quarta-feira, 23 de março de 2022

TRÁGICA HISTÓRIA DO PRIMEIRO COBRA DAYTONA COUPE

CRIAÇÃO, VIDA, GLÓRIA E DESGRAÇA QUE MUITOS DESCONHECEM

Shelby Cobra Daytona Coupe - CSX2287

O Cobra Daytona Coupé foi a evolução dos Cobra Roadster que Carrol Shelby construiu para bater as Ferrari 250 GTO em Le Mans. Com o design aerodinâmico altamente eficiente de Peter Brock, a pequena equipe da Shelby American construiu um protótipo em cima do chassi acidentado de um Cobra roadster CSX 2014, finalizado pela Cal Metal Shaping em alumínio.

Shelby recebeu dois chassis da AC: o CSX2286 e o CSX2287. Este último foi escolhido para receber a carroçaria moldada sobre o chassi do CSX2014, e foi levado para testes na pista de Riverside. A equipe ficou surpresa com a velocidade alcançada pelo Daytona Coupe: 186 mph (299 km/h).

CSX2014 usado na construção do Coupé
na Shelby American, em Venice, California.
 

Sua primeira corrida oficial foi em 16 de fevereiro de 1964, nos 2000 km Daytona Continental, pilotado por Dave MacDonald e Bob Holbert, conseguindo a pole position com um tempo de 2:08.200 a uma velocidade média de 106,464 mph. Considerando-se que o carro ainda não estava 100% pronto, a equipe ficou muito animada com os resultados obtidos.

No entanto, no pit stop da volta 209, o carro pegou fogo e acabou com as esperanças de uma estreia brilhante. Reparado e ajustado para as 12 Horas de Sebring, o Daytona Coupe obteve sua primeira vitória na classe e 4º na geral, atrás dos protótipos da Ferrari, mas na frente da Ferrari 250 GTO da equipe N.A.R.T.

CSX2287 sendo finalizado

O CSX2287 tem um extenso registro histórico de corridas; competindo em Daytona, Reims, Spa-Francorchams, Oulton Park TT, 24 Horas de Le Mans, Tour de France e em Bonneville Salt Flats. Ele foi pilotado por Dave MacDonald, Bobo Holbert, Jo Schlesser, Phil Hill, Jochen Neerpasch, Chris Amon, Innes Ireland, Andre Simon, Maurice Dupeyron, Bob Johnson e Tom Payne.

Em Le Mans, em junho de 1964 o carro foi pintado na cor Viking Blue Metallic, com as faixas brancas longitudinais e a área em torno dos faróis coberta com adesivos brancos, para facilitar a identificação do carro nos pit-stops. Correndo pela escuderia de Briggs Cunningham, Amon e Neerpasch lideraram a classe GT até o carro ser desclassificado na décima hora (na volta 131) por necessitar de energia externa para dar nova partida no motor, por falha na bateria e alternador. Mas Shelby conseguiu seu triunfo com o Daytona de sua equipe oficial, pilotado por Gurney e Bondurant, que chegou em 4º lugar na geral e primeiro na classe GT, justamente à frente de duas Ferrari 250 GTO.

O incêndio nos 2000 km de Daytona

O CSX2287 retornou aos Estados Unidos e ficou parado por alguns meses, até que em 6 de novembro de 1965, foi levado para Bonneville Salt Flats, um lago salgado onde se registravam os recordes de velocidade. Por quatro dias o CSX2287 pilotado por Craig Breedlove, Bobby Tatroe e Tom Greatorex bateu 23 recordes internacionais de velocidade, registrando a velocidade máxima de 187 mph (300 km/h).

Depois disso o CSX2287 ficou na Shelby American por cerca de dois anos; o motor e a transmissão foram retirados, e Shelby queria vender o carro, mas ninguém queria gastar dinheiro num carro de corridas depenado. Shelby reinstalou o motor 289 e a transmissão de quatro marchas Borg-Warner T-10 manual para viabilizar a venda do carro.

CSX2287 em Bonneville Salt Flats

Jim Russel, um magnata do setor de Autoramas, dono da Russkit Models, comprou o carro de Shelby em 1966 depois de ver o anúncio por US$ 4,500. Mais tarde, Russel converteu-o para uso em vias públicas, instalando silenciadores e carpete no interior, para tornar o carro mais confortável. Um ano se passou e Russel colocou o carro à venda, para pagar os estudos de suas filhas, e o excêntrico produtor de música Phil Spector, de 26 anos o adquiriu por US$ 12,500. Enquanto estava nas mãos de Spector, o carro apareceu num episódio do seriado “The Monkees”, intitulado “The Monkees Race Again”, que foi ao ar em 12 de fevereiro de 1968.

O Cobra Daytona feito por Jim Russel para
as pistas de Autorama


Phil Spector andava com o carro nas ruas, mas o Daytona era desconfortável e quente  ̶  um carro de corridas  ̶  e acelerava como tal. Spector não escapou de tomar várias multas de trânsito, e seu advogado o aconselhou a se livrar do carro antes que perdesse sua licença de motorista. Numa tentativa de torná-lo mais confortável, levou o carro a uma oficina, mas o dono disse que isso custaria muito dinheiro; e sugeriu desmontá-lo, oferecendo US$ 800 a Spector pelas peças. Spector não aceitou a proposta (ainda bem!), mas estava decidido a se livrar dele. Ele morava numa mansão e por volta de 1968 contratou George Brand, um ex-policial que estava chegando aos 50 anos, para gerenciar os assuntos da casa. Ao saber que Spector queria vender o Cobra, Brand ofereceu US$ 1,000 pelo carro em 1971, e ficou com ele. Logo mais ele se divorciou de sua esposa Dorothy.

Phil Spector

Um tempo depois, George Brand deu o carro à sua filha, Donna de 20 anos, que se casou aos 17 anos com John O’Hara. Nos anos seguintes, o casal foi várias vezes abordado para vender o carro, mas as propostas eram muito abaixo do valor que consideravam justo para um carro que eles sabiam que começou a se tornar colecionável. O próprio Carrol Shelby foi visitá-la, para ver o carro, mas ela nem abriu a porta para falar com ele. Em 1982, Donna se divorciou de John e ficou com o carro, guardando-o num depósito em Anaheim. Era de conhecimento que ela tinha a posse do carro, mas também que era muito difícil falar com ela sobre vender ou não o carro. Nos anos seguintes, não se soube mais do paradeiro do CSX2287.

UM CAPÍTULO NEGRO NA HISTÓRIA DO CSX2287

Todos os traços do CSX2287 sumiram durante a metade dos anos 1980, fazendo os historiadores de carros e colecionadores acreditarem que ele havia sido destruído, ou desmontado. A verdade sobre o que aconteceu nos anos em que o carro ficou desaparecido vieram à luz, e revelam uma história trágica ligada ao Daytona tão famoso agora.


Em 1988, Donna conseguiu um emprego num centro de distribuição da Sears, e logo estava namorando um motorista de empilhadeira, Robert Doty. O caso durou apenas seis meses. Mesmo tendo terminado o relacionamento, ela convidou Doty, que havia sido promovido a supervisor dela no trabalho, para investir na compra de uma casa em 1990 em La Habra e morarem juntos. Doty ficou esperançoso de reacender o romance, mas ele conta: “A primeira vez que entrei na casa, ela disse: ‘Há quatro quartos. Qual você quer?’ “ Eles ficaram juntos até 1993, e Doty a deixou neste ano.

Naqueles anos, Doty diz que ela nunca mencionou o Cobra, nem falava de seu casamento de 17 anos com John. “Ela era uma pessoa muito reservada” diz ele. Um dia, um colecionador de carros antigos a localizou e ofereceu US$ 150,000 pelo Cobra. Doty se lembra: “Eu pensei que ele estava falando de um Shelby Mustang. Seja como for, ela disse não, e que não queria falar sobre isso. Eu disse a ela que ela poderia pagar a casa com o dinheiro, mas ela disse que não.”

O CSX2287 com as inscrições que Phil Spector fez nas portas

Um artigo publicado no Los Angeles Times, reportou que Robert Lavoie, um advogado representando Kurt Goss (um amigo de infância de Donna), disse que Donna havia recebido pelo menos duas ofertas nos dois últimos anos, uma delas de US$ 500,000; mas que não foi aceita. Ela repelia todos os interessados, às vezes de modo bastante rude; e parecia ficar cada vez mais furiosa à medida que os caçadores de carros antigos se aproximavam, e ganhou a reputação de ser “estranha”. Um investigador de um advogado que veio com uma oferta de US$ 2,000,000 supostamente teve de sair fugido de seu jardim. Ela contou para amigos que mantinha o carro para garantir sua aposentadoria.

Depois de romper com o namorado no verão de 2000, parentes relatam que ela estava sob risco de demissão na Sears; após sua morte, foi encontrado um arquivo entre seus papéis em que Donna alegava todo tipo de impropriedade no escritório; no arquivo havia um recorte de notícias sobre uma pessoa que ganhara milhões em um caso de denúncia. Um colega de trabalho diz que ela era simplesmente paranóica, pensou que as pessoas estavam querendo prejudicá-la e saiu por aí com uma raiva fervente.

Ela se afastou dos seus pais, apesar disso, convidou sua mãe para morar com ela em La Habra, mas Donna ficava furiosa com pequenas coisas e Dorothy se mudou depois de três semanas. Ela não falava com seu pai desde 1995, tentou iniciar um negócio de varejo com uma sócia, mas a empreitada não foi para frente. Doty, que comprara a casa junto com Donna, queria vender a casa porque queria a sua parte na propriedade, e Donna teria de se mudar. Nuvens negras se apresentavam no horizonte da vida de Donna, agora com 54 anos, sozinha e ameaçada de ficar sem casa e sem trabalho. O que ela faria então? Por que ela não vendeu o Daytona e resolveu todos os seus problemas financeiros?

Um especialista anônimo em carros raros oferece uma teoria: "Ela sabia que seu pai obteve o carro, bem, de uma maneira questionável. Ela sabia que seu pai e Spector acabaram ficando inimigos. Se ela tentasse vendê-lo, ela poderia ter problemas reais, porque ela sabia que não era dela para vender. Então ela tinha esse carro de US$ 4 milhões escondido, mas ela não podia vendê-lo - e é por isso que ela não queria colecionadores chamando a atenção para ele. Poderia esperar que Spector morresse, e então ela poderia vendê-lo."

Uma teoria interessante, até que se descobriu que os advogados de Goss possuíam um certificado de propriedade emitido em julho de 1982 pelo estado da Califórnia que reconhece oficialmente Donna O'Hara como a "proprietária registrada" do carro. De volta à estaca zero.

Goss disse que ela o havia chamado no dia 17 de outubro de 2000, para ir à sua casa em La Habra. “Sempre fui muito entusiasmado com o carro (Cobra) e costumava dirigi-lo no início dos anos 1970. Donna me disse várias vezes desde que ficou com o carro, que desejava que eu ficasse com ele. Ela disse também que estava em processo de execução dos documentos necessários para transferir o Cobra para mim. Ela então me deu as chaves do depósito onde o Cobra estava guardado, pois eu tinha autorização de acesso no contrato de armazenamento” relatou Goss numa das audiências.

Goss relata que ela perguntou se ele cuidaria de seus pertences pessoais, caso acontecesse algo com ela. Afirmou também que ela queria que ele ficasse com o Daytona Coupe e mais três outros carros que ela possuía: um MG e um Datsun, ambos de 1969 e um Geo Metro de 1992.

Em 22 de outubro de 2000, Donna O’Hara foi para debaixo de uma ponte, com seus dois coelhos numa trilha de cavalos em Fullerton, Los Angeles, jogou gasolina e ateou fogo em sim mesma. Ela foi encontrada ainda viva e levada a um hospital, mas se recusou a dar seu nome, e levou 15 horas até morrer. Ela só foi identificada um mês depois, quando seus amigos a buscavam depois do seu desaparecimento.

Em 2 de dezembro, George e Dorothy Brand, Kurt Goss e o primo de Donna, Chuck Jones entraram na casa de La Habra, e descobriram dezenas de bilhetes de suicídio espalhadas pela casa. Na garagem da casa, havia bilhetes dela se despedindo dos três carros que possuía – o MG, o Datsun e o Geo Metro – mas nenhum bilhete sobre o Daytona. Supõe-se que Goss encontrara um bilhete manuscrito dela dizendo que desejava que Goss encontrasse um lugar para o Daytona num museu, mas havia dezenas de bilhetes, para Doty e Goss; e as autoridades não comentaram sobre o conteúdo deles.

Quando Goss soube que Donna havia morrido, tentou retirar o carro do armazém onde estava guardado há anos. Entretanto o gerente não permitiu que Goss retirasse o carro sem uma autorização legal, apesar de ele ter pago os aluguéis atrasados do depósito. Goss trocou todos os cadeados e foram embora, tentando nas duas semanas seguintes remover o carro de lá, porém, sem sucesso. Donna morreu sem deixar um testamento, o que complicou ainda mais as coisas.

Dorothy, ainda com a dor da perda de sua filha, havia perdido sua outra filha por overdose de drogas décadas antes, sabia que era a parente mais próxima de Donna, e precisava garantir que seu ovo de ouro permanecesse no lugar. Em 18 de dezembro, foi ao depósito em Anaheim com seu sobrinho Chuck Jones, que testemunhou: “Dorothy havia preenchido o formulário de título que lhe permitiu assumir o controle do depósito como parente mais próximo da falecida. Ela também pagou o aluguel de janeiro. Depois de checar o conteúdo (o Daytona estava lá) trancamos a garagem”.

Algum tempo antes, um revendedor de carros raros de Montecito, Martin Eyears, havia contactado Donna quando ela trabalhava na Sears, tentando comprar o Daytona; não conseguiu, mas ficou acordado com ela para falar com ele quando decidisse vender o carro. Quando ele soube de sua morte, entrou em contato com o ex-patrão de Donna e conseguiu falar com Dorothy Brand, assegurando seu interesse no carro, e conseguindo a concordância na venda em 16 de dezembro por US$ 3,000,000. Dorothy Brand garantiu a ele que apenas ela e seu marido eram os herdeiros naturais de Donna. Outro relato diz que Dorothy estava vasculhando as coisas de Donna durante o Natal e encontrou uma carta: nela, um corretor de carros antigos de Montecito, perto de Santa Barbara,  fazia a oferta de US$ 2,000,000 pelo Daytona. Quatro dias depois do Natal, Dorothy ligou para o telefone que havia na carta e falou com Martin Eyears, confirmando que a oferta ainda estava de pé.

Dorothy deixou claro que ele não estava lidando com Edith Bunker (famosa personagem de um sitcom americano que interpretava a esposa perfeita), ela sabia que um Cobra havia sido leiloado no verão de 2000 por US$4,000,000. Então, ela pediu esse valor pelo Daytona. Ao que Eyears retrucou: “Ah, mas aquele era um Cobra perfeitamente restaurado, e sem saber o estado real do carro, isso poderia custar uma fortuna”. Desta forma, baixando o valor para US$ 3,000,000 Dorothy Brand se tornou milionária aos 78 anos.

Eyears pagou o valor acordado em 7 de fevereiro, e Dorothy lhe entregou as chaves e uma nota de venda autenticada e assinada por ela e George. Dez dias depois, ao ouvir rumores sobre o negócio, Goss correu ao depósito com um par de advogados, apenas para descobrir quatro marcas pretas no chão onde o cobra descansou por décadas, e uma terrível sensação de perda.

Aparentemente, Eyears tinha um acordo com Steve Volk, presidente da Shelby American Collection, em Boulder, CO, para vender o Daytona ao museu por US$ 3,750,000. Mas o negócio nunca se concretizou: Eyears vendeu o carro para um colecionador privado na Costa Leste, Frederick Simeone, um neurocirurgião de Philadelphia.

Foi o estopim para explodir uma disputa legal sobre a propriedade do Daytona. Quando Goss descobriu que Dorothy havia vendido o carro, contratou imediatamente um advogado para impedir o negócio e provar que Donna havia lhe dado o Daytona. Goss tem os documentos do carro e as chaves do depósito, mas o carro está com Simeone. Goss está sendo acusado de ter obtido os documentos e as chaves ilegalmente. Dorothy doou US$ 150,000 para instituições de caridade e US$ 850,000 para outros membros da família. Como Donna não deixou um testamento, parece que Dorothy vendeu o carro antes do processo de inventário confirmar que ela possuía o direito legal para vendê-lo para Eyears; e o tribunal de sucessões ainda não resolveu essa pendência. Em abril de 2001, o juiz James Gray ordenou em 6 de março que os US$ 2,000,000 restantes fossem retidos até que se resolvesse a contenda.

Dorothy Brand não revela onde estão os US$ 1,000,000 que ela distribuiu para caridade e entre familiares. Frederick Simeone não se pronunciou nenhuma vez, mesmo sendo intimado a dar declarações.

Para aumentar a confusão, Phil Spector, por meio de seu advogado Robert Shapiro – famoso por ter sido um dos advogados de O.J. Simpson – diz que nunca deu o Daytona para George Brand; apenas pediu para ele guardar o carro. Spector foi condenado por assassinato em segundo grau em 2009 e foi condenado a 19 anos de prisão. Ele faleceu em 16 de janeiro de 2021 de causas naturais.

O DESTINO FINAL DO CSX2287


Atualmente, o CSX2287 continua em poder de Frederick Simeone. Em 2008 ele criou a Simeone Foundation Automotive Museum na Philadelphia, onde ele tem mais 65 outros carros clássicos.

"Meus critérios de coleção são história significativa, condição original, origem americana sempre que possível e beleza. Na época da compra, em 2001, o único carro que eu não tinha que se encaixava em todos esses critérios era o Cobra Daytona Coupe, então eu realmente queria muito", diz ele.

O que aconteceu a seguir é a parte mais sombria da história - "Eu odeio contar isso, esta é uma história feliz e o fundo dela é deprimente. Ela [O'Hara] deixou o produto da venda para sua mãe e depois ateou fogo em si mesma. Isso foi depois que o negócio foi feito."

A morte chocante da proprietária provocou uma batalha legal em torno do carro que durou meses. "As consequências da venda foram mais difíceis do que a venda em si, porque quando se espalhou entre a comunidade automobilística que o carro foi descoberto e estava sendo comprado por um particular, muitas pessoas tentaram desesperadamente comprá-lo e pediram um juiz para colocá-lo à venda pública", diz Simeone.

“Todo mundo ia querer ter uma história”, diz Simeone, “mas o juiz concluiu com razão que o carro já havia sido vendido legitimamente”.

As outras cinco Daytonas - aquelas produzidas na Itália - estão todas nas mãos de colecionadores particulares, com uma vendida em leilão em 2009 por US$ 7,5 milhões. É seguro supor que o CSX2287 valeria muito mais, já que é o primeiro protótipo, é o último Daytona a competir e - ao contrário dos outros - ainda está em seu estado original, sem peças substituídas e sem repintura.

"O carro estava em excelente estado apesar do tempo de armazenamento, todas as peças originais estavam lá, sem nada faltando", diz Simeone. "Apenas a frente havia sofrido uma batida, então tivemos que reparar isso porque era simplesmente muito feio. O resto da pintura estava sem brilho, mas intacto e tudo o que tivemos que fazer foi cuidar do que estava enferrujado, e o carro ficou com um aspecto muito bom. As únicas coisas que tivemos que substituir acabaram sendo linhas de freio e alguns pedaços de fiação."

O Daytona com Phil Spector

Os cinco anos de propriedade de Phil Spector também não atrapalharam muito. "Ele acabou de colocar o estofamento, só isso, e colocou alguns escritos na lateral do carro, com pintura caseira, mas conseguimos tirar isso", diz Simeone.

O carro roda bem, mesmo com os pneus originais, e já foi conduzido muitas vezes para shows e demonstrações, mesmo não tendo mais corrido. "Temos alguns problemas com pessoas que acham que ele deveria ser colocado na pista, mas não faz sentido e corremos o risco de danificá-lo. Queremos preservá-lo para as gerações futuras", acrescentou Simeone.

UM LUGAR NA HISTÓRIA


Em janeiro de 2014, o CSX2287 foi o primeiro carro - e um dos seis até agora - a ser incluído no Registro Nacional de Veículos Históricos, colocando-o na mesma classe de ícones americanos como a Estátua da Liberdade e o Ônibus Espacial.

Ele também foi nomeado Carro do Ano em 2014 no International Historic Motoring Awards, o Oscar de automóveis clássicos - o primeiro carro americano a ser indicado ao prêmio.

"Ele foi construído em um chão de fábrica e projetado em uma folha de papel pardo, bem no final de uma era em que algo poderia ser construído de forma tão simples e ganhar em nível internacional", disse Mark Gessler, presidente da Historic Vehicle Association.

Projetado de uma forma impressionante com uma história que parece um roteiro de Hollywood, este carro é uma lenda. "O precursor icônico de uma raça vencedora", como Simeone a define, que deu início ao curto, mas glorioso domínio da América nas corridas de estrada.


Carrol Shelby jamais imaginaria que o primeiro Daytona que ele construiu se metesse em tanta confusão, digna de um filme de Hollywood. Mas com certeza, se estivesse vivo, estaria dando boas gargalhadas com seu bom humor texano!



GALERIA

Le Mans 1964

Le Mans 1964

Le Mans 1964

Le Mans 1964

Em Bonnevile Salt Flats, com Craig Breedlove



REFERÊNCIAS

https://en.wikipedia.org/wiki/Shelby_Daytona

http://www.autoentusiastas.com.br/2015/11/cobra-daytona-cupe/

https://sportscardigest.com/in-depth-history-of-the-shelby-cobra-daytona-coupe/

https://www.shelby.com/en-us/Vehicles/Shelby-CSX9000-Daytona-Coupe

https://www.caranddriver.com/features/a15149002/death-deception-and-the-4-million-cobra-feature/

https://www.cnn.com/style/article/shelby-daytona-cobra-coupe/index.html

https://www.hagerty.com/media/car-profiles/shelbys-1964-cobra-daytona-coupe/

https://afxracing.com/product/shelby-cobra-ltd-ed-russkit/

(As fontes adicionais desta matéria são: CNN, Car&Driver Magazine, The SAAC Registry, The LA Times e The Orange County Register, 2001 e Wallace Wyss, que estava na audiência.)

 

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