Vanishing Point é um filme que nos
fascina exatamente por aquilo que não nos diz explicitamente. Talvez esta seja
a explicação do porque o público se sinta atraído por ele.
Kowalski
(Barry Newman) é um motorista de entrega de carros em Denver, Colorado. Sabemos
dele apenas isso, nunca seu primeiro nome é citado. Veterano da guerra do
Vietnã com Medalha de Honra, ex-piloto de corridas e de motocicleta, também é
ex-policial, expulso em retaliação ao prevenir seu parceiro de
estuprar uma jovem mulher. Assombrado pela morte de sua namorada Vera, num
acidente de surf, Kowalski agora vive de adrenalina.
Numa
sexta-feira, tem a tarefa de entregar um Dodge Challenger R/T 440 Magnum em São
Francisco na segunda, mas amarra com seu chefe uma aposta que entregaria o
veículo em menos de 15 horas. Por que ele fez isso não fica explicado. Talvez
porque queremos fazer algumas coisas sem ter de dar explicação nenhuma do
porque queremos fazê-las.
Através
do Colorado, Utah e Nevada, perseguido por policiais em motocicletas, carros e até por um helicóptero,
tirando rachas com outros motoristas e violando todas as leis de trânsito,
Kowalski passa a ser ajudado por um Disc-Jockey cego (Super Soul, papel de
Clevon Little) que ouve a freqüência da polícia e o incentiva a fugir dos
bloqueios no caminho. Super Soul o chama de "último herói americano",
e Kowalski vira notícia nos meios de comunicação, e as pessoas começam a se
reunir na estação de rádio KOW (de onde Super Soul transmite) para oferecer seu
apoio.
Super Soul |
Super
Soul joga no ar o primeiro material gravado por Kim Carnes, também Rita
Coolidge a David Gates (do Bread) aparecem na tela, e Big Mama Thornton canta
algumas de suas músicas estilo Gospel.
Fugindo
para o deserto, encontra todo tipo de pessoas, que ora o ajudam, ora o
prejudicam. Kowalski suspeita que a transmissão de Super Soul esteja sendo
monitorada para capturá-lo, mas consegue ultrapassar um bloqueio simulando ser
um carro de patrulha da polícia.
Mais
do que um Disc-Jockey, Super Soul é como um anjo da guarda, que sabe exatamente
onde Kowalski está, e o que está fazendo a cada momento (apesar de ser cego).
Alguns
argumentam que ele representa o “último homem livre da América”; por isso ele
não tem um nome particular. Ele encontra hippies e motoqueiros e outras pessoas
marginalizadas pela sociedade.
Ele é um anti-herói, que dirige por puro amor à
velocidade e busca reafirmar sua liberdade pessoal. A polícia está caçando-o porquê
a América está mudando e a liberdade está se acabando. Para um filme realizado
em 1971, após as convulsões sociais que a década de 1960 trouxe, até faz
sentido.
A
tentativa de calar Super Soul com pedradas na sua estação de rádio seria uma
metáfora bíblica para castigar os que violam a lei.
Perseguido pela Polícia |
Kowalski
finalmente chega à Califórnia às 19:12 do sábado, mas a pequena cidade de Cisco
será o seu destino final. Richard Sarafian, o Diretor do filme, disse que
queria que Kowalski parecesse estar em outro mundo, pois momentos antes do
impacto na barricada de Bulldozers, uma luz ilumina seu rosto, e ele sorri.
Muitos interpretam isso como o arrebatamento que os evangélicos consideram como a salvação para ir ao céu. Uma contradição, pois os cristãos não aceitam o
suicídio para atingir o céu.
Barry
Newman especula que o filme inteiro é um ensaio sobre o existencialismo, e que
Kowalski dá a própria vida para que ele possa definir a sua própria. A pequena
fenda na junção entre as lâminas dos tratores era um ponto de fuga (tradução de ‘vanishing
point’) para Kowalski,
e sua reafirmação de que não importa o quão longe ele chegue, ou quantos o
persigam, ninguém pode tirar sua liberdade.
Os
seres humanos são inerentemente atraídos por questões psicológicas profundas,
porque lutamos para entender a nós mesmos, e queremos desesperadamente saber por
que outros fazem estes tipos de escolhas emocionais — sendo o suicídio o ato mais dramático que
um ser humano pode realizar.
Os
quilômetros de asfalto, deserto, o forte empurrão nas costas ao acelerar o
Challenger fugindo da polícia, celebram a jornada selvagem para lugar nenhum.
Quinze horas e 1.500 milhas depois, Kowalski segue sua corrida contra o
destino, rugindo com o poder bruto do V8 de 440 polegadas cúbicas do Challenger
branco.
Ficha
do filme:
Vanishing
Point (no Brasil: Corrida Contra o Destino, 1971)
Direção:
Richard C. Sarafian
Elenco:
Barry Newman, Cleavon Little (Super Soul), Dean Jagger, Gilda Texter (garota da
motocicleta), Robert Donner (Policial)
Roteiro:
Malcolm Hart, Guillermo Cabrera Infante
Música:
Pete Carpenter, Mike Post, Kim Carnes
Em
1997, Vanishing Point foi refilmado, com Viggo Mortensen substituindo Barry
Newman e Jason Priestly no lugar de Clevon Little. Ao contrário do original,
Kowalski tem um nome completo, além de deixar claro para onde está indo (sua
esposa está grávida). Super Soul também não tem nenhuma habilidade sobrenatural
para ver Kowalski, e gasta o filme jorrando impropérios anti-governistas no
rádio enquanto discute com os perseguidores sobre o que está motivando
Kowalski.
Hollywood perdeu uma boa chance de refazer o
carisma de um filme intrigante, explicando demais o que não precisa ter
explicação. Vanishing Point é uma prova de que aquilo que não é dito, ainda é
mais interessante do que o que se fala claramente.
DODGE CHALLENGER R/T 440 SIX-PACK
MAGNUM
Em 1970, a
Chrysler necessitava desafiar o Cougar e o Mustang, da Ford; e o Camaro da
Chevrolet. Com base na plataforma E, a mesma do Plymouth Barracuda, a Chrysler
apresentou no outono de 1969 o Dodge Challenger R/T (de Road and Track),
equipado com o V8 de 6,4 litros e 290 hp; sendo opcionalmente disponível o R/T
Magnum com um V8 de sete litros Hemi V8 com 425 hp de potência.
Dodge Challenger R/T 440 |
Desenhado
por Carl Cameron, que também havia projetado o Charger de 1966. O Challenger
foi bem recebido pelo público, vendendo 76.935 unidades em 1970. Apesar disso,
o segmento dos "pony-cars" (carros compactos com motores potentes) estava em franco declínio, e vendeu apenas
27.800 carros em 1973. Em 1974, último ano-modelo com o design desta geração, o
Challenger fechou com uma produção de 165.437 unidades no total, entre 1969 e
1974.
O motor
básico era um seis cilindros em linha, com 225 polegadas cúbicas (3,7 litros),
com opção pelo V8 de 318 polegadas cúbicas (5,2 litros) com 230 hp. Para 1970, incluíam-se
motores V8 opcionais de 340 e 383 polegadas cúbicas, assim como um 426 e 440
(7.0 e 7,2 litros), todos com câmbio manual de três velocidades, exceto para o
383, que vinha com o TorqueFlite automático. Uma caixa de quatro marchas era
opcional para todos os motores, exceto para o seis em linha e o 383.
Os modelos
denominados R/T eram de maior performance, apelidados de "Magnum",
todos com V8: o 383 com 300 hp; o 440 com 375 hp; o 440 Six-Pack com 390 hp e o
426 Hemi com 425 hp. Os modelos R/T eram disponíveis tanto com o teto hardtop
como conversíveis. Alguns modelos tinham uma abertura no capô que ficou
conhecida como "shake hood scoop" onde se encaixava o topo da caixa
de filtro de ar, e quando se acelerava o motor era visível a vibração e o
efeito giroscópico do motor.
O Challenger com o capô "Shaker hood" |
Depois de sua
aparição no filme "Vanishing Point", o carro se tornou instantaneamente
"cult". Richard Zanuck, executivo da 20th Century Fox, escolheu usar
o novo Challenger como uma forma de retribuir a Chrysler por seus anos de
locação de veículos para as produções do estúdio, por apenas um dólar por dia.
Carey
Loftin, coordenador de dublês do filme Vanishing Point e um veterano de grandes
filmes de automóveis como Bullitt e Operação França, disse que também preferiu
usar os Challengers por causa de sua potência e suspensão com barras de torção.
Loftin descreveu o Challenger como um "bom e resistente carro para
correr".
Estima-se
que cinco carros foram empregados nas filmagens, quatro deles 440 Magnum e um
383 automático. Todos foram destruídos durante as filmagens, menos um, o carro
dublê número dois, usado pela equipe de produção para as fotos estáticas ou com
Newman ao volante.
Foi
escolhida a cor "Alpine White" para ajudar a visualização nas tomadas
do deserto de Nevada. Nem todos eram brancos, alguns tiveram de ser pintados.
Quando Kowalski troca um pneu no deserto de Nevada, um pouco da cor original
pode ser vista na lataria. Todos os carros receberam as placas OA-5599 do
Colorado.
EM ESCALA
O
Dodge Challenger R/T 440 é reproduzido pela ERTL (hoje Racing Champions ERTL Company) na escala 1:18, bem detalhado, com abertura de portas e capô, motor e
interior detalhados, na cor Alpine White. De uma série limitada de 4.500
exemplares, é bem valorizada pelos colecionadores pela pequena quantidade
produzida. A ERTL também tem a “Dirt Version”, reproduzindo o carro no final do
filme, quando já está bem sujo com a quilometragem rodada. A Highway 61 também
produz o modelo do filme, mas não informa se a quantidade é limitada. Outra
empresa que tem o Challenger na linha é a Greenlight; todos tem um bom
acabamento e detalhes. De todo modo, assim como o filme se tornou “cult”, os
modelos em escala “acompanham” este interesse do público. Um modelo comum do
Challenger, pode ser adquirido por valores entre R$ 100,00 e R$ 170,00 (US$ 27
a 46) em sites como o eBay ou Mercado Livre, ao passo que o Dodge Challenger
branco do filme é ofertado por valores entre R$ 700,00 e R$ 900,00 (US$ 192 a 247),
confirmando que o carisma do filme extrapola as telas de cinema e chega ao
modelo que representa a liberdade que Kowalski buscava velozmente.
Na escala 1:64. tenho o Challenger da Greenlight, com bom acabamento para o formato, com destaque para as rodas, onde muitos fabricantes pecam na fidelidade em relação ao original.
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