O Chaparral 2D em Nürburgring, 1966 |
O Chaparral 2D foi a primeira variante de cabine fechada da Série 2, e se construtor Jim Hall visava as corridas de 200 milhas da Can-Am. Em 1965, o modelo venceu as 12 Horas de Sebring, debaixo de forte chuva, numa das pistas mais seletivas dos Estados Unidos. Em 1966 ele adaptou o carro para homologação no Grupo 6 da FIA, para o International Manufacturer’s Championship (Campeonato Internacional de Marcas) e o International Sports Cars Championship (Campeonato internacional de Carros Esporte). O Chaparral 2D competiu no Grupo 6, Esporte-Protótipos, Classe P2 (com motores acima de 2000cc).
O 2D pilotado por Jo Bonnier e Phil Hill, em Nürburgring, 1966 |
O modelo venceu os 1000 km de Nürburgring de 1966, com Jo Bonnier e Phil Hill ao volante; saindo na segunda posição do grid na largada, e depois de 44 voltas e 6h58m47,6s recebeu a bandeira quadriculada. Atrás dele, nada mais do que três Ferrari (2º, 3º e 9º lugares); quatro Porsches (4º, 7º, 8º e 10º lugares) e dois Ford GT40 (5º e 6º lugares) completaram os dez primeiros nesta competição. O modelo competiu também nas 24 Horas de Le Mans do mesmo ano, porém uma falha mecânica o tirou da prova na volta 111.
O carro era equipado com um motor V8 Small-Block Chevrolet
de 327 cid (5.359 cc), com bloco e cabeçotes de alumínio; gerando 420 hp a 6800
rpm, com um câmbio feito pela Chaparral, de seis marchas automático. Os comandos
de válvulas eram simples no cabeçote, naturalmente aspirado, montado entre
eixos num chassi monocoque feito de alumínio com fibra-de-vidro reforçado.
A suspensão dianteira tinha braços duplos desiguais,
conjuntos de mola-amortecedor com geometria anti-afundamento e barra estabilizadora;
ao passo que a traseira tinha braços inferiores invertidos, com braço simples
superiores, braços de arrasto duplos, molas helicoidais com amortecedores,
barra estabilizadora e geometria anti-afundamento.
Um pouco sobre Jim Hall e os Chaparral que construiu e
pilotava
James Ellis Hall nasceu em 23 de julho de 1935, em Abilene, estado do Texas, mas cresceu no Colorado e no Novo Mexico. Enquanto estudava engenharia no California Institute of Technology, ele começou a correr em competições locais, e se envolveu com seu irmão mais velho Dick na Carrol Shelby Sport Cars, em Dallas, o maior importador de carros esporte europeus da região.
Shelby começou a colocar Jim Hall para correr pela sua
empresa, e Shelby se gabava que se um novato podia vencer com seus carros, eles
eram bons. As vitórias de Hall começaram a construir sua fama de jovem piloto
promissor no cenário do automobilismo esportivo americano.
No Grande Prêmio dos Estados Unidos de 1960, em
Riverside, Hall fez um surpreendente quinto lugar pilotando seu próprio
Lotus-Climax ultrapassado, até que o diferencial começou a dar defeito a
algumas voltas do final. A revista Autoweek (na época chamada de Competition
Press) escreveu sobre Hall: “Parece que o Texas tem outro piloto de calibre
internacional, pronto para ocupar o lugar de Carrol Shelby (que havia anunciado
sua aposentadoria)”.
Chaparral 1, 1962 |
Com este destaque, os construtores de carros Troutman e Barnes buscavam apoio financeiro para fazer um novo carro de corridas de dois lugares, com motor dianteiro central, e abordaram Hall para apoiar este projeto. Surgiu então o Chaparral 1, que logo de cara venceu o Road America 500 e outras corridas. Hall logo começou a pensar em como aperfeiçoá-lo e assumir totalmente o projeto como seu.
Chaparral 2A |
O Chaparral 2, que teve versões posteriores, ficou denominado como 2A, e tinha um chassi quatro vezes mais rígido do que os carros esportivos da época. Jim Hall também é conhecido pelas inovações que incorporou às versões do seu Chaparral, como os aerofólios, fixos e móveis; radiadores laterais, transmissões semiautomáticas e estruturas de chassi monocoque feitas de compósitos, além de seus princípios de rigidez torcional que aumentavam a performance dos carros que tinham chassis assim construídos.
Diversas inovações que ele empreendeu nos seus carros
hoje fazem parte de praticamente todos os carros de competição, sejam Formula
Um, Indy, Le Mans, NHRA, NASCAR, WRC, e os carros de rua de alta performance
levam seus conceitos na prática.
Seus rivais ficavam perplexos com os câmbios semiautomáticos
que ele instalava nos seus carros. Hall seguia seu princípio de que “manter as
duas mãos no volante sempre nos concentrando inteiramente na posição exata do
carro numa curva ajuda a saber quando e quanto frear. Além disso, o mecanismo
de mudança das marchas sempre vai operar da mesma maneira, evitando os erros
que podem causar uma quebra, ou forçar o equipamento e perder tempo”.
O Chaparral 2A, depois de finalizado, pilotado por Hall,
correu no Grande Prêmio do Los Angeles Times de 1963, em Riverside, conquistando
a Pole Position na largada. A prova contava com nomes internacionais, como Jim
Clark, John Surtees, Graham Hill, e futuras lendas americanas, como Dan Gurney,
A. J. Foyt, Roger Penske Lloyd Ruby, Parnelli Jones, Roger Ward e Richie
Ginther. Hall liderou a prova com folga, até que uma falha elétrica o tirou da
prova. No entanto, na mesma prova, na temporada de 1965, O Chaparral 2A venceu
nas mãos de Hap Sharp.
Em 1965, os carros de Jim Hal competiram em 22 das maiores corridas com adversários internacionais, conquistando 16 vitórias e 16 melhores voltas. Chaparral também venceu o campeonato USRRC de 1964, e o título de “Força Livre” de 1965. Na etapa das 12 Horas de Sebring, o 2A conquistou a pole com mais de 9 segundos à frente da Ferrari pilotada por John Surtees, e poucos esperavam que o carro suportasse as 12 horas de prova contra os famosos Ferrari e Ford, mas no final o 2A recebeu a bandeira quadriculada em primeiro lugar!
Chaparral 2E |
O Chaparral 2E trouxe a instalação dos radiadores frontais agora posicionados logo à frente e acima das rodas traseiras, com enormes tomadas de ar. Assim, o nariz do carro ficou mais baixo e afilado, e funcionava como se fosse um aerofólio que criava downforce na dianteira, colando o carro na pista. Também, o câmbio semiautomático eliminava o pedal da embreagem, assim, o pedal esquerdo comandava o ângulo do aerofólio traseiro, quando acionado, reduzia o arrasto nas retas, para conseguir maior velocidade, e antes das curvas, o piloto fazia retornar à posição de maior downforce, para aumentar a aderência e conseguir maior velocidade nas curvas.
Phil Hill, que pilotou o 2E comentou: “Com a asa, você
podia frear depois de todo mundo, você poderia superar todo mundo, [e] você
poderia passar por baixo deles. Realmente parecia que tinha uma aderência
estranha.” Infelizmente, o 2E não ficou pronto a tempo para a temporada de 1966,
correndo somente depois da sétima etapa da Can-Am, e venceu apenas em Laguna
Seca, com Hill e Hal fazendo a dobradinha no pódio.
Chaparral 2F |
O 2D em Nürburgring, 1966 |
Neste mesmo ano, Hall converteu dois de seus chassis mais antigos para correr no Campeonato Mundial de Carros Esporte, nas corridas de longa duração. O Chaparral 2D, assim preparado, venceu os 1.000 km de Nurburgring, e o Chaparral 2F, com linhas mais angulares, mas com nariz e asa semelhantes ao 2E venceu o BOAC International 500 em Brands Hatch
Chaparral 2G - Las Vegas, 1968 |
Em 1968, Hall tinha o Chaparral 2G, um desenvolvimento do 2E, e correndo na última corrida da temporada da Can-Am em Las Vegas, sofreu um acidente em que bateu na traseira do McLaren de Lothar Motschenbacher e seu carro foi lançado para fora da pista. Hall sobreviveu, mas seus joelhos ficaram seriamente comprometidos, levando seis meses para voltar a andar. Ele tentou retomar as corridas na temporada de 1970, mas reconheceu que não conseguia manter o ritmo que tinha antes, encerrando aí sua carreira de piloto.
Jim Hall colidindo na trasewira do Mclaren de Lothar Motschenbacher |
Para a temporada de 1970, Hall apresentou um dos seus
carros mais notáveis: o Chaparral 2J, o primeiro carro de corrida com força
descendente constante do mundo: ele tinha um motor de snowmobile que acionava
dois ventiladores que sugavam o ar da parte inferior do carro,
independentemente da velocidade; o geravam um downforce de cerca de 1.25 a 1.5
g, praticamente “colando” o carro nas curvas. Os aerofólios ou os carros de
efeito-solo geram downforce que varia conforme a velocidade. O 2J tinha saias
laterais de Lexan para aumentar o vácuo criado pelos ventiladores, e somente
oito anos depois, a Brabham BT46B de Gordon Murray copiou o mesmo princípio do
2J; vencendo a única corrida que participou, o GP da Suécia de 1978, provando
ser mais eficiente do que o Lotus 79 com efeito-solo de Colin Chapman, que
venceu o Campeonato de 1978. Em 1970, na etapa da Can-Am em Riverside, o
Chaparral 2J qualificou-se mais de dois segundos à frente do McLaren M8D, que
venceu o campeonato daquele ano.
Os ventiladores do Chaparral 2G |
Embora a SCCA tivesse declarado que o 2J era um carro
homologado para a Can-Am, outras equipes fizeram um lobby contra ele, e
persuadiram a FIA a bani-lo. Desgostoso, Jim Hall acabou desistindo das
corridas, mas deixou sua marca inovadora colocando em prática seus conceitos de
engenharia e aerodinâmica que o tempo se encarregou de consagrar.
Anos mais tarde, Denny Hulme, o maior campeão de todos
os temos da Can-Am, comentou: “Foi a coisa mais estúpida que já fizemos e foi o
primeiro grande passo que demos para acabar com a maior série de corridas já
concebida”.
Chaparral 2H |
John Surtees no Chaparral 2H |
O Chaparral 2H foi o que tinha o design mais aerodinâmico, porque Hall percebeu que o aumento do downforce gerava um arrasto maior, então o 2H foi o desenvolvimento do 2G para reduzir o arrasto ao máximo. Era esguio, mais estreito e baixo, e Surtees, chamado para substituir Hall devido ao acidente, não conseguiu tirar o máximo do carro com todo o potencial de baixo arrasto que tinha.
Surtees reclamou que não conseguia enxergar bem a
pista, e exigiu um redesenho que arruinou sua aerodinâmica, colocando um
spoiler traseiro que anulou toda a vantagem do desenho esguio e estreito. Com a
enorme potência que os V8 da Chevrolet produziam, o downforce nas curvas era
mais importante do que a velocidade nas retas, portanto, se o 2H tivesse
mantido o formato básico, mas conseguisse mais pressão aerodinâmica e tivesse
uma bitola mais larga, provavelmente o carro teria sido muito competitivo;
porém, a construção do chassi monocoque de fibra-de-vidro tornava quase
impossível fazer tais alterações no chassi.
Jim Hall, chefe de equipe
Depois de ficar afastado das pistas por vários anos,
Carl Haas, importador da Lola, convidou Jim Hall para ser sócio na Haas-Hall
Racing, correndo na Indy. O projeto não vingou, e eles montaram a equipe para
correr na Fórmula 5000 da SCCA.
A Haas-Hall Racing se tornou imbatível a partir de
1974, com três títulos conquistados com Brian Redman ao volante, até a série
evoluir para a segunda geração da Can-Am, e até 1980, a Haas-Hall venceu mais
quatro campeonatos, totalizando sete títulos consecutivos.
Próximo do final da temporada de 1977, o projeto da
Indy se viabilizou, e Haas-Hall obteve resultados imediatos em 1978, sendo a
única equipe a conseguir a Tríplice Coroa, com vitórias na Indy 500, Pocono 500
e California 500. Depois da temporada de 1981, Hall continuou chefiando sua
equipe com chassis comprados da Lola e Reynard, obtendo um total de 13 vitórias
e dois campeonatos, com vários pilotos ao volante de seus carros, incluindo
John Andretti e o brasileiro Gil de Ferran (falecido agora em janeiro de 2024).
Hall retirou-se do esporte definitivamente após a temporada de 1996, fechando
uma carreira de sucesso como piloto, construtor e chefe de equipe.
O Chaparral 2K da Formula Indy, , que foi apelidado de "Yellow Submarine" |
Vale citar a homenagem que Gil de Ferran fez a Jim
Hall, na etapa de encerramento da American Le Mans Series de 2009, pintando seu
Acura ARX-02a com o visual dos Chaparral, carregando o número 66 que
identificava Hall ao volante. Gil de Ferran colocou o carro na pole e venceu a
corrida, com Simon Pagenaud como copiloto.
Da minha coleção
Chaparral 2D, Hot Wheels 1:64 |
Da Série 2003 First Editions 9/42 |
O Chaparral 2D da hot Wheels é da Série 2003 First Editions, e reproduz o carro que correu nos 1000 km de Nurburgring, em 1966, pilotado por Jo Bonnier e Phil Hill com o número 7, batendo as Ferrari, Porsche e Ford GT40. O modelo é um Mainline, com base e rodas de plástico. Teve outras edições em 2007, 2008 e 2012, mas depois disso não constou em nenhuma Série.
Referências:
https://en.wikipedia.org/wiki/Jim_Hall_(racing_driver)
https://en.wikipedia.org/wiki/Chaparral_Cars