Muito se fala hoje em resiliência, uma qualidade desejável
em muitos profissionais, devido às grandes pressões que sofremos dentro das
organizações, seja pela carga de trabalho, seja pela busca de resultados, seja
pela competitividade dos mercados globais.
Resiliência é um substantivo, do ramo da Física; denomina a
característica mecânica que define
resistência aos choques de materiais.
Emprestado à psicologia, define a qualidade de um individuo
lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações
adversas, sem entrar em surto psicótico.
O termo ganhou maior popularidade após o ataque terrorista
ao World Trade Center, nos EUA, em 11 de setembro de 2001. O governo americano
distribuiu uma cartilha às pessoas envolvidas com a tragédia para estimulá-las
a retomar a vida normal, de modo a superar o trauma.
Aplicado ao mundo corporativo, o termo ganhou o significado
de pessoas que sofrem fortes influências do meio em que estão, às vezes até o
limite, mas que depois que as influências mudam ou são removidas, voltam ao seu
normal, preservando suas características, e principalmente, enriquecidas com o
aprendizado daquilo que sofreram, saindo renovadas e mais fortalecidas do que
antes.
Claro que, em maior ou menor medida, todos temos tal
característica, somos pressionados por situações que não desejamos passar,
trabalhos estressantes, colegas e superiores nem sempre amigáveis, resultados
que nem sempre nos satisfazem, o que dirá de nossos chefes?
Junte-se a isso as demandas de nossa vida familiar; esposa
ou marido, namorada ou namorado, filhos ou sobrinhos, sogra, cunhado, cachorro,
papagaio; a saúde que nunca é perfeita; o trânsito numa cidade grande (agora
infestando também as pequenas); e temos aí um cenário perfeito para praticarmos
nossa resiliência em toda a sua plenitude.
Um dos melhores exemplos, que até utilizo nas palestras
sobre Mudanças & Valores que
faço, é o do bambu, que diante de uma tempestade com fortes ventos, se verga
quase até o chão, se balança pra lá e pra cá; mas depois que a tormenta passa,
ele volta à sua posição normal, sem se quebrar, devido à flexibilidade de seu
caule.
Outro ponto que nos chama a atenção sobre o bambu é que ele
nunca está sozinho. Vários deles crescem juntos, formando um bloco bastante compacto,
e isso nos lembra de que precisamos uns dos outros para resistir às pressões da
vida.
Magali de Souza Alvarez, professora da Faculdade de Saúde
Pública da USP, analisou o comportamento de moradores de rua em São Paulo por
dez anos, vivendo num cenário agressivo, violento e cheio de preconceito e
marginalização. Ela chegou à conclusão de que a interação com outros
indivíduos; homens, mulheres e crianças, era fundamental para superar as
dificuldades de tais moradores de rua; o relacionamento com outras pessoas
fortalecia a determinação de lutar todos os dias contra um mundo desfavorável a
eles.
Os bambus não crescem sozinhos...
Também esta qualidade não é nova; temos uma citação na
Bíblia pelo apóstolo Paulo em 1 Coríntios, cap. 3, versículos 12 e 13 que diz: “Ora, se
alguém construir sobre o alicerce ouro, prata, pedras preciosas, materiais de
madeira, feno, restolho, a obra de cada um se tornará
manifesta, pois o dia a porá à mostra, porque será revelada por meio de fogo; e
o próprio fogo mostrará que sorte de obra é a de cada um.” Falando sobre a edificação dos discípulos de
Jesus, alguém que era como ouro ou prata poderia sofrer reveses, até mesmo se
derretendo com o calor aplicado a ele, mas depois de novamente solidificado,
seria de novo ouro ou prata; diferente da madeira, feno, que submetidos ao
fogo, se tornam cinzas, e não mais adquirem suas características originais.
Todos podemos aprender ou desenvolver nossa resiliência, ou
aumentar o grau de resiliência que já temos. Ter mais tolerância com e aceitar
as mudanças, definir objetivos claros em sua vida (pessoal e profissional), ser
mais otimista, respeitar o seu próprio comportamento e fortalecer sua estrutura
emocional são passos decisivos para enfrentar as turbulências da vida.