quarta-feira, 24 de maio de 2017

A humanização dos pets e o relacionamento humano

Animais e seres humanos convivem há milênios, sendo domesticados para várias aplicações, como cavalos e touros como auxiliares de carga ou transporte, cães pastores e guias de cegos; ou servindo de alimento como gado, porcos, ovelhas e aves. Não é de admirar que vários acabaram sendo objeto até mesmo de adoração, como a Íbis, cães e gatos no Egito antigo; e mesmo hoje, vemos a vaca considerada sagrada na Índia.
Em tempos recentes, à medida que os relacionamentos entre as pessoas foi-se deteriorando, seja pelo estilo de vida e trabalho adotado por muitos, além do egocentrismo que toma conta das sociedades cada vez mais urbanizadas e individualistas – a adoção de um animal de estimação e o inter-relacionamento dos humanos com eles aumentou demasiadamente.
Cães e gatos acabam sendo a maioria em lares de famílias nas grandes cidades, e não é difícil ter entre seus parentes ou amigos alguém com dois ou mais deles morando em apartamentos. Relatos de psicólogos tem contribuído para este cenário, pois a companhia de animais tem realmente auxiliado a muitos atravessarem períodos de crises como separações e divórcios, ou a perda de um ente querido na morte. Os mascotes facilitam o contato social, e os cuidados que exigem amenizam a solidão e confortam afetivamente a ausência de pais separados, cônjuges falecidos, e cada vez mais, adultos que vivem sós.
“Quanto mais conheço as pessoas, mais amo o meu cachorro”, ou frases parecidas circulam pelas redes sociais; que exibem frequentemente imagens de gente abraçando, fazendo carinho ou beijando seu animal de estimação.
Assim, percebemos a tendência da humanização dos ‘pets’, sendo tratados como membros da família, com direito a dormir junto na cama e sair junto para passear de carro. Claro que eles precisam ser bem tratados e cuidados, pois é responsabilidade do dono cuidar bem deles.
O problema é ter um conceito equilibrado sobre os animais de estimação, pois quem não se agrada de chegar em casa e ser recebido com festa pelo seu cãozinho? O carinho dele parece incondicional, e a troca de afeto é algo mais simples do que interagir com as pessoas, que são muito mais complexas.
Além disso, o segmento “pet” movimenta bilhões em dinheiro, em rações, medicamentos, serviços e produtos para quem tem amor ao seu bichinho e quer o melhor para ele. Festas de aniversário, cerimônias de funeral, hospitais e clínicas veterinárias, adestradores e hotéis para deixá-los quando não há possibilidade de levá-los junto em ausências mais longas são cada vez mais comuns, e as pessoas acham “normal” tratar um animal como um ser humano.
Por isso, a medicina veterinária tem desenvolvido especialidades, semelhantes à medicina humana. Psicólogos de cães tratam de depressão, Oncologistas prescrevem terapias contra o câncer, dentistas cuidam da dentição, cabeleireiros usam xampus e cremes, cortam a pelagem e fazem escovas para os bichinhos desfilarem no shopping nos fins-de-semana...
Nikole é uma gata cuja dona é sua empresária. Aos dez anos, Nikole assina uma linha de produtos felinos, abre desfiles de moda, tem um site e seguidores no Twitter. Tanta fama faz com que muita gente conheça a dona pela gata, e não o contrário: “Vou a todo lugar com ela. Somos uma só. Às vezes, é como se eu tivesse perdido a identidade”, diz sua dona.
Segundo o psiquiatra Alvaro Ancona de Faria, professor da Unifesp, “o problema é idealizar a relação e projetar no animal um comportamento que não é de sua natureza. Como é fácil de controlar, a pessoa acha que é uma relação perfeita e acaba ficando desestimulada de criar outros vínculos sociais”.
Cesar Ades, professor do Instituto de Psicologia da USP, e um dos pioneiros no estudo de comportamento animal no Brasil é categórico: “Apesar de o contato com os bichos fazer bem, nunca vai substituir a relação com outras pessoas”.
O relacionamento do ser humano com os animais vem de longa data, como relata a Bíblia: uma das tarefas de Adão no jardim do Éden era dar nome aos animais (Gênesis 2:19); e lá ele não tinha que temer nenhum deles pois eram inofensivos ao homem. Assim também poderá ser restaurada esta relação pacífica do ser humano com os animais num futuro próximo:
“O lobo estará junto com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito; o bezerro, o leão e o novilho gordo estarão juntos; e um menino os conduzirá. A vaca e a ursa pastarão juntas,  juntas se deitarão suas crias. O leão comerá palha como o touro. A criança de peito brincará sobre a toca da naja, e a criança desmamada porá a mão sobre o ninho da cobra venenosa. Não se causará dano nem ruína em todo o meu santo monte, porque a terra certamente ficará cheia do conhecimento de Jeová, assim como as águas cobrem o mar “ (Isaías 11:6-9).

Referências: 
Qual o seu conceito sobre animais de estimação? - Revista Despertai, 22 de fevereiro de 2004, páginas 3-11.





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