Henry Ford II era filho de Edsel Ford e o neto mais velho
de Henry Ford, o criador da Ford Motor Company. Ele servia na Marinha dos
Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial quando seu pai faleceu, e não
pode retornar para assumir a empresa. O avô Henry Ford reassumiu o posto, já bem
idoso, mas a Ford enfrentava um período de vacas magras, com grandes perdas
financeiras que podiam levar a empresa à insolvência.
Mesmo com a guerra em andamento, Ford II deu baixa em 1943
e retornou aos Estados Unidos para tomar posse do cargo e colocar as coisas em
ordem. Ford II era conhecido por ter um pulso firme e forte, e era o que a Ford
precisava para se reerguer financeiramente. Uma grande reestruturação e
políticas agressivas produziram estabilidade para a empresa e reforçou a
posição de Ford II na liderança da companhia.
Assim como muitos soldados que serviram na Europa, Ford
também percebeu o carisma dos pequenos esportivos europeus, e a formação de um
novo mercado para eles nos Estados Unidos, assim como o crescimento do Corvette
da Chevrolet nos anos 1950. No início da década de 1960, Ford II voltava suas
atenções para o mundo do automobilismo de competição, buscando firmar a imagem
da Ford como um fabricante de carros esportivos também.
A estratégia mais rápida para se firmar neste mercado seria
adquirir uma empresa com um bom histórico no setor de competições, e a Ferrari
foi uma opção natural, pois estava dominando o cenário das corridas no período
entre 1960 e 1965.
As negociações iniciaram e se desenvolveram bem, Enzo
Ferrari (apelidado de “il Commendatore”), diz a lenda, aceitou a oferta da
Ford, e deu de presente para Ford II uma Ferrari 212 Inter com carroceria
Touring, um dos primeiros carros de rua que a Ferrari produziu. Ferrari
precisava de dinheiro para bancar sua scuderia, por isso, fabricava e vendia
carros esportivos a preços não muito convidativos, para ter uma diferenciação
de sua marca; e não abriu mão do controle de sua scuderia.
Este fato começou a minar as negociações, e o balde de
água fria para Ford II foi quando a FIAT ficou sabendo que a Ferrari passaria
para as mãos de um empresa norte-americana, e decidiu intervir na transação,
alegando que a marca Ferrari era patrimônio italiano e deveria permanecer
assim.
De forma que a transação com a Ford foi interrompida e a
FIAT assumiu o controle acionário da Ferrari, mas Enzo brigou até o último
minuto para manter seu domínio sobre a Scuderia Ferrari, a alma das competições
e mola mestra da fama de vitoriosos nas pistas.
Após o fracasso das negociações, a Ford resolve criar ela
mesma um carro para vencer a competição. Colin Chapman foi contatado para ser o
homem-chave do projeto da Ford, mas declinou o convite educadamente (conta-se
que o orçamento que apresentou tinha valores absurdos; justamente para ser
rejeitado pela Ford), por causa de seu envolvimento na Formula Um.
Henri Ford II queria se vingar de qualquer maneira de Enzo
Ferrari, por conta de alguns milhões que havia gasto para assumir a Ferrari. Como
a Ford fornecia motores para a Lola Cars inglesa, fez um acordo com ela para
basear seu carro no Lola Mk6, um carro bastante avançado na época, mas suas
primeiras versões foram um desastre. Seu alvo foi estabelecido para vencer as
24 horas de Le Mans, derrotando a Ferrari na pista que ela tinha mais sucesso.
Desde que a Lola tinha sua própria equipe correndo em Le
Mans, Eric Broadley, jovem e promissor engenheiro e chefe da Lola Cars, só
concordou em uma colaboração a curto prazo, o que significava que apenas dois
chassis Mk6 foram cedidos à Ford. Eles contrataram John Wyer, ex-chefe de
competição da Aston Martin, que venceu em Le Mans no ano de 1959, com Carroll
Shelby e Roy Salvadori. Roy Lunn, inglês naturalizado americano, era o
engenheiro da Ford responsável pelos projetos inovadores da montadora, e foi o
mentor do conceito Mustang I, protótipo de motor central, que daria origem,
pelo menos no nome, do Mustang. Ele foi enviado para a Inglaterra, pois era o
único engenheiro da empresa com alguma experiência com carros de motor central,
além de já ter trabalhado na Aston Martin e na AC Cars (que mais tarde daria
origem ao Shelby Cobra). Roy levou consigo Donald Frey, chefe de programas da
Ford e que viria a se tornar engenheiro-chefe e vice-presidente em 1964.
O Lola MK6 de Eric Broadley |
Assim surgiu a FAV - Ford
Advanced Vehicles Ltd. em Abbey Panels, Coventry. Com os chassis do
Lola Mk.VI, também chamado de Lola GT, instalaram o motor Ford V8 do Fairlane e
um câmbio transeixo Colotti na posição central traseira. O carro tinha um
monobloco de alumínio e o conjunto motor-transmissão tinha função estrutural,
suportando toda a suspensão traseira, como nos F-1.
O carro parecia promissor, tinha um design arrojado e
soluções de engenharia típicas de um projeto de alto nível. Com linhas fluidas
e perfil bem baixo, sua altura era de apenas um metro, ou 40 polegadas, daí sua
nomenclatura de Ford GT40. Na verdade, o nome oficial do programa era GT/101.
Exibido em Nova York, antes de ser levado para os 1000 km
de Nürburgring, em maio de 1964. Bruce McLaren e Phil Hill saíram na segunda
posição de largada, e conduziram o Ford GT40 até que a quebra da suspensão na
volta 15 os fez abandonar a prova. Dos nove GT40 que largaram nas quatro
corridas em 1964 – Le Mans, Reims, Nürburgring e Nassau – nenhum chegou ao
final. Quatro tiveram a transmissão quebrada, três a suspensão, um se incendiou
e outro teve problemas no motor.
Para as 24 Horas de Le Mans de 1964, os testes não foram
animadores para os GT40. A aerodinâmica do carro era problemática, e em alta
velocidade, o carro tendia a decolar, pois não gerava suficiente downforce para
manter-se no solo. Os carros sofreram alguns acidentes devido a isso, fora os
problemas de aquecimento e na transmissão Colotti. A Ford inscreveu três GT40
MkI com motor de 4,2 litros, mas abandonaram por quebras, nas voltas 58, 63 e
192. A Ferrari venceu novamente neste ano, sendo um duro golpe contra o
investimento e o ego de Henry Ford II.
A combinação de esforços entre Eric Broadley, John Wyer e
Henry Ford II não era simples. Cada um tinha o seu foco e eram muito exigentes
no seu trabalho; mas Broadley tinha a Lola Cars para tocar, Wyer queria sua
equipe competitiva e demandava muitos cuidados com seus carros e Ford queria
acabar com a Ferrari a todo o custo, não importando quantos milhares de dolares
tivesse de desembolsar para isso.
John Wyer e Carrol Shelby |
Todos os carros foram despachados para o Texas, sem nem
mesmo ser lavados após a corrida. “Quando os dois carros chegaram, eram uma
bagunça […] a primeira coisa que fizemos foi arrancar os motores da FAV e
colocar os nossos, inclusive retirando o sistema de cárter seco e instalando o
nosso convencional, só com isso ganhamos uns 20 kg, ” conta John Ohlsen, o
especialista de motores de Shelby.
“No momento que recebemos o programa do GT40 dos
ingleses, não tínhamos medo de cortar, modificar e arrebentar, e assim que nós
transformamos aqueles carros em vencedores em oito semanas. ” — Carroll Smith, chefe
de desenvolvimento da Shelby. Sob a nova orientação, Ken Miles e Lloyd Ruby
venceram a Daytona Continental 2000 km. Finalmente, Henry Ford tinha uma razão
para sorrir. Além disso, o Mustang não estava fazendo feio no mercado
americano...
A aerodinâmica ainda era o calcanhar de Aquiles do GT40,
por isso, Ford convocou a Aeronutronic, a divisão aeroespacial da Ford, com um
batalhão de engenheiros e técnicos, levando os carros para a pista de Willow
Springs, um dos poucos locais dos EUA que tinha características semelhantes a
Le Mans. Depois de muitos testes e aferições com instrumentos eletrônicos bem
avançados para a época, Ken Miles e o engenheiro Phil Remington descobriram que
o ar captado nas entradas não tinha para onde sair, o que prejudicava o
arrefecimento do motor, além de aumentar o arrasto aerodinâmico. Cerca de 77 cv
eram perdidos com este efeito de freio de ar. Substituíram as rodas raiadas por
rodas de magnésio, com novo desenho, mais leves e largas, para calçar pneus
maiores e economizar no peso; as novas rodas interferiam com as pinças de freio,
o que levou a modificar o design delas para adaptá-las às novas rodas. Por
sinal, não havia discos de freios que durassem 24 horas de corrida, e todo o
sistema tinha de ser substituído durante a prova. Assim foram projetados freios
que eram trocados em apenas três minutos, ao passo que os da Ferrari levavam
aproximadamente oito minutos para serem trocados.
“As rodas raiadas não
funcionavam bem e os pneus estreitos faziam o carro escorregar muito. As rodas
Hallibrand com largos Goodyear fizeram uma bela diferença. Aliviamos o peso do
carro consideravelmente e modificamos todos os componentes da suspensão. Quando
terminamos, o carro tinha ficado realmente bom. ” — Bob Bondurant.
Num carro para longas corridas, confiabilidade era tudo. O
motor estava bom, mas o câmbio Colotti ainda não estava no ponto. Os problemas
só foram resolvidos quando a equipe de Shelby conseguiu diretamente com um
engenheiro da Ford inglesa um jogo de anéis sincronizadores e engrenagens
redimensionadas para suportar o esforço.
Nas 24 Horas de Le Mans de 1965, a Ford inscreveu cinco
carros; dois Mk.II como motores big block de 7 litros e três Mk.I com os 289
cid dos Cobra. Nenhum deles terminou a corrida, e a Ferrari não só venceu
novamente, mas fez um 1-2-3 na linha de chegada. No entanto, as voltas mais
rápidas foram feitas pelo GT40 Mk.II, o que indicava que o carro tinha futuro.
“Com sete litros e alguma coisa e tranquilamente mais de
500 cv amarrados na traseira, os novos Fords precisavam ser domados. Com um
pouco de acerto de chassi e aerodinâmica esses carros eram facilmente os mais
rápidos na pista. […] Este foi o primeiro carro que eu pilotei que fez Le Mans
parecer como o curto circuito de Brands Hatch. ” — Bruce McLaren.
O restante do ano de 1965 foi lastimável, mas a
experiência que ganharam foi fundamental para o sucesso no ano seguinte. A
engenharia de motores da Ford gastou muito tempo e energia aperfeiçoando os
motores em laboratório, simulando de quatro a cinco corridas consecutivas de Le
Mans em dinamômetro.
O Ford GT40 X1 Roadster vitorioso em Sebring. |
Depois de tanto trabalho e dinheiro, o GT40 MkII estava
pronto com seus dois escapes saindo do para choques traseiro e o motor V8 de 7
litros. Nas 12 Horas de Sebring de 1966, os GT40 protagonizaram um duelo
caseiro, com tanta potência que transformou os colegas de equipe em adversários
comparados a perigosos “kamikazes”, obrigando Shelby a intervir na disputa
interna para que o pior não acontecesse. O Ford GT40 X1 Roadster da Shelby
American acabou levando a vitória nas mãos de Ken Miles e Lloyd Ruby, com 228
voltas no circuito.
Para 1966, a Ford levou para Le Mans treze carros, entre a
equipe oficial e particulares, nada menos que oito Mk.II e cinco MK.I largaram
nas 24 horas daquele ano. Henry Ford não podia faltar, e acompanhava de perto a
movimentação dos boxes, circulando nos bastidores junto com uma equipe que ele
trouxe especialmente da Ford, inclusive os responsáveis pelo marketing da
empresa. Leo Beebe, então Diretor de Marketing da Ford Europa, foi convidado
por Lee Iacocca para ser o chefe do programa de competição da Ford, além de ser
o Relações Públicas do projeto. O detalhe é que Beebe jamais assistira uma corrida
de automóveis até então, mas não podia recusar o convite de Iacocca, então
procurou aprender tudo o que pôde sobre as competições, debaixo de toda a
pressão que Ford II fazia na equipe. No dia da corrida, no meio do grid de
largada, ele recebe de Ford II um cartão com apenas uma frase: “É melhor você vencer.
HFII”.
Durante a corrida, problemas com os pneus quase acabaram
com o sonho dos GT40. Alguns carros estavam usando pneus da Firestone, e outros
Goodyear; e como os Firestone não estavam rendendo bem, McLaren pressionou a
fabricante a liberar o uso dos Goodyear no GT40 que ele e Chris Amon pilotavam.
“Sabíamos que a nova transmissão era ainda desconhecida e
poderia dar problema ao longo da corrida, então não podíamos forçar demais o
tempo todo. […]. Decidimos manter um ritmo para nós, que nos mantivesse me
contato com os líderes durante a corrida e no final, atacarmos. Essa estratégia
foi por água abaixo quando os pneus começaram a se desfazer no começo da
corrida e perdemos muito tempo. Bruce e eu éramos ligados à Firestone e foi
difícil para Bruce negociar com eles para mudarmos para Goodyear. Quando fui
chamado para boxes para troca de pneus, a irritação de Bruce McLaren era
enorme, ele colocou a cabeça dentro do carro pela porta e gritou Go Like Hell!
” (Vai com tudo!) — Chris Amon.
A Ford finalmente venceu em Le Mans, em 1966, mas sua
vitória foi ofuscada por uma confusão na linha de chegada. O carro de Ken Miles
e Denny Hulme vinha em primeiro, e o de Bruce McLaren e Chris Amon seguia de
perto, na mesma volta, e outro GT40 de Ronnie Bucknum e Dick Hutcherson vinha
em terceiro, 12 voltas atrás.
A Ford decidiu explorar ao máximo a foto da bandeirada, e
orientou seus pilotos a chegarem juntos na bandeirada, nesta ordem, de modo que
a foto tivesse a presença dos três GT40 triunfando em Le Mans.
A surpresa ocorreu quando a ACO (Automobile Club de l'Ouest) declarou como vencedores McLaren e Amon, pois
eles largaram 18 metros atrás de Miles e Hulme, e pelo regulamento, cobriram
uma distância maior do que estes. A vitória dos dois jovens neozelandeses foi
muito importante para as suas carreiras; McLaren, com 28 anos, logo construiria
seu próprio carro de Formula 1, e Amon, com 22 anos, foi o mais jovem piloto a
vencer em Le Mans até aquele ano; além disso, bateram o recorde de distância,
percorrendo 3.009,3 milhas (4.843 km) e também fizeram a volta mais rápida, com
125,38 mph (198,56 km/h). Apesar de Miles ser muito dedicado ao projeto do
GT40, ficou muito frustrado com o fato da Ford ter pedido a ele que reduzisse a
distância para o segundo colocado, para saírem juntos na foto, e desta forma,
deixando a vitória escapar. Fato mais triste foi que Miles faleceu dois meses mais
tarde, quando testava o “J-Car” da Ford, o carro que se tornaria o MkIV.
Após a morte de Miles, o “J-Car”
foi totalmente redesenhado, perdendo o design de “bread van” característico da traseira. Testes aerodinâmicos
indicaram que o carro precisava de mais pressão na traseira, para se manter
estável em velocidades próximas a 220 mph (352 km/h). Com 2.660 lbs, o MkIV era
300 lbs mais leve do que o MkII (o MKIII foi apenas um carro de rua). O modelo
tinha o chassis desenhado e construído nos Estados Unidos, ao invés dos
anteriores, construídos na Inglaterra.
Dez exemplares do GT40
desembarcaram em Le Mans em 1967, dos quais quatro eram MkIV. Gurney necessitou
ajustar o teto do seu carro com uma bolha, para que conseguisse se acomodar no
cockpit com seu 1,90m de altura. Com os poderosos motores de 7 litros do
Galaxie, mais a carroceria aperfeiçoada com baixo coeficiente de arrasto, a
Ford levou novamente o troféu de vencedor para casa. A. J. Foyt e Dan Gurney
chegaram à frente das duas Ferraris 330 P4, sendo a primeira vez em que dois
pilotos americanos, com um carro americano, correndo em uma equipe americana,
venciam as 24 Horas de Le Mans, percorrendo o novo recorde de 3.252,2 milhas
(5.232,9 km) à velocidade média de 218,0374 km/h. A pole position ficou com o GT40
de McLaren e Donohue, com 3:24:4, enquanto a volta mais rápida da prova foi dos
GT40 da Holman & Moody, de Jo Schlesser/Guy Ligier e Roger McCluskey/Frank
Gardner, ambos com o mesmo tempo de 3:23:6.
A. J. Foyt e Dan Gurney vencendo as 24 Horas de Le Mans em 1967 |
Outro incidente notório desta
prova foi que Gurney vinha liderando no meio da noite poupando seu equipamento
e Parkes, com uma Ferrari 330 vinha em segundo, logo atrás, mas quatro voltas
atrasado. Por várias milhas, Parkes perseguiu o GT40, piscando seus faróis nos
espelhos de Gurney, até que o americano, exasperado, saiu na curva Arnage e
parou no acostamento gramado. Parkes parou logo atrás dele, e os dois ficaram
parados, imóveis no escuro; até que Parkes finalmente percebeu que esta
tentativa de provocação não estava funcionando. Depois de alguns momentos, ele
arrancou e passou por Gurney, retomando a corrida com Gurney seguindo após. Com
o jogo de Gato-e-Rato terminado, mantiveram suas posições até o final.
Dan Gurney foi que criou o hábito de espirrar champanhe no pódio. |
As altas velocidades atingidas
pelos carros em 1967 resultaram em novas regras para 1968, em que os motores
tiveram sua capacidade cúbica reduzida para 3.000 cc nos carros
Sport-Protótipos, e os atuais carros com motores de 5 litros poderiam continuar
a competir, mas na categoria Sport, desde que pelo menos 50 deles alinhassem no
grid. Ferrari decidiu não correr a temporada de 1968, mesmo tenho o motor de 3
litros da Formula Um pronto, enquanto que a Ford teve de usar o velho motor do
MkI.
O Mirage-Ford M1 |
Shelby deixou o cargo para dar
mais espaço para John Wyer, que usou três chassis do GT40, transformando-os no Mirage-Ford
M1. Alivio de peso com o uso de materiais high-tech, grande parte da carroçaria
era feita de uma fina camada de poliéster reforçada com fibra de carbono, e
levavam a pintura que se tornou famosa com o patrocínio da Gulf Oil, o azul
claro com faixas laranjas. Estas mudanças e uma linha de teto redesenhada
ajudaram o carro a melhorar seu desempenho em piso molhado. Equipado com os
mesmos motores V8 de 4,7 litros mas ampliados para 4,9, o Mirage conseguiu a
vitória nos 1000 km de Spa-Francorchamps.
Apenas um chassis sobreviveu até
hoje, pois os outros dois foram reconvertidos para as especificações do GT40; o
motivo foi que a FIA não reconheceu os Mirage como carros da Ford, e de nada
adiantaram os protestos da empresa, e não puderam obter o crédito pelas
vitórias do Mirage.
O Ford GT40 de Pedro Rodriguez e Lucien Bianchi, vencedores em Le Mans no ano de 1968. |
Para a temporada de 1968, os
grandes motores de 7 litros foram banidos pela FIA, e apenas os de 5 litros na
Esporte-Protótipos e 3 litros nos Protótipos foram liberados para correr. Nas
24 Horas de Le Mans de 1968, um dos GT40 de Wyer teve a embreagem quebrada por
volta das 17:00 horas de prova, e outro quebrou o motor na hora 22. Dos quatro carros
de Wyer que largaram, apenas o de Pedro Rodriguez e Lucien Bianchi permanecia
na pista, mas estava liderando! A corrida terminou com a vitória para ambos,
seguido do Porsche 907 privado da equipe suíça Squadra Tartaruga e do Porsche 908
de fábrica, ambos com uma volta após.
A Ferrari estava de volta em
1969, enquanto a Porsche investia todo o dinheiro no desenvolvimento do 917,
com o primeiro motor de 12 cilindros de Stuttgart. Durante a corrida, dois 917
tiveram problemas com a embreagem e abandonaram, e o terceiro não teve melhor
sorte. John Woolfe bateu e veio a falecer na primeira volta na Maison Blanche.
Ele não estava usando o cinto de segurança, provavelmente devido ao sistema de
largada tradicional em Le Mans, em que os pilotos corriam de um lado da pista
para o outro, onde estavam os carros e saíam acelerando. Ironicamente, Jacky
Ickx protestou contra este hábito por caminhar lentamente para o seu carro na
largada. Este foi um belo e generoso gesto, considerando que ele pôde bater o
Porsche 908 de Hans Hermann por apenas 394 pés (120,09 metros), usando o mesmo
carro vencedor do ano anterior (o Ford GT40 de John Wyer com chassi 1075), repetindo
o feito da Bentley em 1929 e 1930 com o modelo Speed Six.
Com mais esta vitória para a
Ford, encerrou-se o ciclo de triunfos da Ford e os objetivos do projeto foram
atingidos, com Henry Ford II esfregando as mãos de contentamento pelo troco que
deu a Enzo Ferrari.
Ickx e Oliver levaram o mesmo carro de 1968 à vitória em Le Mans no ano de 1969. |
A Ford relançou o Ford GT nos
anos 2000, praticamente o GT40 reeditado, com toda a tecnologia moderna e
equipado com o clássico motor V8 atualizado. Apesar de ser um carro vitorioso
nas pistas, através de equipes particulares, disputou as 24 Horas de Le Mans
apenas uma vez, em 2011, mas nenhum dos três carros inscritos conseguiu
completar a prova.
Em 2016, a Ford voltou a
disputar as 24 Horas de Le Mans, com outro carro sucessor do GT40, mas
criado a partir de novas tecnologias de ponta, como chassi e carroceria de
compósito de fibra de carbono, um motor V6 bi turbo e novas soluções
aerodinâmicas na traseira do carro. Disputando a categoria GTE Pro, o novo Ford
GT venceu uma incrível disputa bem acirrada contra a Ferrari, cinquenta anos
depois da memorável vitória em 1966.
EM ESCALA
Ford GT40 - Eagle's Race na escala 1:18 |
O Ford GT40 da vitória memorável
em 1966 foi reproduzido pela Eagle's Races, na escala 1:18, com todos os detalhes
que marcaram para sempre este embate entre a Ford e a Ferrari. As linhas destes
GT40 nem sempre eram iguais nos carros que competiram na época, visto que os
aperfeiçoamentos eram feitos a cada corrida, mas o modelo traz o design e a
decoração vencedora em 1966. As portas se abrem, assim como o capô traseiro,
exibindo o conjunto do motor V8 de 7 litros e as suspensões traseiras com as
enormes rodas de liga.
O modelo da JOUEF (em 1:18) reproduz o carro vencedor em 1969, com a pintura azul clara e laranja da Gulf; mas faltam alguns decalques dos patrocinadores secundários para ficar fiel ao carro original.
O Ford GT40 da vitória em Le Mans 1969. JOUEF 1:18. |
Ford GT Concept, da Beanstalk Group, modelo promocional lançado junto com a apresentação do Ford GT em 2006 |
Já o modelo do Ford GT, a releitura do GT40 que a Ford apresentou no Detroit Auto Show de 2002, colocando no mercado em 2005, é feito pela Beanstalk Group, uma agencia de licenciamento adquirida pela Ford em 2001. Ele reproduz o design dos primeiros GT40, mas traz toda a modernidade da tecnologia dos anos 2000, configurado para rodar normalmente nas ruas e estradas.
O outro exemplar branco com o capô preto é de 2024, remetendo a uma pintura aplicada a um protótipo do carro em 1964, quando estava sendo testado em seu desenvolvimento. Ele reproduz um dos cinco protótipos originais construídos inicialmente pela Ford em 1964/65. O chassi GT/105 participou de diversas corridas, como as 12 horas de Sebring, as 500 Milhas de Daytona e as 24 Horas de Le Mans de 1965. Era equipado com um V8 de 289 cid do Mustang da época, e pode ser considerado o “pai” dos GT-40 de produção. Ele tem mais milhas rodadas do que qualquer outro modelo dos GT-40 e já foi pilotado por pilotos ilustres, como Bruce McLaren, Phil Hill e Bob Bondurant. O que o faz mais notável é que os chassis GT/001 e 002 já não existem mais, e os chassis GT/103 e 104 estão permanentemente no Museu da Shelby American. Em 2020 havia notícias de que o modelo iria a leilão, porém até agora (2024) não há dados de que alguém pagou a soma que poderia alcançar seis dígitos e tomou posse dele.
REFERÊNCIAS:
O Ford GT40 é um dos modelos
mais reproduzidos pelas empresas de miniaturas. O GT40 preto todo detonado é um
exemplar da Matchbox com rodas normais (não Superfast) que está na minha coleção
desde o final dos anos 1960. O vermelho Nº 4 é um Ford GT da segunda geração,
versão para correr em Le Mans, da HotWheels; e o azul claro da
GULF Racing é um Matchbox de 2018.
Matchbox anos 1960, Hot Wheels Treasure Hunts e Matchbox 2018 |
O GT-40 Gumball 3000 se refere a um rally criado pelo empresário britânico Maximillion Cooper, que levou milhares de supercarros e participantes numa viagem épica por todo o mundo, cada edição ocorrendo em um continente, para criar uma das maiores experiências possíveis aos participantes. A Mattel licencia a marca e faz versões de cores diferentes para compensar os royalties pagos para reproduzir as miniaturas: Saiu na cor branca e depois na segunda cor preta, na Série Then & Now de 2021.
GT-40 Gunball 3000, em Pearl White |
GT-40 Gunball 3000, em Metalflake Black |
O outro exemplar branco com o capô preto é de 2024, remetendo a uma pintura aplicada a um protótipo do carro em 1964, quando estava sendo testado em seu desenvolvimento. Ele reproduz um dos cinco protótipos originais construídos inicialmente pela Ford em 1964/65. O chassi GT/105 participou de diversas corridas, como as 12 horas de Sebring, as 500 Milhas de Daytona e as 24 Horas de Le Mans de 1965. Era equipado com um V8 de 289 cid do Mustang da época, e pode ser considerado o “pai” dos GT-40 de produção. Ele tem mais milhas rodadas do que qualquer outro modelo dos GT-40 e já foi pilotado por pilotos ilustres, como Bruce McLaren, Phil Hill e Bob Bondurant. O que o faz mais notável é que os chassis GT/001 e 002 já não existem mais, e os chassis GT/103 e 104 estão permanentemente no Museu da Shelby American. Em 2020 havia notícias de que o modelo iria a leilão, porém até agora (2024) não há dados de que alguém pagou a soma que poderia alcançar seis dígitos e tomou posse dele.
O GT-40 de 2024, da Série Factory Fresh |
O mesmo casting e decoração do GT40, na terceira cor na Mainline de 2024 |
Os Ford GT40 Mk IV estão na linha dos Hot Wheels em várias versões, reproduzindo o carro vermelho nº 1, vencedor de Le Mans 1967, e outras cores, como a amarela e as da GULF Racing, na tradicional azul claro e laranja, e a versão branca. A nº 67 em Metalflake Silver é do 5-Pack Motor Show, de 2023.
O destaque na escala entre 1:55 a 1:64 é da
matéria publicada no blog cujo link é:
Boa leitura!
REFERÊNCIAS:
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