quarta-feira, 23 de março de 2016

Carros e Filmes: Vanishing Point (1971)

Das centenas de filmes produzidos a cada temporada, todos querem ser um sucesso de público, mas alguns despertam um fascínio inexplicável, que  se tornam mais do que um sucesso, o transformam num Cult, mantendo esta atração através dos anos.
Vanishing Point é um filme que nos fascina exatamente por aquilo que não nos diz explicitamente. Talvez esta seja a explicação do porque o público se sinta atraído por ele.
Kowalski (Barry Newman) é um motorista de entrega de carros em Denver, Colorado. Sabemos dele apenas isso, nunca seu primeiro nome é citado. Veterano da guerra do Vietnã com Medalha de Honra, ex-piloto de corridas e de motocicleta, também é ex-policial, expulso em retaliação ao prevenir seu parceiro de estuprar uma jovem mulher. Assombrado pela morte de sua namorada Vera, num acidente de surf, Kowalski agora vive de adrenalina.
Numa sexta-feira, tem a tarefa de entregar um Dodge Challenger R/T 440 Magnum em São Francisco na segunda, mas amarra com seu chefe uma aposta que entregaria o veículo em menos de 15 horas. Por que ele fez isso não fica explicado. Talvez porque queremos fazer algumas coisas sem ter de dar explicação nenhuma do porque queremos fazê-las.
Através do Colorado, Utah e Nevada, perseguido por policiais em motocicletas, carros e até por um helicóptero, tirando rachas com outros motoristas e violando todas as leis de trânsito, Kowalski passa a ser ajudado por um Disc-Jockey cego (Super Soul, papel de Clevon Little) que ouve a freqüência da polícia e o incentiva a fugir dos bloqueios no caminho. Super Soul o chama de "último herói americano", e Kowalski vira notícia nos meios de comunicação, e as pessoas começam a se reunir na estação de rádio KOW (de onde Super Soul transmite) para oferecer seu apoio.
Super Soul
Super Soul joga no ar o primeiro material gravado por Kim Carnes, também Rita Coolidge a David Gates (do Bread) aparecem na tela, e Big Mama Thornton canta algumas de suas músicas estilo Gospel.
Fugindo para o deserto, encontra todo tipo de pessoas, que ora o ajudam, ora o prejudicam. Kowalski suspeita que a transmissão de Super Soul esteja sendo monitorada para capturá-lo, mas consegue ultrapassar um bloqueio simulando ser um carro de patrulha da polícia.
Mais do que um Disc-Jockey, Super Soul é como um anjo da guarda, que sabe exatamente onde Kowalski está, e o que está fazendo a cada momento (apesar de ser cego).
Alguns argumentam que ele representa o “último homem livre da América”; por isso ele não tem um nome particular. Ele encontra hippies e motoqueiros e outras pessoas marginalizadas pela sociedade. 
Ele é um anti-herói, que dirige por puro amor à velocidade e busca reafirmar sua liberdade pessoal. A polícia está caçando-o porquê a América está mudando e a liberdade está se acabando. Para um filme realizado em 1971, após as convulsões sociais que a década de 1960 trouxe, até faz sentido.
A tentativa de calar Super Soul com pedradas na sua estação de rádio seria uma metáfora bíblica para castigar os que violam a lei.
Perseguido pela Polícia
Kowalski finalmente chega à Califórnia às 19:12 do sábado, mas a pequena cidade de Cisco será o seu destino final. Richard Sarafian, o Diretor do filme, disse que queria que Kowalski parecesse estar em outro mundo, pois momentos antes do impacto na barricada de Bulldozers, uma luz ilumina seu rosto, e ele sorri. Muitos interpretam isso como o arrebatamento que os evangélicos consideram como a salvação para ir ao céu. Uma contradição, pois os cristãos não aceitam o suicídio para atingir o céu.
Barry Newman especula que o filme inteiro é um ensaio sobre o existencialismo, e que Kowalski dá a própria vida para que ele possa definir a sua própria. A pequena fenda na junção entre as lâminas dos tratores era um ponto de fuga (tradução de ‘vanishing point’)  para Kowalski, e sua reafirmação de que não importa o quão longe ele chegue, ou quantos o persigam, ninguém pode tirar sua liberdade.
Os seres humanos são inerentemente atraídos por questões psicológicas profundas, porque lutamos para entender a nós mesmos, e queremos desesperadamente saber por que outros fazem estes tipos de escolhas emocionais sendo o suicídio o ato mais dramático que um ser humano pode realizar.
Os quilômetros de asfalto, deserto, o forte empurrão nas costas ao acelerar o Challenger fugindo da polícia, celebram a jornada selvagem para lugar nenhum. Quinze horas e 1.500 milhas depois, Kowalski segue sua corrida contra o destino, rugindo com o poder bruto do V8 de 440 polegadas cúbicas do Challenger branco.

Ficha do filme:
Vanishing Point (no Brasil: Corrida Contra o Destino, 1971)
Direção: Richard C. Sarafian
Elenco: Barry Newman, Cleavon Little (Super Soul), Dean Jagger, Gilda Texter (garota da motocicleta), Robert Donner (Policial)
Roteiro: Malcolm Hart, Guillermo Cabrera Infante
Música: Pete Carpenter, Mike Post, Kim Carnes

Em 1997, Vanishing Point foi refilmado, com Viggo Mortensen substituindo Barry Newman e Jason Priestly no lugar de Clevon Little. Ao contrário do original, Kowalski tem um nome completo, além de deixar claro para onde está indo (sua esposa está grávida). Super Soul também não tem nenhuma habilidade sobrenatural para ver Kowalski, e gasta o filme jorrando impropérios anti-governistas no rádio enquanto discute com os perseguidores sobre o que está motivando Kowalski.
Hollywood perdeu uma boa chance de refazer o carisma de um filme intrigante, explicando demais o que não precisa ter explicação. Vanishing Point é uma prova de que aquilo que não é dito, ainda é mais interessante do que o que se fala claramente.

DODGE CHALLENGER R/T 440 SIX-PACK MAGNUM
Em 1970, a Chrysler necessitava desafiar o Cougar e o Mustang, da Ford; e o Camaro da Chevrolet. Com base na plataforma E, a mesma do Plymouth Barracuda, a Chrysler apresentou no outono de 1969 o Dodge Challenger R/T (de Road and Track), equipado com o V8 de 6,4 litros e 290 hp; sendo opcionalmente disponível o R/T Magnum com um V8 de sete litros Hemi V8 com 425 hp de potência.
Dodge Challenger R/T 440
Desenhado por Carl Cameron, que também havia projetado o Charger de 1966. O Challenger foi bem recebido pelo público, vendendo 76.935 unidades em 1970. Apesar disso, o segmento dos "pony-cars" (carros compactos com motores potentes) estava em franco declínio, e vendeu apenas 27.800 carros em 1973. Em 1974, último ano-modelo com o design desta geração, o Challenger fechou com uma produção de 165.437 unidades no total, entre 1969 e 1974.
O motor básico era um seis cilindros em linha, com 225 polegadas cúbicas (3,7 litros), com opção pelo V8 de 318 polegadas cúbicas (5,2 litros) com 230 hp. Para 1970, incluíam-se motores V8 opcionais de 340 e 383 polegadas cúbicas, assim como um 426 e 440 (7.0 e 7,2 litros), todos com câmbio manual de três velocidades, exceto para o 383, que vinha com o TorqueFlite automático. Uma caixa de quatro marchas era opcional para todos os motores, exceto para o seis em linha e o 383.
Os modelos denominados R/T eram de maior performance, apelidados de "Magnum", todos com V8: o 383 com 300 hp; o 440 com 375 hp; o 440 Six-Pack com 390 hp e o 426 Hemi com 425 hp. Os modelos R/T eram disponíveis tanto com o teto hardtop como conversíveis. Alguns modelos tinham uma abertura no capô que ficou conhecida como "shake hood scoop" onde se encaixava o topo da caixa de filtro de ar, e quando se acelerava o motor era visível a vibração e o efeito giroscópico do motor.
O Challenger com o capô "Shaker hood"
Depois de sua aparição no filme "Vanishing Point", o carro se tornou instantaneamente "cult". Richard Zanuck, executivo da 20th Century Fox, escolheu usar o novo Challenger como uma forma de retribuir a Chrysler por seus anos de locação de veículos para as produções do estúdio, por apenas um dólar por dia.
Carey Loftin, coordenador de dublês do filme Vanishing Point e um veterano de grandes filmes de automóveis como Bullitt e Operação França, disse que também preferiu usar os Challengers por causa de sua potência e suspensão com barras de torção. Loftin descreveu o Challenger como um "bom e resistente carro para correr".
Estima-se que cinco carros foram empregados nas filmagens, quatro deles 440 Magnum e um 383 automático. Todos foram destruídos durante as filmagens, menos um, o carro dublê número dois, usado pela equipe de produção para as fotos estáticas ou com Newman ao volante.
Foi escolhida a cor "Alpine White" para ajudar a visualização nas tomadas do deserto de Nevada. Nem todos eram brancos, alguns tiveram de ser pintados. Quando Kowalski troca um pneu no deserto de Nevada, um pouco da cor original pode ser vista na lataria. Todos os carros receberam as placas OA-5599 do Colorado.

EM ESCALA
O Dodge Challenger R/T 440 é reproduzido pela ERTL (hoje Racing Champions ERTL Company) na escala 1:18, bem detalhado, com abertura de portas e capô, motor e interior detalhados, na cor Alpine White. De uma série limitada de 4.500 exemplares, é bem valorizada pelos colecionadores pela pequena quantidade produzida. A ERTL também tem a “Dirt Version”, reproduzindo o carro no final do filme, quando já está bem sujo com a quilometragem rodada. A Highway 61 também produz o modelo do filme, mas não informa se a quantidade é limitada. Outra empresa que tem o Challenger na linha é a Greenlight; todos tem um bom acabamento e detalhes. De todo modo, assim como o filme se tornou “cult”, os modelos em escala “acompanham” este interesse do público. Um modelo comum do Challenger, pode ser adquirido por valores entre R$ 100,00 e R$ 170,00 (US$ 27 a 46) em sites como o eBay ou Mercado Livre, ao passo que o Dodge Challenger branco do filme é ofertado por valores entre R$ 700,00 e R$ 900,00 (US$ 192 a 247), confirmando que o carisma do filme extrapola as telas de cinema e chega ao modelo que representa a liberdade que Kowalski buscava velozmente.


Na escala 1:64. tenho o Challenger da Greenlight, com bom acabamento para o formato, com destaque para as rodas, onde muitos fabricantes pecam na fidelidade em relação ao original.


Challenger 440 R/T, da Greenlight, em 1:64


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