ao peixe-troféu que havia inspirado o tema de design original cerca de quatro anos antes. Como o protótipo do Stingray de Mitchell, o XP-755 foi um passo importante na evolução do design Q original para o XP-720 (a designação para a versão de produção 1963 Corvette).

Outra tentativa de um novo Corvette baseado no tema Q foi realizada durante o inverno de 1958-59 como um grande facelift do carro existente para o ano modelo 1962. Esta versão carregava uma linha de ruptura proeminente em torno do corpo do carro, assim como os desenhos dos quais ele foi derivado. O design, uma mistura de temas antigos e novos Corvette, teria levado sobre o chassi e estrutura interna de anos anteriores. Infelizmente, a proposta não capturou a mistura única de poder e graça dos desenhos anteriores. Por exemplo, ele não tinha o frescor que era uma das características mais importantes dos desenhos Q-Corvette e Stingray.

Enquanto os designers estavam ocupados com a forma externa do Q-Corvette, outros integrantes da equipe trabalharam na estrutura espacial em madeira, para conferir se algumas idéias poderiam realmente ser aplicadas na prática. 1,2. A operação da porta com a radical dobradiça central se mostrou muito pesada em relação a um arranjo mais convencional. 3,4. Outro detalhe sob avaliação era a coluna de direção ajustável.



5. Outro esboço de Veryzer com a sugestão do teto targa. 


6. Em determinado ponto, os designers tinham esperança de ter um teto retrátil que se acomodava no porta-malas. 7. O "rabo-de-pato" do Q-Corvette aplicado no 'Vette de produção de 1961-62. Este modelo em argila datado de Fevereiro de 1959 mostra que mais elementos do Q-Corvette estavam sendo considerados para o Corvette de '62. 8. O Projeto XP-720 iria finalmente levar o tema do Q-Corvette para a produção.

 Outras aplicações do tema Q também foram exploradas durante o final dos anos 50. Um deles era um Corvette de motor traseiro que usava um conjunto-motor do Corvair.  A influência do design Q foi sentida em  outro programa de design da Chevrolet também. Por exemplo, algumas características sutis do tema Q foram exploradas em estudos de design do Corvair protótipo e ficaram evidentes na ênfase horizontal, linha de acento superior marcante e características da parte traseira da produção inicial do Corvair.

No final de 1958, a imprensa automobilística tinha conseguido rumores que o trabalho de desenvolvimento para um Corvette radicalmente novo estava em andamento. Um artigo publicado em 1959 em Motor Life, escrito por Peter Brock logo após o trabalho sobre o projeto Q original foi concluído, alimentou essa especulação. O artigo discutiu detalhes do programa Q-Corvette como o desenvolvimento de um carro totalmente novo – o Corvette de 1960. O artigo narrou grande parte do esforço de design e desenvolvimento que levou ao design Q, incluindo a menção de alguns dos altos e baixos que o programa tinha visto. Brock discutiu como todo o esforço tinha sido sucateado e revivido mais de uma vez. As ilustrações que acompanharam o artigo não refletem as linhas graciosas  incorporadas na renderização em tamanho real de 1957 e no modelo de argila em tamanho real do Q-Corvette, mas linhas um pouco mais duras e esticadas. Ainda assim, eles transmitiram um senso de direção básica do novo tema de design para o Corvette. O artigo concluiu prometendo que o novo sonho do Corvette 1960 foi concluído e transferido da divisão de pesquisa para o estúdio de estilo Chevrolet para pequenas mudanças de detalhes e adições. Apesar da promessa articulada no artigo, não era para ser para o ano modelo 1960.

Enquanto isso, os designs do Corvette de estilo antigo continuaram a ser colocados em produção. O modelo de 58 não refletia nenhuma influência do projeto Q. O design tinha sido feito em 1956, e Earl ditou que apenas mudanças mínimas deveriam ser feitas a ele. O design era para ser essencialmente um facelift exigindo apenas revisão mínima para a carcaça de fibra de vidro. Mudanças como saídas de ar no capô (originalmente destinados a ser funcionais até que os testes revelaram que o ar extraído poderia lançar resíduos no para-brisa) e os cromados adicionados estavam entre as formas de diferenciar os '58 dos desenhos anteriores com o mesmo corpo básico. O 58 também ostentava faróis duplos como os que estavam sendo incorporados em carros e caminhões da família Chevrolet naquela época.

Os Corvette de 1959 e 60 foram reprises virtuais externamente. Os faróis duplos permaneceram, mas as saídas de ar do capô e os cromados foram removidos. O ano de 1961 viu um Corvette que lembra os anos anteriores – com uma importante exceção. A parte traseira mostrou uma influência definitiva do design Q-Corvette. Uma linha de vincos começou sobre as aberturas das rodas traseiras e correu em torno da parte de trás do carro. Abaixo do vinco, a traseira descia numa linha inclinada para debaixo do carro. As longas luzes traseiras em forma de amêndoa contornadas nos para-lamas dos Corvettes 1958-60 deram lugar a dois conjuntos de lâmpadas "bullet style" redondas, sob a linha de vincos. A influência do Q Design tinha tomado conta da psique dos designers e estava começando a entrar em modelos de produção. Este visual seguiu até 1962, com variações de acabamento e detalhes decorativos foram suficientes por hora.

Cedo ou tarde, porém, tinha que haver um Corvette inteiramente novo.  No outono de 1959, um projeto foi iniciado no Design Center para moldar um Corvette baseado no Q Theme e Stingray de corrida. Isso significava que, pela primeira vez, o Corvette seria oferecido como um coupé, além do conversível tradicional.

Algumas das ideias iniciais de design ficaram aquém das expectativas de Mitchell porque não tinham o frescor do Q-Corvette, embora refletissem seu tema básico. Eventualmente, surgiu um design que percorreu as linhas básicas do Q-Corvette – com alguns toques distintos adicionados por Mitchell. Talvez o mais notável entre esses toques de assinatura foi uma janela traseira dividida com um friso que ia da borda dianteira do teto até a cauda. A ideia da janela traseira dividida tinha aparecido mais cedo em um Oldsmobile Golden Rocket, show car da Motorama de 1956. Embora houvesse um número de pessoas, incluindo Zora Arkus-Duntov, que não gostava do divisor da vigia traseira porque obstruía a visão, Mitchell gostava fortemente deste detalhe e insistiu em sua inclusão no design final. (Só duraria em produção por um ano, no entanto).

Embora o tema Q básico tenha sido aplicado, o design de produção aceito para o que se tornou o Corvette de 1963 exibiu algumas diferenças notáveis. Tinha portas convencionais ao invés de portas com dobradiças centrais na base do para brisa. O teto inclinado estendeu-se para trás mais do que no modelo de argila em tamanho real do Q-Corvette; isso pesou um pouco no  visual da extremidade traseira. Grades decorativas foram colocadas em recessos no capô. Originalmente destinados a funcionar, eles foram alterados devido a restrições de custos e algumas preocupações de engenharia. Uma nova versão do emblema de bandeiras cruzadas apareceu na frente do carro, e o interior foi redesenhado. O Chevrolet de dois lugares também ganhou um nome secundário: Sting Ray, agora expresso como duas palavras.

Havia muita engenharia nova para combinar com o estilo fresco. O motor V-8 de 327 cid introduzido com os modelos de 1962 foi transportado nas mesmas quatro versões de potência, mas havia um novo chassi por baixo com uma distância entre-eixos encurtada em quatro polegadas, para 98. O Sting Ray introduziu as inovações da linha Corvette, como uma suspensão independente de quatro rodas (antes dele, os carros tinham apenas as rodas dianteiras suspensas independentemente), e direção hidráulica e freios com assistência a vácuo opcionais.

Embora fosse uma mudança radical em muitos aspectos em relação aos Corvette de produção anterior, o carro era fiel à sua linhagem Corvette, bem como ao design Q original. O novo Corvette – com seu visual baixo e esguio distinto – projetou uma sensação de poder predatório agressivo, assim como transmitia o visual do tubarão que ajudou a inspirá-lo. O Corvette Sting Ray de 1963 foi finalmente o tão esperado novo Corvette, e seu design exterior duraria cinco anos com apenas mudanças de detalhes. O legado da inovação criativa que inspira o design Q-Corvette há tantos anos perdura na popularidade contínua dos Corvette 1963-67.

O autor é filho de Robert Veryzer, Designer-Chefe do Q-Corvette.