Gmünd é uma pequena cidade no sul da Áustria, o centro de
um triângulo que conecta Munique, Viena e Trieste. Ferdinand Porsche fora preso
na França, Stuttgart estava sob forte bombardeio aliado em 1944, e com o fim da Guerra, as instalações da Porsche ficaram sob o controle dos americanos. Então, a
família Porsche e sua comitiva se mudaram para um improvisado barracão de uma antiga serraria,
distante da estrada principal, para continuar o desenvolvimento dos projetos
que tinham em mente. Esta medida os protegeu do colapso do Terceiro Reich, ao
mesmo tempo, proporcionava estradas vazias para testar livremente os
protótipos.
Curiosamente, o Gmünd Roadster não seguiu um padrão linear
de desenvolvimento. Pode-se dizer que ele foi fruto de planejamento, alguns
acidentes de percurso, um pouco de coincidências das forças internas e externas
que a Porsche sofreu ─ os homens e a companhia ─ no seu tempo.
Ferry Porsche tinha o sonho de produzir um carro esporte ̶ sonho que começou quando começou a trabalhar com
seu pai em 1931 ̶ que levasse o nome
Porsche. Já havia feito estudos de um cupê aerodinâmico equipado com um motor
V10, com quatro comandos e 1,5 litros antes da guerra, mas o carro era muito
caro para se construir. Numa viagem que fez à Itália, Ferry ficou fascinado com
o Cisitalia, um carro-esporte que usava diversas peças de carros FIAT.
Voltando a Gmünd, a ideia de construir seu carro esporte dominava sua mente, e os primeiros esboços começaram a tomar forma em 17 de julho de 1947. Ferry começou a desenhar o seu carro esporte, usando peças do Volkswagen, pois apesar da depressão econômica que a Alemanha sofria, a produção do Volkswagen começara em Wolfsburg.
Seu lema era “Se construir um automóvel que me satisfaça,
terá de haver outros, com o mesmo tipo de aspiração que eu, que comprariam um
automóvel assim”. Assim começou a trabalhar em junho de 1947 com Karl Rabe, no
projeto 356.
Ele buscava um carro com uma boa relação peso-potência,
com baixa resistência aerodinâmica, que poderia atingir uma boa aceleração e
velocidade máxima, com excelente estabilidade e comportamento em curvas, leve o
suficiente para parar em pequenos espaços. Compacto, baixo, elegante e
aerodinâmico, o 356/1 pesava apenas 585 kg.
Numa entrevista à revista Panorama, em setembro de 1972, Ferry Porsche descreveu o princípio por trás da criação do 356: “...Eu tenho pilotado diversos carros bem velozes. Já tive Alfa Romeo, também BMW e outros... No final da Guerra, eu tinha um Volkswagen Cabriolet equipado com compressor, e esta era a idéia básica. Se você tem potência bastante num pequeno carro, ele será mais divertido de pilotar do que se tivesse um grande carro com bastante potência. Sobre esta idéia nós começamos a construir o primeiro protótipo da Porsche. Para fazer o carro mais leve, para ter um motor com mais potência... este era o primeiro dois lugares que construímos em Carínthia (Carínthia era o estado em que a cidade de Gmünd estava).
O protótipo era um roadster aberto, de dois lugares, com chassi tubular de aço, mas com o motor do Volkswagen boxer quatro cilindros, refrigerado a ar, montado entre eixos. Com 1.131 cc que produziam 40 hp a 4200 rpm, tinha válvulas maiores e taxa de compressão aumentada de 5.8 para 7.0:1. Compartilhava o mesmo câmbio, elementos de suspensão e direção idênticos ao do Volkswagen que seu pai Ferdinand Porsche havia desenhado anos antes. Até os tambores de freios eram os mesmos do Volkswagen, com nove polegadas de diâmetro, operados mecanicamente por cabos. Este foi o único carro com o motor nesta posição. Para reduzir custos e criar mais espaço (para um cupê 2+2), o motor foi deslocado para trás do eixo traseiro, retornando à montagem idêntica ao do Volkswagen; um layout que perdura até hoje nos Porsche mais modernos.
Como no 356/1 o motor foi deslocado para frente do eixo traseiro, as barras de torção da suspensão traseira ficaram para trás do eixo, com os braços que seguram os cubos das rodas projetados para frente. Esta configuração provocava um comportamento estranho nas frenagens mais fortes, e talvez isto tenha colaborado para Ferry voltar para a disposição tradicional do layout do Volkswagen, com o motor atrás do eixo e a suspensão à frente do eixo traseiro.
Com uma carroçaria de alumínio, construída à mão ─ técnica
em que as chapas foram batidas à mão, sobre formas de madeira, até adquirirem o
desenho final ─ e o
chassi e os demais elementos mecânicos também foram feitos de modo artesanal,
para este exemplar único. Tinha o para-brisa de duas peças sem moldura, já
prevendo que em competições ele seria retirado. Apesar de não ser considerado
competitivo pela Porsche, o exemplar 356/1 venceu na sua classe na corrida de
rua em Innsbruck, Áustria. A máxima que ele atingia eram modestos 84 mph (135
km/h).
Outro elemento interessante no Number 1 era o seu chassi
tubular, uma estrutura muito leve, soldada à mão, inspirada no Maserati
Birdcage de corrida. Uma das características deste tipo de construção era o
reforço necessário na parte inferior das portas, prejudicando o acesso pela altura
da soleira.
Apenas um exemplar foi fabricado. O Porsche 356 No. 1 Roadster (Sport 356/1), sua designação oficial, foi completado em cerca de um mês, em Abril de 1948. Recebeu as placas do estado de Carinthia (Kärnten) K45-286 e saiu para rodar pela primeira vez em 8 de junho de 1948. Foi apresentado pela primeira vez no Grand Prix da Suíça, em 04 de julho de 1948, sendo bem recebido pelo público.
Este protótipo foi gradualmente sendo deixado de lado após
a bateria dos testes iniciais; e eventualmente o carro parou de ser modificado
em algum momento de sua história, pois a produção começou a absorver o tempo da
equipe. O Number 1 foi vendido em setembro de 1948 para Rupprecht von Senger,
que era um investidor em Zurique, como parte da negociação de um adiantamento
em dinheiro por algumas unidades de produção, e o contrato para ser um
importador da Porsche na Suíça.
O protótipo original felizmente acabou sendo recuperado e
hoje está no Museu da Porsche, em Stuttgart. Em 1998, nas celebrações dos 50
anos da Porsche, o Number 1 foi danificado durante o transporte, e foi
substituído pelo roadster Sauter, uma versão especial particular com carroçaria
de aço.
RÉPLICA DOS 70 ANOS DO NUMBER 1
Em 8 de junho de 2018, para celebrar os 70 anos desde que o Number 1 foi registrado em Gmünd, a Porsche revelou no Porsche Museum, a réplica do primeiro carro a receber o nome Porsche, o 356 Number 1, como ficou conhecido.
O original, que também está neste museu, foi modificado
muitas vezes no decorrer dos anos, e a Porsche decidiu reconstruir o modelo
como originalmente era, quando acabou de ser finalizado. Para tanto, mergulharam
nos arquivos históricos antigos, voltando ao modelo de 1948, que foi modelado
manualmente em alumínio, nas suas belas formas, e que difere um pouco dos 356
coupés e conversíveis que entraram em produção.
O 356 Number 1 foi escaneado e os designer e engenheiros
puderam ter a forma do carro como está atualmente; e a partir daí, comparar com
os projetos originais sobrepondo os desenhos antigos. Assim, a equipe da
Porsche pode determinar como o Number 1 evoluiu nos 70 anos desde que foi
construído em 1948.
Iniciando com blocos de poliestireno, o modelo foi
esculpido em tamanho real, e recoberto com uma tela de metal, um novo gabarito
foi finalizado para construir a réplica. Até algumas peças do Volkswagen Sedan,
como a suspensão dianteira, puderam ser adaptadas conforme o original.
Para encontrar o tom correto da pintura original, partes do painel foram lixadas até que se chegasse à camada de pintura original, e o cuidado com a fidelidade era grande, pois até a forração interna foi feita com os mesmos materiais usados na época.
Infelizmente, a replica não é equipada com um motor. Ele é
apenas um “show-car”, para ser exibido e não dirigido. No entanto, é o design
limpo e incomparável do carro que Ferry Porsche sonhou e Erwin Komenda tornou
real sete décadas atrás... e podemos dizer que foi o primeiro passo que faria a
Porsche chegar tão longe no futuro hoje.
DA MINHA COLEÇÃO
Fabricado pela Maisto, na escala 1:18, o Porsche 356 Number 1 é bem reproduzido nas suas belas formas e detalhes. Ele abre as portas, o capô dianteiro e o traseiro, revelando o motor do Fusca, colocado entre eixos. A pintura metálica é bem fiel ao original, e as rodas e pneus também são muito bem reproduzidos. O interior traz o painel de instrumentos, volante, pedais e alavanca do câmbio, bancos e revestimento das portas.
REFERÊNCIAS
https://pt.wikipedia.org/wiki/Porsche_356/1
https://www.netcarshow.com/porsche/1948-356_no_1/
http://way2speed.blogspot.com/2013/02/porsche-356-no-1-1948.html#axzz7IGwTh4dB
https://flatsixes.com/cars/porsche-356/history-origin/
http://cartype.com/pages/3216/porsche_number_1
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