O Jaguar XJC é a versão cupê do sedã XJ Serie 2, produzidos de 1974 a 1978, poucas unidades foram construídas, especialmente as versões com motor V12, tornando o modelo um clássico e muito procurado pelos colecionadores até hoje.
Projetado por William Heynes, o XJ-C foi exibido pela
primeira vez no Salão do Automóvel de Londres de 1973; o carro teve um
desenvolvimento complexo e só entrou em produção cerca de dois anos depois.
Estava disponível com um motor XK de 4,2 litros e seis cilindros em linha ou um
Jaguar V12 de 5,3 litros; quando a produção terminou em 1978, 1.855 unidades do
modelo com motor V12 foram produzidas, tornando o XJ-C V12 um dos modelos
Jaguar mais raros.
Com um entre eixos encurtado da versão de quatro
portas, apenas o perfil era diferente, com duas portas a menos, elas eram 100mm
maiores e mais pesadas do que a versão de quatro portas, exigindo reforços nas
dobradiças e como o design do cupê não tinha a coluna B, a Jaguar teve
dificuldades para conseguir uma boa vedação das janelas laterais junto à linha
do teto, atrasando o lançamento do modelo.
O sistema dos vidros elétricos precisava funcionar corretamente, mantendo a pressão suficiente para manter a vedação, mesmo em altas velocidades. Também, quando abertos, os vidros deveriam ficar completamente recolhidos nos painéis laterais, e mesmo com todo o trabalho feitos, ainda surgem ruídos de vento em alta velocidade e com o passar do tempo, a vedação durante tempestades fortes não é total.
Obviamente, os cupês tinham menos espaço no banco
traseiro, para as pernas e cabeça, do que os sedans; assim como bancos com
encosto dobrável e os pontos de ancoragem dos cintos de segurança alterados.
A Jaguar tinha o motor seis cilindros em linha do XK,
desde 1948, aplicado também no E-Type, mas nos anos 1970, as pressões para
redução das emissões fariam a potência reduzir, e consequentemente a
performance ficaria prejudicada.
Como o principal mercado era o americano, a configuração V8 foi descartada pois era muito comum, e a Jaguar precisava algo fora do comum para diferenciar seus carros. As Ferrari e Lamborghini eram marcas de prestígio na América, então o passo lógico era equipar o XJC com um motor V12, visto que este conceito já estava sendo trabalhado dentro da empresa, visando seu retorno às competições.
O novo motor V12 com ângulo de 60º entre os cilindros,
comando simples, 5,3 litros, bloco e cabeçotes em liga de alumínio, e as
câmaras de combustão embutidas na cabeça dos pistões, além de realizar uma
queima melhor da mistura, ajudava a reduzir as emissões, atendendo os
requisitos americanos, e reduzindo os custos na produção. A ignição era
eletrônica, com quatro carburadores Zenith Stromberg, com um escapamento mais
livre, resultou num excelente motor para a Jaguar, a ponto de equipar seus
carros pelos 25 anos seguintes, até a última versão de 1995, com injeção de
combustível, 6,0 litros e 313 hp de potência.
Os modelos Sedan de quatro portas e Cupê de duas, eram
equipados com motores de seis cilindros, 4,2 litros herdado do E-Type, e o novo
com doze cilindros, 5,3 litros. Também foi fabricado na versão mais luxuosa
Daimler, nas mesmas configurações da carroçaria e mecânica. As transmissões
podiam ser a standard automática de três, ou opcionalmente a manual de quatro
marchas, esta bem rara nos dias de hoje.
Jaguar XJC
V12 da Team Broadspeed
Ralph Broad começou a correr em 1955, e fez sucesso com os carros Mini da BMC, vendendo seu kit de preparação para outros pilotos. Em 1962, criou o Team Broadspeed, com seus carros competitivos contra os Mini Coopers de fábrica, especialmente nas mãos de John Fitzpatrick, seu principal piloto na equipe.
Depois de um período correndo com carros da Ford
Britânica, retornou à BMC em 1974, quando ela já era parte da British Leyland,
e Andy Rouse ganhou o campeonato com um Triumph Dolomite Sprint preparado pela
Broadspeed.
Ralph acreditava no potencial competitivo do motor V12 da Jaguar, e discutiu essa ideia com a diretoria da Leyland para preparar o Jaguar XJ Series II V12 para correr no Grupo 2 do European Touring Championship, confrontando as BMW e Ford. Mas a Jaguar queria incrementar as vendas da linha XJ, e o modelo escolhido foi o XJ12 Coupe. As vendas estavam em baixa e a política interna da Leyland não era das melhores. A Jaguar elaborou um programa completo de competições para substituir o modelo, devido ao seu peso, mas a Leyland bateu o pé e deu à Broadspeed dois XJ12 Coupe para transformá-los em carros de corrida nas especificações do Grupo 2 da FIA.
Começando em outubro de 1975, a equipe correu contra o
tempo para desenvolver os carros para a temporada de 1976, especialmente para
reduzir o peso. Todo o interior foi modificado, exceto o painel folheado em
nogueira e os vidros elétricos, características únicas em um carro de corrida. A
carroçaria foi radicalmente modificada, com enormes arcos para alargar as caixas
das rodas, dutos de refrigeração dos freios, e banho de ácido para alívio de
peso. A suspensão era basicamente do XJ, mas tinha molas helicoidais duplas e
amortecedores aprimorados.
O motor V12 de 5,3 litros foi ampliado para 5.416 cc e equipado com pistões forjados e taxa de compressão de 12:1, com comandos de maior abertura. O virabrequim era o padrão, mas as bielas foram modificadas e os cabeçotes retificados, especialmente ao redor das válvulas. Um radiador de óleo foi instalado e a injeção mecânica de combustível da Lucas recebeu novas câmaras Plenum de efeito RAM. A potência subiu para 550-600 cv a 8500 rpm, com câmbio manual com relações encurtadas, uma embreagem de corrida reforçada e um eixo traseiro rígido. Novos radiadores de óleo foram instalados no motor, na caixa de câmbio e no diferencial.
Mesmo com toda a preparação, o carro acabou com 1500
kg, causando diversos problemas dinâmicos, especialmente nas frenagens. Com o
auxílio da Lockheed, instalaram discos maiores e pinças de oito pistões na
dianteira e quatro na traseira. Três motores foram perdidos durante o acerto, e
um carro sofreu um acidente durante os testes, e estes problemas atrasaram o
desenvolvimento do carro, perdendo as cinco primeiras etapas do campeonato de
1976. O belo Jaguar XJC V12 estreou em setembro daquele ano, na corrida RAC
Tourist Trophy, em Silverstone.
Durante os treinos de classificação, Derek Bell completou a volta quase dois segundos mais rápido do que o campeão europeu Pierre Dieudonné, que corria com o BMW 3.0 CSL. Durante a corrida, o Jaguar estabeleceu um novo recorde de volta, e Bell liderou o começa da corrida até que o desgaste dos pneus e um furo acabou levando ao abandono. O outro Jaguar, pilotado por David Hobbs seguia espetacularmente, mas a quebra do eixo de transmissão e a perda de uma roda também o fizeram abandonar a prova.
Mesmo com os abandonos, na única etapa de 1976 em que correu,
a Jaguar conseguiu atrair a atenção do público com a presença dos Big Cat, e o
contrato foi renovado para a temporada do European Touring Championship de 1977.
Ralph Broad conseguiu aliviar ainda mais o peso do
Jaguar para a temporada de 1977, ganhando uma nova pintura e aerofólio
dianteiro modificado, o traseiro no estilo “ducktail”, rodas de 19 polegadas,
direção mecânica em vez da hidráulica, e motor repontenciado, prometiam uma boa
presença contra os BMW 3.0 CSL.
Correndo com Derek Bell, Andrew Rouse, John Fitzpatrick e Tim Schenken, na etapa de Monza, Fitzpatrick fez a pole position, superando os BMW; mas haviam perdido dois motores por problemas de lubrificação, o mesmo acontecia com muitos carros devido à força centrífuga nas curvas velozes de Monza.
Dada a largada, Fitzpatrick assumiu a liderança e
abriu uma grande vantagem, mas com pouco mais de uma hora de corrida, o motor
não suportou e fundiu.
Na etapa de Salzburgring, na Áustria, os Jaguar de
Bell/Rouse e Schenken/Fitzpatrick se classificaram em primeiro e quarto lugares
no grid de largada. Na corrida, andaram em primeiro e segundo por várias
voltas, mas ambos abandonaram por quebre do eixo de transmissão.
Isso os impediu de participar das duas próximas
etapas, enquanto a Broadspeed tentava solucionar esse problema. Na etapa de
Brno, na Tchecoslováquia, os Jaguar conquistaram a pole e a segunda posição no
grid, mas com menos de quine minutos de prova, uma falha na caixa de câmbio de
Bell/Rouse o fez ir para os boxes, e uma fantástica determinação dos mecânicos da
Broadspeed garantiu a chegada do carro de Schenken/Fitzpatrick num modesto 16º
lugar.
Mugello, na Itália, viu mais decepções: nenhum Jaguar largou, pois a Broadspeed retirou os carros dos treinos, pois detectou que os problemas no eixo de transmissão ainda não tinham sido solucionados.
Para a etapa de Nürburgring, a Jaguar levou 12 motores, temendo os problemas com a lubrificação, e mesmo com o novo sistema de cárter seco desenvolvido pela Broadspeed ter sido autorizado, inexplicavelmente, não foi homologado, e não pode ser usado.
Novamente Fitzpatrick levou o Jaguar à pole position,
batendo um recorde de volta extraordinário para a sua classe, largando em
primeiro, mas já na segunda volta, a lubrificação comprometeu o motor e ele
abandonou. No entanto, Bell e Rouse levaram o outro Jaguar a um merecido
segundo lugar.
Zandvoort, em agosto de 1977 foi uma etapa fria e molhada pela chuva. Os Jaguar conseguiram apenas o terceiro e o quinto tempo no grid, e depois de dez voltas na corrida, os pneus traseiros começaram a superaquecer, reduzindo o ritmo até o abandono devido ao diferencial quebrado. O carro de Fitzpatrick/Schenken estava equipado com o sistema de cárter seco, mas durou apenas 8 minutos na pista, antes da bomba de óleo falhar. De volta aos boxes, os mecânicos trocaram a bomba por outra mais robusta, que durou 39 minutos de corrida. Nova troca de bomba, levou 56 minutos no box e durou apenas 9 minutos na corrida, com nova falha, que levou mais 40 minutos para instalar uma nova bomba, e apesar dos esforços da equipe, o carro finalmente abandonou a prova com falha no motor.
O Tourist Trophy em Silverstone foi em setembro de 1977, e os Jaguar começaram bem, ocupando a primeira fila no grid de largada, com Schenken e Rouse liderando a corrida. O consumo de combustível obrigou os Jaguar a fazer mais paradas de reabastecimento do que a Equipe Alpina BMW, pois os V12 consumiam mais do que os seis cilindros dos CSL.
Schenken liderava, com Rouse em segundo, seguido de Dieter Quester com a BMW em terceiro. Com a garoa, Schenken roda e Quester começa a atacar Rouse, conseguindo ultrapassá-lo vinte voltas depois. Rouse e Quester se alternam na liderança, com a BMW rápida nas curvas e o Jaguar nas retas de Silverstone. Rouse faz um pit stop na volta 38 e Quester reassume a liderança. Bell, agora no volante, encosta em Quester e assume a liderança da prova, e vai abrindo distância quando a BMW começa a ter problemas com os freios.
Mesmo com esta vantagem, meio minuto foi perdido no
próximo pit stop para reabastecer, trocar os pneus e voltar à pista, perdendo a
liderança para a BMW. Rouse pega o volante faltando 23 voltas para o fim, parte
atrás de Walkinshow (parceiro de Quester na BMW), e a diferença de 19,2 segundos
se reduziu para 14,9 segundos em apenas 6 voltas. A chuva aumentou e o Jaguar
começou a deslizar, e mesmo com maior potência, o tráfego não ajudou Rouse a
alcançar Walkinshow.
Mantendo 12 segundos atrás da BMW, Rouse não conseguiu evitar a escapada na curva Abbey, e bateu. O estrago não foi grande, mas acabou com as chances do pódio, assim mesmo, chegando em quarto lugar.
A etapa de Zolder, na Bélgica foi a última aparição
dos Jaguar preparado pela Broadspeed, mesmo antes da temporada terminar.
Correndo em segundo e quarto lugares no início da prova, após hora e meia de
corrida, o Jaguar de Fitzpatrick/Schenken liderava, mas uma válvula quebrada pôs
fim à corrida para eles. Mais tarde, Rouse e Bell abandonaram por problemas na
caixa de câmbio.
Com tantos infortúnios, a Leyland se recusou a renovar
o contrato para mais uma temporada, encerrando os planos da Broadspeed de prosseguir
com os Jaguar. Os problemas de resistência mecânica e as recorrentes falhas de
lubrificação, que o cárter seco deveria resolver definitivamente, faziam parte
do desenvolvimento normal nas corridas, e o Jaguar se mostrou muito mais rápido
do que as BMW CSL, mas não foi suficiente para a Leyland continuar o patrocínio
da Broadspeed.
A revista Octane de Abril de 2014, fez uma matéria com
o carro pilotado por Bell/Rouse que chegou em segundo lugar em Nürburgring, em
1977. Parte da matéria dizia:
“Tudo é perdoado quando você consegue abrir as torneiras.
O XJC grita para a frente conforme as rotações aumentam, cada marcha devorada
em uma explosão cataclísmica de ruído e aceleração. Com aqueles pneus enormes –
14,5 polegadas de largura na traseira! – gerando uma tração enorme, ele
realmente coloca cada cavalo-vapor (rumores diziam 550 cv, mas na realidade não
passava de 480 cv) no asfalto. Mesmo a longa passada da quarta marcha só tira
um pouco do seu apetite pelo horizonte. Tenho o cuidado de não tomar liberdades
com o generoso limite de 6.000 rpm do Heritage, mas é terrivelmente tentador
manter o pé enterrado e não reduzir o acelerador, um pouco depois da metade da
reta principal de Blyton Park. Essa coisa acelera como uma avalanche.
Ao sair e lançar um último olhar de admiração, ele parece
tudo menos um fracasso, parado diante de mim, desafiador e orgulhoso, com seu
físico impressionante e agressivo, pela primeira vez, desmentindo o velho
ditado do automobilismo: se parece certo, está certo. A história pode ter
marcado indelevelmente sua carta como perdedora, mas se, como eu, você é louco
por histórias sobre o que poderia ter sido, preferirá pensar neste
extraordinário bruto vermelho, branco e azul como um vencedor em potencial.”
Derek Bell, numa entrevista à revista Autosport
declarou: “Gostei dos carros, e eles poderiam ter sido muito bons, se tivessem
perseverado um pouco mais”. Tanto era verdade que os Jaguar foram vendidos para
equipes independentes, e continuaram correndo com bastante sucesso em outros
campeonatos, ironicamente, com a maioria dos problemas de confiabilidade
resolvidos.
Da minha coleção
O Jaguar XJC V12 Coupe é um Hot Wheels, Mainline, um casting novo, lançado em 2025, na Serie Wild Widebody – Carrosseries Larges e Féroces, projeto de Fraser Campbell.
Reproduz o carro do Team Broadspeed, que correu no Campeonato Europeu de Carros de Turismo, os anos de 1976 e 1977. A decoração é uma das variantes com que o carro competiu em 1977, e o número do carro se refere ao ano-modelo do Jaguar, e não de alguma corrida que participou.
Referências:
https://hotwheels.fandom.com/wiki/Jaguar_XJC_V12_Coupe
https://xjcjaguar.ozcarnut.com/Broadspeed_XJC.html
https://www.jaguarheritage.com/octane-2014-april-broadspeed-xjc/
https://www.motorsportmagazine.com/archive/article/november-1977/63/a-tense-tourist-trophy/
https://www.jaguarheritage.com/octane-2014-april-broadspeed-xjc/
https://www.inveltcollection.com/jaguar-xj12c-broadspeed-gr-2/p-89/
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