Da minha coleção
O Jeep Willys, modelo de 1948, é da Matchbox, um casting lançado em 2010, com o nome oficial de “1948 Willys Jeep”, e é um projeto de Ryu Asada, designer da Mattel que faleceu de câncer em março de 2021. Ryu havia assumido a função de Designer Project Lead, no lugar de Jun Imai, que saiu para fazer ua própria marca, a Kaido House.
O modelo reproduz o design do Jeep MB (Model B) que
passou a ser vendido para o mercado civil, sem capota, e com uma pá na lateral
esquerda, tem o galão de combustível e o estepe afixado na traseira. O para brisa
é fixo, e não rebate como no veículo original. Um detalhe que não combina é a
imagem da cartela vem com o guincho no para-choque dianteiro, mas a miniatura
não tem o equipamento. As rodas e pneus indicam uma modernização do Jeep, pois
os originais da época são bem estreitos, não tanto como o estepe indica, mas
bem diferentes do que a rodagem atual mostra.
No geral, o detalhamento é compatível com a escala e o
acabamento padrão da Mattel.
1948 Willys Jeep – Uma breve história que surgiu na
Segunda Guerra
John Willys era um empresário que adquiriu a Overland
Automotive Division, da Standard Wheel Company, em 1912, formando a Willys-Overland
Motor Company, e se tornou o segundo maior fabricante de carros dos Estados
Unidos da América, atrás somente da Ford Motor Company, de Henry Ford.
A empresa continuou crescendo nos anos seguintes, mas
a Grande Depressão em 1929 obrigou John Willys a vender diversas partes da
empresa, e em 1936 assumiu o nome de Willys-Overland Motors. Ainda assim,
alguns modelos foram desenvolvidos e colocados no mercado, mantendo a sobrevivência
da Willys-Overland.
A Segunda Guerra teve um papel fundamental na história
da Willys, pois o governo americano solicitou aos fabricantes de veículos a
produção rápida de um carro de reconhecimento leve. As especificações haviam sido estabelecidas pelo governo, para
transportar três soldados e armamentos, que pudesse rodar em qualquer terreno
(tração 4x4), fosse leve (590 kg) e de construção simples, tendo somente o
essencial para as funções e por consequência, baixo custo e facilidade de
manutenção no cenário das batalhas.
O Willys MB, Jeep de 1946 |
O desafio foi lançado a 135 marcas, e elas tinham 49 dias para apresentarem seus protótipos, mais 75 dias para construir 70 veículos funcionais para o governo testar em campo. Apenas três marcas deram retorno ao governo: a Ford, a Willys e a American Bantam. Logo a Bantam saiu do esquema, deixando a Ford e a Willys, que ganharam um pouco mais de tempo para entregar os protótipos. Quem levou a melhor nessa foi a Willys, mas ainda assim o governo solicitou mais alterações no projeto apresentado (MA), e o Willys ganhou a sigla de MB, de Model B, tornando-se o pai de todos os Jeep até hoje.
O Willys MB numa foto com o Presidente Roosevelt |
Em 15 de julho de 1941, a Willys-Overland assinou o
contrato com o governo americano oara inicia a produção do modelo MB. O
exército americano era o cliente preferencial da Willys-Overland, mas
curiosamente, o Willys MB foi o primeiro veículo militar que recebeu
autorização do governo apara ter uma versão civil. Claro que esta versão teria diversas
alterações adaptadas para as ruas e não para a guerra. Rebatizado de Willys CJ
(Civilian Jeep – Jeep Civil), tinha apenas sete aberturas na grade frontal,
contra nove do militar; faróis um pouco menores, para-brisa fixo em vez do
reclinável e novas cores, sendo o verde-oliva reservado para os exemplares do
exército.
Os Jeep CJ (Civilian Jeep) com a grade de sete aberturas |
A procura pelo Jeep se tornou tão grande que a Willys levou o problema ao governo, e este autorizou que a marca entregasse o projeto para um segundo fabricante produzir os veículos. Claro, sendo a Ford a outra empresa que participou na concorrência, foi naturalmente escolhida para terceirizar a produção, mas sob acordo de que a Willys fizesse no mínimo a metade da quantidade (das versões militar e civil juntas). O modelo da Ford recebeu a sigla GPW (onde “G” era de Government, “P” designava a distância entre eixos de 203,2 cm e o “W” era o padrão Willys), e era exatamente igual ao Willys MB, mas parece que o público preferia o “original” Willys do que o da Ford; e os números mostram que durante o período da Guerra, foram vendidas cerca de 363 mil unidades do Willys, contra 280 mil unidades do GPW da Ford.
Os Jeep militares da Ford, GPW, com a grade com 9 aberturas |
Aliás, o nome Jeep tem versões diferentes para definir a origem dele. A mais famosa delas conta que o nome veio da pronúncia da sigla G.P. (em inglês: gee pee), de General Purpose (Uso Geral), que era o código que designava o projeto da Ford; mas dizem as más línguas que Joe Frazer, presidente da Willys, registrou o nome Jeep em 1943, e depois de muito insistir no U.S. Patent Office, que se recusava a aprovar sua petição, finalmente em junho de 1950, a Willys ganhou os direitos legais de uso do nome Jeep para os seus carros. Outra versão diz que “jeepy” era uma gíria militar que veio dos anos 1910, que definia algo como “insignificante”, “bobo”, “estranho” ou “tolo”, e ganhou força na Primeira Guerra entre os militares, que chamavam de “jeepy” qualquer item que lhes parecia não valer nada, desde partes de aviões até armamento. Este conceito pejorativo acabou mudando quando Elzie C. Segar, que criou o personagem Popeye, o Marinheiro, introduziu nas tiras “Eugene the Jeep”, um animal de estimação não definido, que podia atravessar paredes e se transportar para outras dimensões, indo para qualquer lugar e resolver qualquer problema, mesmo que parecesse impossível. Ainda outra versão diz que o nome surgiu das iniciais da expressão “Just Enough Essencial Parts (Apenas peças essenciais).
Eugene the Jeep, personagem das tiras do Popeye, que mudou o conceito da expressão "jeepy" |
Como herança da versão militar, o Jeep era um dos poucos carros equipados com tração integral, ou 4x4 de fábrica, ganhando assim a preferência entre fazendeiros, sitiantes, caçadores e outros que precisavam de um carro para rodar nas estradas, ou caminhos em que outros veículos não conseguiam trafegar.
A versão pickup |
A versão Wagon |
Enfim, “Jeep” acabou na boca do povo, e o valente utilitário, “pau-pra-toda-obra” serviu perfeitamente o exército e depois da guerra todos os que precisavam de uma ferramenta que funcionasse em qualquer lugar que pudessem ir, e voltar, fizeram do Jeep o sucesso que é até hoje.
Depois da Segunda Guerra, a Willys cresceu fabricando
várias versões civis do Jeep, diversificando as carroçarias para atender às
necessidades de diversos públicos, como a Wagon, com entre eixos maior e teto
estendido para a área de carga. Outra versão era a pick-up ou caminhonete, com
carroçaria aberta para levar objetos mais altos. Já nos anos 1950, surgiram na
linha Willys automóveis compactos, como o Aero, com uma diversidade de modelos,
com motores, e acabamentos variados.
Uma breve linha do tempo
Em 1953, a Kaiser Motors comprou a Willys-Overland, e
mudou o nome da empresa para Willys Motors Company, que dez anos depois foi alterado
para Kaiser-Jeep. Em 1970, a Kaiser-Jeep foi vendida para a American Motors Corporation
(AMC), quando eles decidiram sair do mercado de automóveis. Em 1979, a Renault
se tornou dona majoritária da AMC, e em 1986 a Chrysler adquiriu a AMC da
Renault. Por sua vez, a Daimler-Benz adquiriu a Chrysler em 1998 por 36 bilhões
de dolares, mas devido aos constantes prejuízos da montadora americana, a Daimler-Benz
vendeu a operação Chrysler para o Grupo Cerberus por 7,4 bilhões de dolares. E
em 2014, a FIAT assumiu a Chrysler, formando a FCA (Fiat-Chrysler Automobiles).
Como as fusões não param de acontecer, a FCA se fundiu em janeiro de 2021 com o
Grupo PSA (Peugeot-Citröen), formando a quarta maior montadora de veículos do
mundo, batizada de Stellantis.
O capítulo brasileiro da Willys
O Aero Willys brasileiro |
A Willys-Overland se estabeleceu no Brasil em 1953, ainda antes da compra pela Kaiser Motors. Todo o ferramental do Aero foi trazido para o Brasil e o modelo entrou em produção em 1960, como Aero Willys. Além dele, a Willys-Overland produzia o Willys MB Jeep, a versão Wagon, chamada aqui de Rural, e o Renault Dauphine francês, sob licença, devido aos relacionamentos da agora Kaiser-Jeep americana com a Renault francesa. Também por isso, em 1961 a Willys lançou o Willys Interlagos, cópia do Renault Alpine A108 com carroçaria de fibra-de-vidro, o primeiro veículo esportivo de série do Brasil, nas versões cupê, berlineta e conversível, com mecânica baseada no Dauphine, mas modificada para maior potência.
O Alpine A108, batizado aqui de Interlagos |
Este modelo teve uma grande importância no automobilismo brasileiro de competição, ao formar uma equipe de corridas em que muitos pilotos da época ganharam experiência, incluindo Emerson Fittipaldi entre eles. Em 1964, a Willys criou um esportivo maior, equipado com o motor 2,6 litros do Aero, o Capeta, mas ele não teve o sucesso esperado.
Em 1965, aumentando a colaboração com a Renault
Francesa, começaram o Projeto M, para substituir o Dauphine. O novo carro teria
motor e tração dianteiros, como o Renault 12, que estava sendo desenvolvido em
paralelo, na França. Depois da compra pela Ford, o carro foi lançado com o nome
“Corcel”, e se tornou um sucesso de vendas, pelos anos à frente com o Corcel
II, e a pick-up Pampa, que ficou em produção até o ano de 1997, 29 anos depois
do lançamento do Ford Corcel.
Aero Willys reestilizado |
Itamaraty, a versão de Luxo do Aero Willys |
O Aero evoluiu para um novo visual mais retilíneo, e ganhou uma versão de luxo, a Itamaraty, com motor seis cilindros de 3,0 litros. O Dauphine ganhou uma versão mais potente, o Gordini. Após a aquisição pela Ford, todos tiveram seus logotipos “Willys” trocados pelo da Ford; a Rural ficou Rural-Ford e a pick-up ficou F-75, porque a Ford tinha a F-100, e a versão militar da F-75 ficou como F-85, todos com o nome “F O R D” estampado na tampa traseira.
As últimas reestilizações da Rural e Pickup |
Sendo uma das pioneiras montadoras a se instalar no Brasil, nos anos 1950, nos anos 1960 a Willys cresceu bastante e se tornou um dos maiores fabricantes de veículos do país. A distribuição era dominada pela família de Osvaldo Aranha, e a Willys-Overland atingiu a marca de 52% da produção brasileira de automóveis de passageiros em 1959. De 1960 a 1966, a Willys-Overland declinou de sua posição, com o crescimento da Volkswagen, General Motors (com a marca Chevrolet), e da Ford, mas detinha cerca de 30% do mercado em 1966, quando suas operações no Brasil foram adquiridas pela Ford.
Referências:
https://matchbox.fandom.com/wiki/Jeep_Willys
https://hotwheels.fandom.com/wiki/Ryu_Asada
https://en.wikipedia.org/wiki/Willys_MB
https://en.wikipedia.org/wiki/Eugene_the_Jeep
https://pt.wikipedia.org/wiki/Willys-Overland_do_Brasil
https://en.wikipedia.org/wiki/Willys_Aero#Brazil
https://br.pinterest.com/pin/798192733972926813/
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