segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Carros e filmes: The Fast and the Furious I

Já considerada uma das franquias mais longevas (e lucrativas) do cinema, Velozes e Furiosos (The Fast and the Furious) alavancou as carreiras de Vin Diesel e Paul Walker, junto com seus pares nos vários filmes desde 2001.
Explorando o universo dos carros preparados para as corridas de rua, o primeiro filme foi baseado num artigo intitulado "Racer X", escrito por Ken Li, em que jovens de Nova York disputam corridas de rua ilegais com carros japoneses preparados com turbo e óxido nitroso, mais conhecido como "NOS" (Nitrous Oxide System).
A produção da Universal mudou o cenário para as ruas de Los Angeles, onde Dominic Toretto (Vin Diesel) e sua gangue são suspeitos de roubarem cargas de aparelhos eletrônicos de caminhões nas estradas da California. O diretor Rob Cohen (The Skulls, Dragon: The Bruce Lee Story) ficou interessado no tema depois de ler o artigo na edição de maio de 1998 da revista Vibe. O roteiro sobre corridas de rua, as pessoas e seu estilo de vida foi desenvolvido a partir de suas idéias com os roteiristas Gary Scott e David Ayer. Ele até participou de uma delas para uma primeira experiência real. O título variou durante o projeto, entre Racer X, Redline e Race Wars, antes de assumir o definitivo. The Fast and the Furious era de um filme de 1955, escrito por Roger Corman, e Cohen adquiriu os direitos para usar o nome e o projeto seguiu adiante.

As filmagens aconteceram em várias locações na California, em Los Angeles, no Dodger Stadium, em Angelino Heights, Silver Lake e no Echo Park; bem como na Little Saigon e no San Bernardino International Airport (onde ocorre a Race Wars), reunindo mais de 1500 carros tunados importados e seus proprietários, além dos entusiastas, que participaram como extras.
Brian O'Conner (Paul Walker), é um agente do FBI que se infiltra neste mundo como mais um jovem em busca de emoções, trabalhando junto com a polícia de Los Angeles. Ganhando a confiança de Toretto, acaba se apaixonando por Mia (Jordana Brewster), irmã de Dom.
Dom tem uma rivalidade com Johnny Tran (Rick Yune), da comunidade chinesa, e todos vão para a Race Wars, um festival de arrancadas num velho aeroporto desativado. Jesse (Chad Lindberg) quer libertar seu pai da prisão e aposta o seu carro para conseguir dinheiro e pagar um advogado. Corre contra o Honda S2000 de Johnny Tran e acaba perdendo seu Jetta. Desesperado, não volta, e foge para longe; Johnny Tran vai cobrar a aposta de Dom e ameaça matar Jesse quando o encontrar.
A gangue de Dom parte para um assalto, e Brian descobre que os caminhoneiros estarão preparados para revidar qualquer tentativa de assalto. Tentando proteger Dom e seus parceiros, Brian convence Mia a avisá-los em tempo, mas o assalto é frustrado e Dom vai buscar o Dodge Charger que ele e seu pai haviam preparado para procurar Jesse e impedir Johnny Tran de matá-lo. Nesta hora, Jesse chega, se desculpando pelo que aconteceu, mas Johnny Tran e seu primo Lance Nguyen (Reggie Lee) chegam em motos e metralham todos, matando Jesse. Dom e Brian saem em perseguição dos assassinos, Dom joga Lance para fora da pista e Brian acaba atirando em Johnny Tran, matando-o.
Brian e Dom empreendem então uma perseguição, que termina com um racha final, escapam de um trem numa passagem de nível, mas Dom colide com um caminhão e decola com o Charger, capotando várias vezes e destruindo o carro.
Ao invés de prendê-lo o policial Brian deixa Dom escapar no seu carro, pois estava "devendo" um carro de '10 segundos' que Dom havia ganho de Brian na primeira disputa que fizeram.

IMPACTO COMERCIAL
A franquia da série se mostrou bastante rentável, e o faturamento comercial não pode ser deixado de lado para a sobrevivência de uma boa idéia. Não foi diferente com Velozes e Furiosos. A divulgação dos carros importados preparados e a cultura Tuning, associada à música eletrônica, hip-hop e rap, com Ja Rule (nome artístico de Jeffrey Atkins, rapper indicado ao Grammy em 2002) fazendo uma ponta como Edwin.
Desde o primeiro filme, carros japoneses e marcas de equipamentos de preparação (ou tuning) aparecem em profusão, mas o caso da cerveja Corona, a preferida por Dom, merece consideração.
Denominada Product Placement (ou Merchandising para os mais antigos), é a inclusão de produtos ou marcas em filmes, programas de TV, livros, séries, ou qualquer outro conteúdo de entretenimento. Coca-Cola, Apple, McDonald’s, carros e eletrônicos são presenças comuns em vários filmes, inseridos em situações comuns da vida dos personagens que estão atuando nas películas.
A Corona aparece pela primeira vez pouco depois de 30 minutos do primeiro filme, durante a festa na casa de Toretto. Mais do que estar na mão dos convidados, Dom pega a cerveja de Vince e oferece para Brian, dizendo: “Pode tomar qualquer cerveja, desde que seja uma Corona”.

Feita no México, a Corona se tornou, em 2015, a quinta cerveja mais vendida nos Estados Unidos, e a cerveja importada mais vendida naquele país, com 49% do mercado. Claro, esta ação promocional não foi a única responsável por isso, mas teve um papel fundamental para popularizar a marca entre os jovens americanos. Segundo uma pesquisa de mercado, ela se tornou a cerveja mais consumida entre os jovens de 21 a 35 anos em todas as regiões do país (não apenas do sul, onde há uma forte influência da cultura mexicana e do clima mais quente). É só fazer as contas: em 2001, jovens de 15 a 18 anos hoje estão com 30 a 33 anos, consumindo bastante as marcas que os impressionaram na juventude.


DODGE CHARGER 1970
Baseado na plataforma do sedã intermediário Coronet, da Dodge, o Charger surgiu em 1966, pegando a onda dos muscle-cars, compactos com um grande motor V8.
Seus faróis eram escondidos na grade, que abria a cobertura quando acionados, e o teto tinha uma caída mais inclinada (fastback) com o prolongamento das colunas laterais.
O Charger básico vinha com o V8 de 318 cid (5,2 litros) de 230 cv, mas havia opções do V8 361 cid (5,9 litros) de 265 cv; o V8 de 383 cid (6,3 litros) de 325 cv e o Hemi (cujo cabeçote tinha as câmaras de combustão no formato hemisférico) de 426 cid (7 litros) de 425 cv. O câmbio podia ser manual de três ou quatro marchas ou o automático Torqueflite 727 de três. Um ano depois (1967), o V8 440 Magnum (7,210 litros) ofereceria 375 cv a 4600 rpm, com um torque máximo bruto de 66,3 m.kgf a 3200 rpm; alimentado por um carburador de corpo quádruplo. Apesar de menos potente que o Hemi, o 440 Magnum ganhou a preferência do mercado por ser mais robusto  ̶  ele era derivado dos propulsores dos utilitários da Chrysler  ̶  era mais barato e tinha melhores respostas em baixa rotação. Vinha com instrumentação completa no painel, com manômetro de óleo e conta-giros, além de alguns cromados na carroçaria, discos de freio maiores, barras estabilizadoras de  maior diâmetro na suspensão e o teto revestido de vinil.
A suspensão dianteira era com barras de torção e traseira de eixo rígido com molas semi-elípticas assimétricas. As rodas de liga eram calçadas por pneus F70-14. Media 5,28 m de comprimento, com entre-eixos de 2,97 m, pesando 1.970 kg. Equipado com o motor 440 cid, atingia 250 km/h de máxima, fazendo de 0-96 km/h em 6,0 segundos, cumprindo os 400 m em 13,8 segundos. Em 1968 o seis cilindros de 3,7 litros complementou a oferta de motores na linha.
Neste ano, uma curvatura levantando os para-lamas traseiros suavizou o design e ficou conhecida como “Coke Bottle”, em referência à curvatura da garrafa de Coca-Cola.
A partir de 1971, uma nova geração com largas colunas traseiras e frente remodelada chegou ao mercado, e nos anos seguintes, as restrições contra as emissões e a crise do petróleo de 1973 diminuiram o brilho esportivo dos Charger.
O modelo usado por Dominic Toretto no primeiro filme da franquia “Velozes e Furiosos”, era um modelo 1970, equipado com um motor Hemi V8 a 90º de 440 cid (7210 cc), que gerava  900 hp a 5000 rpm. O câmbio manual de quatro marchas transferia a potência para as rodas traseiras e a alavanca do câmbio era um cabo de pistola. Dom e seu pai instalaram uma grade de aço inox na frente, o compressor saindo do capô e o sistema de Nitro (NOS – Nitrous Oxide System), e a gaiola de tubos para proteção do piloto em caso de acidentes. 
Para as tomadas de perseguições, foram usados outros carros, um deles era um modelo 1968, atualizado para 1970, mas com um motor V8 de 383 cid com preparação MOPAR e equipado com cilindros de Óxido Nitroso (NOS). O compressor BDS 8-71 Roots que saía do capô do motor era falso, acionado por um motor elétrico, apenas para as filmagens. Este exemplar foi destruído no final do primeiro filme, decolando e capotando espetacularmente no final do racha de Dom contra Brian no Toyota Supra.
Segundo contado no filme, o Dodge Charger R/T fazia o quarto-de-milha em nove segundos, e foi preparado pelo pai de Dominic Toretto, correndo no Los Angeles County Raceway. Quando seu pai foi morto num acidente causado pelo piloto Kenny Linder, Toretto espancou Linder quase até à morte com uma chave inglesa, culpando-o pela morte do pai; passando dois anos na prisão por conta disso. Ele recusou-se a dirigir o Charger pois temia o poderio do carro, ficando parado na garagem de Toretto até então. 

O carro foi restaurado completamente e a Universal Studios o vendeu para o Volo Auto Museum, onde está exposto para admiração dos aficionados por carros e cinema. Este exemplar é um dos quatro construídos para o filme, um modelo 1969 transformado para 1970; e era o "hero car", o carro para as tomadas estáticas, close-ups e as cenas em que não era pilotado. Os exemplares “dinâmicos” com a mesma aparência tinham uma motorização menos preparada, de menor custo, já que alguns iriam ser destruídos nas filmagens.
Como os estúdios acabam vendendo os itens dos filmes como sucata (como no caso do Dodge capotado na cena final), interessados podem adquirir um item e reformá-lo, mesmo a um custo acima do normal, apenas porque é um exemplar usado no filme e pode ter recebido um certificado de autenticidade do estúdio para comprovar a origem do carro.
Relatos sobre um destes Dodge, que foram construídos pela Cinema Vehicles Services, informam que ela restaurou um exemplar, inclusive com alguma melhorias nas especificações. A Mecum Auctions, em 2009, leiloou um exemplar do primeiro filme, e de acordo com os documentos, o motor de 392 cid foi trocado por um de 529 cid (8,65 litrtos) feito a partir de um 426 cid, ampliando o curso, tendo cabeçotes Indy e compressor mecânico TBS. A alimentação ficou por conta de um sistema de injeção eletrônica FAST, além do NOS (Nitrous Oxide System) instalado no porta-malas, que garante cerca de 250 cv adicionais on demand.

O resultado? Algo entre 950 e 1.100 hp com o NOS ativado. O carro recebeu também uma transmissão TorqueFlite TCI 727, de duas marchas, além de um diferencial Strange com relação final de 3,73:1, e freios a disco Willwood nas quatro rodas. Este carro teria sido comprado por um colecionador italiano que mora na Suíça, e não tem medo de explorar o potencial do “carro de dez segundos” de Toretto em eventos de arrancada, que se tornaram comuns no velho continente. Na época, ele pagou US$ 200 mil (R$ 710,000 pela cotação de 3,55 do dólar em Nov/2016).
O Dodge Charger participou de diversos filmes no cinema e seriados de TV. Podemos citar Bullit, com a perseguição mais famosa do cinema pelas ruas de São Francisco, onde Frank Bullit (Steve McQueen), com seu Mustang 390, persegue o Charger R/T. Blade (1998) e Blade II (2002) conta com um Charger preto em algumas sequências; em Christine, o Carro Assassino, um belo Charger azul surge em algumas cenas. Na TV, no seriado The Dukes of Hazzard (Os Gatões, no Brasil) o Charger 1969 laranja denominado General Lee rouba as cenas de perseguição do xerife Rosco atrás de Bo, Luke e Tio Jesse, na cidade de Hazzard.


EM ESCALA



O Charger 1970 feito pela ERTL na escala 1:18 é licenciado oficialmente pela franquia dos filmes e reproduz com bastante fidelidade o carro de Dom Toretto. O Blower saindo do capô e detalhes do motor com os cabos das velas são perfeitos. As portas e capô dianteiro se abrem, as rodas dianteiras esterçam, o interior é bem detalhado também, assim como o chassi na parte inferior do modelo.


TOYOTA SUPRA 1993
O modelo usado no filme foi construído por Eddie Paul da The Shark Shop, de El Segundo, California. Eddie, de 40 anos, tem larga experiência em criar carros para produções cinematográficas, coordenar dublês em perseguições e criação de efeitos especiais, e foi uma escolha natural para participar na preparação dos carros tunados de The Fast and the Furious.
Era equipado com o motor 2JZ-GE seis cilindros em linha, duplo comando com abertura variável e 24 válvulas, com 3.0 litros e 324 HP a 5600 rpm, câmbio manual GETRAG de 5 marchas, dupla turbina sequencial da Turbonetics T-66 com válvula de alívio Delta II. Sem o limitador de velocidade (250 km/h nos países que impunham o limite), atingia 285 km/h, e acelerava de 0-100 km/h em 4.6 segundos.
Os cabeçotes RPS eram feitos de aço inox revestidos pela HTC, alimentado por um sistema Holley Performance de Óxido Nitroso (NOS) que adicionava mais de 100 hp quando acionado, controlador da Pro-Fec B; coletores de admissão da Airinx, escapes da GReddy Power Extreme Exaust. Embreagem de competição Estagio III e volante do motor aliviado de 5 kg, e suspensão preparada pela Eibach, rodas de 19” Dazz Racing Hart com pneus Yokohama. O painel de instrumentos tinha medidores de velocidade, conta-giros, pressão do óleo, temperatura da água e voltímetro da Auto Meter. Era equipado com um volante e bancos de competição Sparco, um body kit Bomex customizado, com um enorme aerofólio da APR na traseira, faróis de neblina Roadboy, com grafismo produzido pela Modern Image de San Diego, California.
Em maio de 2015, o exemplar do primeiro filme foi leiloado pela Mecum Auctions, por 185,000 dolares.
EM ESCALA



O Toyota Supra feito pela ERTL/Joy Ride na escala 1:18 reproduz fielmente o carro de Brian O’Connor. Com abertura das portas, capô e porta-malas, o teto targa removível, motor bem detalhado, com cabos de velas, traz as garrafas de NOS no porta-malas e as rodas dianteiras esterçam. O interior traz cintos de segurança de competição, o enorme aerofólio traseiro chama a atenção, junto com os escapes esportivos finalizam o conjunto com os grafismos.

SOBRE PAUL WALKER
Paul William Walker IV (12/09/1973-30/11/2013) tornou-se conhecido do grande público interpretando o detetive do FBI Brian O’Connor, e sempre esteve em todos os filmes da franquia. Em 30 de novembro de 2013, sofreu um acidente com seu Porsche e veio a falecer com o choque contra uma árvore e posterior incêndio do veículo. Ele ocupava o lugar de passageiro no Porsche Carrera GT pilotado pelo amigo Roger Rodas, de 38 anos, que também morreu no choque. Eles haviam saído do evento beneficente de sua organização Reach Out Worldwide, que tinha como objetivo angariar fundos para socorrer as vítimas do tufão Haiyan, que atingiu as Filipinas. O carro se incendiou após bater em um poste de iluminação e depois numa árvore. O xerife de Los Angeles informou que “a velocidade foi um fator no acidente” e a perícia avaliou que o carro estava numa velocidade entre 130 e 150 km/h. Paul Walker era separado da mulher, Rebecca Walker, e deixou uma filha, Meadow, de 15 anos.





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