sexta-feira, 29 de setembro de 2017

VW KOMBI

O esboço de Ben Pon, de 1947
A Kombi, como conhecemos no Brasil, foi o segundo carro produzido pela VW no período pós-guerra. A recuperação da economia pedia veículos comerciais para trabalho e a VW criou o Type 2, com cinco variações, do T1 ao T5 para o mercado.
A ideia para a Kombi veio de Ben Pon, importador da VW na Holanda, que fez um esboço em sua agenda no ano de 1947. Um fato interessante no desenvolvimento da Kombi é que seu formato de tijolo não é aerodinamicamente favorável, mas o protótipo foi levado para o túnel de vento da Universidade Técnica de Braunschweig, e seus detalhes foram otimizados, ficando mais eficiente do que o Beetle, no qual era baseado. Montado sobre a plataforma do Fusca, não ficou tão resistente como necessitava um veículo de carga, portanto, uma nova base foi construída para ela, no conceito de chassi monobloco.
O protótipo de 1949 e o modelo lançado em 1950.
Ela chegou ao mercado em 1950, sob a direção de Heinz Nordhoff, em Wolfsburg, Alemanha. Logo o sucesso do modelo fez com que a VW a fabricasse em outros países, onde tivesse linhas de montagem; seu espaço, a confiabilidade mecânica, sua simplicidade e durabilidade e bom acabamento angariaram a preferência de vários segmentos que usaram a Kombi para uma infinidade de usos.
Considera-se que a VW inaugurou o segmento dos MPV (Multi Purpose Vehicles – veículos de uso múltiplo), e apesar de outros fabricantes tentarem imitar a Kombi, nenhuma conseguiu realizar um design tão simpático e amigável para competir com a minivan da VW.
A flexibilidade de usos da Kombi foi a chave do seu sucesso.
O nome Kombi veio do alemão Kombinationsfahrzeug, que significa “veículo combinado”, ou veículo multi-uso numa tradução livre. Em outros países, é conhecida por T2, Transporter, Samba Bus, Micro Bus, nos Estados Unidos; na Alemanha é chamada de “Bulli”, na Dinamarca “Rugbrød”, na Holanda “Spiljltje” ou “Clipper”. Ela recebeu outros nomes e apelidos, aqui no Brasil, foi chamada de “Pão de forma” e “kombosa”, além de “Corujinha” − para diferenciar da frente modernizada da Clipper − eram comuns, e revelam o carinho que a população tinha pela Kombi. No final de carreira, “Velha Senhora” aparecia com mais frequência ao se referir à Kombi.
Fillmore era a personagem de uma Kombi Hippie em Cars.
Nos anos sessenta, a juventude Hippie adotou a Kombi como um símbolo de liberdade e paz; era um veículo comunitário, e moravam dentro dela. Desta época, ficaram famosas por sua decoração psicodélica, recebendo até uma homenagem como a Fillmore, da animação “Cars”, da Pixar.
Fabricada na Alemanha até 1979, ela prosseguiu no mercado, aqui no Brasil até 18 de dezembro de 2013. Lançada no país em 2 de setembro de 1957, era o mais antigo veículo em produção até aquela data.
A KOMBI NO BRASIL
Lançada em 1950, logo ela foi importada pelo Grupo Brasmotor, que começou a montá-la em 1953, no sistema CKD (Completely Knocked Down), com peças importadas da matriz na Alemanha.
Inicialmente com motor 1.100 cc e 25 cv, tinha partida elétrica ou manual (na manivela). O câmbio tinha somente a segunda, terceira e quarta marchas sincronizadas, já vinham também a versão pick-up e a de passageiros, com 15 janelas. Em 1954 recebeu o motor de 1200 cc e 36 cv, e em 1957 a VW assume a produção da Kombi com um índice de nacionalização de 50% (motor e câmbio ainda eram importados); o sistema elétrico ainda é de 6 volts.
Em 1959 o motor passa a ser produzido no Brasil e o câmbio ganha as 4 marchas totalmente sincronizadas, tornando-se o primeiro veículo brasileiro a ter a primeira sincronizada. Abandona-se a partida por manivela.
Nos anos 1960, a Kombi recebeu vários aperfeiçoamentos (técnicos e de conforto), como marcador de combustível elétrico (antes tinha uma torneira para abria a reserva quando o combustível estivesse no fim), luzes de seta acima do farol (devido ao seu formato, foram apelidadas de “tetinhas”), vidro na curva traseira para melhorar a visibilidade, chave de ignição e trava na coluna de direção, esguichos de água para os limpadores do para brisa, motor 1500 com 44 cv (em 1967), sistema de 12 volts em 1968 e cintos de segurança e extintor de incêndio em 1970. A estabilidade melhorou um pouco com a adoção das rodas de 14 polegadas. Surgiu a versão de seis portas, destinada a taxistas e hotéis, e uma versão Turismo, adaptada para camping, com um toldo que era rebatido na lateral; e a versão pick-up ampliava a oferta da linha.
Kombi Furgão 1976 com a nova frente
Na década de 1970, a Kombi recebeu mais avanços técnicos, devido ao aumento da concorrência e o avanço da tecnologia automobilística em todo o mundo. Nova embreagem, filtro de ar em papel, motor 1600cc com 52 hp a 4200 rpm, cruzetas nos semieixos traseiros, logo substituídas por juntas homocinéticas, dupla carburação (1978), reforços para aumentar a rigidez da carroçaria, e a primeira reestilização visual. Esperava-se que adotássemos a Clipper, com a porta lateral corrediça, mas a VW brasileira resolveu economizar nos custos e manteve o corpo central com 12 janelas, trocando apenas a frente e a traseira do modelo internacional. Assim, o modelo brasileiro de 1976 a 1996 é um modelo único, que refletia a estratégia da montadora em manter produtos defasados tecnologicamente, e um dos motivos que a fez perder a liderança do mercado local para a Fiat.
Kombi diesel com o motor do Passat.
Os anos 1980 viram o motor diesel refrigerado a agua, 1500cc, quatro cilindros do Passat de exportação de 50 cv e 9,5 kgfm de torque, com o radiador na dianteira. Apesar de parecer uma boa solução, o motor diesel tornou-se uma grande dor de cabeça para os proprietários, com vários casos de motor fundido com menos de 100 mil quilômetros. Em 1985 surgiu a versão pick-up de cabine dupla, freios a disco na dianteira, encostos de cabeça e cintos de três pontos nos bancos dianteiros. No ano seguinte, é lançado o motor a álcool de 57 cv.
A década de 1990 finalmente vemos o corpo da Kombi passar a ser o da Clipper, com porta lateral corrediça; e um teto elevado exclusivo no Brasil. O novo formato aumentou em 11 cm o espaço interior e eliminou a divisória entre a cabine e o compartimento de carga/passageiros. O motor recebe injeção eletrônica, catalizador e cânister, sem muito a fazer em tecnologia, a VW faz marketing, lançando a Kombi de luxo, denominada Carat.
Série Prata de 2005 - último motor a ar.
Nos anos 2000, a pick-up deixa de ser fabricada, vem o motor 1400 cc flex (2005), refrigerado a água, aperfeiçoamento do sistema de refrigeração no radiador dianteiro, novo painel de instrumentos (semelhante ao do Fox da época). Para fechar a produção do motor a ar, é lançada a Serie Prata, limitada a 200 unidades, destinada a colecionadores; trazia vidros verdes, acabamentos nos faróis e para choques em ‘Cinza Cross’, piscas dianteiros com lentes brancas, lanternas traseiras fumês, desembaçador no vidro traseiro e identificação pelo logotipo “Kombi Série Prata”.
A última grande mudança técnica no veículo foi o motor Flex, adotando o 1,4 EA-111, exclusivo no Brasil e utilizado apenas em versões de exportação do Fox. Ele vinha com 80 cv a 4.800 rpm e torque de 12,7 kgfm aso 3.500 rpm quando abastecido com etanol. Agora a velocidade máxima chegava a 130 km/h, mas o cambio ainda continuava com as quatro marchas.
Kombi 50 anos em 2007
Em alusão aos 50 anos da Kombi, em 2007 foi lançada a Kombi Edição 50 Anos, limitada a apenas 50 exemplares; tornando-a bastante rara e colecionável. Neste ano, ela respondia por 7,2% das vendas de veículos comerciais no páis, mostrando ainda sua força concorrendo com inúmeros competidores, especialmente os comerciais chineses. O destaque era a pintura ‘Saia e Blusa’, teto branco e corpo vermelho, como na primeira geração da Kombi. Vinha com vidros verdes, para brisa degradê, piscas dianteiros com lente cristal, lanternas traseiras fumê, desembaçador do vidro traseiro, luz no cofre do motor e adesivos externos identificando o modelo, inclusive acima do local do rádio no painel. A Série vinha com uma carta de congratulação assinada pelo presidente da VW no Brasil.
KOMBI LAST EDITION
A última Kombi produzida saiu da linha de montagem às 22:00 hs. do dia 18 de dezembro de 2013. A unidade de chassi “EP022.526” foi reservada para o acervo da empresa, finalizando um ciclo de 56 anos desde o seu lançamento na Alemanha, superando até mesmo o carro que lhe deu origem, o Fusca.
Devido à Resolução 311 e 312 do Contran, exigindo airbag duplo e freios com ABS em 100% dos veículos produzidos no Brasil a partir de 1º de janeiro de 2014, e a impossibilidade de instalar tais itens na Kombi, fez com que a produção se encerrasse, depois de 56 anos em linha e mais de 1,5 milhão de unidades vendidas.
Kombi Last Edition 2013
Para lembrar o evento, foi lançada a “Last Edition”, com 1200 exemplares, com teto branco e corpo azul. Vinha com pneus de faixa branca, e rodas e calotas também em branco, cortinas azuis nas janelas laterais e vigia traseira, com braçadeiras com o logo ‘Kombi’ bordados, uma decoração típica de versões luxuosas das décadas de 1960 e 1970. Os bancos vinham com forração especial de vinil: bordas em Azul Atlanta e faixas centrais de duas cores (azul e branca); as laterais e costas dos assentos vinham com acabamento de vinil expandido em Cinza Lotus. As laterais dos bancos vinham com costuras pespontadas; o assoalho e porta malas revestidos por tapetes com insertos em carpete dilour Basalto, o mesmo material que revestia o estepe, fechando com chave de ouro o interior mais nostálgico de todas as versões.
O sistema de som em LEDs vermelhos, lê arquivos em MP3, com entradas auxiliares USB. O porta luvas tinha o manual do proprietário com uma capa especial comemorativa alusiva à série. Inicialmente prevista para 600 exemplares, felizmente foi ampliada para 1200, devido à demanda e procura do modelo, com colecionadores e amantes da Kombi interessados até do exterior.
"Quando anunciamos a Last Edition foi um fenômeno mundial. Tivemos pedidos dos cinco continentes. No início acreditamos que 600 seriam suficientes, tivemos que dobrar e ainda temos demanda para muito mais. Isso justifica o preço mais alto que a versão branca; temos mais de 5 mil interessados. Mas, além disso, se você ver o equipamento e o amor que colocamos, justifica o valor", afirma Jochen Funk, diretor da Volkswagen. Esta série foi produzida pela empresa Rontan, de Tatuí, especializada em customizar veículos para utilidades específicas, como Polícia, Ambulâncias, etc.
Para um carro com tantas histórias, não poderiam deixar de contar a última história sobre a Kombi; então a agencia da VW do Brasil - Almap/BBDO - elaborou uma campanha para a despedida da Kombi.
Os últimos desejos da Kombi
Na primeira fase, foi criado um hotsite da Kombi, onde os seus fãs contaram  as experiências que passaram com ela, enviando fotos, textos e vídeos. As melhores experiências foram reunidas num livro digital de “Memórias da Kombi” e fizeram parte do anúncio “Testamento da Kombi”, em que ela viajava pelo Brasil, entregando aos escolhidos lembranças relacionadas com os fatos que vivenciaram. Por exemplo, Carlos Alberto Valentim, que viajou com a Kombi para acompanhar os jogos da Seleção Brasileira de Futebol, recebeu uma calota da Kombi autografada pelo Rei Pelé. A campanha foi agraciada em sete categorias no renomado Festival de Cannes, uma das mais importantes do mundo na área da publicidade.

Sendo o último desejo da “Velha Senhora”, “voltar para casa”, o último exemplar, de numeração 1200/1200 foi levada para a matriz na Alemanha e ganhou um lugar reservado no museu de veículos comerciais do grupo Volks em Hannover.
Assista ao vídeo de despedida da Kombi:

EM ESCALA
Kombi da Welly na escala 1:18
O modelo da Welly na escala 1:18 reproduz a Kombi de 1962, vendida nos Estados Unidos como Samba Bus, a versão chamada de T1, com 5 janelas laterais e teto solar.
A pintura em duas cores, apelidada no Brasil de “saia e blusa” é bem-feita e os acabamentos de frisos, cromados, maçanetas de portas e molduras dos faróis e lanternas são bem caprichados. Este modelo traz os piscas que ganharam o apelido de "tetinhas", por razões obvias...
Diversos fabricantes produzem a Kombi nos seus diversos modelos, anos e escalas. Jada Toys, Greenlight, Maisto, Schuco, Sun Star, Motor Max, YatMing e outras em 1:18 e 1:24; Minichamps, Premium Classixxs, Motor City, Vitesse, Cararama, Brumm, Road Signature e outras em 1:43; Hot Wheels, M2, Greenlight, Matchbox e outras em 1:64; além de muitas outras em outras escalas menos populares.
Kombi da coleção Veículos de Serviço do Brasil
A Altaya, famosa por suas coleções, lançou no Brasil a Kombi T2 (1976-1996) no tema Veículos de Serviço do Brasil, com a decoração de perua Escolar, outra com a pintura da Telesp, e dos Correios, estes na versão Furgão, com a escada no teto; uma ambulância, uma da Polícia Feminina (estas últimas na versão T1), e uma pick-up com baú da Elma Chips (T2). 
Kombis da Coleção Carros Inesquecíveis do Brasil.
Na coleção Carros Inesquecíveis do Brasil, aparece a Kombi (T1) de 1957 com 4 janelas laterais e pintura saia-e-blusa; uma pick-up cabine dupla (T2) e uma Clipper (T2 pós 1996). Há também a Kombi Last Edition, na pintura azul e branca de 2013.
Hot Wheels Brazil Convention 2010 e 2011
Por ocasião da Convenção da Hot Wheels no Brasil em 2010 e 2011, tivemos modelos comemorativos com decoração alusiva ao evento, uma Kombi mais normal, e outra bem radical. A Kombi era um prato cheio para os customizadores, por isso, a Hot Wheels fez uma Drag Bus, para as arrancadas de Dragsters, tipo de competição muito popular nos Estados Unidos.
VW Drag Bus - Hot Wheels 1:18

REFERÊNCIAS:

CRÉDITOS DE FOTOS:





segunda-feira, 25 de setembro de 2017

HURST HAIRY OLDS 442 - 1966

O mais famoso Oldsmobile 66 de todos os tempos!
Hurst Hairy Olds foi o nome dado a um par de carros Dragster da classe Funny-Car, construído pela Hurst Performance Research Center, de Madison Heights, Michigan, Detroit, em 1966 e 1967.
No segundo semestre de 1965, George Hurst queria outro carro de exibição para complementar o seu ‘Cuda Hemi Under Glass. Esse carro foi um grande trunfo para Hurst, que fez vários shows por semana com ele, mas desta vez, Hurst queria fazer algo escandaloso, e com seus concorrentes na classe Funny-Car alterando rodas, cortando capotas, fazendo chassis tubulares e carrocerias em fibra-de-vidro, Hurst precisava fazer algo que ninguém tinha feito ainda. Ele precisava de um verdadeiro show-car para chamar a atenção de seus fãs em todo o país. Esse carro tinha de ser o rei indiscutível das competições de Drag Racing.
As corridas de Drag Racing dos anos 1960 eram como rodeios nitrometanos, com as exibições de carros para divertir a plateia entre os “sprints” como se fossem os palhaços do Show. Muitos deles não eram para serem levados a sério, porque estavam lá mais para entreter do que competir.
Junto com seu velho amigo Jack ‘Doe’ Watson (conhecido como Shifty Doctor), nasceu a idéia do “Hairy Olds”: pegar um Oldsmobile 442 e instalar não um, mas dois motores do Toronado 425 cid supercomprimidos num chassis tubular reforçado para ser o primeiro 4x4 nas pistas de Drag Racing. Com a ajuda de John Beltz, engenheiro da General Motors, eles fizeram isso em pouco tempo: em 4 de março de 1966, o carro estava pronto para o Bakersfield Fuel and Gas Meet.
A construção do carro ficou sob a responsabilidade de Dave Landrith, com a colaboração de Paul Phelps, Bob Riggle, Ray Sissener e Dick Chrysler. Um jovem engenheiro de pesquisa, John DeJohns surgiu com a idéia de usar o chassi tubular para fazer circular mais de 30 litros de água do sistema de refrigeração, muito mais do que a capacidade de dois radiadores para os motores. Com certeza, mais de uma pessoa levou queimaduras por encostar nos tubos depois das corridas, com o calor gerado pelos dois 425 cid.
Para os motores, foram reunidos os melhores talentos para o seu desenvolvimento: Ed Iskenderian fez os comandos especiais para os motores. Don Alderson, de Milodon, fez o sistema de lubrificação, a bomba de combustível, o pescador de óleo e todos os rolamentos dos motores. Mickey Thompson Equipment Co. de Long Beach, California, fez os pistões e bielas forjados especiais e os roletes para reduzir os atritos nos mancais dos comandos de válvulas. Al Sharp fez as tampas frontais, os coletores de admissão e as tampas de válvulas. A Teleflex produziu todos os mostradores de painel (dois conta-giros, temperatura da água e pressão do óleo) a Schiefer Mag fabricou os injetores especiais para os monstruosos motores. Doug’ Header, de Los Angeles, ficou responsável pelos escapamentos que faziam o Hairy não apenas correr melhor, mas também a rugir como dois dragsters quando disparava pela pista. Era equipado com rodas especiais com pneus M&H Racemaster e dois paraquedas Simpson montados na traseira do carro.
Como os Toronado tinham tração dianteira, a escolha por este trem de força era a facilidade de montar o conjunto tanto na dianteira como na traseira. Os semieixos tiveram de ser reforçados para suportar a potência e o torque adicional. A chave para manter o projeto do monstro em andamento era Bob “Animal” Lathrum, de Cleveland, Ohio, que ficou como Mecânico Chefe do Hairy Hurst Olds.
O cockpit com os controles duplicados.
Dois motores significavam duplicar todos os principais comandos para o piloto: duas alavancas de câmbio (operadas por cabos), dois conta-giros, dois mostradores de pressão do óleo, temperatura do motor, e dois pedais de acelerador. A potência adicional foi incrementada pela Cragar Equipment com um compressor 6-71 GMC modificado no topo de cada motor, que queimava uma mistura de nitrometano e álcool. O peso foi reduzido com o uso extenso de alumínio em partes da carroceria e os vidros foram substituídos por plexiglass.
O resultado? Potência na casa dos 2.400 hp, tração nas quatro rodas que geravam uma quantidade fenomenal de fumaça nas arrancadas, fazendo o quarto-de-milha na faixa dos 11 segundos.
O carro foi um sucesso instantâneo! Em qualquer lugar que estivesse estacionado, as pessoas se aglomeravam em volta do carro, sendo difícil até mesmo a preparação para as competições de arrancadas. George escolheu um jovem piloto (bonito e famoso) de Top Fuel, “Gentleman” Joe Schubeck para pilotar o carro. Na primeira vez em que Doe Watson e George Hurst explicaram para Schubeck como o carro deveria ser conduzido (dois motores, supercomprimidos, dois câmbios e paraquedas duplicados), Joe argumentou que o carro não seria seguro para ser pilotado, e já estava desistindo do convite, preferindo ficar com o seu antigo Top Fuel. Hurst então lhe disse que Linda Vaughn (uma bela modelo que era presença marcante nas competições americanas) seria parte da equipe no pit. Sem pestanejar, Joe respondeu imediatamente: “Quando é que vamos começar? ”.
Joe Schubeck ficou bem motivado a pilotar o Hurst.
Em julho de 1966, o Hairy Hurst foi levado a Minnesota para uma exibição; deixava enormes marcas pretas na pista, enquanto nuvens de fumaça produzidas pelos quatro pneus que tracionavam ao mesmo tempo, demoravam uma eternidade para se dissipar.
O carro era imprevisível no início. Debaixo de aceleração total, o torque fenomenal desalinhava o sistema de direção, dificultando o controle do veículo em velocidade. Depois de alguns experimentos, a equipe encontrou um alinhamento pré-determinado para compensar os movimentos da suspensão quando em aceleração plena.
Num show em Buffalo, Nova York, numa passagem de pista, o magneto do motor dianteiro se soltou, e cortou a potência do trem de força dianteiro. A consequência foi que o alinhamento de direção preparado para trabalhar com a potência aplicada às rodas dianteiras reverteu sua função, tornando o carro indirigível. O carro saiu da pista, cruzando o trecho de grama molhada, indo de encontro aos espectadores que estavam na cerca. A multidão não tinha idéia do perigo que correu, e apenas um cabo esticado ao longo da pista evitou que a situação se transformasse numa tragédia.
A equipe levou o carro de volta para Detroit para os reparos, mas Joe Schubeck alegou a necessidade de se dedicar à sua própria empresa, a Lakewood Industries, de Cleveland, Ohio, para escapar do que ele chamou de “fazer um passeio pelo inferno”, deixando de pilotar o Hairy Hurst.
Um segundo carro Hurst Hairy Olds foi construído em 1967, mas foi destruído em um acidente numa das corridas em Niágara, New York.
Comenta-se que depois deste incidente, George Hurst mandou desmontar o Hairy e enterrá-lo em um túmulo secreto. Doe Watson se encarregou de espalhar esta versão, ninguém sabe até hoje onde está o Hairy. Ou talvez o mais famoso carro de exibição da Oldsmobile esteja escondido em algum prédio escuro, descansando de suas peripécias de antigamente.
O exemplar de 1966 ficou por anos no R.E. Olds Transportation Museum, em Lansing, Michigan; e graças aos esforços de Dennis Mothershed e sua empresa, Victory Driveline Components, a versão de 1966 do Hurst Hairy Oldsmobile recebeu uma reforma e vários componentes do motor difíceis de encontrar foram providenciados e recriaram o carro, visto aqui no 2013 Muscle Car e Corvette Nationals. O carro foi doado para o Oldsmobile Club of America.
Joe hoje é dono da Schubeck Components Engine Racing, em Las Vegas, construindo peças para preparação de motores. Quando perguntado se dirigiria novamente o Hairy, Joe disse: “Onde está ele? Claro que eu gostaria de fazer isso de novo!”. O carro apareceu na capa da edição de maio de 1966 da Hot Rods Magazine, e também na capa do livro 1968 Hot Rod Pictorial.

Na foto ao lado: Joe Schubeck, com Bob “Animal” Lathrum, piloto e mecânico chefe do Hairy Hurst Olds. A foto foi tirada na reunião da NHRA (National Hot rod Association) em Columbus, Ohio, em setembro de 1998.

Vídeo do acidente em Buffalo:

Arrancada em Buffalo.



EM ESCALA
O modelo na escala 1:18, produzido em quantidade limitada pela Highway 61, o incrível Hurst Hairy Olds, é baseado no Oldsmobile Cutlass 442 de 1966, equipado com dois motores do Toronado, comprimidos e preparados, era a grande estrela de seu tempo.
A Highway 61 fez um bom trabalho, as formas do Hairy são perfeitas e há bem poucas linhas de moldagem visíveis. Os espaços entre o capo e a carroceria, bem como o recorte das portas e a tampa do porta-malas são bem fiéis em escala. A pintura em preto e dourado metálico parece exatamente com o real. Os adesivos são corretos e correspondem ao carro original, e estão selados por uma camada de verniz transparente. É de se notar o peso do modelo, apesar de ter elementos em plástico.
Um detalhe que chama a atenção é a grade dianteira feita em metal. Removidos o capo e a cobertura traseira, ficam à mostra os gigantescos motores bem detalhados com as mangueiras e cabos, as tampas de válvulas cromadas e toda a Pintura do trem-de-força do Toronado.
O chassis é uma peça que por si só, seria admirável para exibição, pois os detalhes das barras de torção, braços e suspensão funcional valorizam o modelo. O interior traz os cintos de segurança com seus fechos em Photoetched, um painel completo e alavancas moveis, bem como os acionadores dos paraquedas, pedais e até o porta-luvas que se abre.
Este monstro era pilotado pelo “Gentleman” Joe Schubeck, e o modelo é um carro para registrar uma era das corridas de Dragster em que a criatividade fazia surgir atrações como o Hurst Hairy Olds.

Scale Auto Magazine, December 2002, pg. 14

terça-feira, 19 de setembro de 2017

AUSTIN-HEALEY

Donald Mitchell Healey, apaixonado por automobilismo desde muito jovem, foi piloto de rallies (venceu o Rally de Monte Carlo de 1931) e trabalhou em algumas empresas automobilísticas (Riley, Triumph e Humber) antes de fundar a Donald Healey Motor Company, em 1945. Ela começou com uma pequena oficina em sua própria casa, em Warwick, construindo um pequeno carro baseado na mecânica do Austin 90 Atlantic.
Eram tempos difíceis, esses do pós-guerra, especialmente para os fabricantes de automóveis especiais, situação que piorou muito em 1948, quando entrou em vigor o imposto duplo para carros de preço superior a 1.000 libras.
No entanto, em 1951, os carros esporte estavam se tornando mania nos Estados Unidos, e Healey resolveu investigar a fundo esse mercado promissor. Descobriu que havia uma faixa vazia entre o sensacional Jaguar XK120 e o arcaico, mas atraente MG TD um espaço a ser ocupado por um carro mais leve, mais rápido e principalmente, mais baratos que a sua empresa produzia então, com motores Riley e Nash.
Era necessário criar um carro totalmente novo, que nem lembrasse os modelos anteriores , ou seja, o antigo motor Riley teria de ser dispensado. Depois de procurar muito, Healey decidiu que o motor ideal seria o do Austin de quatro cilindros e 2,6 litros que equipava um carro malsucedido, o Austin 90 Atlantic.
Depois de se assegurar do fornecimento de motores, ele projetou um chassi que permitia adaptar uma carroceria baixa e elegante. Aproveitava também o câmbio, a caixa de direção e a suspensão dianteira (independente, de braços triangulares e molas helicoidais) do A90. Mas a alavanca seletora das engrenagens do câmbio do A90 ficava na lateral da caixa (e não em cima): funcionava perfeitamente nos carros em que o volante ficava à esquerda destinado aos Estados Unidos , mas exigia uma alavanca de câmbio com chanfros para o mercado inglês. Além disso, os testes revelaram que a relação de marchas era curta demais, e foi preciso acrescentar uma engrenagem multiplicadora (overdrive) na quarta marcha para que o carro superasse a estratégica barreira das 100 milhas por hora. (161 km/h).  A nomenclatura do número “100” vinha justamente deste número mágico, a velocidade máxima que o carro alcançava.

O desenho, inspirado em carros italianos, foi de Gerry Coker, e Geoff Healey, filho de Donald, ficou com a parte técnica.
Depois de construído, o carro ficou bem de acordo com os objetivos de Donald Healey: pesava somente 862 kg. E o modelo básico custava apenas 850 libras, para escapar do imposto duplo.
Após alguns testes preliminares na Bélgica, aonde chegou a 178 km/h, o Healey 100 foi dado como pronto para ser lançado.
Em 1952, levou o seu Healey 100 ao London Motor Show, em Earls Court. Pouco antes, ainda em 1952, a Austin e a Morris tinham se unido para formar a BMC British Motor Corporation com Leonard Lord como seu presidente. A BMC estava no Salão em busca de um carro esporte para vender no mercado americano, um substituto para o A90, que não estava fazendo o sucesso que imaginavam. Lord havia encomendado protótipos de fábrica para a MG, Jensen e Frazer-Nash, mas ao se deparar com o Healey 100, seu design o impressionou bastante. Decidiu ali mesmo que esse seria o novo carro da BMC. Lord fechou um contrato com Healey para construir o seu veículo na fábrica da Austin em Longbridge. Healey, que imaginava fabricar no máximo 20 unidades por semana, ficou entre surpreso e maravilhado, pois a BMC iria produzir seu carro em massa. Claro, o carro foi renomeado como Austin-Healey 100.

A produção dos carros era finalizada em Longbridge, onde a carroceria era montada e pintada pela Jensen, utilizando chapas prensadas pela Boulton & Paul era acoplada aos chassis produzidos pela Jensen em West Bromwich, uma operação que as duas empresas executavam na produção do Austin 40 Sports.
Foi produzido de 1953 a 1956 (codificado como BN1), atingindo 14.634 unidades. Tinha um motor de quatro cilindros em linha com 2.660 cc, 90 bhp, câmbio de três marchas, depois atualizado para quatro marchas, manual. Era equipado com freios a tambor da Girling de 10 polegadas, depois substituídas pelos de 11, suspensão dianteira independente com molas espirais e traseira com eixo rígido e molas semielípticas. A revista Motor Magazine testou o carro em 1953 e assinalou 106 mph (171 km/h) de máxima, com aceleração de 0-60 (96 km/h) em 11.2 segundos. Os faróis foram ligeiramente levantados para obedecer a legislação americana.
Com o câmbio de quatro marchas, a partir de 1955 (BN2), outros melhoramentos foram acrescentados ao modelo: Carburadores maiores, caixa de ar do filtro que melhorava o fluxo de ar para os carburadores, novo eixo comando e nova taxa de compressão de 8,1:1 incrementaram a potência para 110 bhp a 4.500 rpm. A suspensão dianteira ficou mais rígida e o capô ganhou aberturas para melhor ventilação do cofre do motor. Neste ano, os carros começaram a ser pintados em dois tons.
O Austin Healey em Bonneville Salt Flats, em 1953
Para marcar a estreia do carro no mercado norte-americano em 1953, um exemplar modificado cobriu a milha a 229,5 km/h, em Utah. No ano seguinte, um exemplar especialmente preparado em Warwick chegou em terceiro lugar nas 12 horas de Sebring, o que resultou no lançamento do 100S (de Sebring), que incorporava as modificações feitas para a corrida. A Jensen fabricou uma carroçaria em alumínio, e o motor de quatro cilindros recebeu novo cabeçote em alumínio, ao invés do normal de ferro, que elevou o rendimento para 132 hp a 4700 rpm; e a velocidade máxima para cerca de 195 km/h. Com estes números de desempenho, os freios tiveram de ser a disco da Dunlop nas quatro rodas. Para reduzir o peso, os para choques foram eliminados, assim como a capota; a grade frontal foi reduzida e o para brisa foi feito de plástico, reduzindo em cerca de 91 kg no total. Dos 50 exemplares construídos, a maior parte foi exportada para os Estados Unidos, e em 1955 os 100S conseguiram um sexto lugar na classificação geral em Sebring, além do primeiro, segundo e terceiro lugares em sua classe.
O motor do 100-4 e a versão 100S, ambos de 1956
Um exemplar do Austin Healey 100S ano 1953, um ‘test-car’ da equipe de corridas, sem restauração que havia sido pilotado pelos pilotos de fábrica Lance Macklin, Gordon Wilkins e Marcel Becquart, foi vendido num leilão por incríveis 843,000 libras (US$ 1,323,915) em 01 de dezembro de 2011, na Bonham’s December Sale. Este carro estava envolvido no trágico acidente das 24 Horas de Le Mans de 1955, no qual 84 pessoas perderam a vida e 120 ficaram feridas, causando o abandono na Mercedes-Benz das corridas por décadas.
Em agosto de 1955 foram feitas algumas modificações poucas e pequenas  nos 100 de produção em série. Embora quase idêntico ao original  codificado de BN1 no jargão da BMC  esse carro, com o código BN2, teve a caixa de câmbio de três marchas substituída por uma de quatro, com overdrive na terceira e quarta. Além disso, buscando a racionalização de componentes, a BMC adotou o eixo traseiro baseado no Morris. Também por essa época, foi produzida uma versão especial do BN2, o 100M, que era fabricado em Longbridge e depois despachado para Warwick, para modificações no motor de 110 hp e melhoramentos na suspensão. Foram produzidos 1.159 desses 100 especiais em 1955 e 1956, terminando em 1957, quando modelos de quatro cilindros foram substituídos pelo 100/6.
O modelo BN2 de 1956
O Austin-Healey 100 foi o primeiro dos três modelos Austin-Healey que vieram a ser conhecidos como Big Healey.

Austin-Healey 100-6
O Austin Healey 100-6 de 1958
Desde 1955, a BMC já usava seu motor de seis cilindros e 2,6 litros, no Austin A90 e no Wolseley 6/90. Quando seu uso foi estendido ao Austin Healey, este foi rebatizado como 100/6. O novo modelo  chamado BN4  tinha a mesma velocidade máxima que seus antecessores de quatro cilindros, mas a aceleração melhorou muito. O 100/6 era 4,2 cm mais longo do que o modelos com motor quatro cilindros (que, retrospectivamente, passou a ser conhecido como 100/4), permitindo a incorporação de dois pequenos bancos atrás, que só serviam para crianças.
Em 1956, com o entre eixos aumentado, toda a carroceria recebeu um redesenho, mesmo mantendo o mesmo estilo, tinha vários elementos diferenciados. O para brisa era fixo (antes retrátil), a grade ganhou um desenho mais baixo e ovalado com barras horizontais (antes eram verticais); o capô recebeu uma entrada de ar; a carroceria podia vir com os dois lugares adicionais, e principalmente, o motor de quatro cilindros foi substituído pelo de seis em linha, de 2.639 cc, baseado no BMC-C-Series, montado no Austin Westminter.
Bancos traseiros no modelo 1957
Inicialmente, produzia 102 cv, mas foi preparado para 117cv em 1957, com coletores e cabeçote revisado.  Atingia 103,9 mph (167,2 km/h) e acelerava de 0-60 em 10,7 segundos. O consumo indicava 20,8 milhas/galão imperial (13,6L/100km). Neste ano, a produção foi transferida de Longbridge para a fábrica da MG em Abingdon.
Em 1958, surgiu o BN6, uma versão do 100/6 que significou um retorno à concepção original dos 100, um roadster aberto de apenas dois lugares. Ambas as carrocerias (a de dois lugares e a 2+2) foram produzidas até o início de 1959, quando o 100/6 deu lugar para o 3000, que seria o mais rápido dos Big Healey.
O Austin Healey 3000 de 1960
A mudança de nomenclatura (BN7 para o dois lugares e BT7 para o 2+2) deveu-se ao aumento de cilindrada do motor de seis cilindros e 2,6 litros para 2,9 litros, com uma transmissão robustecida para suportar o aumento de potência. O rendimento dos motores subiu para 124 hp e a velocidade máxima foi até 183 km/h. Externamente, o carro manteve a mesma aparência, apenas com o acréscimo de um modesto emblema 3000 sobre a grade do radiador para indicar o aumento do motor.
Tanto o publico europeu como o americano ficaram impressionados com o Austin Healey 3000 Mark I. A fábrica estava interessada sobretudo na reação dos norte-americanos. A revista Road & Track achou os 3000 “agradavelmente semelhante ao XK 120 original”, o que era um elogio correto. Mas criticava os bancos e o sistema de ventilação/aquecimento, preferindo nestes aspectos o antigo carro de quatro cilindros. A revista inglesa Motorsport mostrou-se impressionada com a potência: “Em comparação com outros carros esporte que passam das 100 mph, o 3000 tem uma aceleração simplesmente furiosa, deixando-os para trás.”
A versão Mark I de 1959
Mesmo assim, a Autosport encontrou o que criticar: achou que a embreagem e o freio foram colocados próximos demais e que a alavanca de câmbio era mal colocada nos modelos com direção do lado direito (e era!), além de muito dura.
O teste da Road & Track registrou 100 km/h em 9,8 segundos e velocidade máxima de 180 km/h. No teste da Autosport, o 3000 foi mais lento para chegar aos 100 km/h (10,8 segundos), mas atingiu a velocidade máxima de 185,7 km/h embora, teoricamente, os carros vendidos nos Estados Unidos e na Inglaterra fossem idênticos na época.
As primeiras grandes mudanças no 3000 aconteceram em 1961. O Mark II (BN7 para o dois lugares, BT7 para o 2+2 de 61-62 e BJ7 para o 2+2 de 62-63) apareceu com grades verticais no radiador, imitando o 100 original, mas as mudanças mais radicais estavam no motor. O comando de válvulas teve o seu desenho alterado e os carburadores SU passaram de corpo duplo para triplo, o que elevou a potência para 132 hp. Essa versão durou até 1962, quando o 3000 recebeu janelas acionáveis por manivelas e teve as linhas do capô redesenhadas. Essas modificações destinadas a atrair um numero maior de clientes  quase transformaram o 3000 num cupê conversível, afastando-o das características esportivas originais. Ao mesmo tempo, foi encerrada a produção do modelo de dois lugares, restando apenas o 2+2 BJ7. Entre as modificações mecânicas, a mais notável foi o rápido retorno aos carburadores de corpo duplo.
Por essa época, o Big Healey já começava a aparentar sua idade, mas ainda era respeitado por seu desempenho impressionante em competições. Já em 1956, a equipe Healey voltara a Utah com um 100/6 superpotente e a firme intenção de quebrar a barreira das 200 mph: o carro atingiu 203,6 mph (327,6 km/h). 
A fábrica de Warwick, que até 1957 já era responsável pela preparação dos carros de competição, a partir de 1958 concentrou-se exclusivamente em corridas. Os demais Austin Healey usados em rallies tornaram-se responsabilidade do Departamento de Competições da BMC.
Pat Moss e Ann Wisdon vencedoras do
Rally Liège-Paris-Liège em 1960
Foi só em 1959, porém, com a chegada do 3000, que o Austin Healey começou realmente a causar impacto em competições. Logo no primeiro ano, a inglesa Pat Moss (irmã de Stirling Moss) chegou em segundo lugar no Rally da Alemanha. No ano seguinte, obteve a mesma colocação no Rally Alpino. Quando venceu o Rally Liège-Roma-Liège de 1960, junto com Ann Wisdon, ela provou definitivamente que o Big Healey era um grande carro para rallies. Até 1965, quando a BMC retiraria o 3000 das competições, seguiram-se quatro importantes vitórias: o Rally Alpino de 1961 e 1962, O Rally Alpino Austríaco de 1964 e, ainda nesse ano, o Rally Spa-Sofia-Liège. O Big Healey acumulou ainda uma série extensa de segundos e terceiros lugares, e classificou-se em quase todos os rallies em que foi inscrito  praticamente todos os rallies europeus de sua época.
Austin Healey Mark III 1965
A experiência em disputas inspirou alguns aperfeiçoamentos no chassi e revisão na suspensão traseira do 3000 de produção em série no primeiro semestre de 1964  um ano depois que os 3000 Mark III foram lançados (BJ8 Phase 1 2+2 de 1964 e BJ8 Phase 2 2+2 de 64-68), e quando já haviam sido produzidos 1.290 carros. Houve aperfeiçoamentos no comando de válvulas, na carburação e no sistema de escapamento. Assim, a potência do Mark III era de 148 hp e a velocidade final de 194 km/h  era o mais rápido dos 3000 de série.Mas, algum dia a carreira do 3000 teria de terminar, e a BMC já pensava num substituto para ele desde 1960. Predominava a idéia de se fazer um carro com motor de seis cilindros e que usaria tanto o nome MG como Austin Healey. O projeto foi denominado ADO51, e a versão MG chamou-se ADO52. Infelizmente, o motor concebido para os novos carros mostrou-se mais pesado e com potência apenas igual à do motor que deveria substituir, o que inviabilizou o projeto.
A tentativa seguinte foi o Firrere, nome inventado pela BMC para uma criação exótica: uma carroçaria Pininfarina de 1962 montada sobre um chassi do Austin Healey 3000. O modelo, (codificado como XC 512) foi uma combinação um tanto forçada de componentes, pois usava a suspensão do modelo de passeio 1800 e o motor (seis cilindros, quatro litros, admissão superior e exaustão lateral) do modelo Vanden Plas Princess R da BMC, que não atingira suas metas de vendas. Donald Healey, irreverentemente, chamava esta combinação de “A Coisa”, inconformado com o fato de que viessem a oferecê-la como substitutivo de um genuíno carro esporte. Afinal, o projeto foi suspenso depois de consumir um milhão de libras.
O motor FB60 da Rolls-Royce
Donald Healey dedicou-se então ao projeto de usar o motor Rolls-Royce FB60 feito de alumínio e de quatro litros no chassi e carroceria do 3000 Mark III. Um exemplar foi especialmente alargado em seis polegadas para acomodar o motor, juntamente com a transmissão automática e o eixo traseiro do Princess 4 litros R. Novo painel acolchoado, revestimentos das portas, coluna de direção não invasiva, novos assentos e outros recursos exigidos pela regulamentação de segurança dos EUA transformaram o carro.
O motor FB60 nunca havia sido instalado num carro esportivo, mas era 73 kg mais leve do que o Mark III, e oferecia 173 hp com 218 lb-ft (296 Nm) de torque. Ele não era muito potente (cerca de 180 hp), mas era particularmente suave e dava ao carro uma grande tração, mesmo com o câmbio automático. Ao mesmo tempo, a largura extra proporcionava uma estabilidade excepcional. A BMC e a Rolls-Royce firmaram um acordo em 1962 para fornecer os motores FB60 para os carros grandes da BMC, mas o único modelo de produção a usar esse motor foi o Vanden Plas Princess 4 litros da Austin, que foi um desapontamento comercial. A consequência foi que a BMC nunca comprou a quantidade de motores que havia previsto, deixando a Rolls-Royce com uma capacidade ociosa na fábrica.
Foram completados apenas três modelos com motor Rolls-Royce (dois com transmissão automática e um manual)  e segundo os que os testaram, saiu bem diferente do 3000. Era muito mais fácil de dirigir, tinha uma posição de pilotagem mais confortável, melhor dirigibilidade e dava mais segurança ao motorista, devido à faixa mais ampla de potencia e à distribuição de peso mais equilibrada. Não era um carro esporte genuíno, mas um carro de passeio muito bom e capaz de atingir altas velocidades, com características do Jaguar E-Type.
Os executivos da Austin ficaram muito impressionados na apresentação do carro em Longbridge no início de 1967. A análise de custos da BMC indicava que o carro com motor FB60 não seria mais caro de produzir do que os 3000, e adicionalmente, elevava o novo modelo a um novo nível de luxo e refinamento. Fechou-se a encomenda de mais seis protótipos, codificados como ADO24; a versão de produção seria denominada Austin Healey 4000, substituindo os 3000 no início de 1968.
Infelizmente, o ADO24 foi cancelado menos de seis meses depois, por várias razões: a condição financeira da BMC estava se deteriorando; a direção da Roll-Royce percebeu que a quantidade de motores não chegaria perto do combinado, e começou a descartar o ferramental de produção; e Geoff Healey suspeitava que Sir William Lyons, que havia vendido a Jaguar em 1966 para o grupo e ganhado uma cadeira no conselho da BMC, iria fazer forte oposição ao novo modelo; justamente porque seria um competidor forte demais e 700 libras mais barato, oferecendo um desempenho comparável ao E-Type de 1968.

Os três protótipos que foram completados na casa da família Healey em Cornwall às suas próprias custas, após o fim do projeto, foram vendidos para colecionadores particulares. Geoff Healey acreditava que havia um quarto chassi modificado, porém se for verdade, seu destino é desconhecido até hoje.
O fim dos Austin Healey foi decidido de uma vez por todas em dezembro de 1967, quando a produção do 3000 Mark III cessou oficialmente  embora o último chassi só fosse montado em março do ano seguinte.

Em 15 anos de produção incessante, de 1953 até 1968, haviam sido fabricados 72.022 Austin Healey. O 100 original com motor de quatro cilindros (100/4) contribuiu com 14.662 para o total. O 100/6 chegou quase ao mesmo número: 14.436. E o modelo 3000 (Mark I, II e III) foi o mais produzido, com 42.924 unidades.
O Austin Healey foi principalmente um grande sucesso de exportação, que até ultrapassou as expectativas que Donald Healey tinha quando elaborou as linhas gerais do projeto em 1951/52. Dos 51.315 carros fabricados entre 1957 e 1968, 45.596 cruzaram o Atlântico em direção aos Estados Unidos, o que equivalia a 88,8% do total. No mesmo período, foram vendidos 3.019 Austin Healey na Inglaterra. Houve 234 carros exportados em forma de kit para montar e 2.466 vendidos para o resto do mundo (excluindo os Estados Unidos). A maior produção do Big Healey foi em 1959 e 1960, quando saíram da fábrica, respectivamente, 7.900 e 7.005 carros. No último ano de produção, 1967, esse número tinha caído para 3.051.

Em maio de 1968, a BMC fundiu-se com a Leyland Motors, para formar a British Leyland Motor Corporation, e as medidas de saneamento financeiro acabaram por rescindir os acordos com parceiros como Healey e John Cooper. Em 1969, Kjell Qvale, um dos maiores distribuidores da Austin Healey do mundo, assumiu a Jensen Motors, pela qual lutava desde a aposentadoria dos |irmãos Jensen alguns anos antes. Sabendo que o contrato de Healey estava no final, sugeriu que se juntasse a ele na Jensen, para criar um substituto para o Austin Healey 3000. Em 1970, Donald e Geoff se tornaram membros do conselho da Jensen, levando à criação do Jensen-Healey em 1972.

EM ESCALA
O Austin Healey feito pela ERTL na escala 1:18.
O Austin Healey 100/6 de 1956 reproduzido pela ERTL na escala 1:18 é bem detalhado, com sua pintura em azul metálico e branco, típico da época. O interior traz os bancos e acabamentos de portas, assim como o painel e seus instrumentos fiéis ao original. O típico roadster inglês (com o volante à direita) ainda tinha um pequeno banco traseiro, mas somente crianças se acomodavam ali.
Austin Healey Coupe, da Kyosho em 1:18
Outros fabricantes também disponibilizam o Austin Healey, como a AutoArt (MK II de 1961), Cult Scale Models (100S de 1955), Bandai (1:18); e Kyosho (1:18 e 1:64), Resilient Resins (em resina, 1:24), Vitesse, NOREV, DelPrado, Spark (3000 Roadster e Coupe), Vanguard, IXO, Corgi, Dinky e outras (1:43); Danbury Mint (1:36); Aurora, NINCO (1:32) e tanto a Revell como a AMT/Monogram e Tamya (em kits para montar) tem o modelo em seus catálogos. 

REFERÊNCIAS