Alejandro DeTomaso era um piloto de corridas e industrial argentino que emigrou para a Itália em 1955. Vindo de uma família de políticos proeminentes, seu avô paterno fugiu de volta para a Itália (de onde havia imigrado com vinte anos de idade) depois de ser implicado em uma conspiração para derrubar o presidente argentino Juan Perón. Alejandro instalou-se em Modena, começando sua carreira na indústria automobilística correndo com um Maserati e OSCA. Casou-se com Isabelle Haskell, uma cliente da Ferrari que também corria de automóveis nos Estados Unidos.
Em sua breve carreira
esportiva, conseguiu algum sucesso como piloto. O nono lugar no GP da Argentina
de 1957 na Scuderia Centro Sud Ferrari 500/625 permaneceria o seu maior
sucesso.
Alejandro De Tomaso
Em 1959 ele fundou a
DeTomaso Automobili SpA, inicialmente para construir protótipos e carros de
corrida. Com a ambição de promover a DeTomaso Automobili SpA por meio do
automobilismo, Giampaolo Dallara foi contratado para projetar um carro de F-2
para 1969. Isto foi orquestrado por um jovem dono de equipe ambicioso chamado
Frank Williams os pilotos foram Jonathan Williams, Jacky Ickx e Piers Courage.
Williams e DeTomaso então fizeram um acordo para entrar na F-1 em 1970 com
Courage, os motores Cosworth e o chassi projetado por Dallara. Courage terminou
em terceiro na prova extra-campeonato International Trophy e estava em sétimo
no GP da Holanda, onde sofreu um acidente fatal. A equipe continuou com os
pilotos Brian Redman e Tim Schenken, mas encerrou as atividades no final do
ano. De Tomaso foi então se concentrar no negócio dos carros de estrada.
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O Chassi do Mangusta |
Voltando-se para o mercado de carros esportivos de alta performance, os carros que projetou e construiu usavam um chassi cuja espinha dorsal de alumínio se tornou sua marca registrada. Os modelos eram cupês de motor central: o Vallelunga, seu primeiro carro de rua, de 1964, o Mangusta e o Pantera; o Deauville, um sedã quatro portas lembrando o Jaguar XJ6, e o Longchamp, versão do Deauville com duas portas, que mais tarde se tornou a base para o Maserati Kyalami. Criou também o Guará, um esportivo de duas portas com carroceria em Fibra de Carbono.
De Tomaso Mangusta protótipo, 1966
No início dos anos sessenta, Alejandro estava lutando para fazer a mudança de construtor de carros de corrida para o de fabricante de carros esporte para as estradas, produzindo protótipos que sempre pareciam ter um grande potencial, mas sem futuro. Assim, ninguém deu muita atenção quando revelou um cupê com motor central Ford em novembro de 1966. No entanto, este carro, o DeTomaso Mangusta, se tornaria seu primeiro modelo de produção em série, lançando assim as bases para o futuro império de DeTomaso.
O De Tomaso Mangusta
("fuinha" em italiano, ou “mongoose” em inglês) era um cupê de dois
lugares compacto, apresentando o famoso chassi em "espinha dorsal"
com suspensão independente com braços em "A" e um motor de 1.5 litros
de quatro cilindros da Ford britânica. Alejandro esperava vender cópias ou,
pelo menos, despertar o interesse de uma grande montadora e vender os direitos
de produção, mas nada aconteceu.
Mas, em seguida, houve um ponto de viragem. Em 1965, De Tomaso convenceu o jovem Giorgio Giugiaro, formado pela Bertone, mas trabalhando na casa de Ghia, para projetar uma carroceria adequada para o chassi Vallelunga. Ele atraiu a atenção e Ghia construiu alguns protótipos, apenas para descobrir que a falta de rigidez do chassi em torno do motor criava problemas de vibração insolúveis. Isso deixou a Vallelunga natimorto, mas Alejandro ficou com um contato valioso.
Não demorou muito tempo para este contato vingar. Determinado a fazer o seu trabalho de chassis, De Tomaso decidiu tentar uma versão ampliada com um V-8 de bloco pequeno da Ford americana. O especialista em automobilismo americano Pete Brock projetou uma carroceria aberta para ele com um olho para as 12 Horas de Sebring de 1966, mas o carro nunca chegou à Florida. Mais uma vez frustrado, mas ainda destemido, Alejandro virou-se para Ghia para um construir um "show-car" baseado neste chassi.
Enquanto isso, Giotto
Bizzarrini (cujo nome tinha conexão com a Ferrari, Iso, e Lamborghini) havia
acabado de projetar um chassi com motor central de sua autoria, para o qual
Giugiaro havia criado carroçarias bem torneadas de simplicidade elegante. Esta
proposta, a P538 "Bizzarrini" nunca foi construída, mas o estilo de
Giugiaro foi aplicado ao protótipo de De Tomaso, essencialmente, o De Tomaso
Mangusta.
P
rimeiro exibido em 1966 no Turin Show como o Ghia Mangusta, o resultado foi impressionante: baixo, largo e perversamente elegante, sexy e sofisticado. Felizmente, sequer uma linha foi alterada para a produção. Os destaques incluem uma grade simples com dois ou quatro faróis (dependendo do país de venda), um capô muito amplo, as grandes rodas de liga leve, pára-lamas alargados de forma agressiva, e uma traseira fastback com uma espinha dorsal distintiva em que as tampas de acesso do motor foram articuladas ao estilo Gullwing.
Desenhado por Giugiaro
em 1966, enquanto na Ghia, o De Tomaso Mangusta foi um marco no design futurista
e um exemplo de coisas que virão. O carro foi baseado no 1965 De Tomaso Sports e
tinha 4,7 litros no motor Ford. O acesso ao motor era feito através de dois
grandes painéis na parte de trás do carro, centralmente articuladas. Apesar da
abertura diferenciada, o modelo foi criticado devido à dificuldade de acesso
aos componentes mecânicos.
O nome refere-se a um
mamífero carnívoro nativo da África, vivendo em locais desde florestas
tropicais a desertos. Algumas espécies são conhecidas pela sua facilidade em
matar cobras venenosas, de certa forma, imunes ao veneno das mais conhecidas
serpentes, tais como a Naja africana. Comenta-se também, que o nome vinha de
algumas conversas que DeTomaso teve com Carrol Shelby, para substituir o Cobra
com um carro construído por ele; mas com o envolvimento de Shelby no programa
do GT40, nenhum acordo foi assinado. Mas a origem dos motores Ford pode ter
sido a herança que ficou destas conversas iniciais, e o nome Mangusta pode ter
sido uma alusão a que os Mangustos (Mongoose em inglês) são matadores de cobras,
sendo imunes ao veneno das Najas.
O chassi do Mangusta
foi um exemplo clássico da configuração de motor central traseiro. O potente
motor Ford 289 de polegadas cúbicas, 306 HP (versão americana) e o 302 com 221
HP (para a Europa) preparado para o novo Shelby-Mustang GT-350, foi posicionado
longitudinalmente atrás de um bastante apertado cockpit de dois lugares e à
frente da linha central da roda posterior, acoplado a uma transmissão ZF de
cinco velocidades transaxle do tipo encontrado em carros como o Ford GT40. O
chassis ainda era backbone de aço estampado de De Tomaso, com seção em
caixa e superestruturas tubulares que sustentavam o motor/câmbio, suspensões,
direção e cockpit. Era equipado com freios a disco Girling nas quatro rodas;
fazia de 0-60 em 6,3 segundos, o quarto-de-milha em 15 segundos a 94 mph, com
máxima de 155 mph.
Alguns dizem que este projeto foi influenciado pelo carro de Mickey Thompson da Indy 500 de 1964; outros dizem que Alejandro apenas imitou o chassi do Lotus Elan de Colin Chapman. Independentemente disso, a plataforma de backbone do DeTomaso Mangusta era muito flexível para o musculoso V-8 americano, e a geometria da suspensão irregular resultava em reações imprevisíveis do carro. Um ajuste na distribuição de pesos na traseira - não menos do que 68 por cento - quase ajudou.
Mais tarde, por
sugestão do consultor Gian Paolo Dallara, um talentoso engenheiro da
Lamborghini, DeTomaso tentou compensar ajustando pneus traseiros muito mais
largos (225-seção contra 185 da frente), mas não foi o suficiente. A altura
livre do solo era muito limitada e o centro de rolagem baixo, mas a flexão do
chassi dava ao Mangusta uma mente própria: às vezes subesterçante, às vezes
sobresterçante. A consequência era que dirigir em alta velocidade poderia ser
um negócio complicado, quando em curvas, e especialmente em superfícies
escorregadias.
Não que isso fosse uma grande surpresa, para o que era essencialmente um carro de corridas desafinado. Mas trazia à tona outro ponto fraco: a falta de praticidade. Mesmo para um GT de alto desempenho, que não tinha espaço suficiente para passageiros ou bagagem, e uma visão para o exterior difícil, especialmente para a ré. O que o Mangusta tinha em abundância era a velocidade, e em grande quantidade: De Tomaso alegava que a máxima batia nos 155 mph (250 km/h), e argumentava que "mais lindo do que o belo design de Giugiaro, e graças ao conjunto motor-transmissão de baixo custo, era o preço: US$ 11.500".
Imperfeito que fosse, o De Tomaso Mangusta era um carro que Alejandro poderia vender. Sua esposa deu-lhe os meios: o irmão dela era diretor na empresa americana da Rowan Controls, e ela o convenceu a não só adquirir a fábrica DeTomaso, mas a Ghia também. Alejandro logo teve 300 encomendas em mãos, e o DeTomaso Mangusta entrou em produção durante 1967. Em 1971, outros 100 haviam sido vendidos na Europa. DeTomaso estava em seu caminho, por fim.
Durante os anos 1960 e
1970, De Tomaso formou sua holding, adquirindo diversas empresas, como os
estúdios Ghia e Vignale; ganhou controle sobre as companhias de motos Benelli e
as Moto Guzzi; a Innocenti (fundada para construir os Minis sob licença da British
Motor Corporation na Itália), e em 1975, celebrou um acordo com a Maserati, o
que o salvou da falência com assistência do governo italiano. Com o tempo, porém,
ele vendeu suas operações; a Ghia para a Ford, em 1973, a Innocenti e a
Maserati para a FIAT em 1993. De Tomaso sofreu um enfarte em 1993, e o
dia-a-dia da empresa passou a ser conduzido pelo seu filho Santiago.
Alejandro De Tomaso faleceu na Itália, em 2003. E a companhia foi assumida por seu filho Santiago sob as orientações de Isabelle, mulher de Alejandro.
DA MINHA COLEÇÃO
O Mangusta entrou na minha coleção em 1968/69, uma miniatura da CORGI, na escala 1:43, explorando justamente o chassi com trave central, que se separa do corpo do carro. As suspensões tem um pequeno curso, e traz o motor V8 de 4,7 litros da Ford americana, com os oito canecos bem detalhados.
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De Tomaso Mangusta, CORGI Toys, 1:43 |
Esta mini não tem
partes móveis, uma pena que não abre o capô do motor no estilo “gull wing”; mas
reproduz bem o design de Giorgetto Giugiaro, enquanto trabalhava no Estudio
Ghia.
De Tomaso Mangusta, CORGI Juniors, 1:64
O outro Mangusta é da CORGI Juniors, na escala 1:64, bem menos detalhada, e uma cor que não faz jus ao belo design do carro. Pelo menos traz rodas especiais e pneus de borracha.
REFERÊNCIAS
http://auto.howstuffworks.com/detomaso-sports-cars1.htm